Depois de alguns séculos de ausência deste
mundo terreno em que tanto consegui aprimorar o meu Espírito, eis-me novamente
no vosso meio em Espírito, para dirigir-vos, primeiro as minhas saudações
fraternais a todos vós que ainda vos sentis prisioneiros da carne, e em
segundo, para dar-vos também a minha palavra de confiança e de fé na
grandiosidade da Misericórdia Divina.
Deixai que me expanda um pouco em minha
grande alegria, pelo fato desta minha presença se verificar precisamente neste
grande e belo país que amei como se fora a minha pátria, porque em verdade não
serei capaz de distinguir a qual dos dois países eu mais amei: se àquele velho
reino em que nasci, se a este país aonde fui conduzido por Forças Superiores
para aqui edificar a minha personalidade. A verdade é que Portugal e Brasil
ocupam lugares iguais em meu coração de antigo sacerdote da liberdade e do amor
a Nosso Senhor Jesus Cristo! Benditos sejam pois aqueles tempos de lutas e
sofrimentos morais, pelo bem, pela luz e felicidade que me proporcionaram.
Bem certo é que não foi aquela a minha única
passagem pela Terra, filhos meus. Outras muitas eu as tive em regiões várias do
vosso mundo, durante as quais eu consegui lapidar a jóia que hoje ostento como
Espírito inteiramente dedicado ao bem da humanidade. Foi, entretanto, minha
última existência terrena aquela em que desempenhei missão sacerdotal em várias
cidades do vosso grande e belo país, e em apenas dizê-lo nestas linhas, todo o
meu ser se volta para as lutas desiguais em que a fundo tive de me empenhar
para conseguir a liberdade de seres humanos iguais a nós, que o mercantilismo
dos primórdios tanto se empenhava em explorar. E para quê? meus filhos.
Exclusivamente para amealhar o ouro e outras riquezas em que este país tanto
fora e continua a ser excepcionalmente pródigo.
Desculpai filhos meus esta longa digressão em
causa própria, porque outras são as razões de minha presença na Terra, todas
elas motivadas pelo empenho em que se encontram todas as Forças Superiores do
vosso mundo, sob a chefia do Nosso Amado Jesus, o Sol de todos os Espíritos de
Deus em tarefas de serviço entre vós. Não vim até aqui, pois, para vos falar de
mim; a circunstância entretanto, de me encontrar novamente atuando no solo brasileiro,
trouxe-me num relance à memória todos os fatos em que fui parte há vários
séculos, e eu instintivamente me transportei a eles. Mas vamos ao que aqui me
trouxe meus caros irmãos encarnados, a quem me acostumei a chamar-vos filhos.
Instado que fui por Nosso Amado Jesus para
apoiar na Terra a Grande Cruzada de Esclarecimento que aqui se
desenvolve, é claro que este fato representou desde logo para mim um motivo
para eu prestar novo serviço ao Senhor no solo terreno, tendo eu decidido com o
coração repleto de alegria, minha partida para cá no mesmo instante. Nosso
Senhor, porém, conhecendo como conhece os meus dotes de velho combatente pela
sua causa sagrada em outros tempos, houve por bem me fazer justa ponderação.
Disse-me então com aquela afabilidade que todos vós haveis de conhecer um dia:
—“Meu filho muito estimado: a missão que te
peço desempenhares desta vez na Terra, é diferente daquelas que noutras eras
desempenhaste com brilho inexcedível. O que agora desejo merecer de tua bela inteligência
e dedicação à nossa causa, consiste apenas na transmissão duma mensagem do teu
grande coração ao coração dos meus filhos presentemente encarnados na Terra.
Necessito que todos se despertem em face dos trabalhos que lá se iniciam para a
transformação da própria estrutura terrena, sendo provável o regresso de boa
parte deles ao nosso plano, em conseqüência mesmo desses trabalhos. Minha
grande preocupação está, então, em que esses filhos sejam tomados de surpresa e
tenham de partir na inconsciência do seu estado, e se dispersem no infinito,
onde só muito dificilmente os poderíamos recuperar. Assim, filho do meu
coração; rogo-te que vás também à Terra, onde dispomos da organização
necessária para deitares também a tua luminosa palavra ao coração dos filhos
encarnados, onde sei que o teu nome e a tua autoridade gozam e gozarão
eternamente de um prestígio singular.”
