Passa já da hora o vosso despertar espiritual . . . Saiba que a tua verdadeira pátria é no mundo espiritual . . . Teu objetivo aqui é adquirir luzes e bênçãos para que possas iluminar teus caminhos quando deixares esta dimensão, ascender e não ficar em trevas neste mundo de ilusão . . .   Muita Paz Saúde Luz e Amor . . . meu irmão . . . minha irmã

terça-feira, 21 de janeiro de 2014

CAPÍTULO IX - Livro:Vida de Jesus ditada por Ele mesmo Continua a narração da missão de Jesus




No presente colóquio, irmãos meus, continuaremos com a exposição de minha missão.

Durante sua curta aparição como Messias no meio dos homens, Jesus teve de renunciar de dar-se a conhecer porque seu poder residia no título de filho de Deus, título cheio de promessas, porém cheio também de obscuridade do desconhecido, do qual se servia como motivo para adquirir ascendência sobre as massas.

Mas em suas conversações particulares Jesus deixava compreender que a filiação de que se honrava, honraria também a todos os espíritos chegados à emancipação da alma em meio da natureza carnal.

A unidade de Deus jamais se viu comprometida por Jesus. Os que fizeram os milagres foram os que converteram Jesus em Deus. Deus distribui a cada um a força e a inteligência na proporção das honras ganhas na luta dos instintos da matéria com as emanações divinas da imortalidade espiritual.

A imortalidade da alma, ao pôr em evidência ante o espírito o objetivo de suas existências sucessivas na matéria, o impele ao desprezo de toda a dependência carnal, elevando-o em compensação para a glória da missão divina.

Os messias são os filhos de Deus porque demonstram a Deus, o explicam. Agora posso falar assim, porém antes era necessário que me rodeasse de prestígio, para o qual não convinha que se explicasse o princípio sobre que descansam as honras de Messias. Era necessário dilatar o sentido moral da Humanidade e não convinha proporcionar-lhe a possibilidade de discutir meus direitos de filho de Deus. Era necessário conseguir o resultado sob proporções fora do comum, sob pena de ser impedido aos primeiros passos.

Apesar disso, repetidamente me repreendi a mim mesmo por essa tortuosidade de caminho e, quando me encontrava a sós com algum de meus discípulos, se me apresentava como uma ocasião favorável para lançar em um espírito perspicaz o germe da verdade, eu me confiava por partes, pronunciando frases misteriosas, de cujo significado esperava que, talvez, o porvir tirasse algum proveito para a verdade. Dizia-me o confidente dos profetas e dos mártires, surpreendidos pela morte; em seguida, chamado pelo sentimento de minha posição, reprimia manifestações e recomendava aos que haviam sido testemunhas de minhas expansões entusiastas, guardarem o maior segredo a respeito do que tinham ouvido.¹

Em minhas conversações procurava associar a crença nos dogmas estabelecidos com a doutrina das encarnações sucessivas dos espíritos, falando ao mesmo tempo do inferno e da santidade de meus direitos de filho de Deus. Mas no dilatado horizonte que se estendia diante de meus pensamentos os fatos viam-se justificados pelos propósitos. Eu dirigia minhas esperanças para o porvir e colocava as deliciosas emoções de minha alma diante das harmonias com que sonhava, vendo-se elas justificadas ainda neste mesmo momento em que volto para completar minha obra, valendo-me novamente de Deus.

Eu misturava a lei antiga com a nova, das quais resultavam essas parábolas que freqüentemente careciam de clareza, essas contradições aparentes, envoltas na rapidez de minhas exposições e mal advertidas pela pouca perspicácia do auditório, e essas apreciações sobre a justiça divina, cheias ao mesmo tempo de misericórdia e de eterna vingança.

Irmãos meus, inclinemo-nos perante a majestade de Deus e confessemos a pobreza de nossa natureza. Eu dizia a meus discípulos:

                    “Vós todos sois filhos de Deus e o último de vós terá que trabalhar
                     para chegar a ser grande e forte.
                     “Faz-se mais festa na casa de meu pai quando entra nela um
                     espírito recém convertido do que pela perseverança de dois
                     justos.
                     “A vontade e a emulação livram o espírito das humilhações da
                      carne. O amor de Deus inspira o amor das criaturas, que são a
                     obra de Deus.
                     “Convertei-vos em depositários de minha lei; ela é uma lei de
                      amor. A lei de amor não diz: dente por dente, olho por olho; ela
                      diz: perdoai a vossos inimigos; orai pelos que vos caluniam; levai,
                      sem fazer alarde, vossa esmola à casa do pobre. Se vos
                      esbofetearem uma face, apresentai a outra, porque os homens
                      cedem antes à ternura da virtude do que à justiça das represálias.
                      “Habitai com os inimigos de Deus e não eviteis as mulheres de
                       má vida, posto que o dar exemplo é uma obrigação para os que
                       trabalham na vinha do Senhor, e a proximidade do vício não
                       pode manchar o justo”.

Eu apresentava exemplos favoráveis para as inteligências daqueles a quem eles iam dirigidos e atraía com conversações familiares, nas festas, encontrando com freqüência aí em que aplicar meus preceitos.

Lembro-me de um fato que teve lugar em uma casinha da montanha que domina o vale de Sichem. Estava cansado e enquanto repousava esperando meus discípulos que tinham ido renovar nossas provisões, comecei a elogiar a limpeza que se observava no meio de tanta pobreza, com o propósito de entabular conversação com uma mulher que se mantinha respeitosamente de pé diante de mim. Para estes lados de Jerusalém havia muita população samaritana, desprezada pelos hebreus.

                     “Senhor, disse-me essa mulher, já que és profeta, ensina-me a
                      mim também, porque a lei de Deus está encerrada no templo de
                      Jerusalém, ao passo que nós temos que adorá-lo aqui.
                     “Mulher, lhe respondi, Deus não tem mais que um templo e esse
                      templo está em toda parte.“Os homens adorarão a Deus em
                       espírito e em verdade; a hora não chegou ainda; mas a luz dará
                       origem à verdade, e eu vou predicando a luz.
                       “Crede-me, sobre esta montanha, como no templo de Jerusalém,
                        Deus vê os corações e favorece os justos.
                        Sobre esta montanha, como no templo de Jerusalém, não há
                        uma fibra de erva que passe inadvertida aos olhos de Deus. A
                         lei de Deus não está encerrada em um templo, ela
                        resplandece em todos os corações.”

Irmãos meus, a melhor prova de vossa aliança com Deus é a de reconhecer dita lei em todas as partes, inclinando-vos sob a prova como em presença de suas bênçãos, adorando o Pai com os pensamentos e com as obras, louvando-o tanto no meio dos sofrimentos como no meio da prosperidade.

Demonstrai a lei de Deus com a retidão de vossa vida; convertei os homens em justos, fazendo-os felizes, e sede felizes vós mesmos mediante a fé. Recordo-me ainda de uma festa em que a abundância e a alegria reinavam entre os presentes, esquecendo-se todos dos cuidados e dos sofrimentos da vida. A alegria desenhava-se em todos os semblantes e a mesa colocada no meio de um pátio que formava jardim, era banhada por alguns raios de sol, apesar da abóbada verdejante que a cobria. Os jovens dirigiam-me tímidos olhares, os homens, as mulheres e as crianças rodeavam-me e todos queriam dar-me o lugar de honra. Eu aceitei, assentando-me à cabeceira da mesa, indo meus discípulos, que me haviam acompanhado em número de quatro, ocupar o outro extremo. Demonstrei-me amável e conversador nessa noite. Meus olhares e meus sorrisos se dividiam entre os comensais, iluminando-se com o brilho da geral alegria. Assim procedi sempre, tomando as atitudes que correspondiam às circunstâncias em que me encontrava e jamais em uma festa ou em uma reunião de amigos me viram desejoso de silêncio ou distraído por penosas preocupações.

Acostumado à vida nômada, renegava da família e da pátria para melhor honrá-las, na elevada expressão destas palavras: — Família de homens — Pátria universal! Eu tinha fanatismo pelos direitos da alma até à renúncia completa das esperanças humanas; porém nos casos de minha presença entre os homens, dava as seguranças do apoio divino para os que soubessem dirigir bem suas famílias e para a justa e amorosa direção das mães.

