Passa já da hora o vosso despertar espiritual . . . Saiba que a tua verdadeira pátria é no mundo espiritual . . . Teu objetivo aqui é adquirir luzes e bênçãos para que possas iluminar teus caminhos quando deixares esta dimensão, ascender e não ficar em trevas neste mundo de ilusão . . .   Muita Paz Saúde Luz e Amor . . . meu irmão . . . minha irmã

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

137ª MENSAGEM DE ENSINAMENTOS ESPIRITUAIS Ditada pelo Apóstolo Thomé – Livro: Nova Ordem de Jesus Vol II Em 2-10-1971 Rio de Janeiro - Brasil ALGUNS MILHÕES DE ALMAS PODEM ALCANÇAR A REDENÇÃO AINDA NESTE SÉCULO – UMA NOVA ENCARNAÇÃO DEMORARÁ SÉCULOS – SIGAM OS ENSINAMENTOS DO SENHOR – PALAVRAS DO SENHOR AOS DIRIGENTES RELIGIOSOS DO OCIDENTE



A GRANDE PREOCUPAÇÃO do Senhor Jesus é ajudar as almas encarnadas que são todos os homens e mulheres da Terra, a galgarem os poucos degraus que ainda lhes faltam para alcançarem a sua redenção espiritual. Dizendo redenção espiritual o Senhor Jesus deseja significar o grau de relativa perfeição moral a ser atingida na Terra pelo grande número de almas que aqui se encontram em busca de maior progresso espiritual. Não se trata, evidentemente, da evolução total destas almas visto como sendo a vida infinita, muito terão ainda de aprender ao longo dos milênios do porvir. Há, porém, um determinado limite a ser atingido pelas almas que se encontram na Terra, para que possam considerar-se almas redimidas, e o Senhor Jesus está empenhado em que esse limite seja atingido ainda por alguns milhões de almas que se encontram encarnadas na Terra.

Há então necessidade de que todas estas almas se capacitem desta verdade e se despertem para alcançá-la o mais rapidamente possível, visto como encerrada esta presente encarnação deverão contar com um estágio de cem a duzentos anos no mundo espiritual para que possam conseguir um novo mergulho na carne.

O Senhor Jesus já explicou em Mensagem anterior o Seu grande empenho em preparar o maior número possível de almas encarnadas para servirem nos próximos séculos como Guias espirituais de outras almas encarnadas. Mas para que possam desempenhar tão elevada missão do serviço divino, necessário se faz que se encontrem na posse de certos conhecimentos acerca da vida espiritual.

O Senhor Jesus tem procurado difundir nestas Suas Mensagens uma soma de conhecimentos capazes de servirem ao desenvolvimento espiritual de todos os leitores, como o elemento de que mais necessitam para alcançarem aquele desejado grau de desenvolvimento espiritual que é a sua redenção. Com isto está o Senhor Jesus procurando suprir as deficiências dos ensinamentos ministrados pelas religiões terrenas, tão deficientes tem sido no que se refere à vida espiritual das almas encarnadas. A propósito, deseja o Senhor informar aos seus estimados leitores, que se estão preparando no Alto grandes reformas no ensino religioso da Terra, de maneira a esclarecer as almas desde a infância acerca de sua origem e finalidade de sua vinda à Terra. O sentido dessas reformas já está sendo transmitido por inspiração aos dirigentes das diversas religiões existentes na Terra, na esperança de que os recebam e ponham em prática o mais depressa possível.

O mundo terreno está caminhando cada dia para um novo e mais alto nível de vida planetária, em harmonia com as próprias vibrações de sua população de almas voltadas para a espiritualidade, e isto importa paralelamente no aprimoramento do ensino religioso que vem sendo ministrado nestes dois últimos milênios. Numerosas almas estão descendo à Terra desde a segunda metade do século passado com a missão de impulsionarem o ensino religioso com vistas à espiritualização de todas as almas encarnadas, do que resultará a elevação do nível vibratório de toda a população terrena.

Seria talvez pedir de mais aos atuais dirigentes das religiões terrenas, principalmente no Ocidente, que procedessem a uma reforma imediata dos seus princípios fundamentais, dado que já os encontraram ao assumirem seus cargos atuais. Contudo, o Senhor Jesus sempre deseja dizer algumas palavras a essas almas responsáveis por cada uma das religiões terrenas, e essas palavras são as seguintes: – Meditem demoradamente sobre quanto está acontecendo na Terra em matéria dos novos instrumentos do progresso que se estão apresentando em todos os setores da vida material, sendo levados a concluir que isso deve ser apenas uma parte do progresso geral da vida terrena. Hão de certamente chegar à conclusão de que os homens que tal sentido de progresso estão imprimindo à vida terrena não podem ser almas possuidoras de uma única encarnação no solo terreno, mas Entidades longamente vividas e experimentadas através de numerosas vidas passadas, durante as quais lograram desenvolver e aprimorar os seus conhecimentos. Isto é uma verdade autêntica que deve ser aceita e proclamada pelas religiões terrenas a todos os seus adeptos, em substituição à falsa afirmativa de que as almas são criadas no momento do nascimento dos corpos e com eles encerrarão a sua vivência na Terra. Semelhante teoria deve ser substituída pela verdade das reencarnações sucessivas das almas durante milênios, até que adquiram na sua vivência terrena todos os conhecimentos e experiências possíveis de adquirir na Terra. É tempo, pois, de se arquivar esse tipo de ensinamentos ditos religiosos, mesmo porque as almas que vêem chegando ao solo terreno já se encontram muito além desse tipo de ensinamentos.

Preparem-se as religiões terrenas para ministrar aos seus adeptos o conhecimento da origem das almas, surgidas de uma simples idéia na Mente Divina, e sua longa caminhada através de milhões de anos vividos primitivamente no éter imponderável até que as circunstâncias lhes permitam construir, primeiro, um organismo animal bastante simplificado para se transportarem a este plano físico. Todas as almas tiveram esta mesma origem, tendo percorrido longamente a escala da vida animal que pode ser contada por milênios, até que lograram ingressar no estágio humano peculiar a mundos inferiores à Terra, onde igualmente terão permanecido novos milhões de anos até que, havendo desenvolvido aptidões e adquirido conhecimentos dessas escolas, foram julgadas merecedoras de promoção à vida terrena. No mundo espiritual da Terra essas almas recém-ingressadas necessitavam de freqüentar as escolas nele existentes a fim de se prepararem para descer ao plano físico, para aqui iniciarem os primeiros passos como almas pertencentes ao ciclo terreno. Muitas foram, portanto, as reencarnações de todas as almas assim iniciadas na vida terrena, o que vale dizer que aqui nasceram, viveram e morreram um grande número de vezes em busca de luzes e experiências de que muito necessitavam. Como afirmar-se, então, que só se vive uma vez e que tudo termina na sepultura? É urgente o arquivamento deste tipo de ensino à guisa de ensinamento religioso porque inteiramente falso e prejudicial aos seres humanos. Prejudicial sim, explica o Senhor Jesus, pelo fato de dar ao homem a idéia de uma única vida, ao fim da qual tudo acaba para ele. Ao passo que, ensinando-se que a vida é infinita e que, provindo de um passado longínquo desde as classes mais ínfimas da criação até aos dias presentes, e que em cada uma de suas vidas o ser humano prepara a próxima existência na carne, ensinando-se esta grande verdade a todas as almas encarnadas, dar-se-lhes-á desta maneira a idéia de se conduzirem de maneira a não terem de resgatar em vidas futuras as faltas mais e menos graves que forem levadas a praticar em sua vida presente. Isto evidencia o grave erro das religiões que afirmam a existência de uma vida única, o que induz as criaturas a se aproveitarem ao máximo das coisas que as rodeiam, quando a verdade é muito outra: a vida é infinita como infinita é a Divindade.

As almas presentemente encarnadas neste pequeno planeta já percorreram uma longa escala de vidas que jamais conseguirão recordar nem constam sequer dos seus arquivos espirituais. Estão, por conseguinte, em relação à Terra, numa situação semelhante à dos alunos da série final do curso; se não passarem no exame final terão de deixar a escola porque outros alunos irão ocupar os seus lugares.

