Passa já da hora o vosso despertar espiritual . . . Saiba que a tua verdadeira pátria é no mundo espiritual . . . Teu objetivo aqui é adquirir luzes e bênçãos para que possas iluminar teus caminhos quando deixares esta dimensão, ascender e não ficar em trevas neste mundo de ilusão . . .   Muita Paz Saúde Luz e Amor . . . meu irmão . . . minha irmã

quinta-feira, 31 de outubro de 2013

DUAS PALAVRAS DO TRADUTOR¹ Livro: Vida de Jesus ditada por Ele mesmo


Eu professo o maior respeito por todas as opiniões sãs e especialmente pelas que tendem a cimentar a idéia do bem, levantar a moral e a propiciar tudo aquilo que pode ser a base ou um meio para elevar os espíritos acima da materialidade das coisas que de contínuo nos rodeiam. Por isso cedi cheio de prazer às instâncias de muitos espiritualistas, desejosos de conhecer a interessante VIDA DE JESUS que vai ler-se, traduzindo-a do italiano para que possa ser publicada em nosso idioma pela Revista Magnetológica, órgão da Sociedade Científica de Estudos Psíquicos.

Se bem que não se trate de um trabalho científico, a Direção de dita revista julgou conveniente encarregar-se da presente publicação em vista dos juízos unanimemente favoráveis que de todas as partes lhe têm chegado a respeito da obra, cuja origem medianímica, por outra parte, lhe dá mais uma perfeição especial, que não tem nenhuma outra história de Jesus.

Um fato muito sugestivo se destaca nela desde o princípio, fato que se adapta perfeitamente ao caráter eminentemente modesto de Jesus, e é o de negar-lhe toda importância na questão dos milagres. Desde logo, como tais milagres, o protagonista os nega rotundamente nesta sua história, a qual não é muito do agrado de alguns fervorosos crentes, que estão acostumados a ver no Mestre, não um homem senão um ser sobrenatural.

Eu só me permito observar-lhes que os Evangelhos, que são os que a cada passo nos falam de tais milagres, foram escritos por adeptos entusiastas, que não viram nem ouviram Jesus, ao passo que a presente obra se diz escrita por ele mesmo. É fácil compreender neste caso que o autor não podia exibir-se a si mesmo com os contornos eminentemente pretensiosos, que resultariam se ele falasse de sua atuação, como se refere que falaram os evangelistas.²

Quero dizer que não podia expressar-se de sua própria pessoa, como podiam fazê-lo seus adeptos ao referir-se a ele.

Sem dúvida alguma a questão dos milagres está intimamente ligada à tradição cristã e forma parte integrante do que as igrejas Católica e Protestante entendem ser a vida de Jesus. Os modernos espiritualistas por seu lado nos afirmam que todos os grandes iniciados, pela própria natureza da missão que vieram desempenhar, se viram sempre dotados de poderes psíquicos especiais, dando lugar com freqüência ao que o vulgo chama milagres. Eu nada tenho a dizer sobre este particular, pois não possuo  provas para afirmar ou negar os fenômenos psíquicos que sob o nome de milagres são atribuídos a Jesus; só posso dizer que muitos deles são explicáveis de acordo com os conhecimentos que já temos das ciências psíquicas e que outros não o são.

De todos os modos, a personalidade de Jesus, ainda sem dar-lhe a importância que lhe atribuem os espiritistas, é altamente simpática e para muitos encarna a idéia de moral e a de religião.

Por minha parte, como dizia ao começar, respeito todas as opiniões e no caso presente me limito ao simples papel de tradutor. O leitor formará sua opinião do modo que lhe pareça mais ajustada à verdade; o que creio verdadeiramente é que todo aquele que se interesse pela personalidade de Jesus, deve ler esta obra.

                                                                           OVÍDIO REBAUDI

¹ Da versão espanhola.
² É sabido que os Evangelhos não foram escritos pelos evangelistas, e é por isso que se diz: Evangelho segundo São Marcos, segundo São Mateus, segundo São João, e não Evangelho de São Marcos, ou escritos por São Marcos etc. Os Evangelhos, pois, foram escritos muito depois da morte de Jesus, quando não existia há muito tempo nenhuma testemunha ocular ou ouvinte das obras e pregações do Mestre. Portanto, esses escritos não representam mais que a tradição corrente da época em que foram efetuados, resultando deste fato que se os Evangelhos se multiplicaram de acordo com o número de escritores que se encarregaram de recolher dita tradição chegando a conhecer-se mais de quarenta, até que a Igreja selecionou dentre eles os quatro que melhor lhe convieram ou entre os que encontrou maior harmonia. Em realidade, em fins do século primeiro da era cristã não existia nada que nos autorize a crer que a palavra Evangelho se usasse em seu sentido atual e não havia coleção alguma que se parecesse ao nosso Novo Testamento. Mais tarde, em meados do século segundo, se menciona algo sob a designação de Memórias dos Apóstolos, porém sem que constituíssem um cânon, e, em fins do mesmo, se encontra a Santa Escritura Cristã, porém não bem definida ainda e diferente dos nossos atuais Evangelhos, porquanto variava em cada igreja e de acordo com cada doutor. Mais tarde, no século terceiro, se classificaram e aceitaram os recepti in Ecclesiam (recebidos na Igreja), sem que chegassem ainda à forma do Novo Testamento, até que no primeiro concílio de Nicéia (ano 325 da nossa era) se menciona, sem sancioná-la, uma coleção patrocinada por

Atanásio, que depois foi adotada pela Igreja do Ocidente no século quinto. Como se vê, pois, os Evangelhos não têm nenhum valor histórico, nem de autenticidade; não podem servir portanto para combater a autenticidade da presente história. Convém melhor estudar a curiosa relação que se descobre entre algumas passagens pouco explícitas daqueles e a maior clareza que se encontra nesta, como o faz observar Ernesto Volpi. Como obra autêntica, unicamente as epístolas de São Paulo pode oferecer-nos o Cristianismo e bem merece nos conformemos com isto, pela autoridade indiscutível do autor e pelo testemunho que nos dá de ter visto e falado muitas vezes com Pedro e com Tiago, “irmão do Senhor”, em duas viagens que realizou a Jerusalém, com uns quinze dias de estadia cada vez...

quarta-feira, 30 de outubro de 2013

PREFÁCIO DO SENHOR VOLPI – Livro: Vida de Jesus ditada por Ele mesmo



          Em 1885, o Antimaterialista, de Avinhão, revista dirigida pelo Sr. Renê Caillé, publicou esta obra obtida mediunicamente em francês. Eu recebi um volume, que ficou descansando em minha pequena biblioteca sem dar-me ao trabalho de lê-la, durante algum tempo, por não atribuir-lhe valor algum. Somente quando, seduzido pela confiança que me inspirava o excelente diretor do Antimaterialista, que recomendava o livro à séria atenção dos estudiosos, me pus a folheá-lo, recebendo uma profunda impressão de sua rápida leitura. Tornei a lê-lo repetidas vezes, resultando aumentar cada vez mais a impressão, até chegar à mais completa convicção a respeito de sua identidade. O conhecimento cada vez maior que eu ia adquirindo a respeito do moderno espiritualismo me ajudava muito para formar este são critério: Ninguém, a não ser o próprio Jesus, pode haver ditado o livro que tenho debaixo de meus olhos! — Do mesmo modo que, ouvindo-se falar de uma pessoa desconhecida para nós, da firmeza de suas expressões, conformes à lógica das idéias e do amor cálido e enérgico, que nunca se desmente, recebemos internamente o convencimento de que ela não nos engana; idéia que se converte em íntima certeza quando seus ensinamentos são ministrados com o mais completo desinteresse e em contínua harmonia com os fatos e idéias que se agitam no meio das incertezas da mente e da alma; tal como aconteceu comigo diante da obra de Jesus.
          Em frente a ele adquire-se também a energia característica, o amor imenso, a constante e admirável força de vontade que levaram ao Gólgota Aquele que assim fala.
          Desmente a todos aqueles que querem fazê-lo passar pelo único filho de Deus, enquanto que assegura, em troca, que todos podemos chegar, depois de repetidas existências, à sua elevação, trabalhando nossa alma no sentido da luz divina.
          Confirma implicitamente as afirmações do Sr. Allan Kardec, sem se referir ao coordenador, e o explica em certos pontos essenciais, que este ou não tratou ou o fez confusamente.
          Houve quem, sem duvidar da sinceridade da senhora médium, acusou-a de automatismo (qual?) e julgou poder provar que as idéias manifestadas nesta obra carecem da firmeza e da elevação de idéias próprias do grande e genial reformador, como igualmente é combatida por aqueles que crêem que Jesus é o único filho de Deus. Seria necessário alguma coisa mais que um simples artigo de jornal para convencê-los de que todos eles se encontram laborando em um grave erro; porém não podendo fazê-lo aqui, me parece conveniente referir o que disseram deste livro vários personagens ilustres e de idade avançada, acostumados a dar com calma, às coisas, o verdadeiro lugar que lhes corresponde.
          José Zolli, um dos mil, professor de Matemática, bem conhecido por suas obras, escreveu-me como segue a respeito da obra (veja-se II Vessillo de fevereiro de 1902):
          “Eu li, tornei a ler e reler, muitas e muitas vezes, a belíssima VIDA DE JESUS. Estou entusiasmado com ela, não tendo lido jamais uma obra mais formosa e elevada.