Minha doutrina baseava-se na fraternidade humana e as massas comprimiam-se ao meu derredor para ouvir estas palavras, das quais eram pródigos meus lábios:

                    “Deixai que se aproximem a mim os mais pequenos e os mais
                     fracos.
                    “Eu vim para alegrar aos tristes e para dizer aos felizes: Sede os
                     servos dos pobres, que o Deus de amor e de justiça vos
                     recompensará.
                    “Vós todos sois irmãos e o servo vale tanto como o senhor na casa
                     de meu pai.
                    “O que se humilha será elevado. Humilhai-vos para servir a Deus;
                      tão-somente os humildes serão glorificados.
                     “Chamai, e responder-se-vos-á; batei, e abrir-se-vos-á.
                      Aprendei minha lei e divulgai meus mandamentos por toda a
                      Terra, amando-vos uns aos outros. Não procedais como os
                      hipócritas que se prosternam diante de Deus para serem
                      observados pelos homens, que oram com o coração cheio de
                      cólera e ciúmes; colocai diante das portas do templo de Deus,
                      vossos desejos de fortuna terrestre, vossas esperanças de
                      alegrias mundanas, vossas fraquezas de amor próprio, vossos
                      pensamentos impuros, vossas baixas concupiscências, para que
                      a graça desça sobre vós com a prece.
                      “Amparai a viúva e o órfão.
                      “Livrai ao pecador de sua vergonha, mostrando-lhe os braços
                       sempre abertos para recebê-lo.
                       “Descobri o vício, desmascarai a impostura, mas fazei penetrar
                        em todos os culpados as palavras de misericórdia, a promessa
                        de perdão.
                        “A esmola feita com ostentação não é agradável ao Senhor,
                        nosso Pai, e o óbolo da viúva tem mais valor aos seus olhos do
                        que os milhões do rico.
                       “A esmola não é proveitosa para o que a dá, senão quando se a
                       rodeia do maior mistério. Guardai portanto o secreto respeito das
                       misérias que tiverdes aliviado, e que vossa mão esquerda não
                       saiba o que a vossa direita tenha distribuído.
                       “Dizei: creio e obrai. A atividade está para a fé, assim como o
                        calor está para o amor; um sinal de vida.
                        “Meditai sobre minhas palavras e não lhe deis um sentido
                        diferente daquele que têm.
                        “O fervor não consiste na abundância das palavras e na
                        petulância da ação, senão na modéstia da caridade. Ele honra o
                        espírito sem fazê-lo brilhar entre os homens. Ele dá à alma um
                        terno ascendente sobre as almas, porém, não a impele para a
                        opressão, para a dominação, para a prepotência do mando. Faz
                        florescer a sabedoria, não arrasta o espírito para a perturbação   
                         do orgulho e do poder, para as paixões tumultuosas da
                        grandeza humana, na temeridade da ambição das honras
                        humanas.
                        “Pregai em meu nome e garanti minha presença, porque meu
                        espírito continuará ainda em vosso meio.
                        “Permanecei fiéis à minha palavra e consolai-vos dizendo: O
                        Senhor está conosco.
                         “Tomai-me como exemplo; sou pobre, permanecei pobres; sou
                         perseguido, sofrei perseguição, e que o Deus de paz dite
                          vossas palavras.
                          “Esquecei os ultrajes, praticai o amor e orai com um coração
                          puro.
                          “O ferro e o fogo, o abismo e o espírito das trevas não
                          prevalecerão contra vós.
                        “Eu sou aquele que Deus enviou para dizer a verdade aos
                         homens.
                         “Sou o laço de amor.
                          “Sou a porta da pátria feliz e as portas do inferno não
                          prevalecerão contra mim.
                          “Sou aquele que foi, que é e que será.
                          “Não explico estas palavras porque vós não as
                           compreenderíeis; mas dia virá em que todos os homens
                           poderão compreender a verdade.
                           “Permanecei fortes no amor. Sou vosso Senhor e vosso
                            pai e estarei convosco durante todos os séculos mediante
                            o poder de Deus e por efeito de minha vontade.
                            “Não desembainheis jamais a espada; quem fizer uso da
                            espada perecerá sob seus golpes.
                            “Melhor seria que não tivésseis jamais nascido do que
                            esquecer meus ensinamentos, porque a justiça de Deus
                            pesa com maior rigor sobre os pais do que sobre os
                             filhos; sobre os ministros infiéis do que sobre a massa dos
                            pecadores.
                           “Ide por toda a Terra e anunciai a palavra de Deus,
                            proclamando-vos seus profetas. Perdoai os pecados. Tudo o
                            que vós perdoardes aqui, perdoado será no
                            céu, e a graça acompanhar-vos-á enquanto seguirdes
                            minha lei”.

A justiça de Deus quer todavia que Jesus seja vossa estrela condutora em meio dos erros e perigos, porém manda que as palavras de outros tempos sejam arrancadas da treva que as envolvia para resplandecerem de luz divina e para iluminarem os espíritos que se encontram agora mais bem dispostos para receber a luz do que na época em que Jesus vivia como homem entre os homens.

A doutrina de Jesus demonstrava a igualdade entre os espíritos ao sair da mão do Criador, sendo a diferença que se estabelece depois entre eles o resultado do adiantamento mais ou menos rápido de cada um de acordo com a irradiação do amor para com a família universal, cujos membros são todos irmãos e devem ajudar-se por meio da caridade e da abnegação. Quanto maior é o progresso dos espíritos, tanto mais sentem os deveres da fraternidade. Quanto mais adiantados são os espíritos, tanto mais sentem a tendência generosa e o ardor do sacrifício em favor de seus irmãos como expressão do amor fraternal. Com a palavra caridade eu não entendo tão-somente a esmola e a falta dos sentimentos do ódio senão a compaixão íntima da alma por todo o sofrimento. Com a palavra devoção não quero designar unicamente a exaltação passageira da alma em busca de Deus, impelida talvez por um sofrimento momentâneo, senão o sentimento da prece na associação contínua com todos os sofrimentos e a tendência permanente de participar de todas as misérias, todas as vergonhas, todos os conflitos da alma. A palavra amor não encerra a explicação das ternuras entre os aliados terrestres, senão que impõe o bem por meio da palavra, das obras do esquecimento de si mesmo em beneficio dos demais mediante a firmeza na proteção de nossos semelhantes e o cumprimento de todos os nossos deveres fraternos, humanos.

A doutrina do amor, baseada na igualdade e na fraternidade; eis a causa do prestígio de Jesus no meio da Humanidade. Veio trazer a lei de Deus a um mundo muito novo para podê-la compreender, porém lançou os alicerces de sua obra, que seria imortal, e essa obra continua seu desenvolvimento. Ele veio para ensinar a lei de sacrifício, e, se bem que os sucessores de seus apóstolos, que estavam na obrigação de caminhar entre a humildade e a pobreza, para honrar a lei e obedecer ao mandamento, não respeitaram a palavra do mestre, virão discípulos mais dedicados que saberão cumprir ditos ensinamentos, repetindo suas palavras, as quais não terão jamais contraditores.

Irmãos meus, eu sou o Messias e o fundador da Igreja Universal. Retorno agora para repetir tudo o que já disse, imprimindo o cunho da grandeza divina às palavras humanas.

                                 “A presença do espírito resplandecerá no meio das trevas
                                  e as trevas serão dispersadas. A luz ilumina a todo
                                  homem de boa vontade.
                                 “Os homens não me conheceram porque não possuíam a
                                  verdadeira luz, porém me reconhecerão ao adquirir mais
                                  luz, iluminados pelas claridades do espírito enviado pelo
                                  Senhor.
                                  “Felizes os que acreditarem, porque caminharão na
                                   minha lei; felizes os que seguirem meus mandamentos,
                                   porque verão a Deus.
                                  “É um erro fatal afirmar que Jesus veio trazer a espada
                                   pois eu sou o laço de amor, tendo dito: Amai-vos uns aos
                                   outros e meu Pai vos amará.”

Erros realmente fatais são os que têm dado lugar a alegrias sacrílegas no meio do sangue e dos horrores das hecatombes humanas, oferecidos ao Deus dos exércitos, quando não são mais que delírios pela possessão de bens efêmeros no meio do triunfo das baixas paixões e da própria submissão ao império da maldade e dos gozos vergonhosos do vício!

