“Não somente foi
adulterada minha palavra até na letra, como também em sua própria essência a
desfigurou o atraso dos homens, desses mesmos que a ouviram de meus próprios
lábios.
“Não é orar o repetir
palavras com o corpo curvado para terra e o semblante coberto pela máscara da
devoção e da humildade.
“Não oravam os
escribas e os fariseus, porquanto sua linguagem não era a da alma e somente é a
alma que até ao Pai se eleva pelo amor.
“O que muito ama já
orou; o que deseja o bem de seus semelhantes, já orou também, e o que faz
propósito firme de não pecar dominando a natureza carnal, o egoísmo e todas as
baixas paixões, esse bateu, e abrir-se-lhe-á, esse pediu, e dar-se-lhe-á.
“Pedi assim com a
alma, elevando o espírito para Deus pela sinceridade de vossos propósitos e
pelo amor que deve reinar em vossos corações, assim também tereis orado como eu
vos ensinei.”
PRÓLOGO
Nenhuma obra teve
tanta ressonância nestes últimos tempos como a medianímica, intitulada VIDA DE
JESUS DITADA POR ELE MESMO. Basta dizer que todas as revistas que se ocupam de
estudos psíquicos e psicológicos tributaram-lhe grandes elogios, tanto pelo estilo
e natureza transcendental da obra, quanto pela abundância das provas colhidas
em apoio de sua autenticidade.¹
Eu mesmo, tão inimigo do livro e até do autor,² tive que curvar-me ante a evidência dos fatos
de caráter medianímico³ e pessoal, que me
assediavam sem cessar, corroborando o que já tinha sucedido em torno da mesma
obra e aumentando consideravelmente seu valor como obra medianímica, pela evidente
autenticidade de sua origem.
1 - É sabido que
tanto a 1ª como a 2ª parte foram recebidas pela mediunidade de escrita mecânica
e submetidas a um rigoroso controle.
2 - Muitos, guiados
exclusivamente por sua boa-fé, tomaram a mal minha opinião contrária à
personalidade de Jesus; porém eu creio que merecem mais respeito as opiniões
formadas por meio da investigação e do estudo, com inteira honradez e
sinceridade e sem outro propósito que o de chegar à certeza, que as opiniões
aceitam, como por herança, com os olhos fechados e sem o menor esforço
intelectual.
Considero, não
obstante, dignas do maior respeito todas as crenças sinceras, porém me ocorre
perguntar ao leitor se não lhe parece que algo de muita transcendência deve
haver sucedido, para que eu, contra meus interesses e tendo a meu favor os
argumentos, provas e dados numerosíssimos, que os investigadores modernos
lograram amontoar ao redor da tese que eu defendia, que algo de muita
transcendência, repito, devia ter sucedido para que eu mesmo me confessasse em
erro, passando-me com armas e bagagem ao campo contrário.
3 - Inútil seria dar
aqui maiores detalhes sobre este particular, a não ser que o fizesse com muito
desenvolvimento, pois, não se compreenderia, pela forma inteiramente espiritual
das manifestações, que se afasta um tanto da materialidade tão procurada no
fenomenismo.
Um só exemplo vou
apresentar (o de menor valor talvez) pelo curioso e inesperado de sua
manifestação. Em minhas constantes discussões contra a personalidade de Jesus
costumava dizer que não era possível crer que a Inteligência Suprema, Deus
mesmo, fosse tão pouco hábil que mandasse seu Messias, revelador da nova
doutrina, a Jerusalém, desconhecendo as vantagens que poderia ter alcançado sua
predicação, do prestígio e domínio que Roma e Atenas exerciam no mundo, a
primeira por seu poderio militar e a segunda por sua cultura, porquanto nenhuma
força de expansão teriam de adquirir as novas doutrinas no meio de um povo que
carecia do menor prestígio no mundo civilizado, não contando com poderio
militar, nem com um comércio de importância, nem com riquezas, nem com
indústrias, artes, letras, nem ciências capazes de dar-lhe alguma notoriedade.