           “Ela exala algo realmente superior. É um livro que reúne a arte à santidade, constituindo talvez em sua admirável simplicidade o livro mais esplêndido. — Quanto mais se o lê, mais se o aprecia”.

          O distinto advogado G. Sforza, membro do Conselho de Apelação, escreveu (veja-se II Vessillo de fevereiro de 1900):

          “Ao começar a leitura deste livro assaltou-me a dúvida a respeito da realidade de sua origem medianímica. Porém não tinha chegado ainda à metade quando toda a dúvida havia por completo desaparecido em virtude deste simples raciocínio: Se negarmos sua origem medianímica teremos que admitir na autora um engenho pouco comum, uma profunda cultura e minucioso conhecimento dos tempos e lugares em que se desenrolou a vida de Jesus, e tudo isto reunido a um esquisito sentimento ético, desenvolvido a tal ponto de constituir sua própria essência pessoal. Porém uma mulher dotada de semelhantes dotes encontra-se com toda a certeza nas condições de produzir uma obra original, e, até prova em contrário, não será jamais crível que ela haja querido negar-se a si mesma apresentando uma obra alheia, cujo mérito em nada poderia corresponder-lhe. Para podê-lo crer seria necessário ter em mãos uma razão digna de tão grande sacrifício, e esta razão certamente não poderia ser o prurido de aparecer como médium, compartindo assim uma prerrogativa com muitas outras pessoas, muito inferiores, sem dúvida alguma, aos dotes altíssimos revelados pela escritora. Portanto, não existe nenhum motivo para duvidar da origem francamente medianímica deste livro”.

          O príncipe Wisniewski escreveu-me assim (veja-se “II Vessillo” de outubro de 1899): “Este livro é a luz vinda do céu. É um verdadeiro acontecimento. Finalmente, depois de tantos sofismas, contradições e superstições contidas em uma biblioteca tão volumosa, que se se arrojara ao Pó seu curso ficariainterceptado e desviado, nos é permitido ler a verdadeira vida, a verdadeira missão de Jesus, depurada das escórias da tradição com que os séculos a têm desfigurado.

          “Tem você razão em dizer que quem lê este livro tem a sensação de estar falando com o doce Messias de Nazareth, tal é
o timbre de verdade que ressalta dele, verdade expressada com a
maior simplicidade e o maior desprendimento da vida material, como ele o demonstrou durante sua curta estadia neste planeta”. 

          Esta opinião foi manifestada também pela Revista Freya (Argentina), que transcreveu uma parte dela. Deixo de citar outras revistas que se têm manifestado de uma forma sumamente favorável a respeito da obra, para ocupar-me unicamente de L’Harbinger of Light, de Melbourne (Austrália).
          O Sr. James Smith, antigo e conhecido colaborador de dita revista, escreveu o seguinte (veja-se II Vessillo Spiritista de dezembro de 1899): Na VIDA DE JESUS, escrita desde o princípio até o fim por uma senhora francesa, traduzida para o italiano por Ernesto Volpi e publicada em Vercelli, se encontram muitas passagens fundamentalmente idênticas a uma série de comunicações que nos demonstram sua comum proveniência de uma mesma fonte, as quais foram recebidas nesta cidade (Melbourne) durante os últimos sete anos, por intermédio de três diferentes médiuns de incorporação, entre os anos de 1892 a 1899 quase, e que foram empregados como intermediários para a sua transmissão.
            Isto parece indicar que emanaram de uma mesma fonte.
      Como exemplo transcrevo aqui em colunas paralelas as seguintes palavras, que se referem a Judas Iscariote: 

VIDA DE JESUS                            VIDA DE JESUS
(Tradução de Ernesto                 Obtida medianimicamente em
Volpi)                                             Melbourne (Austrália)
 “Pobre Judas! Em                         “Pobre Judas! Agora
minhas últimas horas,                    eu tenho piedade e
ocupaste mais que                         lágrimas para ele.
ninguém meus pensamentos,      “Até agora todos o
e minha alma se                              tem caluniado e injuriado
inclinava para a tua para               como a um imperdoável      
falar-te de esperança e de             traidor. Não obstante deviam
reabilitação.                                    Compadecer-se dele;                             
 “Perdido; costuma-se                    Entretanto, ninguém
dizer perdido ao que                      tem em troca uma lágrima
atraiçoou a Jesus. Oh!                  Para o pobre Judas.
Não! Nada se perde das               Eu que fui atraiçoado por
obras de Deus, todas                    ele, perdoei-o desde então.                
estão destinadas a ser                  Ele progrediu depois,
grandes, todas se verão                convertendo-se em mestre
honradas, embora todas              como o ainda é, se bem que
comecem arrastando-se              não costume revelar seu nome
penosamente desde a                 quando se comunica, devido
falda da montanha, para               à marca cruel de opróbrio com
iluminarem-se depois com            que o homem o assinalou.
a chama divina ao chegar            “Saibam eles que nem
lá em cima”.                                    uma só alma será ou
                                                         poderá perder-se e que
                                                         entre os anjos puros e
                                                         gloriosos que são dignos
                                                         de se encontrarem em
                                                         presença do Pai, não há
                                                         um só que não tenha
                                                         pecado e sofrido, que não
                                                         tenha palmilhado o duro
                                                         caminho do pão da tribulação,
                                                         exatamente como eu fiz”.

          Temos que relembrar aqui que, segundo as duas vidas de Jesus, Judas não atraiçoou por cobiça de dinheiro, senão por ciúmes, por inveja das preferências de quem eram objeto por parte do Mestre, João e Pedro. (Veja-se II Vessillo de novembro 1899.)
          O Sr. James Smith, entre outras coisas, disse o seguinte:
         “Entre as muitas passagens notáveis deste livro precioso, ressaltam esses vivos retratos que Ele faz de João Batista, de Salomé, esposa de Zebedeu, de Sócrates (precursor do Nazareno), de Maria de Betânia, de Maria de Magdala, do apóstolo Marcos, de Pôncio Pilatos e de outros personagens do Novo Testamento, pelos quais se adquire uma idéia mais clara e mais definida nesta VIDA DE JESUS do que nos mesmos Evangelhos, que não nos dão senão um simples esboço, ao passo que nestes retratos vemo-los quase como se estivessem vivos”.
          Pelo que diz respeito, por outra parte, à eloqüência característica que se destaca em toda a obra, a essa unidade essencial que domina em todas as suas partes, a essa sublime eliminação do Eu, jamais olvidada na constante adoração para o Pai, dele e de todos os homens, nesse sentimento divinamente admirável de religião e de moral que inculca, eu não me atrevo quase a falar com essa entusiástica admiração que a religião deste livro me tem inspirado por temor de que me acusem de exagerado.
          Seria uma verdadeira desgraça para os espiritualistas da Grã-Bretanha, dos Estados Unidos, do Canadá, da Austrália, da América do Sul, França, Espanha, Alemanha, Áustria, Hungria, se este livro não fosse traduzido em inglês, alemão, espanhol e novamente em francês, tendo-se perdido o original e não existindo mais exemplar algum senão o conseguido por mim.
          Havendo-me, naturalmente, assaltado a dúvida de que os médiuns de Melbourne tivessem podido chegar a conhecer o livro A VIDA DE JESUS, escrevi ao Sr. James Smith, rogando-lhe que me tirasse as dúvidas a respeito. Eis sua resposta com data de 15 de agosto de 1901:

         “Respondo a sua pergunta sem perda de tempo: é completamente impossível que qualquer das três médiuns (uma delas faleceu) pudesse conhecer o conteúdo de seu livro, porque as duas vivas são analfabetas, e a morta pouco lhe faltava para ser. Nenhuma delas conhecia uma única palavra de francês nem de italiano.