Eu disse:

                                  “Permanecei humildes; não vos deixeis dominar pela
                                   ambição dos bens terrenais, nem pelo desejo de poderes
                                   mundanos.
                                  “Os que se apegam à Terra não me podem seguir. Meu
                                   reino não é deste mundo.
                                   “Apoiai-vos em mim e eu vos conduzirei à vida, e vos
                                   darei a vida, porque a vida sou eu.
                                   “Eu sou o bom pastor; quando uma ovelha se tresmalha,
                                    eu procuro-a e conduzo-a ao rebanho.
                                   “Minhas ovelhas são os filhos dos homens; fazei como eu
                                    faço e reine a alegria na casa do patrão quando uma
                                    ovelha extraviada volta ao redil.
                                   “Deixai vir a mim as crianças e também os pobres, os
                                  pecadores e as mulheres de má vida,² porque se a
                                  infância precisa de luz e de apoio, os pobres são meus
                                  preferidos, os pecadores pedem auxílio para poder entrar
                                  na nova vida, e as mulheres de má conduta apegam-se a
                                 um vaso de argila, quando têm ao seu alcance um vaso de
                                  ouro. O vaso de argila é o falso amor dos homens, e o
                                  vaso de ouro é o amor de Deus que não perece.
                                  “Permanecei fiéis à minha doutrina e propagai-a por
                                  toda a Terra para que os homens não estejam divididos e
                                  só exista uma religião e um templo.
                                  “Fazei o que vos digo, arrancai a erva má, lançai ao fogo
                                   a planta seca, separai o trigo do joio e caminhai pelo
                                   meio das ruínas edificando de novo.
                                   “Mas cumpri a lei com doçura e amor. É preciso
                                    compadecer-se da pobre avezinha e recordar também
                                    que, como ela, tudo o que vive depende de Deus.
                                    “Caminhai e repeti minhas palavras. O céu e a terra
                                     passarão, porém minhas palavras não passarão,
                                     porque a voz do espírito deve repercutir em todo tempo.
                                    “Façamos resplandecer minha identidade, irmãos meus,
                                     com o paciente encadeamento dos pensamentos e a
                                     franca exposição de minhas obras. Humilhemo-nos
                                     juntos.
                                     Aceitai-me como mediador, posto que me vos ofereço e
                                    venho para libertar-vos dos homens de má vida.
                                    “Rompei a cadeia que vos liga ao egoísmo, ao orgulho,
                                     ao vício, à tibieza, ao desalento, porque venho libertar-
                                    vos do pecado e da morte”.

Eu sou sempre aquele que conduzo para a vida e vos digo:

                                   “Vinde a mim, os que chorais, pois eu vos consolarei.
                                   “Vinde a mim, pobres e pecadores, humildes e
                                    abandonados, e eu vos darei a paz e o calor”.

Meus discípulos estavam cada vez mais convencidos da grandeza de minha missão, e a familiaridade de nossas conversações particulares não diminuía o respeito de suas demonstrações diante dos homens. Imitadores de minhas maneiras e de meus gestos no modo de falar, eles recebiam honras de todas as partes, refletindo-se sobre minha pessoa, a quem não perdiam as contínuas oportunidades que se lhe apresentavam para designarem-me com os qualificativos de Senhor e de Mestre, querendo com isto demonstrar o lugar que me reservavam no meio deles.

Eu resignei-me à honra desse cargo de mestre para dirigi-los, porém empregava todos os argumentos para fazer-lhes compreender a divina essência da palavra irmão, reconhecer a elevação da alma no meio das mais humildes posições do espírito e a saber adquirir toda a força necessária para suportar todas as humilhações presentes com a celeste esperança da glória futura.

                    “Eu sou vosso pai espiritual, porém este caráter me obriga, mais
                     que a vós mesmos, o emprego de maior paciência e doçura.
                     “Sou vosso Senhor, quero dizer, vosso diretor, vosso defensor;
                      mas se alguém entre vós me julgasse indigno destes títulos,
                      estaria no dever de advertir-me, porque o discípulo vale perante
                      Deus tanto como o mestre, e porque é indispensável que exista
                      entre nós uma confiança ilimitada, para poder alcançar o objetivo
                     que nos temos proposto.
                     “Oremos juntos para que Deus nos ampare, mas seria preferível
                      que o discípulo perecesse antes que o mestre, porque a cabeça é
                      mais útil do que o braço e porque a ruína do senhor produziria
                      também a ruína de seus servos.
                     “Honrai-me, porém não me prodigalizeis juramentos que se
                       refiram ao porvir, porque o espírito está pronto, porém a carne é
                      fraca. Eu vos digo: muitos de vós me abandonarão no caminho
                      do sacrifício.
                      “Os dispersos não se reunirão senão para tornarem-se a
                      dispersar. Tão-somente a cabeça é forte. A cabeça sou eu, os
                      membros sois vós.
                       “Não temais. A prova que está para chegar suportai-a como a
                       rajada de um furacão.
                       “Os messias ressuscitarão em espírito e este espírito brilhará no
                        meio das trevas, guiará vossa nau por cima das agitadas ondas,
                        sua voz dominará a tempestade e sua palavra anunciará o novo
                        dia.
                       “Vós percebereis o espírito pela influência de doces esperanças
                        que se filtrarão em vossa alma e pela força que duplicará
                        vossas forças.
                        “Percebereis o espírito pelo sopro divino que passará pó cima
                         das vossas cabeças e pelo calor que penetrará em vossos
                         corações. Vereis o espírito no meio dos resplendores, que
                         iluminarão vossas almas e ninguém poderá enganar-se.
                         “Mas escutai-me e preparai o reino de Deus praticando a
                          dedicação e o amor, a prudência e o desprezo pelas honras.
                         “O mundo encher-vos-á de escárnio e muitos vos odiarão,
                           porém sofrei-o por meu amor, dizendo sempre: O Senhor
                          está conosco e nós somos seus membros. Tenho ainda
                           outros membros: são os pobres e quando vejais aos
                           pobres, lembrai-vos destas minhas palavras.
                          “Dentro em pouco eu não existirei mais; porém meu
                            espírito vos acompanhará e vos ditará minha vontade
                            como se eu estivesse ainda entre vós.
                           “Não acuseis ninguém por minha morte. Meu pai me
                            mandará o cálice da amargura e eu o exaurirei até o fim.
                            “Mas ponde em prática, depois de minha partida, o que
                             até agora temos praticado juntos, e espalhai minhas
                            palavras como as tenho dito, sem substituir-lhes nada nem
                            acrescentar-lhes nada.
                           “A Terra se renovará e minhas palavras serão
                            compreendidas através dos séculos; eu vos repito: o
                            espírito ajudará ao espírito e o reino de Deus se
                            estabelecerá, por obra do poder do espírito.
                           “O espírito lançará a palavra e a palavra será semente.
                            “Muitos de vós verão o reino de Deus.
                            “Estas palavras não podeis compreendê-las e tenho que
                            deixar-vos na ignorância, porque o momento não chegou
                             para que vos sejam explicadas; porém muitos as
                             comentarão e eu voltarei devido a isto e a outras cousas,
                             porquanto meu dia não está concluído e deixarei,
                             morrendo, erros e dúvidas que meu Pai me permitirá
                             dissipar.
                            “A verdade semeia-se em um tempo e os frutos da
                            verdade recolhem-se como colheita, em outro tempo. Mas
                             a palavra de Deus é eterna, e todos os homens a
                             receberão, porque a justiça de Deus é também eterna e
                             porque sua presença manifesta-se em todos os tempos.”

Aprendamos hoje, irmãos meus, a justiça destes ensinamentos e honrai-me com a mesma atenção que prestavam meus discípulos. Avancemos pelo caminho do engrandecimento e deixemos divagar os pobres de espírito, convertendo entretanto a palavra de Deus em nosso alimento espiritual. Deus manda a todos os mundos instrutores, mas a cada mundo lhe estão destinados como instrutores espíritos do mesmo mundo. Os Messias são instrutores avançados, cujos ensinamentos parecem utopias.

Minha missão não podia impor uma regra de conduta em um século de ignorância, tendo que limitar-se a fazer nascer idéias de revolução nos espíritos e prepará-los para a renovação do estado social futuro. Meus apóstolos não deviam ser homens de gênio, nem homens do mundo. Era necessário que eu os escolhesse entre a gente simples e trabalhadora, para instruí-los e imprimir-lhes uma direção justa, sem ter que obrigá-los à renúncia dos gozos do espírito e das comodidades da fortuna. Meus laços de família não me embaraçavam a execução de minhas resoluções, porque desde a infância sentia-me dominado pela idéia de sacrificar tudo em aras desses ideais e porque me impelia o desejo do bem de uma família mais preciosa para o apóstolo do que possa ser a família carnal para o homem.

Minha resolução inabalável de sacrificar minha vida com o martírio, parecia-me uma ordem à qual devia obedecer sob pena de me ver retirado o título de apóstolo, o patrocínio de Messias e esse prestígio de Salvador e de Filho de Deus, com que o Pai me havia agraciado e do qual a Humanidade esperava especiais benefícios.

Meus conhecimentos de apóstolo concentravam-se para o porvir, e a miúdo, enquanto falava aos homens do presente, dirigia-me indiretamente aos homens do porvir. Minha voz tornava-se então profética e meus discursos sofriam a influência da difusão de meus pensamentos quando atingiam as alturas da verdade e que esta verdade tinha que ser levada com a rigidez dos dogmas estabelecidos.

