Os povos que compõem a humanidade atual da
Terra, diferenciados apenas pelas condições geográficas e mesológicas que os
separam, são em verdade Espíritos oriundos do mesmo plano espiritual, e por
isso possuidores do mesmo grau evolutivo alcançado através de encarnações
anteriores, neste mesmo plano de vida. A única diferença que entre estes povos
se assinala, consiste no seu grau de religiosidade, isto é, no maior ou menor
sentimento de amor para com o semelhante. Nisto apenas consiste a diferenciação
existente entre os atuais habitantes da Terra.
Sucede entretanto, que a diferença apontada
não pode constituir nenhuma barreira ao estabelecimento de um verdadeiro
espírito de fraternidade entre os filhos das várias regiões do globo terrestre,
para que todos se irmanem no mesmo pensamento de devoção ao Governador da
Terra, que por delegação multimilenar do Pai Celestial é Nosso Senhor Jesus,
aqui nascido pela última vez na povoação de Nazareth, com o objetivo, já
naquela época longínqua, de estabelecer a desejada união de pensamento nesse
espírito de fraternidade.
Sabem os homens deste século o que então
sucedeu ao filho de Maria de Nazareth, em resposta dos homens de então à
pregação de Jesus pela harmonia de todos no mesmo sentido religioso, quando se
esforçava em os convencer de que todos os homens são irmãos, por serem filhos
do mesmo pai, o Pai Celestial. Seu esforço de então custou ao Senhor o
sacrifício que persiste na memória de todos, não sendo necessário descrevê-lo
aqui. E sabeis acaso, vós todos que tiverdes a ventura de manusear estas
páginas, quem eram os homens e as mulheres que viviam na Terra à época em que
Jesus desceu ao planeta para tomar um corpo de carne, com o fim de pregar a
sábia doutrina da compreensão e da fraternidade? Eu vos elucidarei a respeito,
dizendo-vos com perfeito conhecimento de causa que, com algumas exceções, são
todos os Espíritos que na Terra se encontram presentemente em seu último ano do
curso terreno, devendo em breve prestar exame final acerca do que vieram
aprender neste plano de vida. Digo-vos que vos falo com conhecimento de causa
porque assim é realmente, uma vez que eu próprio me inscrevia entre a
humanidade de então, e tenho acompanhado bem de perto quanto até agora se
registrou em relação a todos os seus elementos. Tendo tido uma ação de certo
relevo na História do Cristianismo, por tê-lo aceito e pregado em
circunstâncias as mais difíceis que imaginar se possa, a ponto de ter sofrido a
amputação de minha cabeça como a melhor maneira que se encontrou de impedir a
continuação do meu apostolado, eu venho hoje declarar de todo o coração aos
homens e mulheres, que de tal sacrifício resultou a maior iluminação do meu
Espírito. Apenas decepada a minha cabeça nos arredores da grande capital da
Itália, senti-me instantaneamente aconchegado em macio leito de arminho, no
qual fui conduzido ao plano espiritual a que meu sacrifício fazia jus. Desejo
então relatar a todos os leitores deste livro, o que faço pela vez primeira,
que vale a pena dedicar-se alguém ao serviço do Senhor na difusão de sua
encantadora doutrina de amor ao próximo, ainda que na prévia certeza de receber
dos homens como recompensa, o encarceramento por mais longo e doloroso, e até
mesmo a pena que me foi imposta naquela fase tão distante de minha vida.
Ajuntarei ainda, para maior esclarecimento dos leitores, que tendo vivido na
Terra inúmeras encarnações anteriores, várias delas em condições bastante
difíceis, foi aquela em que me dediquei para sempre ao serviço de Jesus, a em
que comecei realmente a viver.
Meu coração enchia-se até então, dos
sentimentos peculiares ainda hoje a muitos dos viventes humanos, abrangendo
apenas o que se relaciona com a vida puramente terrena, na qual preponderam os
interesses materiais, de grandeza e domínio sobre o semelhante, com lamentável
desprezo pelos interesses espirituais, objeto e causa da vinda de cada um ao
solo terreno. Numerosas encarnações vividas por mim até então, resultaram
praticamente nulas para o meu Espírito, afeito como a grande maioria, à
preocupação que a todos domina, apenas nascidos e desenvolvidos no ambiente
materialista deste mundo terreno. Até que, usando eu da cultura material então
adquirida, e desejoso de a demonstrar perante os meus contemporâneos, lancei-me
à campanha de combate à doutrina de que fora portadora a maior figura humana de
todos os milênios — Jesus de Nazareth — apresentando como argumento o fato de
que um homem aparentemente despreparado como se apresentava o jovem carpinteiro
de Nazareth, não teria autoridade para pregar uma doutrina que se baseava na
humildade, no amor e na fé, quando as mais altas classes sociais da época
rendiam sua mais destacada homenagem à cultura e à riqueza dos homens de então.