O Senhor Jesus vem expondo o assunto tão detalhadamente porque muito se empenha na compreensão do mesmo por parte dos Seus leitores, que o Senhor deseja sejam todas as almas encarnadas em todos os recantos do planeta. E é já tão longo o rosário de reencarnações de todas as almas que se encontram no solo terreno, que a displicência de muitas delas em tomar a sério estes ensinamentos e explicações do Senhor poderá importar no afastamento das mesmas do plano terreno por vários séculos, o que importará num estacionamento evolutivo bastante prejudicial a essas almas. Ao passo que um pequeno esforço das almas que estas Mensagens lerem ou delas tomarem conhecimento através de outrem, esforço de tal modo simples, que as impulsionará decisivamente no sentido da sua felicidade máxima como almas encarnadas. O esforço referido pelo Senhor Jesus outro não é senão a criação do hábito bastante agradável das almas se comunicarem todas as noites com a Divindade por meio da oração e meditação, através da qual receberão da Divindade, transformadas em luz para suas almas, as vibrações luminosas decorrentes da sua oração. Aquelas que se decidirem à prática deste belo hábito, podem estar certas de receberem da Divindade toda a ajuda de que necessitarem para poderem concluir satisfatoriamente a sua presente encarnação e se habilitarem a ingressar no serviço divino.

Vede, estimados leitores, quão fácil lhes será realizar esse pequeno esforço em benefício exclusivo do vosso rápido progresso espiritual. Empreendei-o, pois, com devoção e amor enquanto dispuserdes do vosso corpo atual.

O exame da série final do curso é agora – o gabarito são essas Mensagens.

A origem das Almas é uma simples idéia surgida na Mente Divina.

Todas as Almas do Universo – sem exceção – percorreram as diversas escalas evolutivas.


Verifique a possibilidade de vossa REDENÇÃO ESPIRITUAL

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

136ª MENSAGEM DE ENSINAMENTOS ESPIRITUAIS – Livro: Nova Ordem de Jesus – Vol II Ditada pelo Apóstolo Thomé Em 26-9-1971 Rio de Janeiro - Brasil A TERRA SE TRANSFORMARÁ NUM ESTÁGIO AGRADÁVEL - LIMPEZA ESPIRITUAL NO SOLO TERRENO – DESENVOLVIMENTO DE FACULDADES MEDIÚNICAS PELAS ALMAS QUE ESTÃO CHEGANDO – O SENTIDO MATERIAL E MENTAL DA VIDA HUMANA



O MUNDO TERRENO, um dos menores mundos habitados deste sistema solar, está recebendo desde alguns anos uma série de vibrações de ordem espiritual, destinadas a ajudar as almas aqui encarnadas a alcançarem mais rápido progresso em sua escala evolutiva. Processa-se paralelamente um refinamento em todos os elementos utilizados pelas almas encarnadas, ou seja por todos os seres humanos, do que resultará em breves anos uma elevação substancial do nível vibratório do planeta. A Terra deixará de ser então um mundo de lutas e sofrimentos para as almas nela encarnadas para se transformar lentamente num estágio bastante agradável para toda a sua população. Esta situação decorrerá em grande parte do grau evolutivo das almas que estão descendo ao solo terreno, cuja vibração espiritual contribuirá para destruir os miasmas que perturbam a paz e a tranqüilidade da população terrena. A limpeza iniciada há alguns anos no solo terreno com a retirada de todas as influências que nele permaneciam de longa data, também contribuirá para pôr fim às interferências dessas almas na vida dos seres humanos, aos quais sempre causaram grande mal.

Conforme o Senhor já explicou em Mensagem anterior, continuavam no solo terreno muitos milhares de almas após terem se desligado do corpo, isto devido à sua falta de preparo espiritual para se elevarem após a morte do corpo. Essas almas inteiramente despreparadas pela sua falta de fé que nunca procuraram adquirir, vivendo uma vida cem por cento material, ao desencarnarem sentiram-se arrastadas por seus próprios pensamentos para as mesmas atividades da matéria, e o pior desse fato, é que passaram a interferir na vida de suas almas afins ou não, tornando-se causadoras e responsáveis por numerosos distúrbios e prejuízos morais às almas encarnadas. Providências foram adotadas então, no mundo espiritual para recolher e conduzir essas almas aos seus planos no Além, num trabalho que está sendo desenvolvido por toda a superfície terrena. Espera o Senhor Jesus que antes do fim do século atual o ambiente terreno se encontre completamente saneado daquelas influências irresponsáveis, nada mais perturbando a tranqüilidade e a paz das almas que estão cumprindo suas encarnações na Terra.

Outros elementos de progresso estão chegando à Terra, trazidos por numerosas almas que acabam de reencarnar, os quais muito hão de ajudar o progresso da vida terrena em todos os setores. Um desses elementos consiste no desenvolvimento de algumas faculdades mediúnicas destinadas a possibilitar o intercâmbio das almas encarnadas com as desencarnadas, recebendo destas conselhos e sugestões de grande valia. Este tipo de intercâmbio será possível tão logo o ambiente terreno se vá espiritualizando com a generalização do hábito da oração diária à Divindade. Tanto maior for o volume das orações diárias à Divindade proferidas pelos seres humanos, mais espiritualizado estará o ambiente terreno, possibilitando com isso o advento do intercâmbio com as almas desencarnadas, desejosas de assistir e ajudar as suas irmãs terrenas. Quando tal intercâmbio se verificar, os seres humanos que houverem desenvolvido as suas faculdades mediúnicas, terão a grande ventura de poderem receber a palavra amiga do mundo invisível, sempre pronta a contribuir para a felicidade das almas que se encontram encarnadas.

A vinda do Senhor Jesus ao solo terreno deverá ficar assinalada na história do planeta por uma série de fatos e medidas destinados a impulsionar o progresso do mundo terreno, elevando-o à categoria dos mundos felizes para as suas populações. Para atingir a essa desejada categoria, é mister que todas as almas encarnadas do presente ofereçam a sua valiosa cooperação sintetizada na prática de sua oração diária à Divindade, que a transformará em luz para as pessoas que oram, e também para libertar a aura da Terra da concentração negativa acumulada desde séculos, produzida pelos maus pensamentos das gerações precedentes. E a propósito, deseja o Senhor esclarecer um detalhe da maior importância para todos os seres humanos do presente e do futuro, que é o seguinte: - Por maior que seja o desejo das Forças Superiores do mundo espiritual em proporcionar aos seres humanos as melhores condições de vida terrena, livres dos obstáculos e percalços que ocorrem a todos, esse desejo das Forças Superiores não tem força suficiente para se materializar se não encontrar uma decisão firme semelhante por parte das almas encarnadas. Comecemos, por exemplo, pelo processo de iluminação das almas na Terra. Se estas não tomarem na devida conta a recomendação do Senhor Jesus e de outros mensageiros do mundo espiritual para que adotem o hábito de orar à Divindade uma, duas ou mais vezes ao dia, certo é que regressarão ao mundo espiritual desprovidas do volume de luzes que vieram buscar na Terra, o que equivale a dizer que perderam a encarnação. Isto é tanto mais verdadeiro quanto numeroso é o grupo de almas que não tem conseguido elevar-se no Espaço ao se desligarem do veículo físico, precisamente porque não souberam construir o veículo que as levaria de volta ao seu plano espiritual. A boa vontade e o grande desejo das Forças Superiores que superintendem a vida terrena, não são suficientes para suprir o desleixo das almas que nada fizeram no seu exclusivo benefício enquanto no corpo.

Da mesma maneira o Senhor Jesus, animado de um grande desejo de promover o progresso da vida terrena para a maior felicidade e bem-estar de todas as almas que aqui se encontram encarnadas muito pouco poderá conseguir se não puder contar com a cooperação decisiva destas almas, assim como o engenheiro de determinada obra não logrará realizá-la se não contar com a ajuda dos elementos nela integrados.