As perguntas que tinham o objetivo de fazer-me cair em contradição, eu respondia de maneira tal como que para desconcertar ao que perguntava, procurando ao mesmo tempo infundir respeito nas multidões com a autoridade do olhar, do gesto e da palavra, sempre resoluta e incisiva. Atacando de frente todos os poderes e todos os prejuízos sociais, do nascimento e das riquezas, haveria facilitado a revolta, se ao mesmo tempo não tivesse predicado a glória que se encontra nas humilhações diante da felicidade eterna. Pobre e livre, eu falava com firmeza, impelido por um entusiasmo indescritível ao referir-me às liberdades espirituais.

                    “Dai vossos bens aos pobres e segui-me. É mais difícil um rico
                      entrar no céu do que um camelo passar pelo fundo de uma
                     agulha.”

As figuras atrevidas, as comparações de colorações fortes eram apropriadas para um povo mais fácil de comover-se do que compreender razões, por cujo motivo a miúdo tinha eu que lançar mão destes meios poderosos para abrir brecha no espírito de meus ouvintes. Meus discursos, que sempre terminavam com uma citação apropriada ao caso ou com uma sentença, ficavam como que estampados, e minhas formas de linguagem em nada se pareciam com as dos outros oradores.

Eu fazia denúncia perante a Divindade de todos os vícios que descobria. O castigo do mau rico inspirava-me quadros sombrios e eu lançava anátemas contra a exploração do homem sobre o homem; mas nada havia de preparado em minhas palavras, cuja elegância de associação como brilhantismo de pensamento foram sempre por mim descuidados, porquanto dirigia-me a espíritos que convinha mais bem surpreender do que seduzir com as belezas das formas.

Os puros gozos de minha alma tinham sua manifestação exclusivamente em meio dos amigos, e as conversações tranqüilas e afáveis faziam-se-me cada vez mais necessárias.

Irmãos meus, santas companheiras minhas, tornai a ser novamente nestes momentos a fonte das alegrias retrospectivas do espírito. Sede o descanso em meio de minhas agitadas recordações, para que as imagens consoladoras, ao apresentarem-se diante de meus olhos conjuntamente com as sombras pavorosas, evitem o esforço para abreviar a narração sob a influência do dissabor e das passadas amarguras, a qual seria uma deficiência histórica e um ponto negro para a luz do meu espírito.

Irmãos meus: Oxalá possais compreender o valor de minhas palavras e ligar-me a vós, como irmão vosso na adoração de um só Deus; como irmão vosso na reforma de vossos hábitos e nas meditações de vosso espírito. Como irmão vosso no desejo e esperança de vossa parte para a aquisição das conquistas do espírito de que, com felicidade, eu desfruto, e como irmão pelo perfeito acordo de vossas vontades com a minha, podendo-se assim imprimir à marcha das cousas uma direção mais conforme com a natureza humana dignificada por uma emanação divina.

Não ignoro que esta minha fraternal demonstração terá o efeito, no primeiro momento, de uma pura ilusão de meu espírito, mas conto com Deus para dissipar este erro. Deus não me deu o poder de manifestar-me hoje para abandonar-me logo, deixando-me na impotência de dar provas de minha revelação. Deus vos olha e espera nossos olhares.

Homens dominados pela vertigem e pela cegueira pedem a continuação das honras e riquezas de que desfrutam e o direito de cuja posse se originam faltas e delitos. Homens devorados pelas paixões brutais e egoístas afirmam que nada existe além da matéria³ e que as crenças religiosas não constituem mais que mantidas aparências ou ridículas aberrações do espírito. A luta é a que distribui as honras. A luz do dia e a escuridão da noite envolvem o crápula embriagado e a criança que morre de fome.

Que demonstra tudo isso senão o horrível transtorno da dignidade dos espíritos dada pelo Criador dos espíritos? — Senão a decadência do espírito inteligente que deprime ao espírito novo!

O espírito de Deus comove-se diante desta situação e faz-se visível sua intervenção. De que maneira será esta acolhida pelos homens? Com zombarias, desgraçadamente! Mas o espírito de Deus é uma força que domina o intérprete de sua palavra e é uma luz que penetra através das trevas. Em meio da natureza humana poucos seres são favorecidos pelos dons do espírito puro, porque poucos são os que têm o valor e a vontade de desafiar as potências mundanas, ao passo que o espírito puro foge das ruidosas agitações, da dissipação e do vício para aproximar-se dos que sofrem e dos que investigam em silêncio. Nas manifestações dos dons de Deus o espírito humano nada tem que fazer, e a alma deve orar para unir-se ao pensamento do espírito puro. Durante a adoração da alma o desejo dela por conhecer a verdade é irresistível. Devido à nulidade do espírito, a luz vê-se livre dos obstáculos da imaginação e a revelação obtém-se unicamente no meio destas condições da alma e do espírito humano e as impressões do homem encontram fria a esperança ao lado da palavra de Deus que a ilumina. O espírito iluminado pela palavra divina goza na solidão, porém deve sacrificar este gozo em aras da expansão do princípio de fraternidade e de caridade, visto que a ele corresponde-lhe fechar as chagas, cicatrizar as feridas, estudar as necessidades, insinuar-se nos corações, apaziguar os ódios, encobrir as vergonhas, dar brilho à esperança e afirmar a idéia da vida futura.

Todos os espíritos de Deus se reconhecem pela elevação de suas manifestações. Nenhum deles concede a seu intérpretea faculdade de falsear as leis que regem a natureza humana e todos procuram robustecer em si mesmo o sentimento de justiça e de abnegação.

A revelação é uma honra que Deus concede a seus filhos e manifesta-se pela inspiração do espírito no espírito; torna-se ostensiva pelo engrandecimento do desejo e da vontade; impõe-se mediante as missões confiadas aos espíritos. A revelação constitui uma parte da lei de amor que se desenvolve no meio das humanidades. Deve acrescentar-se que a revelação não pode ir mais além da compreensão de seu intermediário e que ela proporciona a luz necessária segundo as necessidades da época em que ela tem lugar. A manifestação do espírito puro é generosa, porém, permanece dentro dos limites traçados pela sabedoria e santidade de sua missão. Não associa jamais a promessa dos bens temporais com a promessa das graças merecidas com o adiantamento do espírito; não responde às perguntas ditadas pela curiosidade inconsiderada, por isso afasta-se dos intérpretes indignos e são pouco freqüentes suas manifestações. É justamente pela escassez destas manifestações que eu insisto na efetividade de minha luz.

A participação de Jesus nas alegrias infinitas confere-lhe o direito de falar mais divinamente do que quando falava como filho da Terra; mas, nestas páginas, em que Jesus evoca as expansões de sua natureza humana, tem que expressar-se na forma em que o fazem os homens perante os homens, demonstrando suas alianças de família, sua vaidade de filho rebelde, suas fraquezas de espírito, suas ilusões de coração como se ainda se encontrasse no mundo dos humanos.

O poder de minha voz associa-se hoje com a emanação de minhas recordações de homem. Não vos preocupeis da distância que nos separa, irmãos meus; destruí vossas crenças errôneas; levantai uma barreira intransponível entre Jesus homem, sua mãe mulher e as fábulas que têm desnaturalizado a personalidade de Deus. No transcurso de minha vida terrena fiz discípulos e amigos, derramando palavras de paz e censurando, com a consciência de um espírito iluminado, a vaidade e a hipocrisia dessa sociedade potente e faustosa, que predominava, acendendo nos cérebros a chama do desejo para os gozos espirituais, praticando a caridade do coração com todos os enfermos, levantando a voz em defesa de todos os fracos, aproximando-se a todas as misérias, descendo a todas as vergonhas, inspirando aos pecadores o arrependimento. Por que não haveria de conseguir eu agora discípulos e amigos mediante a emanação de minha espiritualidade? Minhas palavras do tempo passado foram adulteradas ou mal compreendidas; minhas palavras de hoje se honrarão porque recebem a luz divina. Minhas palavras de outrora tiveram que esfacelar-se ao chocarem-se contra a ignorância; minhas palavras de hoje trazem atrás delas o testemunho de um Deus.

Procedamos, irmãos meus, a uma revista fácil e rápida de meus hábitos, de minhas fadigas, de meus entretenimentos, de minhas expansões fraternas, e honremo-nos mutuamente, vós por meio de uma justa atenção e eu com minhas confidências e com meu livre trabalho de espírito.

