Em 1885, o Antimaterialista, de
Avinhão, revista dirigida pelo Sr. Renê Caillé, publicou esta obra obtida
mediunicamente em francês. Eu recebi um volume, que ficou descansando em minha
pequena biblioteca sem dar-me ao trabalho de lê-la, durante algum tempo, por
não atribuir-lhe valor algum. Somente quando, seduzido pela confiança que me
inspirava o excelente diretor do Antimaterialista, que recomendava o livro à
séria atenção dos estudiosos, me pus a folheá-lo, recebendo uma profunda impressão
de sua rápida leitura. Tornei a lê-lo repetidas vezes, resultando aumentar cada
vez mais a impressão, até chegar à mais completa convicção a respeito de sua
identidade. O conhecimento cada vez maior que eu ia adquirindo a respeito do
moderno espiritualismo me ajudava muito para formar este são critério: Ninguém,
a não ser o próprio Jesus, pode haver ditado o livro que tenho debaixo de meus
olhos! — Do mesmo modo que, ouvindo-se falar de uma pessoa desconhecida para
nós, da firmeza de suas expressões, conformes à lógica das idéias e do amor
cálido e enérgico, que nunca se desmente, recebemos internamente o convencimento
de que ela não nos engana; idéia que se converte em íntima certeza quando seus
ensinamentos são ministrados com o mais completo desinteresse e em contínua
harmonia com os fatos e idéias que se agitam no meio das incertezas da mente e
da alma; tal como aconteceu comigo diante da obra de Jesus.
Em frente a ele adquire-se também a
energia característica, o amor imenso, a constante e admirável força de vontade
que levaram ao Gólgota Aquele que assim fala.
Desmente a todos aqueles que querem
fazê-lo passar pelo único filho de Deus,
enquanto que assegura, em troca, que todos podemos chegar,
depois de repetidas existências, à sua elevação, trabalhando nossa
alma no sentido da luz divina.
Confirma implicitamente as afirmações
do Sr. Allan Kardec, sem se referir ao coordenador, e o explica em certos pontos
essenciais, que este ou não tratou ou o fez confusamente.
Houve quem, sem duvidar da
sinceridade da senhora médium, acusou-a de automatismo (qual?) e julgou poder
provar que as idéias
manifestadas nesta obra carecem da firmeza e da elevação de idéias
próprias do grande e genial reformador, como igualmente é
combatida por aqueles que crêem que Jesus é o único filho de Deus. Seria
necessário alguma coisa mais que um simples artigo de jornal para
convencê-los de que todos eles se encontram laborando em um grave
erro; porém não podendo fazê-lo aqui, me parece conveniente
referir o que disseram deste livro vários personagens ilustres e de idade
avançada, acostumados a dar com calma, às coisas, o
verdadeiro lugar que lhes corresponde.
José Zolli, um dos mil, professor de
Matemática, bem conhecido por suas obras, escreveu-me como segue a respeito da obra (veja-se II
Vessillo de fevereiro de 1902):
“Eu li, tornei a ler e reler, muitas
e muitas vezes, a belíssima VIDA DE JESUS. Estou entusiasmado com ela, não tendo
lido jamais uma obra mais formosa e elevada.
“Ela exala algo realmente superior. É um
livro que reúne a arte à santidade, constituindo talvez em sua admirável simplicidade
o livro mais esplêndido. — Quanto mais se o lê, mais se o aprecia”.
O distinto advogado G. Sforza, membro
do Conselho de Apelação, escreveu (veja-se II Vessillo de fevereiro de 1900):
“Ao começar a leitura deste livro
assaltou-me a dúvida a respeito da realidade de sua origem medianímica. Porém
não tinha chegado ainda à metade quando toda a dúvida havia por completo
desaparecido em virtude deste simples raciocínio: Se negarmos sua origem
medianímica teremos que admitir na autora um engenho pouco comum, uma profunda
cultura e minucioso conhecimento dos tempos e lugares em que se desenrolou a
vida de Jesus, e tudo isto reunido a um esquisito sentimento ético, desenvolvido
a tal ponto de constituir sua própria essência pessoal. Porém uma mulher dotada
de semelhantes dotes encontra-se com toda a certeza nas condições de produzir
uma obra original, e, até prova em contrário, não será jamais crível que ela
haja querido negar-se a si mesma apresentando uma obra alheia, cujo mérito em
nada poderia corresponder-lhe. Para podê-lo crer seria necessário ter em mãos
uma razão digna de tão grande sacrifício, e esta razão certamente não poderia
ser o prurido de aparecer como médium, compartindo assim uma prerrogativa com
muitas outras pessoas, muito inferiores, sem dúvida alguma, aos dotes
altíssimos revelados pela escritora. Portanto, não existe nenhum motivo para
duvidar da origem francamente medianímica deste livro”.