A Terra vem evoluindo há muitos milhões de anos desde o seu estado primitivo de um conglomerado de rochas, mares e montanhas, graças aos esforços desenvolvidos pelas civilizações pretéritas. É sabido que o esforço de todas as gerações humanas se conta por este duplo sentido: material e mental. Pelo esforço material o homem consegue realizar a obra a que se propõe nesse setor da vida. Pelo esforço mental, entretanto, é que ele projeta e delineia os contornos da obra para que a mesma se torne realidade. Enquanto o esforço material se concentra na realização pura e simples da obra, o esforço mental que é energia, perdura e permanece no ambiente após a realização da obra, alia-se a outro esforço semelhante e passa a constituir-se numa fonte de energia para a realização de outras obras. Com o perpassar dos séculos e milênios esse volume de energia mental muito se ampliou no planeta, possibilitando a realização de muitas outras obras materiais em benefício do progresso terreno. Esse tem sido por assim dizer, o eixo de todo o progresso material realizado no planeta desde a sua formação até aos dias presentes. Por isto é que o Senhor Jesus não se cansa de recomendar às almas encarnadas que façam a sua parte no sentido de impulsionarem o progresso geral do mundo terreno, uma parte facílima, de executar, que é a sua oração diária à Divindade.

Já foi explicado pelo Senhor Jesus em Mensagem anterior, quantos setores do mundo terreno se beneficiarem de uma simples oração à Divindade. Ocorre em primeiro lugar a iluminação gradual da alma que ora, esclarecendo-a acerca dos problemas de sua vivência terrena; uma parte se destina a desanuviar a aura da Terra da concentração mental negativa originada dos maus pensamentos emitidos pelas gerações passadas que é urgente destruir em benefício desta humanidade. E o único meio existente para esse fim é a luz projetada pelas orações proferidas pelas almas encarnadas dirigidas à Divindade. Assim, pois, a melhoria gradual das condições peculiares à vida terrena depende muito mais das próprias almas encarnadas do que da grande vontade do Senhor Jesus em realizar essa melhoria.

A concessão habitual as almas que estagiam no Alto para descerem ao solo terreno, sempre menciona o esforço dessas almas no sentido de contribuírem para aprimorar as condições de vida terrena, visto como se estarão beneficiando dos esforços desenvolvidos pelas gerações anteriores. Isto é uma lei universal que se cumpre em todos os planetas, em que uma geração de almas encarnadas se esforça em melhorar o quanto lhe seja possível melhorar em favor da geração futura. O cumprimento desta lei é que realiza em cada planeta habitado o índice de progresso de geração em geração. No final esse “progresso reverte no próprio benefício da geração presente, visto como terá a mesma de voltar ao planeta em nova encarnação. Nessa oportunidade, cada nova geração se beneficia, não apenas do que houver realizado no passado, como também do que houver feito a geração precedente.

Com a explicação que aí fica julga o Senhor Jesus perfeitamente claro o Seu apelo a todas as almas encarnadas no sentido de que contribuam com a sua parte para o aprimoramento constante das condições da vida terrena, para que possam usufruir desse aprimoramento na oportunidade de aqui voltarem, provavelmente já no próximo século. Se percorrerdes a história deste vosso pequeno mundo a partir dos últimos três a quatro milênios haveis de notar quão rude e sofrida era então a vida das almas encarnadas, desde o esclarecimento intelectual até as condições bastante precárias do seu conforto material. Essa precariedade de conforto material encontrava-se em paralelo com as práticas religiosas da humanidade quase completamente desligada do mundo espiritual. Muito realizaram, porém, aquelas gerações em prol da melhoria das condições da vida terrena, melhoria que se acentuava gradativamente até aos vossos dias. A situação religiosa dos últimos milênios progrediu notavelmente com a vinda ao solo terreno de vários Espíritos altamente evoluídos, que muito fizeram no sentido do encaminhamento das almas para a Divindade. Esses Espíritos criaram sistemas religiosos que lograram empolgar as almas de então, e tão sólidos se mostraram tais sistemas que suas doutrinas se projetaram pelos séculos em fora tendo chegado até aos dias que correm. O Senhor Jesus não deseja mencionar aqui os nomes pelos quais ficaram conhecidas e veneradas as Entidades que tanto iluminaram as almas viventes nos três últimos milênios anteriores a era cristã, pelo receio de cometer omissões acerca de muitos Mestres e Profetas a quem tanto deve a humanidade. Consultai, porém, a História Religiosa dos últimos milênios e nela encontrareis esses nomes aureolados pelas luzes que lograram espargir sobre as almas encarnadas de sua época.


Fazei então vós outros que ora vos encontrais na Terra, a vossa parte pela melhoria da vida terrena do futuro, quando provavelmente aqui vos encontrareis novamente encarnadas.

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

PRIMEIRA PARTE - CAPÍTULO IV - Livro: Vida de Jesus ditada por Ele mesmo Fala João, o Batista



              
             
              Venho a chamado de meu glorioso irmão.
             Com o corpo fatigado e a alma entristecida, Jesus precisava de descanso e consolo. Tinha ouvido falar da minha pessoa e desejou ver-me.
         Perguntai, irmãos, pelo comedimento grave e docemente familiar de Jesus; Perguntai a Jesus pela força de vontade apaixonada de João. Ambos vos responderemos, que a natureza dos fatos de nossa existência terrestre, guardava o cunho de nossa natureza espiritual. Em Jesus era o reflexo da misericórdia divina e em João era a necessidade de castigar a matéria. A figura de Jesus assumia às vezes a inquietação aflitiva das dores humanas; todos os juízos de João, em compensação, fundamentavam a razão de sua existência na maldade e incapacidade dos homens.
     O semblante de Jesus iluminava-se com a grave, porém expansiva alegria de pai e de pastor, no semblante de João não descobrireis mais do que o negro, grande e inalterável pensamento da degradação humana e das vergonhas dos conquistadores. Todas as ternuras se vêem manifestadas em Jesus e sua pureza lhe forma um quadro de poesia divina. João apartava-se com alegria dos homens e sua piedade estava mesclada de ira e desprezo.
          Bendizei a Deus, irmãos meus, pelas revelações de Jesus, e quanto a João, que acrescenta a estas revelações o concurso de sua palavra, ficai convencidos da ascendência de Jesus sobre ele, porém, não do desejo de João vir até vós.
          Jesus sofria desde que havia deixado a seus bons pagãos, como ele os chamava, e a lembrança dos momentos felizes que tinha passado ao lado deles o entristecia. Mas Jesus era o puro espírito da pátria celeste e os apaixonados movimentos de ternura não tinham que lutar em sua alma com o rígido sentimento de um dever rigoroso.
          A missão do apóstolo se mostrava, mais do que em outra coisa, no esforço supremo que o arrancava das fáceis alegrias para lançá-lo nos braços de penosas apreensões, de provas humilhantes, de poderosos inimigos, da morte, que ele buscava como o santuário de seu pensamento fraternal e seu amor divino.
          Jesus sabia que depois de sua morte ele pairaria sobre o mundo humano, e media com a paciente emulação de sua alma essa separação com a convicção de que um dia, mediante progressivas luzes, se chegaria à reunião eterna.
           Jesus queria todos os horrores da morte para lançar sobre sua vida de virtudes, esse facho derradeiro que se chama martírio, e apresentar-se diante de Deus com os estigmas do sacrifício.
           Passemos a relatar a visita que Jesus fez a João na cidade de Betabara. Observemos a figura carnal dos dois apóstolos e fixemo-nos na delicada harmonia de seus espíritos com seus invólucros mortais. Desçamos ao nível dos escritores humanos, para satisfazer vossa curiosidade, e revelemo-nos com um paciente esforço de memória a respeito de coisas perdidas entre séculos de trabalhos espirituais constantes e de sublimes visões. Chamemos nossos pensamentos para a Terra e iluminemos com detalhes corporais o caminho da alma para as eternas alegrias.
          Apresentemos neste livro o retrato da forma aparente do Espírito, e purifiquemos nosso pensamento com humildade e rapidez.
          Jesus era alto de estatura, rosto pálido, olhos negros,
cabelos castanhos e a barba, que usava comprida, era quase vermelha. A forma da cabeça era larga e enérgica, a fronte desenvolvida e com pouco cabelo, o nariz reto, os lábios sorridentes e o seu modo de caminhar denotava a nobreza. A pobreza de suas vestes não era suficiente para esconder a riqueza dessa natureza resplandecente de elevação, não obstante a origem humilde de sua família e a modéstia de seu caráter. A palavra atraía e inspirava afeto à pessoa deste filho de carpinteiro, que amava as crianças e que apontava os pobres como os primeiros no reino de Deus. A perversidade estacava diante de seu olhar e numerosos pecadores vinham implorar penitência e compaixão aos pés deste divino dispensador de graças e absolvições.
          Houve mulheres atraídas pelo prestígio de sua beleza física e de sua eloqüência, mas elas se ruborizavam diante da pureza de seu espírito e o amor carnal se fundiu com o sentimento de exaltação religiosa. Tu só, ó Maria, introduziste uma sombra nesse coração adorável e do alto da cruz Jesus te dirigiu um olhar de censura e de carinho. Essa cruz era ao mesmo tempo a tua condenação e uma promessa de proteção para o porvir; dela tu guardas a tristeza na alma e uma promessa no espírito; dessa cruz tu guardas uma imagem dolorosa e uma luminosa auréola e a
justiça de tua culpa terá sido o deslumbramento de tua alma dentro de um corpo emurchecido.¹ Jesus era o apoio dos fracos, a doçura dos aflitos, o refúgio dos culpados e o mestre de elevados ensinamentos para todos os homens. Alegrias inefáveis produzia sua palavra penetrante nos corações de todos os que o escutavam, assim como sua clarividente familiaridade. Preciosas honras estavam ligadas à sua amizade e as almas simples de seus apóstolos, como as mais bem temperadas entre os seus defensores de Jerusalém, jamais encontraram felicidade mais completa, tranqüilidade mais profunda, que durante suas conversações e depois de suas expansões de alegria e de alento.
          A pátria e a família de Jesus se encontravam em todas as partes.