         “Sucedia, até com freqüência, que elas não compreendiam as comunicações que se recebiam por seu intermédio, como médiuns falantes, sempre superiores à sua limitada compreensão”.

         James Smith acrescenta:
         “Peço-lhe que desculpe minhas tentativas imperfeitas para escrever o italiano, ao transmitir-lhe estas mal traçadas linhas dando-lhe a última comunicação recebida do Mestre do Círculo¹ em presença de vários visitantes estrangeiros:

         “Queridos filhos, uma vez mais me encontro entre vós, onde     quer que se encontrem corações amorosos, eu me apresento. Alguns homens costumam dizer que eu não posso vir à Terra. Mas, por que não? Só por uma má vontade de receber-me. Se o cordão magnético fosse bastante forte, aquele que agora vos fala, viria com muito prazer transmitir-vos as palavras de ternura que vos traz de nosso Pai.
         “Alguns me chamam filho de Deus; mas, não sois todos filhos de Deus? Credes que o Pai tem filhos preferidos? Jesus de Nazareth não é mais querido do que o paupérrimo ser que se arrasta sobre a Terra. Deus ama todas as coisas que criou, desde o mais pequeno inseto até às obras mais grandiosas saídas de suas mãos. Por isso todos são seus filhos, todos são iguais em seu coração divino.
          “O sol resplandece igualmente sobre os maus e sobre os bons e vivifica todas as coisas belas e úteis ao homem, para o sustento e a alegria de todos.
         “Não julgueis nunca impossível que Jesus de Nazareth se comunique convosco sempre que façais vibrar as cordas da simpatia e do amor. Eis-me aqui, estou vivo. — Ah! — Quanto me aflige a nova crucificação que me fizeram sofrer os homens ao pretenderem fazer-me igual ao Pai para adorar-me como a Deus! Que sacrilégio! Que profanação! Que grande blasfêmia a de adorar a criatura em lugar de Deus!
        “Não acrediteis que é mais surpreendente minha volta à Terra que a de vossos parentes e amigos. A mensagem que vos trago é a mesma que trazia nos tempos antigos.
     “Amai-vos uns aos outros, e ajudai-vos a carregar os vossos respectivos fardos. Rogo a vosso Pai que vos abençoe e vos ampare agora e por toda a eternidade”.

       Deste modo, verifica-se que os nossos antípodas tiveram manifestações de tal natureza a não deixar dúvida a respeito da autenticidade da obra medianímica VIDA DE JESUS, escrita por uma médium anônima francesa sob o ditado do Messias Nazareno, manifestações superiores às apresentadas pelos Evangelhos e até os esclarecem em diversos pontos. Na Europa me apraz citar: 1º Sara a Hebréia (Anais do Moderno Espiritualismo, págs. 114, 148, ano 1873) em que se descreve o tremendo tumulto produzido pelo povo diante de Pilatos, confirmando com isto nossa comunicação; 2º Herculanum, livro medianímico (2 volumes) de Wera Krijanowski, filha do general do mesmo nome, que vieram esclarecer algumas passagens dos Evangelhos, entre aquelas que, pelo lugar e as circunstâncias, lançam muita luz ao sermão da montanha, tal como o indica a comunicação referida. Recentemente a Sra. Wera Krijanowski recebeu a nomeação de oficial da Academia Francesa.
         Os dois médiuns citados não conheciam a VIDA DE JESUS.
    Convém citar também o Sr. Aquiles Brioschi, que embora sendo completamente contrário ao espírito do livro, porquanto crê que Jesus é o único filho de Deus, me escreveu não obstante em 1899 o seguinte:

         “Faço-o ciente que nós também temos comunicações sumamente favoráveis a esse livro, obtidas pela mediunidade de uma senhorita, além de instruída e inteligente, médium vidente, as quais afirmam que o livro fará muito bem e que foi obra meritória publicá-lo. Esta senhorita goza da fama de santa”.
         O sacerdote Guido Piccardi, tão contrário à obra elogiada por sua convicção de que Jesus é o único filho de Deus, e tendo-me escrito sobre este particular, como o declarei no Vessillo de agosto de 1899, teve mais tarde que revelar-me que havia recebido repetidas manifestações medianímicas sinceras e contrárias ao seu modo de pensar.
         Não quero também esquecer a distinta Virgínia Amélia Marchoni, professora, que eu via pela primeira vez, e que, procurando amavelmente responder a uma pergunta minha de caráter espiritualista, caiu de improviso em transe, empalidecendoin tensamente e enfraquecendo-lhe a voz e me disse que era realmente de Jesus a obra que me interessava. Comprovei de uma maneira a não deixar lugar a dúvidas o estado de transe em que se encontrava a distinta senhorita, que ao tornar a si recuperou sua voz e suas cores naturais.
         Eu possuo um quadro medianímico feito a lápis pelo médium Favre e que representa a cabeça de Jesus, em cujo anverso tinha o costume de escrever o que resolvia levar a cabo, sem fazer-lhe depois correções. Depois de quase quatorze anos que eu possuía a VIDA DE JESUS DITADA POR ELE MESMO à médium Sra. X... e depois de algum tempo que acariciava a idéia de publicar sua tradução, efetuada por mim, despertei uma manhã com a resolução firme de levá-la imediatamente à tipografia.
         Levantei-me, coloquei o quadro sobre uma mesinha com o propósito de escrever no anverso do retrato a promessa solene de efetuar minha decisão tão depressa estivesse vestido.
         Enquanto me vestia lancei um olhar sobre o quadro, cuja cabeça tinha mudado de aspecto e de posição, oferecendo-se-me à vista uma verdadeira cabeça vivente. Ela se dirigia docemente para o céu com uma intensa expressão de adoração e de prece; porém o que mais me impressionou foram seus olhos de uma expressão sem igual, úmidos, dirigidos para as regiões supremas, cheios de uma alegria indescritível.
           Escrevi minha promessa e a primeira tradução veio à luz.
         Assim, depois de trinta anos de constantes estudos, dos quais doze passei-os como diretor do Vessillo Spiritista, em meio do progresso lento porém seguro, de nossas doutrinas, passando por cima de muitas, banais e grosseiras mistificações, às quais desgraçadamente oferecem oportunidade estas matérias; tomando nota do que dizem cientistas e não cientistas a respeito do Moderno Espiritualismo — que Deus os ajude! — afirmo com plena certeza do que digo: que estou absolutamente seguro da autenticidade medianímica desta obra de luz, a qual me proporcionou tantas alegrias morais como nenhuma outra escrita até agora e me brindou com uma constante e elevada direção, cheia de consolos e de convicção para a marcha da vida terrena.
         Com estes pensamentos publico a segunda tradução.

                                                                             ERNESTO VOLPI


¹ Espírito-guia.

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

COMUNICAÇÃO DE SARA A HEBRÉIA¹


Haviam transcorrido muitos dias depois dos fatos referidos e nada havia eu tornado a saber de Jesus, quando tive de ir ao templo devido às festas de Páscoa, que ali se realizavam. No átrio encontrei-me com algumas moças, entre as quais estava Maria, a irmã: vinham desfiguradas e correndo. Eu perguntei a esta: Maria, me dás notícias de Jesus? — Vem, me respondeu, se ainda queres vê-lo. — Corri, e todas partimos juntas. — Aonde me levas? perguntei. — Vem, se queres, me respondeu novamente Maria.                 

Em meio do caminho nos encontramos com a bela Maria, conhecida pela Madalena, que chorando desesperadamente nos acompanhou, e chegamos assim correndo à porta do palácio do governador de então de Jerusalém, o qual se chamava Pilatos.

Havia um gentio tão numeroso diante dessa porta, que era impossível passar, e uns vociferavam, outros batiam ferros ruidosamente, outros gritavam com voz rouquenha, enfim, jamais tinha eu ouvido uma barafunda tão grande — À força de irmos empurrando, chegamos ao pátio e pude ver. — Deus meu! — quem me houvera dito que tornaria a vê-lo, ao meu Jesus, em semelhante estado? Estava quase despido, com todo o corpo ensangüentado, com o cabelo e a barba em parte arrancadas, com os olhos inundados de lágrimas, porém com o semblante tranqüilo; nós, as mulheres, não pudemos resistir a tal espetáculo: Madalena desmaiou, Maria chorava, e eu, eu nada via já.