O príncipe Wisniewski escreveu-me
assim (veja-se “II Vessillo” de outubro de 1899): “Este livro é a luz vinda
do céu. É um verdadeiro acontecimento. Finalmente, depois de tantos sofismas,
contradições e superstições contidas em uma biblioteca tão volumosa, que se se
arrojara ao Pó seu curso ficariainterceptado e desviado, nos é permitido ler a
verdadeira vida, a verdadeira missão de Jesus, depurada das escórias da
tradição com que os séculos a têm desfigurado.
“Tem você razão em dizer que quem lê
este livro tem a sensação de estar falando com o doce Messias de Nazareth, tal
é
o timbre de verdade
que ressalta dele, verdade expressada com a
maior simplicidade e
o maior desprendimento da vida material, como ele o demonstrou durante sua
curta estadia neste planeta”.
Esta opinião foi manifestada também
pela Revista Freya (Argentina), que transcreveu uma parte dela. Deixo de citar
outras revistas que se têm
manifestado de uma forma sumamente favorável a respeito da obra, para ocupar-me
unicamente de L’Harbinger of Light, de Melbourne (Austrália).
O Sr. James Smith, antigo e conhecido
colaborador de dita revista, escreveu o
seguinte (veja-se II Vessillo Spiritista de dezembro de 1899): Na VIDA DE
JESUS, escrita desde o princípio até o fim por uma senhora francesa, traduzida
para o italiano por Ernesto Volpi e publicada em Vercelli, se encontram muitas
passagens fundamentalmente idênticas a uma série de comunicações que nos
demonstram sua comum proveniência de uma mesma fonte, as
quais foram recebidas nesta cidade (Melbourne) durante os últimos sete anos,
por intermédio de três diferentes médiuns de
incorporação, entre os anos de 1892 a 1899 quase, e que foram
empregados como intermediários para a sua transmissão.
Isto parece indicar que emanaram de
uma mesma fonte.
Como exemplo transcrevo aqui em
colunas paralelas as seguintes palavras, que se referem a Judas Iscariote:
VIDA DE JESUS VIDA DE JESUS
(Tradução de Ernesto Obtida medianimicamente em
Volpi) Melbourne (Austrália)
“Pobre Judas! Em “Pobre Judas! Agora
minhas últimas horas, eu tenho piedade e
ocupaste mais que lágrimas para ele.
ninguém meus
pensamentos, “Até agora todos o
e minha alma se tem caluniado e
injuriado
inclinava para a tua
para como a um imperdoável
falar-te de esperança
e de traidor. Não obstante deviam
reabilitação. Compadecer-se dele;
“Perdido; costuma-se Entretanto, ninguém
dizer perdido ao que tem em troca uma lágrima
atraiçoou a Jesus.
Oh! Para o pobre Judas.
Não! Nada se perde
das Eu que fui atraiçoado
por
obras de Deus, todas ele, perdoei-o desde então.
estão destinadas a
ser Ele progrediu
depois,
grandes, todas se
verão convertendo-se em
mestre
honradas, embora
todas como o ainda é, se bem
que
comecem arrastando-se não costume revelar seu nome
penosamente desde a quando se comunica, devido
falda da montanha,
para à marca cruel de opróbrio
com
iluminarem-se depois
com que o homem o assinalou.
a chama divina ao
chegar “Saibam eles que nem
lá em cima”. uma só alma
será ou
poderá perder-se e que
entre
os anjos puros e
gloriosos que são dignos
de se encontrarem em
presença do Pai, não há
um só que não tenha
pecado e sofrido, que não
tenha palmilhado o duro
caminho do pão da tribulação,
exatamente como eu fiz”.
Temos que relembrar aqui que, segundo
as duas vidas de Jesus, Judas não atraiçoou por cobiça de dinheiro, senão por ciúmes,
por inveja das preferências de quem eram objeto por parte do Mestre, João e
Pedro. (Veja-se II Vessillo de novembro 1899.)