As contestações que
recebi a este argumento, levado ao próprio terreno do adversário, encontrei-as
sempre frouxas e mais me pareciam evasivas. Porém, eis que muito tempo depois,
um ano talvez, de haver repetido o argumento e quando me encontrava em sessão
experimental na Sociedade Científica de Estudos Psíquicos, completamente alheio
meu pensamento a questões filosóficas ou religiosas, ou que simplesmente se
relacionassem com Jesus, ofereceu-se por minha própria mão, a seguinte comunicação
semimecânica⁴
“Querem hoje os
homens ver no Messias, a quem antes negaram, não já o mediador, como a vontade
do Pai havia estabelecido, senão a personificação nele, do próprio Pai que o enviou.”⁵ Jamais, porém, saíram
dos lábios de Jesus tão temerários ensinamentos; mas preciso é, irmãos meus,
curvarem-se perante os altos desígnios de Deus, que por meios incompreensíveis
para o homem, cerca a verdade em cada tempo da forma de prestígios que mais lhe
convém, para que sejam cumpridos os propósitos de seu novo ensinamento entre
seus filhos; honrai, pois, assim ao Messias, nessa época de sua filiação divina
na Terra, honrai-o com a verdade que o dito por ele comporta, no meio do tempo
e dos acontecimentos que o rodearam . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
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. . . . . . . . . . . .
A superstição e o
desejo do maravilhoso, fomentados pelas fantasias de um discípulo que muito
distante se encontrava dos verdadeiros propósitos do mestre, rodearam a minha
pessoa dos prestígios da Divindade, pela
divulgação de falsos milagres, concorrendo com isto para que corressem as
turbas ao encontro do portador da boa nova, do novo Profeta, do Messias tantas
vezes anunciado, do salvador prometido e esperado tão pacientemente pelas
gerações que se sucediam. Eis, pois, explicado o verdadeiro milagre, do qual
dependia a notoriedade avassaladora do filho de humilde carpinteiro de
Nazareth, a rápida divulgação de seus ensinamentos e a prova de tão
indiscutível autoridade que se levantava frente a frente das Sagradas
Escrituras, frente a frente do orgulhoso Sinedrim e frente a frente da tradição
inteira com todos os seus profetas e com todos os seus divinos mensageiros.
Assim também teve que
suceder, pois a criança só comporta a linguagem da criança e não era possível
que se tornassem estéreis os esforços do celeste semeador da nova semente, ao
revelador da palavra do Senhor, que vinha em seu nome estabelecer a paz entre o
império da Terra e os impérios dos Céus.
Se certamente sua
palavra não estava destinada a ser compreendida e seguida inteiramente durante
o tempo de sua presença entre esses homens atrasados e rudes da Judéia, ela não
obstante tinha seu papel de importância que desempenhar no seio do único povo
que fazia da religião uma necessidade e da prática de suas doutrinas uma parte
inerente à sua vida diária. Era daí, de onde devia tirar sua força de expansão,
e tirou-a, não sem que dela algo aproveitasse também o mesmo povo hebreu
tratado com bastante dureza mais tarde, em conseqüência do horrível crime de
haver empapado as mãos no sangue do Enviado Celeste, que vinha levantá-lo da
abjeção em que se encontrava, pelas rudes condições de sua vida devidas ao atraso
moral e intelectual, em que gemia.
“Erro é o afirmar a
falta de oportunidade para a nova revelação na Judéia, porquanto não era o
prestígio do êxito, não era a vitória do forte contra o fraco, não era o triunfo
das paixões sanguinárias e o domínio estabelecido pelo terror, o que podia dar
força de expansão à doutrina do amor aos nossos semelhantes, do perdão das
ofensas e do retribuir o bem por mal. São justamente os fracos e os vencidos,
os que sofrem, os que têm sede e fome de verdade e de justiça, são estes,
justamente estes os únicos que elevam seus olhares ao céu e suas preces ao
Senhor, e foram justamente os pobres e os deserdados, os enfermos e os
perseguidos, os que eram vítimas da opressão dos poderosos, foram estes os que
recolheram minhas palavras e as levaram aos quatro ventos.
“Oh!... Não me
rechaceis agora, vós outros porque não me apresento com os sinais da evidência
material e com o prestígio dos grandes fenômenos.
“Sempre o milagre,
sempre o maravilhoso para dar valor à verdade!
“Eu não posso deixar
minha natureza espiritual para entregar-me a exercícios de um fenomenismo
material, magnífico para vós, porém indigno da elevada missão que venho
novamente desempenhar entre vós ao abandonar as elevadas regiões onde a vontade
do Pai me colocou.
“Oh! Não me
rechaceis, pois, não rechaceis minha palavra, que é hoje a mesma de ontem,
porquanto fui sempre vosso Messias, o Filho de Deus que haveis desconhecido, o
Enviado de meu Pai, o Revelador da eterna verdade, assim como da vontade
divina. Não rechaceis, pois, minhas palavras, porque rechaçaríeis a palavra de
Deus. Vinde a mim de preferência pela humildade e pelo amor; chamai-me com a
alma, que sempre me encontrarei onde dois ou mais se reúnam em meu nome. Não
vos enganeis, pois, porque o que agora vos digo já antes vos disse. Não vos
ofusquem a vaidade e os interesses mundanos. Desprendei-vos de vossas paixões e
do apego dos bens materiais. Pensai em mim com sinceridade e com amor e me
reconhecereis.”