“Os homens são meus irmãos, dizia, e todos os  meus irmãos têm direito a meu amor.
“Onde estão as leis e os costumes da família de  meu país, da pátria de meus progenitores?
               “No livro eterno.
“E eu vos digo: O que não trate os homens como  irmãos, não será recebido na casa de meu Pai.
“O que diga: Esse homem não é da minha pátria,  não entrará na casa de meu Pai.
“O que faça duas partes: uma para sua família e a  outra para si, não gozará dos dons e dos favores do Pai.
“O que não combata a adversa fortuna em nome   da família universal, apegando-se tão-somente aos bens de seu pai e de sua mãe, não verá a alegria da casa paterna e não encontrará outra coisa a não ser o abandono e o isolamento depois da morte. Abandonai, pois, a vosso pai, a vossa mãe, a vossos irmãos e a vossas irmãs antes que condescender no olvido da lei de Deus. Esta lei exige o comovedor sacrifício do forte em favor do fraco e da família espalhada por toda a Terra.
“Eis os membros de minha família, eis os filhos de  meus irmãos, dizia ele apontando os homens e as crianças que o rodeavam.
“Irmãos meus, amigos meus, filhos meus, fazei   vossos preparativos de viagem e marchai para a pátria do Pai Celeste. Os pobres serão recebidos em primeiro lugar e os ricos, que tenham abandonado tudo para seguir-me, tomarão parte na alegria geral.
“Irmãos meus, amigos meus, filhos meus, segui- me e mantende-vos firmes na humildade e na pobreza.”

          João era de cor morena, cabelos negros e estatura menor que a mediana. Tinha olhos vermelhos, sombreados de espessas sobrancelhas, o que, unido à sua palidez, davam uma expressão de dureza à sua pessoa. Mas a sonoridade de sua voz e a expressão de seus gestos faziam desaparecer pouco a pouco a primeira impressão desagradável para dar lugar ao atento interesse de seus ouvintes e arrastar ao entusiasmo as massas.
          Jesus falou-vos já da palavra de João, e parece-me inútil fazer-vos notar o erro do apelido de batizador que me deram depois.
          Minha habitação foi honrada com a visita da afável figura do Messias um ano antes de meu suplício. A misericórdia divina quis apresentar-me o modelo de abnegação, para dar à minha abnegação mais ternura na caridade e maior brandura na expressão. Eu me senti penetrado da misericórdia divina quando vi o filho do carpinteiro de Nazareth (assim ele se anunciou), o qual tomou lugar entre os meus discípulos.
          A luz da graça divina iluminava sua fronte e seus lábios sorriram quando me manifestou seu desejo de falar-me em particular.

“A justiça de Deus, disse-me, será honrada em  seus decretos quando os homens forem capazes de compreendê-la.
“A fé será o apoio dos homens quando se liberte  de suas atuais trevas e se manifeste plena de promessas.
“O poder de Deus imporá a adoração quando ela  seja explicada claramente.
“Para fazer apreciar a justiça de Deus é  necessário estabelecê-la sobre o amor, e o amor justificará o castigo.
Rechacemos o tenebroso labirinto dos dogmas e  façamos resplandecer o perfeito amor ao Criador. A justiça é o amor e o amor é a perfeição divina. A eternidade do amor torna impossível a eternidade dos sofrimentos. Sem justiça, onde estaria o amor? E sem amor, onde estaria o Pai?
“Preguemos, pois, o amor, João, e honremos a  justiça atribuindo-lhe a ressurreição do espírito até sua completa purificação.
“Apressemos-nos em provar a transmissão do  espírito, indicando os males que afligem o corpo, e separemos o espírito do corpo, demonstrando com descrições magníficas as honras de dito espírito.
“Expliquemos a penetrante intervenção do poder  divino com a tranqüila confirmação da fé, e, quer este poder se manisfeste ostensivamente quer se abstenha de manifestações fortuitas, rodeemos-lo de nossa admiração e de nossas esperanças.
“A desmoralização dos homens depende de sua  natural inferioridade.
“Para as chagas do corpo, devemos procurar o    bálsamo refrigerante e tanto mais devemos procurar escondê-las dos olhares alheios, quanto mais asquerosas elas sejam.
“Para as chagas da alma dispensemos iguais  cuidados aos distribuídos às chagas do corpo e purifiquemos o ar empestado, com palavras de misericórdia e esperanças animosas.
                “Descubramos as chagas a sós com o enfermo e
 sondemos a ferida para curá-la; porém a   multidão deve ignorar as mazelas alheias, e só encontre em tuas palavras, João, expansão de tua virtude e de tua fé.
“Que o favor de Deus se demonstre em ti com  imagens delicadas e floridas e que a elevação de teus pensamentos não seja ofuscada pela aspereza de tuas demonstrações.
                “Eis os conselhos de Jesus de Nazareth.
“Jesus precisa do apoio de João para que o  honrem e o sigam e vem como um solicitante da parte de Deus.”

          Eu escutava-o enquanto ele me prendia a mão em sinal de aliança. Apertei essa mão e disse:

               “Tu és o que há de vir, ou esperamos por outro?
“Tuas palavras se gravam em mim e a bondade  se encontra em teu olhar”.

          Jesus levantou para o céu seus olhos úmidos e carinhosos e em seguida disse-me:

               “A paz que vem de Deus se estabeleça entre nós.
“A luz pura nos mostre a vida eterna como prêmio  de nossos trabalhos.
“A justiça divina nos preservará do temor dos  homens e o alto poder nos elevará a alegrias perfeitas.
“Livremos a Terra de seus obstáculos, libertemos  as almas de seus terrores e deixemos de lado os despojos mortais, glorificando a Deus”.

          João compreendeu. A justiça de Deus libertou-o mais do que nunca do temor dos homens. No ano que se seguiu a esta grande manifestação divina João morreu, fortalecido pela graça que o tirava de um mundo corrompido. Demonstrou no suplício a majestade da calma e o ardor da fé. Foi o mártir de sua fé, ao acusar os príncipes da Terra, por seus escandalosos exemplos e os governadores da província que habitava, por seus evidentes delitos.
          Irmãos meus, acabo de cumprir para convosco uma nova missão, e retiro-me deste lugar, deixando o posto ao divino² visitador, que deseja terminar, ele mesmo, a referência de nossas relações. Adeus, irmãos meus, e que a graça vos seja proveitosa
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