Saímos de entre a turba e para nos vermos livres mais depressa dela, atravessamos o pórtico do palácio; um homem chamado Saimod estava sentado nos degraus do pórtico; tinha a cabeça apoiada entre as mãos e grandes gotas de suor lhe corriam pela fronte e caíam no solo. Eu amava muito a Saimod e por isso me aproximei dele. Ouvi que falava sozinho e parei para escutá-lo: “O corpo sofre, o espírito ora, o filósofo luta; eis Jesus”. — Saimod, disse-lhe eu, a quem falas assim? — Apercebeu-se então de minha presença e me disse: Que fazes aqui, Jones? — Vim para ver Jesus, lhe respondi, mas, por que sucedeu isto? — Vem, prosseguiu ele, agora Jesus descansa, porque seus verdugos estão cansados; vem e te contarei o que tem sucedido, porém lembra-te, ó Jones, que grandes coisas estão por suceder, lembra-te que acontecimentos que não tornarás a ver se apresentarão hoje. Vês o sol que resplandece? — Daqui a poucas horas se escurecerá; vês a Terra imóvel? — Daqui a algumas horas se agitará. — Quem te disse isso?, lhe perguntei.— Os astros e o vento.

Saimod era um homem original e incompreensível, que sempre falava de um modo enigmático; por isso nada mais lhe perguntei, restringindo-me a saber se devia permanecer com ele. — Fica-te, me respondeu, até amanhã. — Entretanto voltou a sentar-se no degrau da escada e eu a seu lado, e não falou nada mais.

Eu pus-me a olhar o que se passava ao derredor de mim. As mulheres que me acompanhavam todas tinham saído; Madalena, tendo recuperado os sentidos, entrou novamente, e se havia atirado ao solo, com os cabelos empapando-se no sangue de Jesus, chorava, chorava. Jesus se encontrava sentado ao pé duma coluna, imóvel como um cadáver, com o olhar fixo no solo, apercebendo-se a gente de que estava vivo por um tremor que por momentos lhe percorria todo o corpo; uma infinidade de soldados dava voltas pelo pátio dirigindo palavras ignominiosas a Madalena, enquanto se riam parvoamente entre eles. Oh! — Quão negras eram suas almas! — Como eram maus todos eles! — O pobre Jesus não os maldizia, pelo contrário calava-se.

Amigos meus, semelhantes recordações não sabeis vós quanto me fazem sofrer; permiti-me, pois, que eu vá retemperar minhas forças nos espaços superiores. Voltarei outra vez.

                                                                                                  SARA

¹ Esta importante comunicação, devo-a à amabilidade de meu distinto amigo, o Capitão Ernesto Volpi. — Nota do Sr. Rebaudi.


quinta-feira, 24 de outubro de 2013

SÓ PELO AMOR SERÁ SALVO O HOMEM PREÂMBULO DA SEGUNDA EDIÇÃO livro: Vida de Jesus ditada por Ele mesmo


    Meu conhecimento com Antônio Gama de Paula, o introdutor deste livro no Brasil, surgiu ocasionalmente, vai para quinze anos, quando ambos nos encontramos na diretoria da Tenda Espírita Mirim, nesta cidade afortunada de S. Sebastião do Rio de Janeiro.         Já então havia eu lido a VIDA DE JESUS DITADA POR ELE MESMO, em serões de família, calma e compassadamente, para que minha esposa e nossos quatro filhos pudessem participar, crianças estas embora, do encanto e bem-estar que sua leitura transmitia ao meu espírito.
       O fato de ter sido Gama de Paula o elemento escolhido pelo Alto para difundir na “Pátria do Evangelho e Coração do Mundo” no dizer de Humberto de Campos, esta obra magnífica de claridades celestiais, de parceria com Sebastião Caramuru - uma das personalidades mais atraentes por sua pureza d’alma que conheci - e o perfeito espírito de compreensão que entre nós se desenvolveu, fez que nossas constantes palestras girassem quase sempre em torno da VIDA DE JESUS DITADA POR ELE MESMO.       
    Muitos foram, sem dúvida, os que saíram a campo para dar combate a este livro, na sua primeira edição, em português, na tentativa de arrasá-lo se tal possível lhes fosse, e o fizeram inegavelmente, alguns deles, com argumentos aparentemente irrespondíveis, tão brilhantes se mostraram no manejo de uma inteligência de escol. Ao contrário, porém, do que supunham esses denodados combatentes, tanto mais acirravam o combate ao livro, mais numerosos se mostravam os interessados em conhecêlo por aí em fora. Necessária não foi a defesa da obra para que a mesma se difundisse. Sua luz assumiu uma tão grande força de expansão, que de muitos lugares chegaram pedidos de novos interessados em recebê-lo quando a edição desde muito se esgotara. Mas, para que defesa? Lá estão as palavras do Autor à pág. 252: “Irmãos meus: revelando as causas de minha condenação e os juízos errôneos de meus atos, desejo que minhas palavras não sejam defendidas a não ser por mim somente; é preciso, pois, deixá-las tal como as exponho”. E mais adiante: “Não acreditais muitos de vós que sou eu quem vos fala e nem mesmo vendo-me o acreditaríeis, e tão-pouco o acreditaríeis se
novamente crucificados vos exibissem os meus pobres despojos; porém, isto é porque fechados conservais os olhos da vossa fé, fechadas as portas da humildade, fechados os caminhos de vosso coração”. Para que defesa, pois?
      Ligado desde agora à difusão deste livro no Brasil, atendendo a um apelo fraternal do meu amigo Antônio Gama de Paula que me solicita o patrocínio desta segunda edição, faço-o com o sentimento mais puro e santo que animar me pudesse para proporcionar a mais alguns milhares de leitores, o incomparável prazer de receberem também em seus espíritos ansiosos de luz e progresso as claridades celestiais que a leitura atenta, paciente, meditada, da VIDA DE JESUS DITADA POR ELE MESMO, faz projetarem-se em jorros bem-aventurados sobre tão afortunados irmãos.
     Para encerrar este preâmbulo da segunda edição, desejo fornecer aos leitores algumas breves notas acerca da personalidade do Dr. Ovídio Rebaudi, a meu ver suficientes para
demonstrar todo o valor moral e científico do tradutor desta obra do italiano para o espanhol. Encontram-se as notas abaixo no discurso proferido pelo Sr. Juan Olivero, na noite de 24 de outubro de 1937, na Associação Cristã “Providência”, em Buenos Aires, ao comemorar-se o sexto aniversário da desencarnação daquele culto e elevado espírito . . . . . . . . . . . . . . .
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     “Deve-se recordar — diz o Sr. Olivero — que, em mais de uma ocasião, havia manifestado Rebaudi que seus sentimentos foram espiritualistas desde sua infância, porém os estudos das “Ciências Naturais”, mal dirigidos, como o são sempre pela cegueira dos professores universitários, que não examinam senão a materialidade do que nos rodeia, foram talvez os que retardam a manifestação de suas faculdades supranormais; por isso seu cérebro não dava ensejo, senão melhor se firmava nas afirmações da escola materialista.
  “Mais ou menos pelo ano de 1884, observou e estudou os fenômenos chamados “transcendentais”, logrando também reproduzir muitos deles em forma experimental e científica. 
  “Teria então os seus quarenta anos quando ingressou na Sociedade Constância, ao tempo em que praticava estudos de magnetismo nos laboratórios da Sociedade Científica de Estudos Psíquicos, que o levaram à doutrina da destrutibilidade da matéria, chegando a completar a teoria com numerosas provas, demonstrando que a matéria é um estado transitório da energia. Com este título apresentou um de seus trabalhos juntamente com outro¹ ao Terceiro Congresso Científico Pan-Americano reunido em Lima em 1924.
      “Muito tempo antes da descoberta do rádium, o Dr. Rebaudi havia notado que o acetato de urânio possuía propriedades biopsíquicas e mais tarde, quando se descobriu o rádium, comprovou a presença de pequenos vestígios deste; designou o primeiro como sal radiomagnético, por sua radioatividade. Assim, por seus múltiplos trabalhos científicos e seu saber, Rebaudi era conhecido pelo nome de “Sábio Paraguaio”. Recordarei que ele foi reitor da Universidade — Professor de Biologia e Química Médica, Diretor do Laboratório Químico e Bacteriológico de Assunção — como dos Laboratórios Químicos, Nacional e Municipal, de Buenos Aires, tendo o Município lhe concedido o título de Químico Honorário; possuindo ainda numerosas outras distinções de instituições científicas tanto do país como do estrangeiro.
      “O Dr. Rebaudi somente procurou obter renome científico, para que sua palavra tivesse autoridade ao manifestar-se sobre Espiritismo e Cristianismo.
       “Assim o vemos provando cientificamente suas teorias com investigações realizadas no Instituto Metapsíquico, cujos trabalhos foram publicados em revistas. Entre outras, La Magnetológica e Metapsíquica, em livros e folhetos, como também em conferências públicas, de onde pontificou que:

                    A matéria é um estado transitório de energia; que                               a realidade reside mais no invisível e intangível                                 do que no visível e tangível; que, entre o material                                e o elétrico e o corporal e o extracorporal, existe
                     uma substância intermédia; que a personalidade
                     humana pode agir independentemente do corpo;
                     que experimentalmente, por processos magnéticos, 
                     se pode determinar a separação da personalidade                             humana; dita personalidade exteriorizada não é
                      mais do que a alma humana; que a mesma perso-
                      nalidade, separada definitivamente do corpo pela                              morte, tem dado provas de sobrevivência; a volta                                da alma ao mundo de relação mediante um novo
                       corpo; a pluralidade dos mundos habitados; a
                       idéia de justiça; a lei iniludível do progresso; e, 
                       no fim de tudo, encontra-se a Deus.

   “Seja por disposição natural ou por meio de exercíci-os realizados, Rebaudi havia conseguido desenvolver faculdades
supranormais em alto grau, sendo-lhe possível o desdobramento, até haver chegado em certas oportunidades a fazer-se visível longe de seu corpo. Em vários ensaios de exteriorização, conseguiu visitar distantes regiões planetárias, onde recolheu sensações das quais guardou clara impressão de sua rápida visão.
 “Ele próprio também conservava recordações de diversas existências passadas que tinha bem presentes, referindo-nos encarnações, algumas delas de épocas bem remotas.
        “Tudo isto eu ponho de manifesto a fim de que seja compreen-dido que necessariamente deveria ser muito elevada sua personalidade espiritual para possuir um organismo de condições excepcionais por sua sensibilidade, dotado de faculdades notáveis. “Por sua mesma sensibilidade devia arrostar com inteireza de ânimo e superior firmeza a contínua avalanche das
forças do mal que, em constantes arremetidas, pretendiam aniquilá-lo. Mas Rebaudi, com pureza de seus pensamentos e agindo com a consciência de sua missão, passou sua vida na Terra em intensa luta para sustentar a luz pura, porque amava a Verdade.                          “Conhecemos seus esforços, suas obras e seus sacrifícios; por isso dizemos que Ovídio Rebaudi foi um ser superior, porque sustentou bem alto o ideal do Cristianismo e continua do espaço alentando com suas comunicações em apoio de seus irmãos da Terra a prosseguirem a obra de amor, como o ensinara o Divino Mestre Jesus”.
        Eis, para os leitores desta segunda edição da VIDA DE JESUS DITADA POR ELE MESMO, estes expressivos esclarecimentos acerca da personalidade do tradutor da edição italiana para o espanhol, o que deve constituir, por isto mesmo, um valioso testemunho do valor que o mesmo reconheceu nos fundamentos da obra.

Rio de Janeiro, julho de 1948  


DIAMANTINO COELHO FERNANDES

¹ Mineração Paraguaia e Química Aplicada à Higiene.