JESUS DE NAZARETH.
Tão acertada e sábia
resposta demonstra um perfeito conhecimento de causa de quem a produzia que não
podia ser outro senão o mesmo protagonista. Demonstra ao mesmo tempo que a
Judéia tinha sido escolhida realmente com muita antecedência para pedestal da
nova revelação e que ao ser escolhida se procedeu, não ao acaso, senão com
inteira consciência das vantagens que oferecia. A manifestação, portanto, resulta
inteiramente oposta ao modo de pensar do instrumento por cujo intermédio foi
recebida. Por outra parte, a perfeita consciência que demonstra dos detalhes da
obra, não somente prova, com muita clareza, que é de Jesus em verdade de quem
se trata, senão que a simplicidade, cheia de elevação, assim como a certeza e a
veemência das afirmações, produzem a mais profunda impressão de verdade e de
sinceridade.
A dúvida torna-se impossível
e tem-se que admitir como verdadeira a assinatura daquele que deu tal
comunicação. Porém, se isto não bastasse, a “Sociedade Científica de Estudos
Psíquicos”, onde se recebeu a série de comunicações que formam, com a
presente, o segundo tomo da “VIDA DE JESUS” (intitulado: Complemento),
constitui por si só a melhor garantia de seriedade e veracidade, além das numerosíssimas
e continuadas provas de autenticidade que a favor da obra se tem recebido sob
formas diversas e por meio de vários intermediários.
O Sr. Ernesto Volpi,
cavalheiro e distinto chefe do exército italiano, também diretor do Vesillo
Spirita, disse que nenhum cristão deve carecer de um exemplar da VIDA DE JESUS DITADA
POR ELE MESMO e que dela deveriam publicar-se numerosas edições em todos os
idiomas, não se podendo fazer maior bem que o de sua divulgação.
Por minha parte,
posso assegurar que não conheço ninguém que haja lido este livro e não se tenha
convertido em seu entusiasta propagandista.
OVIDIO REBAUDI
¹ Comunicação publicada pela Revista
Magnetológica no número correspondente ao mês de janeiro de 1911 e recebida
pelo Médium XX, da Sociedade Científica de Estudos Psíquicos.
¹ É sabido que tanto a 1ª como a 2ª
parte foram recebidas pela mediunidade de escrita mecânica e submetidas a um
rigoroso controle.
² Muitos, guiados exclusivamente por
sua boa-fé, tomaram a mal minha opinião contrária à personalidade de Jesus;
porém eu creio que merecem mais respeito as opiniões formadas por meio da
investigação e do estudo, com inteira honradez e sinceridade e sem outro
propósito que o de chegar à certeza, que as opiniões aceitam, como por herança,
com os olhos fechados e sem o menor esforço intelectual.
Considero, não obstante, dignas do
maior respeito todas as crenças sinceras, porém me ocorre perguntar ao leitor
se não lhe parece que algo de muita transcendência deve haver sucedido, para
que eu, contra meus interesses e tendo a meu favor os argumentos, provas e
dados numerosíssimos, que os investigadores modernos lograram amontoar ao redor
da tese que eu defendia, que algo de muita transcendência, repito, devia ter
sucedido para que eu mesmo me confessasse em erro, passando-me com armas e
bagagem ao campo contrário.
³ Inútil seria dar aqui maiores
detalhes sobre este particular, a não ser que o fizesse com muito
desenvolvimento, pois, não se compreenderia, pela forma inteiramente espiritual
das manifestações, que se afasta um tanto da materialidade tão procurada no
fenomenismo.
⁴ Fiz já declaração pública de que
obtive a convicção no mais além, devido à minha própria mediunidade de escrita
mecânica, a qual perdi uma vez adquirida minha completa convicção. Em troca
escrevo sob ditado com assombrosa facilidade, porque recebi desenvolvimento
especial para isto. Tudo isto é dito não sem grande esforço, pois, no meio da
ignorância que a respeito destas coisas ainda nos rodeia é grande o prejuízo
que sofro como profissional. Mas estas coisas devem sabê-las os adeptos que me
honraram com sua companhia e ajuda.
⁵ Sendo um enviado de Deus,
converteram-no depois no próprio Deus. É o que quer dizer.
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