          A pureza de João, irmãos meus, é filha de sua vida humana e a santidade de seu espírito aumentou muito depois de sua estada na terra.
          A primeira condição do apóstolo é a firmeza. João levou-a tão longe quanto lhe permitiu a natureza humana. A morte de mártir elevou-o diante de Deus e a abundância de suas obras coloca-o na vanguarda dos que se hospedaram entre vós. A terna afeição que o apóstolo demonstrou por mim, desde o princípio, aumentou cada vez mais e a surpresa das pessoas que conviviam com ele se converteu em respeito.
          O calor penetrante de minha alma fundiu o gelo que impedia a alma de João de participar das dores humanas, desligando estas dores do princípio de justiça para fazê-las
resplandecer do dom misterioso do homem para com o homem,honrando a condição de irmão e convidando todos os homens para o aperfeiçoamento do espírito; dando a todos os espíritos a mesma origem de aliança com Deus e a mesma recompensa no porvir, atraindo para o coração do apóstolo, fanático pela virtude, a ampla expansão da piedade fraterna e do amor humano, pelo desejo do amor divino.
          Deixei João recebendo sua promessa de purificar seus pensamentos relativos à fraternidade dos homens; prometi que voltaria a vê-lo e me dirigi para Jerusalém.
          Eu contava já em Jerusalém com um partido poderoso e devotado, devido mais aos trabalhos de José de Arimatéia do que aos meus méritos pessoais, Minha personalidade ficava resguardada com a desse homem influente, colocado aí, pode dizer-se, para fazer a metade do caminho que me haviam traçado.
          José, que via em mim um simples reformador da moral, muito se assustou quando lhe expus meus projetos de reforma religiosa.
          Algo pessimista e clarividente, ele empregou todos os meios possíveis para que eu renunciasse à mesquinha luta, como dizia, da argila contra o cobre, de uma criança contra uma legião de gigantes. José teve nesses momentos de apreensão a visão de minha paixão e de minha morte e do procedimento desse povo que naqueles momentos era favorável às minhas idéias de melhoramento, porém, cuja estúpida ignorância me definiu assim como sua volubilidade, fundamentada em suas inconstantes impressões e na rusticidade de seus instintos. Pintou-me com caracteres de fogo o ódio dos sacerdotes, a defecção das pessoas em quem eu confiava e a ira dos hipócritas desmascarados. Colocou na balança, com elevado critério, a vergonha de uma derrota e a tranqüila esperança no porvir. Definiu, em meio do transporte de seu coração, tanto os tormentos que me esperavam e os ciúmes ferozes de meus adversários, quanto a paz de uma
existência, decorrida entre a amizade e a virtude. Fez brilhar diante de meus olhos a terna e deliciosa harmonia dos gozos da alma e colocou-os em frente à fadiga e ao desengano de uma tentativa humanamente privada de toda probabilidade de êxito e cheia de perigos, sem utilidade e sem glória.
          As abundantes razões e a lógica decidida de meu amigo caíram por terra diante de minha resolução inabalável.
          Ai de mim! — Eu começava a afastar-me da brandura, e a aspereza de meu desígnio dava às minhas palavras a dura expressão da impaciência e da altivez.
         José juntou a piedade à aflição e o modo com que suportou meu mau humor deixou-me livre de todo reparo.           Comuniquei-lhe minhas aspirações, meus propósitos, os presságios de minha missão, os imensos desejos de meu espírito, e as tolas fantasias da morte, que perturbavam meus sonos, e lhe descrevi minhas expectativas com relação à posteridade à qual fazia falta um iniciador que a deslumbrasse. Eu encontrava a defesa da Humanidade na abjeção em que a tinham submergido os orgulhosos fanáticos. Levantei-me para condenar a lei que me condenava a mim mesmo; mas esta lei pereceria para sempre, ao passo que eu percorreria mundos, daria facilidades ao progresso, descobriria amplos horizontes e voltaria a viver no curso dos séculos. Queria a liberdade do espírito; entregava meu corpo no meio das maléficas estreitezas da atmosfera terrestre, cingindo a fronte com a coroa do martírio, porém teria antes conquistado a dupla glória de legislador e de apóstolo.
          A lei de Moisés dizia: Que os reis são designados por
Deus para governar os homens.
          Eu sustentarei que a igualdade dos homens foi ordenada por Deus e que o mando supremo pertence somente à virtude.
          A lei de Moisés dizia: Que os filhos pertencem aos pais, e que a esposa é a escrava do esposo.
          Eu direi: Que o espírito pertence a Deus, e que o filho deve abandonar o pai e a mãe antes que infringir os mandamentos de Deus. Eu direi que a esposa é igual ao esposo e que não existem escravos na família de Deus.
          A lei de Moisés dizia: Que os sacrifícios de sangue são agradáveis a Deus.
          Eu direi: Expulsai do templo o que mancha e oferecei a Deus o coração de seus filhos. Caminhai pelo meio das flores do prado, jamais entre o massacre e as chamas. Oferecei a Deus a homenagem de vossas penas, de vossas dores, para ser-lhe agradável; mas não mateis o que foi por ele criado e não profaneis com sacrifícios horríveis o altar do Deus de paz e de amor.
          A lei de Moisés dizia: Não tomes a teu irmão nem sua mulher, nem seu boi, nem seu jumento nem coisa alguma do que lhe pertence.
          Eu direi: Reparti a metade, com vossos irmãos, dos bens do Senhor. Quem não fizer sacrifício de si mesmo a favor de seu irmão não entrará no reino de Deus. O roubo e o adultério são odiosos porque ultrajam a justiça e a caridade. Não manifesteis pois vossas inclinações, vossos desejos ilícitos; arrependei-vos antes que o olhar de um homem se tenha apercebido desta humilhação de vosso espírito. Praticai o bem ocultamente, orai com a elevação de vossos corações e reconciliai-vos com vossos inimigos antes de entrar na Sinagoga . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
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           Não me encontrava já no tempo de meus tímidos estudos a respeito das necessidades humanas e a natureza de meu entusiasmo em nada se parecia à temeridade da adolescência. Minha visão do futuro tinha sua origem no ardor de minha vontade. Eu falava com uma emanação divina e gozava de um puro êxtase nas maravilhas da pátria celeste. Depois voltava à realidade, mais empreendedor, mais infatigável, mais heróico que antes, para o cumprimento de minha missão. Minha morte parecia-me útil; fugir-lhe parecia-me vergonhoso e vil.
          Poderia acaso esquecer-me a posteridade? — “Não, me respondia uma voz íntima, a posteridade tem necessidade de ti, o porvir tem suas esperanças na nova lei; os vestígios de teu sangue farão brotar virtudes.”
          Eu devo, irmãos meus, demonstrar-vos os diferentes
efeitos de minha pureza que tiveram por móvel causas diferentes em duas épocas de minha vida.
          Coloco a primeira época dentro do período transcorrido até o falecimento de meu pai.
          A pureza de minha juventude era um reflexo da natureza de meu espírito, lançado para o duro cativeiro da matéria.
          A pureza de meus anos viris foi o fruto de uma vitória e a luminosa auréola que me acompanha é a recompensa dessa vitória.
          Minha morte de homem foi a liberdade de meu espírito, e minha elevação foi conquistada no corpo humano.
          A lei divina é absoluta e o caminho da Humanidade, da mesma forma que o individual, se cumpre sem desvios, dentro da justiça do Criador.
         Cheguemos a esta conclusão, irmãos meus: Permanecei na crença de minha pureza como espírito antes de sua última encarnação; mas humilhai-vos quanto à direção de vossa humanidade, que encaminha todos os seus membros dentro das mesmas condições de existência.
          Marcha da humanidade terrestre, tu arrastas em teu rápido movimento tanto as mais belas flores como as mais disformes raízes. Mas se neste movimento a flor perde seu perfume, ah! Quanto tempo é preciso para recuperá-lo! — Mas se neste movimento a defeituosa raiz se abre em belos brotos, ah! Quão suave rócio lho dará forças e a fará crescer em mais propícia temperatura!
          Admirável aliança dos espíritos, demonstração da fraternidade, vós descobris a adorável bondade de Deus e explicais sua justiça!
          À humanidade terrestre eu vinha dar-lhe minha vida de homem, meus sofrimentos de homem, meus pensamentos, meus trabalhos, minha piedade, meu amor... Mas nesta nova peregrinação de meu espírito, minha memória me negaria o apoio do passado e minhas forças fraquejariam amiúde. Como homem sentiria o aguilhão da carne; como homem sofreria devido à matéria, e as afeições combatidas me pesariam como remorsos; como homem me cansaria dos homens e sofreria não obstante pelo abandono dos homens; como homem me chegariam sinais de compaixão dos espíritos de Deus, porém, nada de ostensivo poderia dar-me faculdade para desafiar, para mudar a ordem da natureza; como homem, enfim, estaria submetido à lei humana e a justiça de Deus não alteraria, por mim, sua imutabilidade.
          Irmãos meus, convém que estejais prevenidos contra a infeliz loucura da superstição. Abandonai as condenáveis ficções das paixões da época e os tristes ensinamentos do passado, e alegrai vosso espírito com o princípio absoluto da fé. Este princípio descansa na eternidade das leis naturais e na perfeição de seu autor, na luz levada pela graça e na eficácia desta luz para o bem geral.
          Fazei-vos dignos da graça e trabalhai na luz. Aqueles que vos são agora superiores têm ainda um dever a preencher, esforços a realizar em comum, forças a alcançar do seio da Divindade e honras que merecer. As idéias de progresso fazem palpitar sempre o coração dos grandes espíritos. A lei geral das humanidades é a de caminhar sempre para diante; a dos espíritos puros, é a de trazer luz à Humanidade.
          Irmãos meus, a palavra de Jesus aí está para trazer-vos a luz. A vida carnal de Jesus trouxe a luz, e os Messias de todos os mundos e de todos os séculos têm sido enviados para distribuir luz. Mas estes Messias encarnados na matéria fazem causa comum com a Humanidade a que devem ajudar, têm a mesma semelhança humana que os demais e nada há que possa livrá-los das tendências próprias desta natureza. Fazei pois para todos o mesmo fardo de provas e a mesma fraqueza de órgãos, a mesma delicadeza material e o mesmo esquecimento do passado na natureza humana. Honrai a justiça de Deus, majestosa e forte no seu curso. Da pureza de Jesus feito homem não julgueis pelas suas manifestações contando com a pureza anterior de seu espírito, mas procurai compreender a luta do espírito perdido na matéria e constrangido a submeter-se às leis de dita matéria.
          No quinto capítulo, a continuação desta narração terá por objeto o conhecimento de meus apóstolos e do meu poder como filho de Deus, título aparatoso e cheio de temeridade, porém abundante de promessas, aquele que eu dava a mim próprio, para engrandecer minha missão e deslumbrar as massas, título que mereci por minha justa adoração ao Pai nosso.
          A lei tinha que castigar-me como blasfemador, ninguém teria podido salvar-me. Eu o sabia e as meditações a respeito de minha morte constituíam minha delícia. Ela levava consigo o voluntário sacrifício das afeições terrenas, e minha mãe, meus irmãos e minhas irmãs se converteram para mim em membros da família humana em meio do pensamento geral e fraterno da união
das almas.
          Irmãos meus, vos digo: voltarei dentro em pouco.