Durante uma vida humana não é possível levar-se a termo trabalhos imensos, mas a marcha no sentido do progresso pode reanimar-se sob um sopro regenerador. No período da decadência de um mundo o pensamento reformador surge de improviso, como o vasto horizonte que, ao separarem-se as nuvens, se oferece repentinamente diante de nossa vista. A atuação humana de Jesus tinha preparado o horizonte que hoje ao abrigo de sua manifestação Divina se patenteia diante dos olhares da humanidade terrestre e sua voz, hoje, na plenitude de sua potência, fará desaparecer todas as sombras que obscureceram sua aliança com Deus e com os homens. — Aliança de Deus! — Sim, porque Jesus tinha que emancipar as ordens de Deus. — Aliança com os homens! — Sim, porque Jesus vinha falar-lhes de amor, de fraternidade, de paz, de justiça, e o amor, a fraternidade, a paz e a justiça dão origem à sabedoria, à força, à ciência das alegrias futuras e dos favores de Deus. Jesus agora demonstra à posteridade sua natureza humana, dando-lhe ao mesmo tempo provas de sua existência de espírito. Repitamos, pois, as palavras pronunciadas por Jesus homem, mas acrescentemos-lhes as noções do espírito de Deus, para que vos compenetreis bem da elevada missão que Jesus veio começar como homem e que o mesmo Jesus vem agora continuar como espírito . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . Jerusalém me atraía, não obstante as poucas probabilidades de êxito que oferecia às minhas tentativas de proselitismo. Eu me esforçava para apresentar-lhes sob alegres cores, a meus discípulos, a viagem para ali, conhecendo bem a repulsa e o terror que essa idéia lhes provocava. Pedro manifestou com gritos, como costumava, seu desagrado quando se lhe falou de voltar a Jerusalém. Os dois filhos de Zebedeu derramaram lágrimas sinceras, suplicando-me que desistisse de tal propósito. Os dois Tiagos, irmão e tio de Jesus, fizeram-lhe o completo sacrifício de sua vontade. Todos os outros deram-me a certeza de sua fidelidade e dedicação, instando comigo para que permanecesse no meio de um povo onde havia encontrado tanta docilidade e tanto amor. Cansado desta oposição, porém, resolvido a vencê-la, deixei que se acalmassem estas primeiras emoções de meus apóstolos e não lhes tornei a falar de Jerusalém. Mas em nossas conversações, como em minhas práticas, eu dava a medida das preocupações de meu espírito, insurgindo-me contra a fraqueza dos que preferem o repouso à luta, o êxito fácil aos trabalhos do pensamento e às fadigas corporais.

                    “A luz, exclamava eu, deve ser espargida com profusão.
                     “Envergonhai-vos vós que a ocultais debaixo do alqueire, homens
                      pusilânimes, homens de pouca fé.
                     “A abundância dos dons divinos vos enche de alegria, mas
                      quando se torna necessário demonstrar a verdade com o trabalho
                      e a graça mediante sacrifícios vós permaneceis no meio da
                      ociosidade e do egoísmo.
                      “O cultivador que dá com terra estéril, leva suas esperanças para
                      outra terra mais produtiva; pois bem, eu sou o cultivador e a terra
                      estéril sois vós”.

O nível de meus conhecimentos não era alcançado pelas multidões; mas seguiam-me alguns discípulos mais clarividentes nas casas onde eu e meus apóstolos encontrávamos hospedagem, já seja na mesma Cafarnaum, já seja nos campos dos arredores. No meio deste círculo de íntimos eu fazia as confidências de minhas tristezas humanas e de minhas esperanças divinas. Quanto mais próxima me parecia estar minha morte, maiores eram as advertências que ela me sugeria.

Minha obra pereceria, eu o sabia, se depois de morto, Deus me não permitisse colaborar ainda nela como espírito. Minha fé e minha confiança arrastavam a fé e confiança dos que me ouviam e entregava-me às visões serenas e doces, assim como à dolorosa perspectiva da ignomínia e do martírio. Eu imprimia na alma desses ouvintes, meus ideais e meus propósitos como esses estigmas de fogo, que jamais desaparecem, e imprimia em seus espíritos a imagem de meus olhares, que eram sempre ternos, de meu sorriso, quase imutável, de minhas maneiras e de minha delicadeza ao consolá-los e ao demonstrar-lhes meus afetos.

Via neles o povo do porvir e sonhava no despertar do mundo, no êxito de minha missão, o triunfo de minha doutrina, apesar dos desatinos de meus amigos e da má-fé de meus inimigos. Os homens, cuja crença na divindade de minha pessoa fomentava meu discípulo predileto João, eram meus próprios amigos, pouco avisados, que dariam lugar mais tarde à fundação de um culto idólatra, com o mistério da Trindade, da Encarnação e da Redenção.

Irmãos meus, convertei-vos em verdadeiros adoradores de Deus interpretando com sabedoria as leis da Natureza. Honrai o caminho do vosso espírito; acumulai provas da grandeza de Deus e rechaçai tudo o que seja contrário a esta grandeza.

Eu não discuto convosco a respeito de minha identidade, porém, emprego todas as potências de meu espírito para arrasar a falsa e irrisória denominação que ligaram a meu nome de homem.

Vinde, irmãos meus, à casa em que Jesus, enquanto espera a refeição da noite, está sentado no meio de homens ávidos de escutá-lo ainda, depois do dia passado em segui-lo e de escutá-lo, seja nas sinagogas, seja nos centros mais populosos dos lugares percorridos. A conversação gira sempre em torno das práticas recentes. Jesus tinha pronunciado as seguintes palavras depois da parábola do filho pródigo:

                    “A reconciliação de um pecador com Deus produz maior alegria no
                     céu que a perseverança de dez justos”.

Agora Jesus completa seu pensamento. A natureza humana, segundo os dogmas da lei judaica, é chamada a uma recompensa estacionária no céu, ou uma condenação eterna no inferno. Porém, Jesus, de acordo com o sentimento humano que vê em Deus a onipotência unida à suprema bondade, determina contradições às suas próprias palavras para afirmar sua fé diante de seus discípulos e combater o princípio consagrado em outro lugar da lei. Porém, Jesus, de acordo com a alta inteligência de Deus, abandona a letra dogmática das baixas regiões e expande seu espírito para o contato dos espíritos facilmente iluminados por ele.

                   — “O filho pródigo, disse, é o pecador levado ao arrependimento, é
                    o homem enfermo restabelecido na posse de suas forças e da
                    saúde. Expliquei-me para fazer compreender as delícias da
                    reconciliação, mas escutai o verdadeiro sentido de minhas
                    palavras.
                   “O destino do homem chama-o a numerosos trabalhos e sua
                    liberdade opera-se lentamente por meio das ligações de seu
                     espírito e da expansão de suas faculdades.
                     “Na vida carnal esse destino e essa liberdade aparecem agora
                      enfraquecidos, porém, tornar-se-ão corporalmente mais fortes e
                      desembaraçados dos terrores imaginários do espírito. A demora
                     vê-se com freqüência dilatada pela negligência e a emancipação
                      pelo amor sensual.
                      “A justiça divina deixa ao homem o livre emprego de suas forças,
                      porém, se ele abusa delas para empobrecer sua alma, faz-lhe
                       sofrer o peso do fardo de suas misérias e de suas dores, depois
                      de tê-lo ajudado por um momento.
                      “Em um estado mais avançado do espírito humano há espíritos
                       que podem permanecer inativos, devido a ligações perniciosas
                       ou fraquezas morais, no cumprimento de uma elevada tarefa. Eis
                       os justos de que quis falar.
                       “Em meio da degradante humilhação da natureza humana, um
                        espírito pode tornar-se repentinamente heróico na justa
                        apreciação dos dons de Deus. Eis o filho pródigo.
                        “Merece muito de Deus o que se levanta com coragem; o que
                         desenraíza a árvore velha e lança-a ao fogo; o que lava seu
                         lugar para que nada do passado se note nele; o que do fundo
                        do abismo sai à luz do sol no pleno domínio de sua vontade e
                         mediante seus esforços.
                         “O Festim, o Céu, é a festiva acolhida que se faz ao pecador
                          arrependido em sua chegada entre os espíritos do Senhor. A
                          árvore desarraigada é o pecado, o lugar lavado é o coração
                           que estava manchado; o abismo é a morte da alma, como a
                         luz é a sua ressurreição.
                         “Na abundância dos consolos dados a mãos cheias aos
                           aflitos, Jesus havia dito: Felizes os pobres de espírito, porque
                          o reino de meu Pai pertence-lhes”.