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

INTRODUÇÃO À EDIÇÃO CASTELHANA - Livro: Vida de Jesus ditada por Ele mesmo


   Havia formado o propósito de não dizer uma palavra sequer referente a esta obra, cuja tradução empreendi com verdadeiro tédio, somente cedendo aos numerosos e contínuos pedidos dos assinantes da Revista Magnetológica e de outros amigos; porém confesso que bem depressa mudei de modo de pensar a seu respeito, como o demonstram as numerosas notas que lhe fui agregando, e ao terminá-la neste momento, sinto uma verdadeira necessidade de quebrar, mais resolutamente do que fizera com as notas, minha primitiva resolução e abster-me de todo comentário e de omitir qualquer introdução à edição castelhana. É um dever de sinceridade que veio impor-se de certa maneira, e como a sinceridade é uma virtude inerente a todo espírito evoluído, eu sempre quis começar por ela para chegar a sê-lo algum dia.
       Não pouca relutância me custa realmente ocupar-me do assunto, não tão-somente da obra, na forma em que vou fazê-la, ainda que omitindo a maior parte do que poderia e teria que dizer, se o espaço nos permite, pois não deixo de abrigar meus temores com respeito à maneira como julgarão minha profissão de fé alguns dos leitores, pouco preparados ainda para os assuntos do Moderno Espiritualismo, como é natural supô-lo, quando se trata de coisas recentemente postas em ordem do dia.¹
      É verdade que muitos ainda vêem com olhos assustadiços e muitos com incredulidade ou falta de compreensão, tudo o que se refere ao fenomenismo medianímico, com o qual justamente se relaciona uma boa parte do que vou dizer. Mas, como se trata de fatos, meu único papel é referi-los com clareza e simplicidade.
     Direi, antes, que, como espiritualista independente, não estou preso a nenhum credo ou religião, aceitando o que me parece justo e verdadeiro, de onde quer que ele venha. Assim com respeito ao Cristianismo mais uma objeção havia alimentado em meu espírito e muito pobre conceito me havia merecido seu fundador. Concedia-lhe quando muito o título de um ignorante e fanático iluminado, sustentando contínuas polêmicas a respeito, na Sociedade Constância e particularmente com seus ilustrados Presidente e Vice, senhores Cosme Marinho e Felipe Senilhosa, que me honravam com sua amizade e confiança.
  Dizia-lhes, entre outros muitos argumentos. Aceitando do completamente vossas teorias com respeito aos seres encarregados de uma missão sobre a Terra, não é admissível que a Inteligência Suprema escolhesse a bárbara e atrasada Judéia como ponto de partida para a implantação de novas doutrinas, mediante uma nova revelação, se é que as chamadas revelações² têm tido lugar alguma vez. Não é admissível, portanto, a aparição de um Jesus, tal como o pintam, e sempre aceitando a teoria dos enviados, no meio de um ambiente como o hebreu, que nenhum prestígio tinha no mundo civilizado, nem por seu poder militar, nem por seu comércio e riquezas, nem pelas indústrias, artes, letras e ciências.
       Roma dominava o mundo por seu poder e Atenas por sua cultura; qualquer dessas duas cidades houvera podido servir vantajosamente como centro de irradiação para as novas idéias e não se pode supor em uma inteligência superior, como seja a de Deus, tanta falta de tino como colocar seu enviado em meio de um povo pobre, atrasado e vencido, em lugar de aproveitar-se das vantagens que lhe resultariam da supremacia de Roma ou Atenas.
   A atuação de Jesus teve tão pouca ressonância, que ne-nhum escritor se ocupou dela, a não ser o historiador hebreu Josepho, que só a ele se refere de passagem, e ainda isto mesmo se crê que ela representa uma interpelação alheia ao autor. A Vida de Jesus, as profecias que a anunciaram, seu nascimento de uma virgem por obra do Espírito Santo, a morte dos inocentes, sua pregação, seus milagres, até mesmo a transfiguração, tudo é uma cópia dos Vedas, da vida e atuação de Krishna, a segunda pessoa da trindade budista.
      Finalmente, depois de ajuntar e ampliar os argumentos dos autores contrários a Cristo, terminava sempre, em minhas discussões íntimas, por classificar de vagabundo a Jesus, por não ter domicílio nem meio de vida conhecidos. Expondo tudo isto com singela precisão porque se ligam com ele umas alucinações sumamente curiosas que, em verdade, não deixaram de impressionar-me profundamente. Vou referi-las sem mais delongas, com o objetivo de abreviar. Casualmente havia tido com alguns amigos uma conversação referente a questões filosóficas, a qual havia terminado com pareceres diversos a respeito do Cristianismo e
com minha opinião desfavorável para com Jesus; havia regressado bastante tarde a minha casa e, momentos depois de me haver deitado, vi ao lado de minha cama uma pessoa de pé, olhando-me ternamente porém com fixidez. Sua figura e sua vestimenta eram as do próprio Jesus, tal como nos acostumaram a ver nas pinturas e esculturas. Porém era tal a superioridade e doçura de sua expressão, era tal sua idealidade, que não somente eu nunca tinha visto nada parecido, como nem sequer imaginado. Sentia-me ao
mesmo tempo envolvido por uma aura tão suave, que se apoderou de mim num bem-estar indizível. Sentia-me penetrado, diremos assim, pelo pensamento desse ser superior, e tinha a sensação de que todos os meus pensamentos se encontravam a descoberto, claramente revelados, desnudos, diante de seus ternos olhares.
   — Que pensas tu de mim? Perguntou-me com voz e aspecto graves, porém carinhoso.
      — Que foste um vagabundo,3 respondi maquinalmente.
      — Sei que assim pensas, disse com suavidade.
    Em seguida, já completamente senhor de mim mesmo, lhe per-guntei por minha vez com veemência:
      — Porém, dize-me: Tiveste realmente consciência de que desem-penhavas uma missão e de que eras um enviado?
      Respondeu-me, sem falar, movendo a cabeça três vezes em sinal de confirmação.
      — Porém, em meio das contradições e da malevolência que te rodeavam, continuavas julgando-te com inteira segurança?
        Igual resposta.
        — Sabias que ias morrer e aceitavas a morte em apoio de tuas doutrinas com verdadeira consciência do que fazias?
         Novamente a mesma resposta.
        — E agora, depois de vinte séculos de tua pregação, vendo que os homens não se emendam, não se apartam de suas discórdias e maldades, segues com as mesmas idéias?
     Movendo uma vez mais a cabeça em forma afirmativa e apon-tando o céu com o indicador, disse: Só pelo amor será salvo o homem.
     Desapareceu a visão ou alucinação, deixando-me na mais pro-funda perplexidade, sem mover-me e sem saber a que atinar durante largo tempo.
       O fato não tornou a repetir-se, porém, ao decorrer um ano talvez, experimentei uma alucinação auditiva, relacionada com o mesmo Jesus.
     Encontrava-me no Paraguai, terminando uma carta dirigida ao Professor García, então Diretor da Revista Magnetológica, na qual me declarava vencido afinal pelas instâncias que se me faziam para a tradução da Vida de Jesus e pensava a razão por que teria que ser precisamente eu o tradutor de dita obra, tais eram as insistências com que desde muito tempo se me assediava para esse trabalho, quando ouvi distintamente estas palavras: Foste o escolhido por tua sinceridade.
        A voz era perfeitamente humana. Voltei-me rapidamente para ver quem falava, sem pensar que se tratava da resposta a uma reflexão mental minha, o que demonstrava imediatamente não se tratar de um fato normal.4 
        Efetivamente não descobri ninguém.
      Mas devo uma explicação a respeito dos repetidos pedidos no sentido deste trabalho, que, como já disse, eu não estava disposto a empreender, havendo-me negado sempre a ele.
      Haviam decorrido uns cinco anos mais ou menos, da data em que, encontrando-me na Redação de La Fraternidad, me dissera seu Diretor, ao mesmo tempo que mostrava-me um livro de capa cor de tijolo: “Aqui tem uma obra medianímica que está fazendo muito ruído, é a VIDA DE JESUS, DITADA POR ELE MESMO. Todas as revistas se têm ocupado dela, dedicando-lhe entusiásticos elogios. Seria sumamente útil que você a traduzisse”.
        — Por que eu? Já sabe o pouco amigo que sou destas coisas. Tenho muito de que ocupar-me e que considero de maior utilidade”.
      Meses depois encontrei a mesma obra sobre a mesa da Re-dação de Constância e o Administrador, que me viu olhando o livro longe, perguntou-me se a conhecia e se me animaria a traduzi-la para o castelhano, pois contavam-se em grande número os interessados. Respondi na mesma forma que o havia feito anteriormente e como outras pessoas insistissem em aconselhar-me a empresa, manifestei a opinião de que ela talvez se tornasse causa de prejuízos maiores que de utilidade.
    Mais tarde o Senhor Ferraro, Secretário da Federação Es-piritualista, apresentou-se-me com o mesmo exemplar (o que não era de estranhar porque a Federação celebra suas reuniões no mesmo local de La Fraternidad), e elogiando a obra, me fez ver também a conveniência de sua tradução, com resultados idênticos aos casos anteriores.
      Certa ocasião, estando de visita em casa do Dr. Cosme Mari-nho, pai, deparei com o mesmo exemplar sobre sua escrivaninha. Falou-me ele também muito favoravelmente da tal VIDA, pelo que dela havia ouvido falar e por ter encontrado passagens notáveis ao folheá-la, e me perguntou se eu não achava conveniente sua tradução.
       Insisti na mesma resposta, acrescentando que parecia não ha-ver mais que esse exemplar em Buenos Aires, pois era sempre o mesmo o que caía sob meus olhos, como se me fosse perseguindo,
talvez pelo muito amigo que era eu de Jesus.
        — Havia-me esquecido, disse o Dr. Marinho, que o senhor nada quer saber de Jesus, porém está laborando em um grande erro, porquanto a idéia religiosa está intimamente ligada à personalidade do Cristo no Ocidente e unicamente sob o prestígio de seu nome há de evoluir a moral entre nós. Ademais, a nova revelação tem agora seu lugar dentro do Cristianismo.
     — Eu jamais lhe contestei, fiz derramar uma lágrima a um se-melhante meu, nem mesmo entre os meus companheiros sendo menino, pois sempre estive completamente alheio às disputas de rapazes; jamais cometi tampouco a menor injustiça, consciente do
ato que ia praticar, e tenho feito todo o bem ao meu alcance, ainda que prejudicando-me, como tem acontecido muitas vezes, não obstante este meu viver, nem sou cristão nem quero saber nada do Cristianismo, e se o Cristianismo jamais houvera existido, nem por isso a moral e o sentimento religiosos haveriam deixado de participar do progresso geral do mundo.5
     O Dr. Marinho manifestou sua discordância com argumentos e citações muito felizes, mas que não me convenceram.
      Foi algum tempo depois desta conversação com o Dr.Marinho que teve lugar a estranha alucinação da aparição de Jesus, à qual, diga-se a verdade, coube o poder de mudar radicalmente meu modo de considerá-lo a ele e à sua obra.
       Tive que transportar-me mais tarde para o Paraguai, buscando em seu benéfico clima e formosa natureza um remédio para minha abalada saúde, o que tive a sorte de encontrar, conseguindo uma notável, quase radical, melhora.
     Foi então quando recebi carta do Diretor da Revista Magne-tológica, dizendo-me que havia se tornado mais intenso o entusiasmo pela Vida de Jesus, e que a seu ver eu devia satisfazer o desejo de muitos bons assinantes. Que afortunadamente tinha em seu poder um exemplar em italiano, que lhe emprestara o Senhor Ezequiel Mazzini; este também indicando a conveniência da tradução, e que com esse objetivo tinha lido a obra, ficando encantado com ela e completamente seduzido por seu estilo e por seu conteúdo. A obra se impõe realmente ao espírito do leitor e se não foi Jesus quem a escreveu, ou ditou, deve ser outra pessoa igual a ele, como se fora ele, tal é a influência que ela exerce no ânimo dos que a lêem; assim, mais ou menos, me escreveu.
       Minha resposta foi negativa, porém pouco categórica, e com o recebimento de novas cartas, mais fracas ainda se tornaram as negativas, até que me foi remetido o exemplar prometido, que outro não era senão o que eu já havia visto nas diversas ocasiões a que me tenho referido. Este detalhe também me impressionou, embora nada de estranho tivesse em verdade, porquanto me parece não existia outro exemplar em Buenos Aires.