O Sr. James Smith, entre outras coisas,
disse o seguinte:
“Entre as muitas passagens notáveis
deste livro precioso, ressaltam esses vivos retratos que Ele faz de João
Batista, de Salomé, esposa de Zebedeu, de Sócrates (precursor do Nazareno), de Maria de Betânia,
de Maria de Magdala, do apóstolo Marcos, de Pôncio Pilatos e de outros
personagens do Novo Testamento, pelos quais se adquire uma idéia mais clara e
mais definida nesta VIDA DE JESUS do que nos mesmos Evangelhos, que não nos dão
senão um simples esboço, ao passo que nestes retratos vemo-los quase como se
estivessem vivos”.
Pelo que diz respeito, por outra
parte, à eloqüência característica que se destaca em toda a obra, a essa
unidade essencial que domina em todas as suas partes, a essa sublime eliminação
do Eu, jamais olvidada na constante adoração para o Pai, dele e de todos os
homens, nesse sentimento divinamente admirável de religião e de moral que
inculca, eu não me atrevo quase a falar com essa entusiástica admiração que a
religião deste livro me tem inspirado
por temor de que me acusem de exagerado.
Seria uma verdadeira
desgraça para os espiritualistas da Grã-Bretanha, dos Estados Unidos, do
Canadá, da Austrália, da América do Sul, França, Espanha, Alemanha, Áustria,
Hungria, se este livro não fosse
traduzido em inglês, alemão, espanhol e novamente em francês, tendo-se perdido
o original e não existindo mais exemplar algum
senão o conseguido por mim.
Havendo-me, naturalmente, assaltado a
dúvida de que os médiuns de Melbourne tivessem podido chegar a conhecer o livro A VIDA DE JESUS,
escrevi ao Sr. James Smith, rogando-lhe que me tirasse as dúvidas a respeito.
Eis sua resposta com data de 15 de agosto de
1901:
“Respondo a sua pergunta sem perda de
tempo: é completamente impossível que qualquer das três médiuns (uma delas
faleceu) pudesse conhecer o conteúdo de seu livro, porque as duas vivas são
analfabetas, e a morta pouco lhe faltava para ser. Nenhuma delas conhecia uma
única palavra de francês nem de italiano.
“Sucedia, até com freqüência, que elas
não compreendiam as comunicações que se recebiam por seu intermédio, como
médiuns falantes, sempre superiores à sua limitada compreensão”.
James Smith acrescenta:
“Peço-lhe que desculpe minhas
tentativas imperfeitas para escrever o italiano, ao transmitir-lhe estas mal
traçadas linhas dando-lhe a última comunicação recebida do Mestre do Círculo¹ em presença de vários
visitantes estrangeiros:
“Queridos filhos, uma vez mais me
encontro entre vós, onde quer que se
encontrem corações amorosos, eu me apresento. Alguns homens costumam dizer que
eu não posso vir à Terra. Mas, por que não? Só por uma má vontade de
receber-me. Se o cordão magnético fosse bastante forte, aquele que agora vos
fala, viria com muito prazer transmitir-vos as palavras de ternura que vos traz
de nosso Pai.
“Alguns me chamam filho de Deus; mas,
não sois todos filhos de Deus? Credes que o Pai tem filhos preferidos? Jesus de
Nazareth não é mais querido do que o paupérrimo ser que se arrasta sobre a
Terra. Deus ama todas as coisas que criou, desde o mais pequeno inseto até às
obras mais grandiosas saídas de suas mãos. Por isso todos são seus filhos,
todos são iguais em seu coração divino.
“O sol resplandece igualmente sobre
os maus e sobre os bons e vivifica todas as coisas belas e úteis ao homem, para
o sustento e a alegria de todos.
“Não julgueis nunca impossível que
Jesus de Nazareth se comunique convosco sempre que façais vibrar as cordas da
simpatia e do amor. Eis-me aqui, estou vivo. — Ah! — Quanto me aflige a nova
crucificação que me fizeram sofrer os homens ao pretenderem fazer-me igual ao
Pai para adorar-me como a Deus! Que sacrilégio! Que profanação! Que grande
blasfêmia a de adorar a criatura em lugar de Deus!
“Não acrediteis que é mais
surpreendente minha volta à Terra que a de vossos parentes e amigos. A mensagem
que vos trago é a mesma que trazia nos tempos antigos.
“Amai-vos
uns aos outros, e ajudai-vos a carregar os vossos respectivos fardos. Rogo a
vosso Pai que vos abençoe e vos ampare agora e por toda a eternidade”.