¹ Há nesta obra mais de uma passagem, como esta, em que a pouca clareza do estilo torna difícil compreender o que quer dizer-se; mas eu não quero alterar o lagres o que desprestigia a personalidade de Jesus. Ainda que sejam eles ateus ou se a usar de maior liberdade na tradução procurando esclarecer as passagens obscuras. Esta que nos ocupa pareceria indicar que Jesus demonstrou fraqueza amorosa para com alguma Maria, entretanto é de sua mãe de quem se trata, e a exprobração de Jesus se refere à sombra que Maria, com sua presença e com a profunda dor que, como mãe não podia ocultar em face dos sofrimentos do filho, veio imprimir no coração de Jesus nesses momentos de tão terríveis provas. — Nota do Sr. Rebaudi.

² A palavra divino deve tomar-se como a expressão da elevação espiritual a que chegou Jesus. — Nota do Sr. Volpi.

sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Primeira parte - CAPÍTULO III Apostolado de Jesus em Damasco, onde foi respeitado e admirado como profeta. De Damasco passou a Tiro. Espalhou o bem nessas cidades e demais lugares por onde andou, com seus ensinamentos e com seus conselhos particulares. Fala também Jesus de João, o Batista. Livro: Vida de Jesus ditada por Ele mesmo.



     Irmãos meus: Minha permanência em Jerusalém durante seis anos consecutivos põe a descoberto os preparativos de minha missão.
     Aos vinte e nove anos saí de Jerusalém para tornar-me conhecido nas povoações circunvizinhas. Minhas primeiras tentativas em Nazareth não foram coroadas pelo êxito. Dali me dirigi a Damasco, onde fui bem acolhido. Parecia-me necessária uma grande distância de Jerusalém para desviar de mim a atenção dos sacerdotes e dos agitadores daquela cidade. Os sacerdotes já tinham principiado a fitar-me demasiadamente; os segundos me conheciam de há muito tempo e eu tinha que evitar as perseguições nesses momentos e abandonar toda a participação nas turbulências populares.
     Em Damasco não tive aborrecimentos por parte das autoridades governativas nem por parte dos elementos de discórdia, que se infiltram com freqüência no seio das massas, e menos ainda pela indiferença de meus ouvintes. Felicitado e temido como um profeta, levei daí a lembrança de um pouco de bem espalhado em parte com minhas instruções gerais e em parte com os conselhos de aplicação pessoal para as situações de meus consulentes. Abandonei essa cidade na metade do verão e me dirigi para outro centro de população.¹
     Estudei antes de tudo a religião e os costumes dos habitantes e pude convencer-me que a religião pagã, professada pelo Estado, fazia devotos verdadeiros. Os homens dedicados ao comércio não eram nada escrupulosos em matéria religiosa. As mulheres, ignorantes e dominadas pelo louco apego ao corpo, consumiam sua existência na triste e degradante escravidão do luxo e da degradação moral. Os sacerdotes ensinavam o dogma da pluralidade dos deuses. Diversos sábios pregavam sofismas, inculcando a existência de uma Divindade superior que tinha outras inferiores sob sua dependência. Alguns discípulos de Pitágoras humilhavam a natureza humana no porvir, condenando-a a entrar no corpo de um animal qualquer. Alguns honravam a Terra como o único mundo e outros compreendiam a majestade do Universo povoado de mundos. Havia os que divagavam no campo das suposições e os que ensinavam a moral baseando-se na imortalidade da alma, cuja origem divina sustentavam. Havia homens condenados fatalmente para o embrutecimento da Humanidade, fazendo predições e anunciando oráculos. Havia, enfim, homens que adoravam o Sol como o rei da Natureza e o benfeitor de tudo o que existe.
     Querendo dar um desmentido à maior parte destas crenças, tive de limitar-me, a princípio, ao ensinamento da adoção de um só Deus e do cumprimento dos deveres fraternos. Mas, graças aos protetores de que pude rodear-me entre os interessados em sacudir o jugo dos sacerdotes, bem depressa me encontrei em magníficas condições para ensinar a doutrina da vida futura.
     Compenetrado da alta proteção de Deus, minhas palavras levavam a força de minha convicção. Longe de minha pátria e pobre, era procurado pelos homens de boa vontade e as mulheres, as crianças e os velhos disputavam a honra de servir-me e de conversar comigo.
     Um dia em que o calor tinha sido sufocante, achava-me sentado, depois do pôr-do-sol, diante de uma casa em que tinha pernoitado. Densas nuvens corriam para o oeste; aproximava-se o furacão e a gente retardatária passava estugando o passo para chegar às suas casas. Como sempre, eu estava rodeado de crianças e mulheres, e os homens um pouco mais distanciados, esperavam que a chuva, de que caíam já algumas gotas, me obrigasse a entrar na casa. A Natureza, em luta com os elementos, apresentou diante de meu espírito a seguinte observação:

“Em tudo se manifesta a bondade de Deus e os homens terão  que compreender os deveres que lhes impõe o título de Senhores da Terra, com o qual se enfeitam, aproveitando- se das lições que lhes proporciona o Senhor do Universo.
“Compenetrai-vos, irmãos meus, da tempestade que se  levanta em vossos corações quando as paixões os invadem, comparando-a com os esforços da tempestade, que aqui se está preparando.
“Os mesmos fenômenos se põem em evidência. A mão   soberana de Deus é a dispensadora dos dons do aviso, assim como o testemunho das culpas.
“A tempestade muito depressa se desencadeará. Onde estão  os pássaros do céu e os insetos da terra? — Ao abrigo da tempestade, a respeito da qual a divina providência os preveniu.
“Ai dos imprudentes e dos orgulhosos que se descuidaram do  aviso para adormecerem na indolência e desafiar as leis da destruição! Serão atirados para longe pelo sopro do furacão.
“A tempestade que surge em vossos corações, irmãos meus,  anuncia-se com a necessidade de prazeres ilícitos ou degradantes para vossos espíritos. Onde se encontram os homens fracos ou os homens orgulhosos depois do desafogo de suas paixões? — No lugar maldito em que a tristeza do espírito é uma expiação de sua loucura.
“A serenidade do céu, irmãos meus, é a imagem de vossas  almas, quando se encontram livres das negras preocupações da vida. O furacão seguido da plácida harmonia dos elementos é o do homem vencedor de suas paixões.
“Irmãos meus, o furacão tudo estremece, ameaçador...  porém, bendigamos a divina providência! — os pássaros do céu se encontram abrigados. As paixões vos atraem, o furacão está próximo, a tempestade se prepara, mas vós estais advertidos e saireis vitoriosos”.