Volto a tratar desta expressão para fazer ressaltar seu alcance:

                          “Os pobres de espírito são os que fogem do poder e da
                           dominação dos gozos mundanos e do repouso egoísta na
                           posse dos bens da terra.
                           “A pobreza de espírito proporciona o sentimento da
                           humildade para diminuir-se diante dos homens, elevando-se
                           espiritualmente, para desprezar todas as demências do
                           orgulho e da presunção. Felizes, pois, exclama ainda
                          Jesus, os pobres de espírito! Felizes também os que
                           compreendem e praticam a palavra de Deus.
                           “— Quem de vós outros, amigos meus, não quererá
                            contar-se entre os pobres de espírito, desde que a
                           modéstia e a força no sacrifício os coloca acima dos
                           demais homens?”

Jesus define depois uma palavra lançada por ele em um momento de indignação. A multidão apartou-se e um homem do povo se aproximou de Jesus e disse-lhe:
                    “Mestre: Pagaste tu o tributo a César? — Se o pagaste, por que o
                     fizeste desde que não reconheces alguma outra autoridade senão
                      a de Deus? — Se não pagaste, por que proíbes a rebelião, se
                     dás o exemplo dela?”

Jesus compreendeu que tinha que tratar com um desses homens grosseiros e maus, cujo desejo era obrigá-lo a manifestações contrárias ao governo estabelecido. Mas conservou a calma exterior, apesar da indignação que fervia em seu interior, e respondeu:

                    “Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus”.

Os discípulos sorriam-se ao lembrarem-se do gesto e acento do mestre, tomado assim tão de surpresa; em seguida a palavra de Jesus torna-se grave e tira desta resposta motivo de ensinamentos cheios de moralidade.

                     “Façamos depender nossa felicidade, disse, do cumprimento de
                      nossos deveres, quaisquer que sejam as responsabilidades que
                       resultem daí.
                       “Caminhemos sem preocupar-nos dos defeitos alheios, a fim de
                        nos livrarmos de nossas imperfeições, para a liberdade de
                       nossa alma.
                       “A fraqueza dos homens arrasta-os a julgar as intenções dos
                        outros e apóiam-se na possibilidade da fraude, para eles
                        fraudarem; e falam de injustiça enquanto fazem transbordar a
                        injustiça de seus corações e de seus lábios.
                        Há quem veja um argueiro no olho de seu vizinho e não
                         enxergue uma trave no seu; outros queixam-se do egoísmo e
                         do abandono, ao passo que fecham a alma aos lamentos dos
                         infelizes, ao desespero dos náufragos, à vergonha do
                        arrependimento dos pecadores.
                        “Eu vos digo, amigos meus, a probidade honra o espírito,
                         assim como a delicadeza nos conceitos honra o coração.
                         “Pagai vossas dívidas, sede fiéis a vossos compromissos,
                          tanto com os justos como com os injustos; com os fracos e
                          com os deserdados, do mesmo modo que com os fortes e
                          os poderosos; não condeneis, não digais Raca a vosso
                          irmão, e confirmai vossa fé adorando a Deus com a prece,
                          a prece de pensamentos, de palavras e de obras.
                          “O pensamento deve ser o guia da palavra e das obras, o
                            fruto da resolução, rogai juntos ou separadamente, mas
                            fazei-o sem ostentação.
                           “A prece do orgulhoso se assemelha à do hipócrita.
                           “O hipócrita é sempre encontrado nos primeiros lugares
                             na Sinagoga, para que os outros vejam sua fronte
                             inclinada e suas faces pálidas, para que se diga que
                            jejuou e que ora com fervor.
                           “O orgulhoso ajoelha-se diante de Deus, porém seu
                           espírito está cheio de planos para conseguir deslumbrar
                            aos outros e pede a graça expondo os direitos que tem
                             para receber a graça.
                             “Senhor, diz ele, a correção de minha conduta e a
                              elevação de meus desígnios merecem que tu lhes prestes
                              tua sanção e teu apoio. Nunca prevariquei nas leis de
                              meus pais; nada subtraí da herança paterna em
                              detrimento de meus irmãos; eduquei minha família no
                              temor e na justiça e emprego meus haveres em aliviar as
                              necessidades dos pobres. Sou forte e poderoso, porém
                               concedo minha proteção aos fracos, sinto-me inclinado
                               para as honras, porém humilho-me diante de ti.
                              “Digo-vos, amigos meus, a oração destes homens é
                              repelida. Deus acolhe em troca a prece do pecador que
                              honra seu arrependimento com a humildade de sua
                              presença e com a simplicidade de suas palavras.
                             “Deus meu, diz ele, eu adoro-te em todos os teus decretos
                              e peço-te o perdão de minhas culpas.
                              “Faze sentir o peso de tuas mãos sobre teu servo, mas
                              concede-lhe a esperança de poder abrandar tua justiça e
                              de merecer tua misericórdia.
                              “Digo-vos, amigos meus, este homem gozará de sua
                              reconciliação com Deus, tirando luz de sua própria fé e
                               arrependimento.
                               “A prece em ação é o trabalho, e a conformidade é a
                               esmola, e o sacrifício por amor de Deus é a penitência e a
                              expiação para remediar o dano causado a si mesmo e ao
                              próximo com o pecado.
                             “Fazei aos outros o que desejais que se vos faça a vós
                              mesmos e encaminhai as almas para Deus com a
                              edificação de vossa vida.
                              “Honrai-me porque eu não me encontrarei sempre em
                                vosso meio, mas recordai-vos sempre destas palavras: eu
                                voltarei e estabelecerei minha lei e todos os homens
                               acreditarão em mim e não haverá senão um só rebanho e
                               um só pastor, porque Deus não me mandou para um só
                               tempo senão para os séculos futuros.
                              “Eu sou aquele que fui, que é e que será e digo:
                              “Feliz o homem que renascer com novas forças, visto que
                                terá semeado para colher.
                               “O homem renascerá até que consiga libertar-se da
                                escravidão da matéria, pela abundância dos desejos
                                espirituais. Crede e sereis fortes para as lutas do espírito
                                 com a matéria.”

Irmãos meus, as predicações de Jesus provocam dúvidas pelas contradições que nelas encontra o observador e ele converte-se em um personagem obscuro cujos atos participam do humano e do divino ao mesmo tempo.

Desejo estabelecer minha personalidade sobre a Terra de maneira a não deixar a menor fraqueza de espírito referente à minha doutrina e à minha natureza. Vou dar o resumo sucinto de meus ensinamentos para libertar minha pessoa dessa falsa luz no meio da qual a mantêm os idólatras e os mal intencionados.

Escutai-o, pois, todavia, a Jesus e esta vez seja ainda sobre a montanha, como quando, só com Pedro, João e Mateus, explicou as manifestações dos espíritos da Terra, pela atração da alma e do poder da vontade.

Nesses breves ensinamentos Jesus indicou a seus apóstolos o meio de estabelecer comunicação com os espíritos livres da envoltura corporal e iniciou-os na felicidade de experimentar o contato divino, adorando o fogo da vida e pedindo-lhe a liberdade mais além dos horizontes humanos.

Convida-os como a um banquete fraternal com os espíritos que viveram na Terra e que dirigem-lhe agora um olhar de comiseração.

                     “Elias, Elias, exclama ele, eu te chamo e espero a prova
                      de tua presença.
                      “Honra a ti, Elias, e que Deus nos permita comunicar-nos
                       aqui contigo, nesta solidão, para efetuar a aliança de
                       nossos espíritos e a emanação de nossos desejos.”

Durante o êxtase em que caiu minha alma, parecia que raios de luz me rodearam e me confundiram com os tons de fogo das nuvens douradas e purpúreas que se espalhavam sobre nossa cabeça e a alegria que inundava meu semblante comunicou-se aos apóstolos, que exclamaram:

                     “Elias está entre nós, o Senhor no-lo mandou, seja
                      bendito seu santo nome”.

Ao dizer isto caíram de joelhos, com o rosto para terra, dominados por uma mistura de medo e de adoração, de cujo estado tirei-os com estas palavras:

                     “Levantai-vos, amigos meus, e honrai a graça como os
                      espíritos fortes.
                      “A justiça de Deus vos elevou acima dos demais homens
                      para dar-vos a virtude de instruí-los e de consolá-los,
                      nada digais por ora a respeito do que acabais de ver;
                       poucos vos acreditarão e muitos zombarão e os
                       insultarão; mas fazei compreender a todos que o fervor
                       atrai a graça e que a fé levanta a vontade”.