Eis-me então entre vós, meus queridos. Muito
feliz eu me sentirei se a minha palavra sincera e franca tiver o mérito de
penetrar em vossos corações e neles puder deixar a idéia que de Nosso Amado
Jesus eu recebi para vos chamar à realidade presente. É um pouco diferente a
minha missão de agora em relação àquela que em tempos desempenhei como
sacerdote. Então, minha preocupação cifrava-se em atrair as almas para Cristo e
para Deus, sem a urgência que hoje se requer. Naqueles tempos minha palavra
podia flutuar em torno dos ouvidos materiais e ir penetrando lentamente nos
vossos corações. Hoje o caso é diferente, filhos meus; há urgência em que os
vossos corações se abram sem reservas ao que venho dizer-vos, em face do que se
inicia no solo do vosso mundo e certamente vos atingirá.
O que eu me empenho hoje em dizer-vos, meus
filhos, é que há necessidade de todos vós estabelecerdes estreita ligação com
as Forças Superiores que orientam e dirigem os trabalhos de transformação da
Terra, a fim de que no momento de serdes atingidos não tenhais nenhuma
dificuldade a vencer: sejais recebidos confortavelmente pelos vossos maiores do
Espaço e confortavelmente acomodados em companhia de quantos vos seguirem.
Então, para que não surjam problemas quanto à
maneira de estabelecer a necessária ligação com as Forças Superiores,
convencionou-se no Alto que todas às vibrações emitidas na Terra sejam dirigidas
a Nosso Senhor Jesus, para que assim endereçadas sejam distribuídas aos
elementos das Forças Superiores disseminadas em todas as regiões do mundo
terreno, preparados para receber todos os Espíritos que deixarem a Terra no seu
devido tempo.
Entidades bem mais luminosas de que esta que
vos fala, já trouxe a sua mensagem no mesmo sentido, as quais encontrastes nas
páginas precedentes. Minha palavra tem então o objetivo, não apenas de
confirmar quanto vos foi dito, como ainda de juntar o meu testemunho a respeito
de quanto vos quer e estima o Senhor Jesus, desejando prover a todos dos meios
de se precaverem contra possíveis sofrimentos ou aflições que deseja evitar a
todos os seus guiados terrenos.
O que vai acontecer neste vosso pequeno
mundo, um dos menores em que evoluem seres humanos no Universo, já aconteceu em
circunstâncias idênticas, sendo mesmo parte do progresso planetário geral. O
que, entretanto, determina este grande empenho do Senhor Jesus em enviar um sem
número de emissários ao vosso meio, é o seu grande desejo e preocupação de
evitar sofrimentos a todos vós quantos receberdes e aceitardes a sua
recomendação.
Todos sabeis de sobra que ninguém pode ficar
eternamente na Terra, e que esta não passa de um campo-escola aonde todos nós
viemos buscar conhecimentos e experiência que se transformarão em luz para os
nossos Espíritos. O que na Terra existe portanto, seus belos mares, rios,
montanhas e florestas, é que poderemos dizer que permanecerão na Terra porque
lhe pertencem.
Já não diremos o mesmo com as flores que vos
enfeitam os lares, visto como, cumprindo seu próprio determinismo, elas nascem,
abrem, vicejam e morrem para que em seu lugar outras flores desabrochem na
primavera seguinte. Considerai-vos então como flores que também sois, flores
espirituais que nascem na Terra para um determinado período de vida, ao fim do
qual desaparecereis da superfície terrena. Com a diferença apenas de que as
flores, sendo seres inconscientes, cumprem também inconscientemente o seu belo
destino, enquanto vós, seres humanos conscientes da vossa personalidade, ao
desaparecerdes da superfície terrena desferireis um vôo de maior ou menor
extensão, segundo a preparação que para o mesmo houverdes feito durante a vossa
permanência na Terra.
Assim pois, não deve ser o fato de terem os
seres humanos de deixar a Terra pelo fenômeno da morte, o que deve importar a
todos. O que unicamente deve constituir a preocupação de cada um deve ser a
maneira e o momento de partir. Nosso Senhor se empenha em incutir em todos os
corações a necessidade da oração diária, por ser a única maneira de
proporcionar ao Espírito encarnado uma ligação firme, segura, entre a Terra e o
Céu, no ato em que tiver de se desprender dos liames da matéria.