Deste modo, verifica-se que os nossos
antípodas tiveram manifestações de tal natureza a não deixar dúvida a respeito
da autenticidade da obra medianímica VIDA DE JESUS, escrita por uma médium
anônima francesa sob o ditado do Messias Nazareno, manifestações
superiores às apresentadas pelos Evangelhos e até os esclarecem em
diversos pontos. Na Europa me apraz citar: 1º Sara a Hebréia (Anais
do Moderno Espiritualismo, págs. 114, 148, ano 1873) em que se
descreve o tremendo tumulto produzido pelo povo diante de
Pilatos, confirmando com isto nossa comunicação; 2º Herculanum, livro
medianímico (2 volumes) de Wera Krijanowski, filha do general do mesmo nome,
que vieram esclarecer algumas passagens dos Evangelhos, entre aquelas que, pelo
lugar e as circunstâncias, lançam muita luz ao sermão da montanha, tal como o
indica a comunicação referida. Recentemente a Sra. Wera Krijanowski recebeu a
nomeação de oficial da Academia Francesa.
Os dois médiuns citados não conheciam
a VIDA DE JESUS.
Convém citar também o Sr. Aquiles
Brioschi, que embora sendo completamente contrário ao espírito do livro,
porquanto crê que Jesus é o único
filho de Deus, me escreveu não obstante em 1899 o seguinte:
“Faço-o ciente que nós também temos
comunicações sumamente favoráveis a esse livro, obtidas pela mediunidade de uma
senhorita, além de instruída e inteligente, médium vidente, as quais afirmam
que o livro fará muito bem e que foi obra meritória publicá-lo. Esta senhorita
goza da fama de santa”.
O sacerdote Guido Piccardi, tão
contrário à obra elogiada por sua convicção de que Jesus é o único filho de
Deus, e tendo-me escrito sobre este particular, como o declarei no Vessillo de agosto
de 1899, teve mais tarde que revelar-me que havia recebido repetidas
manifestações medianímicas sinceras e contrárias ao seu modo de pensar.
Não quero também esquecer a distinta
Virgínia Amélia Marchoni, professora, que eu via pela primeira vez, e que, procurando
amavelmente responder a uma pergunta minha de caráter espiritualista, caiu de
improviso em transe, empalidecendoin tensamente e
enfraquecendo-lhe a voz e me disse que era realmente de Jesus a obra que me
interessava. Comprovei de uma maneira a não deixar
lugar a dúvidas o estado de transe em que se encontrava a distinta
senhorita, que ao tornar a si recuperou sua voz e suas cores
naturais.
Eu possuo um quadro medianímico feito
a lápis pelo médium Favre e que representa a cabeça de Jesus, em cujo anverso
tinha o costume de escrever o que resolvia levar a cabo, sem fazer-lhe depois
correções. Depois de quase quatorze anos que eu possuía a VIDA DE JESUS DITADA
POR ELE MESMO à médium Sra. X... e depois de algum tempo que acariciava a idéia
de publicar sua tradução, efetuada por mim, despertei uma manhã com a resolução
firme de levá-la imediatamente à tipografia.
Levantei-me, coloquei o quadro sobre
uma mesinha com o propósito de escrever no anverso do retrato a promessa solene
de efetuar minha decisão
tão depressa estivesse vestido.
Enquanto me vestia lancei um olhar
sobre o quadro, cuja cabeça tinha mudado de aspecto e de posição,
oferecendo-se-me à vista uma verdadeira
cabeça vivente. Ela se dirigia docemente para o céu com uma intensa expressão
de adoração e de prece; porém o que mais me impressionou foram seus olhos de
uma expressão sem igual, úmidos, dirigidos para as regiões supremas, cheios de
uma alegria indescritível.
Escrevi minha promessa e a primeira tradução
veio à luz.
Assim, depois de trinta anos de
constantes estudos, dos quais doze passei-os como diretor do Vessillo
Spiritista, em meio do progresso lento porém seguro, de nossas doutrinas,
passando por cima de muitas, banais e grosseiras mistificações, às quais desgraçadamente
oferecem oportunidade estas matérias; tomando nota do que dizem
cientistas e não cientistas a respeito do Moderno Espiritualismo — que Deus os
ajude! — afirmo com plena certeza do que digo: que estou absolutamente seguro
da autenticidade medianímica desta obra de luz, a qual me proporcionou tantas
alegrias morais como nenhuma outra escrita até agora e me brindou com uma
constante e elevada direção, cheia de consolos e de convicção para a marcha da
vida terrena.
Com estes pensamentos publico a
segunda tradução.
ERNESTO VOLPI
¹ Espírito-guia.
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