Jesus preparou-se em seguida para o sermão da montanha no meio de uma compacta multidão. Ele assentou-se e seus discípulos, assentados como ele, defendiam-no dos manifestantes demasiado entusiastas. As mulheres e as crianças tomaram os primeiros lugares e a palavra do Mestre as autorizou a tomá-los. Os homens de pé dominavam o centro da assembléia, de maneira que as palavras tinham que chegar a todos e que a ordem se demonstrava como em uma casa bem governada, que se prepara para receber hóspedes muito desejados.

A tarde estava deliciosa, os semblantes eram iluminados pelos últimos raios resplandecentes; os peitos se dilatavam com as primeiras brisas da noite e as emanações da florida natureza aumentavam os atrativos daquela reunião. Jesus estava sorridente, seus olhares repousavam sobre olhares amigos; sua palavra começou ensaiando-se em incutir entre os ouvintes idéias de consolo e de esperanças, percorrendo com o pensamento o vasto campo dos favores divinos e dos deveres do homem.

                     “Amai-vos uns aos outros e meu Pai vos amará.
                      “Pedi a Deus o que vos faça falta e não deixeis jamais
                       entibiar vossa confiança.
                      “Aproximai-vos ao que sofre e não lhe digais que merece
                       seus sofrimentos; procurai, pelo contrário, aliviá-lo. A
                       verdadeira caridade não olha para o passado, fixando-se
                       tão-somente no presente.
                       “Fechai vossa alma à tristeza e por maior que seja o rigor
                       de vossos inimigos, pensai na recompensa que se vos há
                       prometido se fordes pacientes e misericordiosos.
                      “A Terra é um lugar de desterro para os que têm direito a
                       uma posição melhor; a Terra é um lugar de purificação
                       para a maior parte; mas todos devem ajudar-se para
                       conhecer o patrocínio da fraternidade e o princípio do
                       amor universal.
                      “A liberdade de muitos tem lugar mediante o amor; o
                       egoísta será castigado, e muito se perdoará ao que muito
                       tenha amado.
                       “Honrai a virtude, desmascarai o vício; mas perdoai aos
                        que vos tenham ofendido, para que a vós também seja
                        perdoado na vida futura.
                        “Não invejeis o lugar de honra, Os primeiros serão os
                         últimos e os últimos serão os primeiros, na casa de meu
                        Pai; quem quer que se exalte será humilhado e somente o
                         humilde será glorificado.
                          “Ide à casa do pobre e abraçai-o como a vosso irmão.
                          Desdenhai as distinções das riquezas e mostrai-vos
                           superiores à má fortuna.
                          “Diminuí-vos para fazer sobressair aos outros, porém não
                           imiteis aos hipócritas, que andam atrás dos elogios com
                           as aparências de modéstia.
                           “Felizes os que choram por causa de injustiças dos
                            homens, porque a justiça de Deus os fará resplandecer.
                            “Felizes os que desejam a vida eterna, porque ela os
                            iluminará desde já. Felizes os que têm fome e sede,
                           porque eles serão saciados.
                           “Felizes os que compreendem e praticam a palavra de
                            Deus.
                           “Aprendei, amigos meus, a suportar a adversidade com
                            coragem. Deus é a fonte das alegrias da alma e a alma
                            eleva-se com as privações dos bens temporais, buscando
                            os dons de Deus com o desprendimento das ambições
                               terrestres. Facilitai os dons de Deus com o
                               desprendimento das ambições e orai com um coração
                               devorado pelos desejos espirituais. Vosso Pai que está nos
                               céus encontra-se também entre vós, ouve vossa oração e
                               acolherá vosso pedido se ele estiver de acordo com o que
                               deveis a Deus e aos homens.
                                “Eu vos digo, não cai um cabelo de vossas cabeças sem a
                                 vontade do Pai Celestial, e a Divina Providência que
                                 alimenta as aves, jamais vos abandonará, se tiverdes fé e
                                 amor.
                                 “Repito-vos outra vez. O poder de Deus manifesta-se nas
                                 menores cousas, como também nas maiores, e seu olhar
                                 penetra vosso pensamento no mesmo instante que
                                  percorre a imensidade da Criação.
                                  “A palavra de Deus será espalhada sobre toda a Terra.
                                   Os que a procuram a encontrarão, porque a Terra está
                                   destinada a progredir por meio da palavra de Deus, à
                                   qual todos têm direito.
                                   “Ide, pois, meus fiéis, dirigi-vos à erva em flor.
                                   “Apascentai minhas ovelhas. A erva tornará a florescer
                                    eternamente, porquanto a lei de Deus diz que o
                                    espírito é imortal.
                                    “A geração presente será a luz para a vindoura.
                                    “Os homens de hoje verão o reino de Deus, porque o
                                     homem tem que renascer, e a Terra deve receber
                                     ainda a semente da palavra de Deus.
                                    “Honrai minhas demonstrações, praticando o que vos
                                     digo, e não me pergunteis cousas que vós não podeis
                                     compreender.
                                     “Permanecei presos com firmeza a estes dois
                                      mandamentos: o amor para com Deus, o amor para
                                      com os homens.
                                      “Nisto se encerra toda a lei e todos os profetas.”

Irmãos meus, a doutrina de Jesus é hoje a mesma que ele predicou na montanha. Todos os que deixam de pôr em prática o amor e a fraternidade, não são discípulos do Messias.

Acostumai-vos a compreender a extensão e a aplicação da fé, do amor, da solidariedade, da justiça e da doçura, para que a graça das emanações espirituais desça sobre vós.

Homens de todas as religiões humanas, de todos os povos, de todas as classes, todos vós sois filhos de uma só pátria e o leite de um mesmo seio deve amamentar-vos a todos.

Homens de todas as religiões humanas, de todos os povos, de todas as classes, todos vós sois irmãos, e os mais ricos em bens temporais, os mais sãos de corpo e de espírito, os mais iluminados, devem hospedar os pobres, curar os enfermos, sustentar os fracos, instruir os ignorantes.
Iniciai-vos uns aos outros nos conhecimentos da igualdade primitiva e da igualdade futura, que proporciona ao espírito o sentimento de humildade e a consciência de suas próprias forças para sofrer os efeitos de uma desigualdade passageira e para não ensoberbecer-se de uma elevação também passageira.

Adorai a Deus em espírito e em verdade. Pedi, e dar-se-vos-á; batei e abrir-se-vos-á. Lutai contra as emanações grosseiras.

Libertai vossa alma das paixões humanas e aguardai o porvir; ele está cheio de promessas.

Entregai à ciência de Deus a aplicação de vossos espíritos. Aprendei a palavra de vida e enxugai as lágrimas com essa palavra. Desprendei-vos de todo o rigor e ainda da frieza em vossas demonstrações, aproximando-vos a todo infortúnio, qualquer que seja sua origem, e atraí para vós tanto a confiança do delinqüente, quanto a curiosidade do malvado e a gratidão do aflito.

Acalmai os clamores de vossa consciência com a reparação da fraude e da injúria. Esperai o perdão de Deus purificando-vos com o arrependimento.

Elevai-vos caminhando pela estrada da virtude, vós que tendes expulsado os hábitos do homem velho; aproximai-vos à luz, vós que haveis compreendido o vácuo que o espírito encontra no meio dos erros: aliai-vos comigo, vós que sentis que sou eu quem vos fala aqui. Caminhemos para a glória de haver fundado a religião Universal sobre a Terra e de ter feito penetrar no espírito humano o desprezo pela morte corporal, com a esperança divina dos bens eternos.

Honremos, irmãos meus, o fim deste discurso com uma invocação de nossos espíritos ao Espírito Criador e detenhamo-nos no recolhimento e na adoração de nossas almas. Deus nos abençoará juntos, se vos elevardes às alturas da graçae se prestardes fé às minhas palavras. Deus vos dará forças se orardes com fervor e se praticardes o amor.

Deus do Universo, pai nosso misericordioso e todo poderoso, faze descer a luz de teu olhar sobre teus filhos. Faze descer sobre seus espíritos a glória, a grandeza, as perfeições de tua natureza, para que eles se curvem ante teus decretos e para que gozem da esperança em meio das provas e das dores humanas. A todos proporciona-lhes a tranqüilidade e o perdão. Prodiga-lhes a todos a abundância dos consolos. Que tua justiça ilumine mais e mais o dom das alianças fraternas e que tua misericórdia baixe a socorrer os desviados!

Envergonhemo-nos da idolatria! — Nós queremos adorar um só Deus. Envergonhemo-nos do egoísmo. Nós queremos sacrificar-nos, cada um por todos e todos para com o dever!

Envergonhemo-nos do nosso apego aos bens perecedouros! — Queremos viver no cumprimento da justiça e amontoando tesouros espirituais para a vida futura.

Envergonhemo-nos do ócio! — Nós queremos amar-nos, ajudar-nos e respeitar as obras de Deus.