Claro está que a pregação de Jesus tinha de suscitar a desaprovação, a revolta
e o ódio dos potentados, como de fato sucedeu, a cuja campanha meu pobre
Espírito se lançou com desenvoltura e denodo. Sobreveio, porém, para início de
minha felicidade, aquele episódio inesquecível ocorrido na estrada de Damasco,
episódio que todos conheceis, do qual resultou acender-se em meu Espírito a luz
que fez de mim um dos mais intrépidos seguidores de Jesus, e desde então me
haver dedicado pelos séculos em fora ao seu serviço.
Do que aí fica em relato sucinto, eu pretendo
convencer a quantos na Terra se encontram na hora presente, que nenhum
interesse puramente terreno, seja ele qual for, o de ascender aos mais altos
postos de mando em seu ambiente ou região, seja o de acumular fortuna de bens
perecíveis, seja enfim qual seja, nenhum interesse dessa espécie sobrepuja o
verdadeiro interesse do Espírito, que é a sua maior iluminação, e esta só se
consegue por meio da vivência de uma existência equilibrada entre o dever
material da obtenção dos meios honestos da manutenção do corpo e a emissão de
pensamentos sãos, elevados, em favor da paz e bem-estar dos semelhantes. A
ninguém é concedida no mundo espiritual qualquer honraria pela aquisição que
haja conseguido na Terra, dos mais altos padrões de cultura, se essa aquisição
não tiver podido beneficiar a comunidade.
Nunca será demasiado insistir na grande
verdade de que, sendo a humanidade constituída por um número ilimitado de
indivíduos, cujo dever consiste, ou deveria consistir, em promover cada um em
sua esfera o progresso da coletividade — não reconhecem as leis divinas
qualquer mérito na preocupação daqueles que se empenham exclusivamente no
próprio benefício. Daí a aplicação constante que todos vemos dos dispositivos
da Lei de Causa e Efeito, conduzindo aqueles que apenas se preocupam
consigo mesmos e se tornaram ricos, poderosos, numa encarnação, a situação
contrária numa próxima existência, quantas vezes até carecente do indispensável
à sua subsistência. Isto sucede tão freqüentemente e a tão grande número de
almas, que verdadeiramente nos constrange, a quantos contemplamos do Alto o
vosso panorama atual.
Chegou, porém, uma fase por todos os motivos
ímpar na vida deste planeta, cujo transcurso impõe uma completa modificação na
vida de quantos seres humanos aqui desfrutam atualmente uma nova encarnação. É
que a semente lançada pelo Senhor há perto de dois milênios encontra-se em
plena floração, e seus frutos devem ser colhidos. A semente lançada pelo Senhor
com o enorme sacrifício que conheceis, por serdes vós todos, habitantes da
Terra nos dias que passam, aqueles mesmos que subestimaram a pregação do puro e
são Cristianismo, e que, mais de dois mil anos após, deveis encontrar-vos
perfeitamente cientes e conscientes dos vossos deveres espirituais.
Está finda, por isto mesmo, a fase de
aprendizado de que todos necessitáveis, e vos foi concedida ao longo destes mais
de dois mil anos de idas e vindas a este plano de vida. E como a própria escola
em que vos encontrais matriculados, necessita de reparos que a tornem capaz de
abrigar novos alunos de mais adiantado curso, isto é, uma escola que vai passar
deste grau de ensino primário que cursais à categoria de pré-universitária -
está na dependência do vosso próprio juízo preparar-vos para ingressardes em
novo curso, em companhia de quase todos os Grandes Espíritos que passaram pela
Terra e aqui voltarão com a missão de promoverem o aparecimento de novos
progressos à vivência humana, ou, se isto preferirdes, engajar-vos nas levas de
almas que devem imigrar a planos-escolas inferiores.
Lamentável seria, meus amigos terrenos, se a
última hipótese viesse a prevalecer para um ou dois que fosse, dos Espíritos
atualmente encarnados, por qualquer motivo, em vez de se prepararem todos para
ascender à luminosa categoria de universitários do amor e da fraternidade,
juntamente com as almas que se preparam para reencarnar para a vida terrena.
Estou bem certo de que não será preciso que aquele episódio que passou à
história com a designação de Estrada de Damasco se repita em muitos ou
alguns de vós, para que vos dediqueis também, e com todas as vossas forças
morais, ao Nosso Divino Jesus que vos espera, confiante em vossa dedicação.