     A voz de uma jovenzinha respondeu à minha voz:

     “Sê bendito tu, Jesus, ó profeta, que demonstras a bondade de Deus e que derramas a doçura e esperança em nossos corações”.

   A familiaridade de minhas conversações permitia estas formas de admiração, ao mesmo tempo que favorecia freqüentemente as perguntas que se me faziam com um fim pessoal.
       Um instante depois o furacão se desencadeava com todo o seu furor.
     Ficaram-me recordações claras de minhas emoções do tempo em que vivi no meio desse povo, tão diferente dos povos que visitei depois, e não há exemplo dos perigos que só com habilidade evitei ali.
      Em todas as partes o Messias, filho de Deus, se anunciava com palavras severas, dirigindo-se aos ricos e poderosos; em todas as partes o filho de Deus era insultado e desprezado pelos que ele acusava, porém, aí as preocupações e a paciência de Jesus lhe valeram o amor sem limites do povo e o apoio dos grandes.
     Toda a perspicácia de Jesus foi posta em jogo nessa cidade famosa e dos gozos mundanos, no centro dos prazeres e do luxo mais desenfreado, na parte do mundo mais exercitada nas transações, nas trocas, e demais minuciosos detalhes comerciais.
    Jamais Jesus despendeu tanta habilidade e se fez estimado de tanta gente como ali. Jamais o apóstolo foi escutado com tão grande atenção como por esses pagãos de espírito frívolo e submerso nos hábitos de uma existência alegre e amena.
     O triste objetivo de Jesus, humanamente falando, data tão somente do dia em que abandonou os povos distantes para dirigir-se unicamente às populações hebréias, sempre obstinadas em desmenti-lo. Poucos são os homens que têm a coragem de aceitar opiniões que choquem com as da maioria. A maioria dos hebreus acreditava que a autoridade do dogma descansava sobre a autoridade de Deus e que pregar a majestade de Deus independentemente dos vínculos que lhe havia legado a ignorância dos povos bárbaros, era profanar o culto estabelecido, fazendo-o experimentar modificações humanas, desaprovadas por Deus, autor do mesmo culto.
     Depois da purificação de minha vida terrestre e do caminho percorrido nas honras espirituais, eu desço com alegria para narrar-vos esta vida quando minhas recordações já se encontram desembaraçadas da ingratidão humana e participo de uma forma mais ampla dos males da totalidade dos seres, quando repouso no afeto de alguns deles.
     Afastemos, pois, irmãos meus, o que me separa dos dias que passei no meio desse povo, alegremos ainda minha alma com a lembrança da multidão que me rodeava com tão respeitosa ternura e não antecipemos os dolorosos acontecimentos que principiaram a suceder com a minha saída dessa cidade.
     Daqui por diante me encontrareis nesta história como apóstolo, pregando o reino de Deus, pastor que reúne seu rebanho, professor que catequiza seus alunos. Nessa cidade em compensação eu era o amigo, o irmão, o profeta abençoado e consolador.
     Os ricos como os pobres, os ociosos como os trabalhadores, vinham a mim e me acumulavam de amor.
     Demoremo-nos por um momento ainda aí, irmãos meus, e escutai o doloroso relato da morte de uma jovem.
     Eu não a ressuscitei, porém fiz brotar na alma dos que a choravam, a fé na ressurreição e a esperança de tornarem-se a encontrar. Consolei o pai e a mãe, fazendo-lhes compreender a loucura dos que choram pela vida humana ante a suntuosidade da vida espiritual. Incuti em todos os que se encontravam presentes o pensamento do significado de predileção por parte de Deus para com os espíritos que Ele chama para si, na infância ou adolescência, desta penosa estação de nosso destino. Meus amigos mostraram-se ávidos de escutar as demonstrações da natureza humana e da morte, principalmente desta, que deixava em suas almas uma impressão tão dolorosa que destruí-la, rodeando-a de uma auréola de luz, era como que atear uma chama no meio das mais densas trevas e dar movimento a um cadáver. Para as imaginações ardentes e para os caracteres volúveis não convém chamar a atenção sobre um ponto, senão quando este ponto toma grandes proporções, devido à atualidade dos acontecimentos. Escolhia meus exemplos nos fatos presentes e jamais meus discursos foram preparados com antecipação para esses homens, fáceis de comoverem-se, porém difíceis de serem dominados pela atração de uma ciência privada da excitação dos sentidos.
     Ao aproximar-se a morte desta menina, o pai veio buscar-me em meio da multidão e me arrastou até sua casa.
     Já o frio da morte invadia as extremidades e a Natureza tinha abandonado toda a luta. O rosto exaurido revelava um mal profundo e os olhos não viam... a vida fugia pouco a pouco. O silêncio da câmara mortuária só era interrompido pelos gemidos, entre cujo murmúrio de extrema tristeza se confundiam os últimos suspiros da jovenzinha. Aproximei-me então da morta e, passando-lhe a mão pela fronte, chamei-a três vezes com a voz de um inspirado. Nesta evocação não tinha a menor idéia de chamá-la à vida. Os presentes não eram vítimas de uma culposa maquinação, posto que meus atos não podiam significar outra coisa a seus olhos senão esforços para convencê-los da vida espiritual. Voltei-me em seguida para o pai com a alegria de um mensageiro divino:

“Tua filha não morreu, lhe disse. Ela vos espera na pátria dos    espíritos e a tranqüila esperança de sua alma irradia no aspecto deste rosto cálido ainda pelo contato da alma. Ela experimentou nestes momentos o efeito das inexoráveis leis da Natureza, mas a força divina a reanimou e levanta o véu que vos oculta o horizonte.
            . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
“Oh, meu pai, consola-te! — A alegria me inunda, a luz me  deslumbra, a doce paz me envolve e Deus me sorri.
“Meu pai! — Os prados adornam-se de flores, o esplendor do  sol as inclina e murcha, porém o rocio as reanima e a noite devolve-lhe a frescura.
“Meu pai! — Tua filha murchou pelos sóis da terra, porém o   rocio do Senhor transformou-a e a noite da morte devolve-ta brilhante e forte.
“Meu pai! — A mesma alegria te será concedida se repetires  e praticares os ensinamentos de minha mãe. Tu és o pobre depositário dos dias maus; eu em troca sou a privilegiada do Senhor, posto que não merecia sofrer por mais tempo sendo que a Providência distribui a cada um as provações e as alegrias segundo seus méritos”.

     A infeliz mãe estava ajoelhada na parte mais escura do quarto. As pessoas da família a rodeavam e ao aproximar-me afastaram-se.
        “Mulher, levanta-te! disse-lhe com autoridade. Tua  filha está              cheia de vida e te chama.
                     “Não creias nestes sacerdotes que te falam de separação e de                      escravidão, de noites e de sombras. A luz encontra-se  sempre                       onde quer que chegue a juventude pura e coroada de ternura                          filial.
                     “A liberdade se encontra na morte. Tua filha é livre, grande,                feliz. Ela te seguirá de perto na vida para dar-te a fé e a                    esperança. Dirá a teu coração as palavras mais apropriadas             para dar-lhe calor, dará a conhecer à tua alma a reunião e o             doce abraçar-se das almas. Far-te-á conhecer o verdadeiro               Deus e caminharás guiada pela luz da imortalidade.
                     “Homens que me escutais, vós todos que desejais a morte
                      em meio da adversidade e que a esqueceis em meio dos
        prazeres e dos favores terrestres, aproximai-vos deste                       cadáver,   o espírito que o animou curvará sua cabeça sobre            as vossas e o consolo, a força e a esperança descerão sobre            vós.
      “Pai e mãe, declarai publicamente a felicidade de vossa    filha         elevando preces ao Deus de Jesus. Deus, meu querido Pai,             manda a este pai e a esta mãe a prova do teu poder e do teu            amor.”