Perdoai-me meus filhos queridos, se não vos
trago mais aquelas imagens algo violentas, que imprimiam aos meus sermões de
outrora até uma certa irreverência para com o Criador, a quem algumas vezes
tentei responsabilizar pelos desacertos dos homens de então. Os meus sermões armavam-se
daquelas imagens por vezes rudes, porque só assim conseguiam abalar a
consciência algo endurecida dos homens que apenas esta infeliz idéia
alimentavam em seus corações: enriquecer rapidamente e de qualquer maneira,
mesmo à custa do sacrifício e escravidão de seres iguais a nós, apenas
desprotegidos dos homens. Hoje não necessito mais de empregar as imagens nem as
rudes expressões de outrora. Dirigindo-me a Espíritos já possuidores duma
regular luminosidade, que é a característica da grande maioria dos meus
leitores, eu tenho expressões do mais puro amor do Nosso Amado Jesus, que a
todos vos deseja receber em breve nos planos do Além, onde acomodações as mais
confortadoras vos estão sendo preparadas.
Desejo encerrar, então, o meu recado com a
chave espiritual que aqui vos deixo, a qual me foi entregue pelo Senhor com
este objetivo. Ao sentirdes algo de extraordinário em torno, seja ou não o
acontecimento decisivo, ponde o vosso pensamento no Senhor Jesus e dizei de
todo o coração:
Senhor Jesus!
Aqui estou às vossas ordens!
Salvai-me em vosso puro amor!
Aqui se despede saudosamente de vós e da
Terra, o Espírito do
Pe. ANTÔNIO VIEIRA
Not.
biogr. — Pe. Antonio Vieira — 1608 - 1697 — O pregador jesuíta mais
notável do seu tempo, e o maior orador sacro do século XVII. Nasceu cm Lisboa a
6 de fevereiro de 1608, filho de Cristóvão Vieira e D. Maria de Azevedo. Aos
sete anos de idade seguiu com seus pais para o Brasil, desembarcando em
Salvador, Bahia, após uma viagem tormentosa, onde seu pai ia ocupar um cargo no
governo. Na Bahia ingressou no Colégio da Companhia de Jesus, onde se despertou
sua grande vocação religiosa ao ouvir um sermão do padre Manoel do Carmo, em
1623, sobre as penas do inferno. Em 1625 Antonio Vieira fazia os seus primeiros
votos, contra a vontade da família que tudo fizera para o demover da idéia de
professar. Seu talento desenvolveu-se tão precocemente que aos dezoito anos de
idade já era encarregado de redigir a correspondência em latim ao Geral da
Ordem em Roma. Com essa idade foi designado para lecionar no Seminário de
Olinda, Pernambuco, como professor de retórica, ali comentando Séneca e Ovídio,
dando extraordinário impulso ao desenvolvimento de suas brilhantes faculdades
intelectuais, e elevando-se seguidamente a todos os estágios da Ordem até que,
em 1635, foi ordenado sacerdote, passando a exercer então as funções de
pregador, em que tanto se notabilizou. A partir dessa época a vida de Antonio
Vieira enriqueceu-se de episódios em que este Espírito notável foi chamado a
atuar inclusive na área política, como conselheiro e embaixador de D. João IV
de Portugal, e mestre e confessor do príncipe herdeiro, D. Theodósio.
Resumindo
a prodigiosa vida do Pe. Antonio Vieira, assim escreveu Eça de Queiroz:
“A
sua existência foi uma das mais ativas e ilustres do seu tempo. Grande
pregador, grande político, grande escritor, missionário, grande colonizador,
esteve envolvido nos maiores negócios, tratou com os maiores personagens e
trabalhou pelas maiores idéias da sua época. Os seus magníficos sermões
arrebatavam tanto a gente inculta do Brasil, como encantavam em Roma o sábio e
requintado mundo dos prelados romanos. Depois de ser confidente dos reis e dos
papas, de ter conhecido as grandezas do mundo e as do alto saber, morreu com a
pobreza e a simplicidade de um místico na capital da Bahia.”
O
Pe. Antonio Vieira desencarnou em Salvador, Bahia, no ano de 1697, cercado das
maiores demonstrações de carinho e respeito por parte do povo e das autoridades
brasileiras.
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