Convencei-vos pois, de que da Terra apenas levamos as ternas e luminosas
vibrações do nosso amor aos nossos irmãos encarnados, amando-os, ajudando-os e
servindo-os em nome de Jesus, como se o fizéssemos aos próprios irmãos
consangüíneos. Procedendo e agindo neste sentido, tendo em vista contribuir
para que os mais necessitados possam amenizar dificuldades, mas fazendo-o com
verdadeiro sentimento de fraternidade, estareis contribuindo em verdade para o
vosso engrandecimento espiritual. Dizendo engrandecimento espiritual, desejo
significar o aumento da luminosidade de cada um, cujo valor no mundo espiritual
proporciona vantagens mil vezes superiores àquelas que a posse da mais vultosa
moeda terrena pode proporcionar aos seus possuidores. E a diferença consiste em
que a moeda terrena se desgasta pelo dispêndio ou se extingue no desperdício,
enquanto que a luminosidade do Espírito representa fortuna imperecível que só
tende a se ampliar, ampliando-se com ela a própria felicidade do Espírito.
Vindo ao vosso plano redigir também um capítulo deste livro, o que faço
desvanecido com o convite com que me distinguiu a imensa bondade de Jesus para
comigo, procurei oferecer-vos um assunto absolutamente útil a todos os meus
amigos terrenos, mediante cujo estudo encontrareis no que aí fica toda a
sinceridade de quem muito vos ama e de longa data, desde quando palmilhamos
juntos os mesmos caminhos terrenos do início do Cristianismo A iluminação que
então consegui para o meu Espírito permitiu-me apreciar de um ângulo diferente
daquele que então conhecia, a finalidade e a razão de se encontrarem ao mesmo
tempo palmilhando idênticos caminhos, criaturas ricas, afortunadas, orgulhosas
mas quantas vezes infelizes, e almas simples, humildes e afáveis, cuja
aproximação e convívio tanto apreciamos. Reflete-se no campo mental dessas
criaturas, tanto das orgulhosas como das simples e humildes o grau de sua
iluminação espiritual: As primeiras restaram um caminho assaz longo a
percorrer, ao longo do qual as urzes e os acidentes terão de retirar a camada
espessa que as impede de refletir a luminosidade do diamante que possuem;
enquanto as últimas, já inteiramente livres dessa camada espessa, conseguem
transmitir aos outros os belos reflexos de sua luminosidade. Analisai-vos então,
meus amigos terrenos, e deduzi vós mesmos qual a classe a que ora pertenceis.
Aqui me despeço de vós com grande saudade
deste pequeno convívio, mas prometo estar convosco a qualquer momento em que me
chameis. Deixo-vos a segurança de que no plano em que vivo, atenderei
prontamente a quanto esteja ao meu alcance em vosso favor. Disponde, pois,
queridos amigos terrenos, deste irmão que conheceis com o nome de PAULO DE
TARSO
Not.
biogr. — Paulo de Tarso — 24-66 — O Apóstolo dos Gentios, como foi
cognominado em face do seu trabalho imenso na pregação do Cristianismo, após a
sua conversão na estrada de Damasco, onde Jesus lhe apareceu em Espírito,
nasceu em Tarso, Cecília, no ano 24 e desencarnou em Roma em 66. Naquela
época, ainda com o nome de Saulo, ocupava um elevado cargo no sinédrio em
Jerusalém, tendo sido incumbido de comandar a perseguição aos adeptos de Jesus
de Nazaré em toda a Síria. Foi quando se dirigia a Damasco, cidade onde viviam
muitos cristãos, que o Senhor lhe apareceu e lhe perguntou: “Saulo, Saulo, por
que me persegues tu?” Saulo, caindo da montaria, levantou-se ferido de
cegueira, mas iluminado interiormente pela Luz Divina. Jesus apareceu em
seguida a Ananias, um dos seus seguidores, e lhe determinou que procurasse
Saulo em Damasco e lhe aplicasse passes magnéticos na vista para recuperar a
visão. Recuperado em poucos dias de tratamento, Saulo tornou-se um adepto
entusiasta de Jesus de Nazaré e passou a difundir sua doutrina entre os
próprios hebreus estupefatos ante a notícia da ressurreição de Jesus. Assim
convertido e adotando o nome de Paulo, percorreu em companhia de Barnabé
primeiramente a ilha de Chipre, a Panfília e a Galácia, onde fundou numerosas
igrejas. Dono de uma grande cultura helênica e judaica, expunha aos gentios com
sua palavra eloqüente os princípios fundamentais da doutrina cristã,
conquistando-os de pronto para o Cristianismo nascente.
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