     Todos os olhares tinham se fixado sobre a morta e a pobre mãe se havia adiantado como que para receber uma resposta desses lábios já para sempre fechados... O último raio de sol que declinava se refletia sobre o leito mortuário e as carnes descoloridas tomavam uma aparência de vida sob esse raio passageiro. O louro cabelo encaracolado formava uma moldura ao redor do rosto da menina e o calor da atmosfera fazia parecer brilhante e agitada essa cabeleira enrolada e úmida, diante da morta. A penosa emoção dos presentes havia-se convertido em êxtase. Eles pediam a vida real à morte aparente e a grandeza do espetáculo inflamava suas imaginações já bastante exaltadas; minhas palavras se converteram em condutores de eletricidade e a gente que enchia o aposento caiu de joelhos gritando: Milagre!
     Tinham visto a morta abrir os olhos e sorrir à mãe. Tinham visto agitarem-se os cabelos com o movimento da cabeça, e a razão sucumbindo em sua luta com a paixão do maravilhoso, engrandeceu minha personalidade naquele momento com intensas manifestações de admiração.
     O milagre da ressurreição momentânea da jovem ficou estabelecido com a espontaneidade do entusiasmo, e o profeta, levado em triunfo, acreditou obedecer a Deus não desmentindo a origem de seus próximos sucessos.
      Pude, desse dia em diante, falar com tanta autoridade, que os sacerdotes se ressentiram afinal e tive de decidir-me a partir. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .  . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

     Comecemos a ocupar-nos, irmãos, da preparação de minha primeira entrevista com João alcunhado O Solitário por seus contemporâneos e que os homens da posteridade converteram em um batizador. As aparências de João eram realmente as de um batizador, posto que a mim também me batizou nas águas do Jordão, segundo dizem os historiadores.
     Tenho que esclarecer alguns fatos que têm permanecido obscuros por erro dos primeiros corruptores da verdade.
     João era filho de Ana, filha de Zacarias e de Facega, homem da cidade de Jafa.²  Ele era o “Grande Espírito”, o piedoso solitário, que era distinguido pelo geral afeto, e os homens tiveram razão em fazer dele um Santo, porque esta palavra resume para eles toda a perfeição. Pregava o batismo da penitência e a ablução das almas nas águas espirituais. Havia chegado ao ápice da ciência divina e sofria pela inferioridade dos homens que o rodeavam. Não tinha nada de fanático e a severidade para consigo mesmo o põe a salvo das críticas que poderiam fazer-se-lhe pela austeridade de seus discursos. A fé ardente que o devorava comunicava a todas as suas imagens a aparência de realidade e permanecia isolado dos prazeres do século, cujas vergonhas analisava com paixão. A superabundância da expressão, a hábil escolha das comparações, a força de seus argumentos colocavam João em primeiro plano entre os oradores de então. Mas a desgraçada humanidade que o rodeava levava-o a excessos de linguagem, a terríveis maldições e fanatizava cada vez mais aquele homem forte que compreendia a perfeição do sacrifício.
     Homens de hoje, vós estais desejosos das honras das massas. João o estava das honras divinas. Vós ambicionais as demonstrações efervescentes, ó homens afortunados e encarregados por Deus para honrar as qualidades do espírito e a virtude do coração; ele ambicionava somente as demonstrações espirituais e o amor divino. Vós dais pouco valor à moralidade dos atos quando a suntuosidade externa fala por vós diante dos homens; ele desprezava a opinião humana e não desejava senão a aprovação divina, João habitava uma parte do ano nos lugares mais agrestes e os poucos discípulos que o acompanhavam proviam as suas necessidades. Frutas, raízes e leite constituíam o alimento destes homens e roupas de lã grosseira os defendiam da umidade e dos raios solares. João se dedicava na solidão a trabalhos encomiásticos e os que o seguiam eram honrados com suas admiráveis conversações. Ele meditava sobre a generosa bondade das leis da Natureza e deplorava a cegueira humana. Transportava-se dos exercícios de apaixonada devoção à descrição das alegrias temporais, para os homens sãos de espírito e de coração, e o quadro da felicidade doméstica era descrito por esses lábios austeros com doces palavras e delicadas imagens.
     O piedoso cenobita coordenava os sentimentos humanos e gozava com as evocações de seu pensamento, quando se encontrava longe das multidões.
     O melodioso artista poetizava então os sentimentos humanos e o amor divino emprestava-lhe a inspiração. Porém no centro das humanas paixões o fogoso atleta, o apóstolo devotado à causa e aos princípios religiosos demonstrava-se irritado e desdobrava o esplendor de seu gênio para abater o vício e flagelar a impostura. No deserto, João repousava com Deus e ali via-se o homem com suas íntimas aspirações; na cidade ele lutava com o homem e não tinha tempo de conversar com os espíritos de paz e de mansidão. A principal virtude de João era a energia. A força de vontade levava-o ao desprezo das grandezas e ao olvido dos gozos materiais; guiava-o no estudo dos direitos da criatura e na meditação dos atributos de Deus; fazia-o considerar o abuso dos prazeres como uma loucura e o sábio domínio sobre as paixões como uma coisa bem simples.
     A coragem se encontrava nele, a justiça era o apanágio de sua alma. A elevada esperança das alegrias celestes o atraía para ideais contemplações e a aspiração para o infinito enchia-o de desejos... Ele não compreendia e não podia compreender a fraqueza e as atrações mundanas. Fazia da grandeza de Deus a delícia de seu espírito e a Terra parecia-lhe um lugar de desterro no qual tinha a seu cuidado as almas.

                    “Outro virá depois de mim, dizia ele, e lançará o anátema e a                          reprovação sobre vossa cabeça, ó judeus   endurecidos no                             pecado, ó pagãos ferozes e impuros, crianças atacadas de                             lepra antes de nascer... e vós, grandes da Terra, tremei! A                               justiça de Deus está próxima.”

     A fraude e a depravação dos costumes João atacava-as com frenesi, e a marcha dos acontecimentos demonstrou que ele não respeitava as cabeças coroadas mais que aos homens de condição inferior.
     A centelha de sua voz potente ia buscar a indignidade no palácio e revelava o delito faustosamente rodeado. As plagas da ignorância, as orgias da pobreza encontravam-no com uma compaixão exasperada, que se manifestava com a abundância da palavra e com a dureza da expressão.
     João pedia o batismo de fogo da penitência e queria o estigma da expiação. Pregava, é certo, o consolo da fé; mas era inexorável com o pecador que morria sem haver humilhado seus últimos dias nas cinzas de seus pecados. Ele permanecia uma parte do ano na cidade e a outra no deserto. Já vos dei a conhecer a diferença de humor que se manifestava nele por efeito destas mudanças. Resta-me descrever as abluções e as imersões gerais no Jordão.
     Os judeus escolhiam para estas abluções parciais e para as imersões totais um rio ou um canal, e as leis da higiene eles as associavam com as da religião. O Jordão, na estação do calor, via correr para suas margens multidões inumeráveis, e João descia do deserto para fazer escutar por essas gentes seus discursos graves e ungidos.
      Sua palavra tinha então esse caráter de doçura que ele adquiria sempre na solidão e sua reputação aumentava o interesse das povoações circunvizinhas por praticar as imersões no Jordão.
    João recomendava o dever da penitência e da mudança de conduta depois da observância do antigo costume e estabelecia que a penitência devia ser uma renovação do batismo.
        Com freqüência ele pregava:

“Da vossa lavagem corporal deduzi vossa lavagem  espiritual e fazei submergir vossas almas na água da fonte sagrada. O corpo é infinitamente menos precioso que o espírito e, apesar disso, vós nada descuidais para tratá-lo e embelecê-lo, ao passo que abandonais o espírito na imundície das manchas do mal, da perdição e da morte.
              “Da pureza de vosso coração, da brancura de vossa alma
fazei maior caso e tapai os ouvidos às vãs honras do  mundo.
“Ressuscitai vosso espírito mediante a purificação ao      mesmo tempo que conservais vosso corpo são e robusto
               com os cuidados higiênicos”.

     João falará, ele mesmo, no quarto capítulo deste livro e descreverá nosso primeiro encontro, que teve lugar em Betabara.



¹ Tiro. (O nome deste centro de população foi pedido pela médium.)
² Era um ano mais velho que Jesus.