       O que realmente é estranho, e que mais do que tudo merece chamar a atenção, é o fato, que a muitos tenho referido, da paralisação que experimentava na mão toda vez que, ao traduzir alguma passagem que se me deparava difícil, pretendia introduzir modificações na frase. Devia, pois, restringir-me o mais possível à letra do original, porquanto se me tornava humanamente impossível o escrever com alterações, a menos que se tratasse de alguma modificação de simples palavras forçosamente impostas pelas diferenças do idioma; porquanto a mão não obedecia já a minha vontade, e se, fazendo um esforço, lograva introduzir alguma ligeira modificação, a mesma mão, arrastada por uma força irresistível, riscava as palavras acrescentadas ou substituídas.
    Penso ser um dever de consciência referir este fato, que con-sidero de uma importância transcendente, porquanto devido a ele, a tradução resultou de uma extraordinária exatidão, e também porque o caráter misterioso que presidiu o processo da tradução em si mesma, feita por quem menos que nenhum outro houvera parecido ser o designado para este trabalho, veio a acentuar-se muito mais ainda devido a tal fenômeno.
      Trata-se realmente de fatos anormais, tanto neste caso como nos dois anteriores, fatos cuja referência não me há de favorecer perante a opinião pública, pela falta geral de conhecimentos das matérias que se relacionam ao medianismo.
      Bem sei, salvo casos especiais, o escritor deve manifestar-se sempre de acordo com a cor e grau de intelectualidade de seus leitores, sem adiantar-se imprudentemente à época em que se encontra6 e ao nível geral da inteligência, sob pena de cair vítima do desequilíbrio em que viriam a ficar reciprocamente colocados, um com respeito aos outros; porém sei também que é grave erro o de manter-se sempre dentro da rotina dessas idéias velhas, tão-somente pelo temor egoísta de comprometer sua própria reputação de homem ponderado e de reflexão madura, pelo qual os espíritos conservadores imaginam ser distinguidos pelas maiorias.
   O justo e lógico seria que, sem dar saltos, imprimindo es-tremecimentos bruscos à tranqüila superfície das águas da intelectualidade geral, procurasse cada um provocar um pequeno movimento de avanço ao conjunto das idéias e do pensamento das massas, colaborando pessoalmente assim todo o que escreve, na grande obra do progresso humano, em lugar de contribuir para a paralisação das faculdades superiores do espírito.       Devido a tal crença é que me animei a apresentar as manife-stações sinceras que deixei acima, com respeito ao que me sucedeu no terreno do fenomenismo medianímico e que designei como casos de alucinação, por falta de controle, único que, estabelecido com rigor, teria podido conduzir-me ao estudo de ditos fenômenos, como de alguma coisa realmente objetiva.
      Apesar disso, a mesma índole dessas alucinações e o momento em que tiveram lugar, são de natureza como que para dar algum prestígio ao protagonista da obra que eu haveria de traduzir mais tarde, e à própria obra, arrastando-me de alguma maneira para o sentido religioso de seu conteúdo.
       Já que tratamos deste ponto, Vou permitir-me também relatar o que em igual sentido sucedeu com a distinta Senhora Maria Z. De Brignardello, membro ativo da Sociedade Constância Encontrava-me algo adiantado na tradução da VIDA DE JESUS, quando esta senhora veio em visita a minha esposa.
      Julgando-a sabedora do trabalho que estava executando, falei-lhe
dele e do entusiasmo geral, manifestado por uma infinidade de cartas, que todos os dias vinha recebendo.
      Fui informado que a senhora, não recebendo por aquele tempo a Revista Magnetológica, tudo ignorava sobre este particular, e com o propósito de bem inteirá-la sobre o assunto, li para que ela ouvisse o belo prólogo do Capitão Volpi, e diversos outros fragmentos, entre os quais se encontrava o retrato que Jesus traçara de si mesmo. Ao ler esta parte notei que a senhora a escutava com manifesta contrariedade.
      Manifestou-me, sem embargo, a boa impressão geral que a leitura do trabalho tinha produzido em seu espírito, e se retirou levando consigo o que lhe entreguei da tradução.
    Alguns dias depois fomos, minha senhora e eu, à sua casa em retribuição à visita que nos fizera, e me recebeu dizendo-me:
   “Estava ansiosa por encontrá-lo para referir-lhe um fato ex-traordinário que me sucedeu fora de toda a expectativa de minha parte”. Eu tinha lido a descrição do retrato de Jesus, prosseguiu, em uma obra que tratava dele e que muito me havia agradado, aceitando como absolutamente exato o que a seu respeito na mesma se dizia. Quando ouvi depois o que o senhor me leu com referência ao físico do Mestre, me impressionou muito desagradavelmente a assinalada diferença resultante da comparação que fiz dos dois retratos: o que eu conhecia anteriormente e tinha por certo e o da leitura que me proporcionou. Calei-me não obstante, dizendo para comigo mesma: talvez eu não tenha ouvido bem.
        Na mesma noite, logo que cheguei à minha casa e me dispus a deitar-me, resolvi antes tornar a ler o retrato. Sua leitura veio confirmar o meu juízo primitivo, causando-me verdadeiro dissabor o que, sem mais demoras, considerei uma inaudita mistificação.
      Deitei-me sob essa desagradável impressão, depois de haver aceso, como de costume, a lamparina da noite.
     Havia-me deitado há poucos instantes, quando, fixando meu olhar em um quadro de Jesus que tenho em frente ao meu leito, me pareceu que o retrato movia os olhos, olhei com redobrada atenção e o fato tornou-se-me real; os olhos se moviam sem dúvida alguma e me olhavam com uma expressão tão delicada e tão suave, que eu não posso definir.
       Via ao mesmo tempo a imagem que se ia engrandecendo e des-tacando-se do quadro, aos poucos ia tomando corpo e assumindo vagarosamente os caracteres da realidade. A dúvida não era possível, a evidência estava ali diante de meus olhos.          
      E já não eram tão-somente os olhos, senão o rosto todo e de-pois o corpo inteiro, que se via claramente no centro de uma luz diáfana, tenuemente azulada, que a este tempo tinha inundado todo o
aposento. No centro deste clarão divisava-se nitidamente uma pessoa, e esta era a pessoa de Jesus toda inteira, cobrindo naturalmente o quadro, que desapareceu por detrás de tão inesperada como portentosa visão; o Mestre se deslocou lentamente para o meu lado, como que deslizando, sem tocar o solo.
       A luz que rodeava, com uma claridade realmente celestial, a pes-soa de Jesus, me permitiu ver com precisão a sua fisionomia,sem igual por sua beleza e pelo idealismo de suas expressões. Os seus traços, a cor de seus olhos, tudo correspondia em seus menores detalhes com os do retrato que o livro, que ele ditou, fazia do Mestre.
     A visão permaneceu alguns instantes diante de mim e durante todo esse tempo, e depois de seu desaparecimento, me senti inteiramente envolvida e penetrada por uma atmosfera salutar, tão tênue e tão suave, que nada que com ela se parecesse havia eu jamais percebido, nem sequer imaginado. Produziu-me aquilo um místico arroubamento que me sinto incapaz de descrever.
     Desvanecida a aparição, continuei sentindo-me como que do-cemente dominada por esses benéficos eflúvios que se tinham
desprendido do espírito que me aparecera, e que produziram em mim um bem-estar até então desconhecido, e adormeci como que possuída por um sentimento de devoção, sob a impressão de que realmente tinha sido o próprio Jesus, quem se apresentara em pessoa para testemunhar a exatidão do retrato, que ele nos faz de si mesmo nesta sua história e para dar ao mesmo tempo à obra todo o cunho de veracidade que se pode deduzir de tão extraordinário
fenômeno, produzido em seu favor.7
  Este comovedor acontecimento deixou-me profundamen-te convencida que a VIDA DE JESUS, DITADA POR ELE MESMO, é realmente verídica.
       Convém recordar que a Senhora Brignardello se havia retirado de minha casa levando um conceito desfavorável para com o novo retrato de Jesus e que essa má disposição se tornou extensiva a todo o livro quando, relendo-o já em sua casa, disse: isto é mistificação. Recolheu-se, pois, a seu aposento com essa impressão e foi sob a mesma que teve lugar o fenômeno, sob todo ponto inesperado.
      O mais curioso é que estas aparições, as chamaremos assim, se repetiram com diversas outras pessoas, freqüentemente, durante o sono, porém outras vezes durante a vigília, com pessoas reciprocamente desconhecidas e que nessas ocasiões ficaram surpreendidas pela manifestação, como no caso acontecido à Senhora de Brignardello, por não terem antecedentes de nenhuma espécie a respeito e resultar-lhes completamente inesperado o fato.
    Porém eu só refiro a que antecede para evitar as que se tor-nariam inúteis repetições, pois, salvo variantes de detalhe, todas elas se parecem. Como quer que seja, se vê claramente do que ficou atrás, assim como do que vem relatado no belo prólogo da tradução italiana, e do conteúdo e estilo da própria obra, se vê de tudo isto alguma coisa como que o advento de uma era nova de labor
cristão, como se o Mestre, reassumindo a direção, tome o lugar que de direito lhe pertence como encaminhador do intenso movimento espiritualista que se evidencia em todas as partes há pouco mais de meio século.
   A moral e o sentimento religioso nada são fora da idéia espi-ritualista, única que lhes empresta verdadeiro apoio, depois de lhes haver dado a existência, senão que ela deve ajustar-se severamente à verdade para possuir valor efetivo em si mesma. Se a idéia espiritualista, para defender os foros de sua tradição, se declarasse contrária às verdades que vão descobrindo-se com o progresso das ciências, como sucede com o espiritualismo inculcado pelas religiões e com o ensinado pela filosofia clássica, perderia todo o seu prestígio, porque a verdade nunca pode ser contrária à verdade.
    Esta VIDA DE JESUS vem prestar um importantíssimo serviço neste sentido, deixando de lado, como não existentes, muitos acontecimentos que tornavam inaceitável, para a maior parte dos estudiosos, a pessoa do Cristo, devolvendo-a assim à realidade precisamente no momento em que se fazem os maiores esforços para relegá-la à categoria das lendas.
      Ganha deste modo a verdade e ganham principalmente a moral e o sentimento religioso, que se fundamentam e sempre devem fundamentar-se nela.
     Certos indivíduos costumam estabelecer uma separação profunda entre o ideal e o real. Assim procedem porque ignoram que geralmente há maior realidade no que não se vê, do que naquilo que se vê, pois no desconhecido se encerra todo um infinito de realidade, ao passo que nossos cinco pobres sentidos só nos põem em relação com uma parte ínfima do que existe; a outra grande parte é para nós como se não existisse. Conformemo-nos entretanto com o que temos alcançado e com o que paulatinamente vamos alcançando, demonstrando-nos, sobretudo, sempre sinceros, dispostos a aceitar o verdadeiro, venha ele de onde vier.
     Convém recordar aqui que se deve ao progresso das ciências, até agora em luta constante com todas as religiões, o grande passo dado para a frente pela Humanidade. É a esse progresso que se deve o rompimento das cadeias que tinham estreitamente acorrentado o pensamento do homem a preocupações retrógradas e a doutrinas perversas, que chegaram a santificar os crimes mais horrendos da INQUISIÇÃO e a inundar o mundo inteiro em rios de sangue, com suas intrigas religiosas na Europa, com as cruzadas na Ásia e com a conquista na América.
       Mas uma coisa é o sentimento religioso e a moral e outra coisa são as religiões. Esforçam-se justamente a moral e o sentimento religioso por dirigir por caminho reto a mentalidade humana elevando-a acima dos atavismos de nossa origem bestial.
       Não culpemos portanto a coisa alguma e a ninguém do que somente é fruto de nossas baixas paixões. Deixemos esse passado de opróbrios, e olhemos frente a frente, impondo a nós mesmos, como dogma essencial de nossas crenças, a obrigação estrita de fazer cada um quanto esteja ao seu alcance em favor da dignificação humana, mediante a cultura da inteligência, a elevação do caráter e o brilho de novos e alevantados sentimentos.8