Façamo-nos fortes contra os instintos da animalidade!

Vivamos sobriamente no seio das riquezas de Deus e honradamente no amor ditado pela natureza material!

Sublevemo-nos contra o cativeiro do pensamento e a escravidão do espírito!

Queremos lutar em favor da emancipação e do progresso, em favor da aliança universal dos povos e da marcha da Humanidade para Deus.

Faze, pois, ó Senhor, que o poder de teus espíritos de luz baixe sobre nós!

¹ Compreende-se como devia ser delicada a posição de Jesus, abandonado às suas próprias forças no meio de um povo inculto, inteiramente materializado, e nada disposto para as inovações. A Bíblia era para ele o código infalível de toda a sua sabedoria e nada havia acima de seus profetas e da palavra de Jeová, de quem aqueles constituíam o porta-voz obrigado. Era necessário pois revestir-se de muita autoridade e sabê-la fazer valer, a despeito da condição humilhante do meio em que atuava o Mestre, para poder ser escutado e seguido. Algo devia haver de superior, sem dúvida alguma no filho do carpinteiro de Nazareth, para que tal sucedesse, fazendo triunfar a doutrina de devolver bem por mal em oposição à do olho por olho e dente por dente de Moisés. Mas, tendo que valer-se de meios puramente humanos, como conseguir esse prestígio que lhe era tão indispensável? Eis a causa destes conflitos que vemos surgir a cada passo no espírito desse ser excepcional, que foi mártir desde seu nascimento pelo simples fato de ter que viver em um mundo tão atrasado. — Nota do Sr. Rebaudi.

² Não compreendo o porquê desta diferença entre as culpas do homem e as da mulher, sendo afinal o espírito, que não tem sexo, o que delinqüe. Quando o amor dos homens é falso, são os homens os que delinqüem; quando as mulheres provocam essa falsidade no amor, são elas as que delinqüem; mas é bom não esquecer que, se há mulheres de má vida, é porque existem homens que as excitam, porque por si sós não poderiam levar essa má vida. Em realidade é na intenção que consiste o mal e a miúdo julga-se com demasiado rigor o que não é mais do que uma fraqueza na mulher, ao passo que desculpa-se a mesma fraqueza no homem, chamando-a necessidade. — Nota do Sr. Rebaudi.

³ No “Congresso Universal do Livre Pensamento” afirmei que estes homens são de cérebro deficiente, pelo menos sob o ponto de vista da falta de uma consciência clara a respeito de sua personalidade e sua própria espiritualidade, comparando-os aos daltonianos, que confundem as cores, e com os que carecem de ouvido musical, que não podem portanto apreciar as associações harmônicas dos sons. Do mesmo modo estes pobres seres nada alcançam conceber fora da absurda materialidade das coisas que os rodeiam e, ainda que possam ser grandes monopolizadores de conhecimentos e até cheguem a brilhar como mestres nas ciências naturais, dão provas de sua escassa evolução pelo simples fato de sua incapacidade para as grandes concepções do espírito e até para o simples conhecimento de sua própria natureza íntima. Ao afirmar isto, recordei as numerosas provas que sobre este particular venho apresentando em minhas conferências públicas na sociedade Constância e na Sociedade Científica de Estudos Psíquicos e acrescentei, que o fato de que os mais notáveis livres pensadores materialistas tinham morrido, abjurando suas idéias, entre os braços da igreja católica, ao passo que nem um só livre pensador espiritualista, dos que se tenham dado a conhecer, haja caído em semelhante aberração do caráter, era prova da melhor consciência que de si mesmos tinham os segundos e de sua melhor constituição cerebral, filha de sua maior evolução. — Nota do Sr. Rebaudi.

Quer dizer Jesus que este modo de comportar-se de certos espíritos, relativamente velhos e intelectualmente adiantados, exerce uma ação depressiva sobre  os espíritos novos e por conseguinte pouco evoluídos ainda. Isto compreende-se facilmente, ainda que na realidade, como disse em minha nota anterior, esses espíritos velhos fizeram um uso rotineiro de seu fósforo cerebral, porquanto não souberam desenvolver essas aptidões superiores, que conduzem forçosamente para o espiritualismo e que resultam em parte do domínio sobre si mesmo, do estudo de sua própria personalidade, do cultivo, em uma palavra, de tudo o que nos separa da animalidade de nossas origens. — Quem duvida que quanto mais evolucionado é o ser, tanto mais distanciado se encontra de seu ponto de partida, na animalidade? — Pois bem, nada há que se distancie mais da animalidade que as concepções de um espiritualismo superior. Porém não se deve confundir o espiritualismo com o sectarismo religioso ou com o animismo dos selvagens, em que incidem muitos materialistas ao quererem combater o verdadeiro espiritualismo. O materialismo inspira o egoísmo e a cobardia e faz o homem retroceder para o instinto e os impulsos animais, porquanto tende a proclamar o direito da força, como entre os animais, o amor livre como entre os animais, o abandono das crianças ao desenvolvimento espontâneo de seus impulsos naturais, como entre os animais, a luta para a satisfação, não só de nossas necessidades senão de nossos caprichos, como entre os animais, e enfim, por onde quer que se os procure, ver-se-á que as tendências do materialismo são as de bestializar a Humanidade. Entretanto, do choque desta bestialização com os ideais nobres e elevados, que são próprios da nossa natureza espiritual, nasce essa doutrina híbrida que se chama anarquismo. Não há um só espiritualista que seja anarquista. Não há nem pode haver. — Nota do Sr. Rebaudi.

Refere-se ao médium.

Certamente estes amigos não fizeram mais, e talvez inconscientemente, que preparar o terreno para a implantação destas curiosas doutrinas, posto que em realidade elas existiam já no Egito e na Índia, de onde se divulgaram pela Judéia e pelo Ocidente, quase sem variação; do mesmo modo foram copiadas nos Evangelhos, mais tarde a concepção virginal de Maria, por obra do Espírito, a matança dos inocentes e a transfiguração, copiado tudo, quase ao pé da letra, dos Vedas. Assim também instituiu-se o sacramento da Eucaristia, por uma falsa interpretação das palavras de Jesus, quando quis significar que o pão repartido entre os irmãos, assim como o vinho bebido em comum, à maneira de um símbolo de união, quer dizer: a confraternização, de que esse pão e esse vinho, assim repartido e distribuído no final da ceia, eram o símbolo, constituíam a mesma carne e sangue de sua doutrina e o que não comesse e bebesse deles, quer dizer, o que não praticasse suas máximas de amor, não veria o reino do céu. Além do mais, a ceia pascal era um costume hebreu muito generalizado e que não tinha maior alcance que o da confraternização, como sucede agora com os nossos banquetes, se bem que os hebreus davam-lhe ao mesmo tempo o caráter de festa religiosa, recordando sua libertação da escravidão. Como pode supor-se no plácido Jesus a idéia de converter-nos em antropófagos, ou pior, visto que se trata de comer o próprio Deus? Haverá alguém capaz de comer o seu próprio filho? — Não, certamente. — Como então se poderá transformar em um fato virtuoso comer-se a Deus? A confissão é outra interpretação errada que os católicos deram às palavras de Jesus, que se esforçava sempre em ser claro e jamais lhe ocorreu dizer uma coisa para que se compreendesse outra. Quando, pois, disse: confessai-vos uns aos outros, não quis dizer senão o que estas palavras exprimem, isto é, que confessemos reciprocamente nossas faltas, de cuja confissão nasce a necessidade do arrependimento e da reparação, porque o confessar-se aos outros e ao ofendido uma falta, é natural o acrescentar: não o farei mais e procurarei ressarcir o dano. O que não tivesse tais idéias não se confessaria, porque a confissão não teria razão de ser. — Nota do Sr. Rebaudi.

Refere-se sem dúvida à denominação de Jesus Deus.

Esta deve ser a origem das práticas medianímicas a que se entregavam em comum os cristãos primitivos, segundo dados conhecidos e de acordo também com comunicações autênticas, que nos referem que os fiéis da primitiva igreja se reuniam nos templos para orar e evocar em comum, achando-se muito em voga a psicografia, como sucede em nossos centros. — Nota do Sr. Rebaudi.

Não pode caber a menor dúvida a respeito da diferença fundamental que existe entre o significado que Jesus atribui à palavra graça e ao que se dá na chamada doutrina da graça dos católicos e dos protestantes. A graça para Jesus significa uma posição elevada do espírito, conquistada por seus próprios méritos, ao passo que para os católicos e protestantes é um presente, um favor, feito por Deus a quem lhe caía em agrado, sem merecimento algum. — Nota do Sr. Rebaudi.