                                                                            OVÍDIO REBAUDI


¹ Não me refiro naturalmente aos que se sentem refratários a tudo o que não se relaciona com a ordem exclusivamente material das coisas (que são os verdadeiros materialistas e que também não poderiam deixar de sê-lo, por deficiência de evolução cerebral neste sentido). Há materialistas que o são por convencimento e não por convicção, devido a que o estudo e a análise dos fatos os convenceram da falta de fundamento do espiritualismo que se lhes havia ensinado. Não é destes que eu falo, pois são em geral os mais bem dispostos para o estudo do Moderno Espiritualismo. — Nota do Sr. Rebaudi.

² Nós os modernos-espiritualistas cremos na estrita solidariedade entre o mundo corporal e o extracorporal, do qual resultam revelações permanentes da verdade, mediante o progresso, que nos torna capazes de sua percepção e compreensão cada vez mais completa.   Essas revelações, de preferência, que se singularizam em determinados povos, favorecendo as divisões entre os homens, não são críveis, ainda que aceitando a teoria religiosa. As religiões têm sido sempre uma da causas permanentes das discórdias humanas e não é possível atribuir esse papel à revelação divina, na qual todas elas dizem basearem-se. O que se observa é que os indivíduos como os povos marcham para a perfeição por seus próprios méritos e por seus próprios esforços. — Nota do Sr. Rebaudi.

³ Essa era na realidade minha idéia e eu manifestei-a maquinalmente; quase pode dizer-se que se manifestou por si mesma ao ver-se meus pensamentos completamente a descoberto.

4 Nos dois casos, porém, mormente no primeiro, o fenômeno alucinatório me tomou realmente de surpresa, porquanto nenhum antecedente interveio para a sua produção: nada, nem remotamente parecido, havia passado por minha imaginação e nada pode haver-se apresentado nunca com maior espontaneidade. Sem dúvida alguma não houve nisto possibilidade de controle; por isso designo o caso como alucinatório, confessando não obstante que ele influiu em mim como se se tratasse de fatos reais.

5 Refiro tudo isto, que por si só carece de importância, para demonstrar o estado de meu espírito antes da manifestação que tanto me impressionou, por mais que ela não tivesse
parecido relacionar-se com a Vida de Jesus.

6 Sem ser espírita, ou coisa parecida (já disse que não pertenço a nenhuma escola determinada) compreendo que o mesmo se encontra fora do alcance da generalidade dos homens. Como doutrina moral, não sendo outra coisa que o próprio Cristianismo, seus preceitos são claros e simples, embora moralmente superiores a sua execução na prática por parte dos adeptos; porém o lado filosófico é já mais difícil, sendo a chamada Teosofia uma prova das complicações que podem resultar de seu estudo. A inventiva teosófica, efetivamente, chega até a dotar a alma de um corpo de desejos e que se organiza de maneira como que para constituir dentro de um regime centenário todo o desenvolvimento de suas teorias, demonstra como é fácil desviar-se quando se abandona o terreno positivo para lançar-se no campo das divagações filosóficas. O verdadeiro é o positivo, o que de alguma maneira constitui uma realidade. A Teosofia despreza o fenomenismo, adiantando em troca afirmações, não abonadas por fatos, sobre estas afirmações levanta um edifício, que tanto mais se distancia da verdade quanto mais se eleva. A Teosofia é, pois, um desvio místico do Espiritismo teórico.

7 Se supomos que estas alucinações têm uma causa consciente que se encarregara de fazer
ressaltar o valor da VIDA DE JESUS, temos de convir que o objetivo foi alcançado. A única coisa, sem embargo, que nos conduz a essa suposição e o próprio resultado das alucinações que, se quiséssemos catalogá-las como VERÍDICAS, nos encontraríamos diante da absoluta falta de controle. A única coisa que poderíamos dizer, é que existe um acúmulo de circunstâncias, que devido a raras coincidências, todas elas se ajuntam para dar valor à obra e comunicar-lhe um caráter de elevado misticismo. A Sociedade Real de Ciências, de Londres, fez reunir e estudou uma grande quantidade de fenômenos de alucinações verídicas e merece sobretudo ler-se a obra, que justamente com o título de Alucinações Telepáticas, publicou a Comissão formada na douta associação, constituída especialmente pelos senhores Turney, Myers e Padmore. Porém tudo isso se refere a questões complicadas das quais não podemos tratar assim em passagem rápida.

8  Este prólogo foi escrito sem ter à vista as Duas Palavras do tradutor que se encontram
mais adiante e que, publicadas dois anos antes, foram em verdade por mim esquecidas,
devido aos dolorosos contratempos da revolução do Paraguai, onde me encontrava então,
em julho de 1908, voltando a sofrer minha saúde graves transtornos que me obrigaram a
regressar a Buenos Aires. Os dois escritos refletem o meu modo de pensar, em dois
momentos diferentes; eles se completam; entretanto, se os houvera recordado, um dos dois
não teria aparecido. Que sejam tomados em conta do imprevisto e involuntário, casos como
este que forem aparecendo na publicação desta obra. — O. R.