A vida terrestre representa para os Espíritos
nela encarnados a verdadeira estrada da sua evolução, aos quais incumbe
percorrê-la tantas vezes quantas forem necessárias ao aprimoramento moral de
cada um. Espíritos há atualmente no Alto, desfrutando a vida livre, feliz, que
viveram centenas ou até milhares de existências na carne só neste planeta,
afora as que tiveram de viver noutros planos inferiores a este. Depois de
cumprirem as etapas evolutivas de que careciam, ou foram promovidos à vivência
em mundos mais adiantados, ou se encontram ao serviço de Nosso Senhor Jesus, em
favor de quantos irmãos espirituais ainda se encontram na Terra.
Chegou porém o momento em que a própria Terra
tem de passar por transformações profundas em sua estrutura física, com
alterações sensíveis em todos os setores habitados, o que vem sendo planejado
há mais de dois mil anos por necessidade de sua própria evolução. É por tal
motivo que Nosso Senhor Jesus determinou o chamamento de todos os homens e
mulheres à realidade de si mesmos, despertando seus Espíritos para as
necessidades da vida espiritual, a fim de que comecem a desprender-se dos
interesses puramente materiais que tanto os prendem a este plano físico. Bem
sabe Nosso Senhor que esse apego dos encarnados aos interesses materiais é uma
decorrência natural da vida terrena. É preciso porém, que se desprendam dessas
cadeias e comecem a cuidar a sério de seu amanhã que não tarda, para que
possam transferir-se tranqüilamente daqui para o Além.
Este enviado que vos fala sente-se
profundamente feliz em ter sido designado para vos dirigir algumas palavras
neste propósito, a fim de que possais capacitar-vos do empenho que vai pelo
Espaço de Deus, em preservar todos os filhos encarnados de situações
provavelmente terríveis ou apenas dolorosas, que podem ser perfeitamente
evitadas.
Desde séculos e séculos que na Terra se fala
em salvação das almas em meio às doutrinas aqui ensinadas, sendo este ensino
até a pouco nada mais do que uma idéia puramente abstrata. Tem-se indagado por
vezes: salvar como? — sem que se tenha dado resposta satisfatória à indagação. Os
menos crentes por sua vez não encontram sentido na afirmativa de que o Senhor é
o nosso Salvador, porque só Ele pode salvar, realmente, a todas as almas. Essa
afirmativa possui em verdade uma autêntica realidade, e nos tempos que passam
ela aí está em pleno vigor através dos conselhos que estão sendo divulgados
neste país e que deverão percorrer todo o orbe terráqueo, a fim de que todos os
homens e mulheres deles tomem conhecimento e se preparem devidamente para a sua
próxima viagem de regresso ao mundo espiritual.
Se outros e mais positivos fossem os
ensinamentos religiosos difundidos na Terra, talvez estes conselhos não fossem
necessários, porque os seres humanos estariam permanentemente preparados para
empreenderem a qualquer momento a sua viagem de regresso. Infelizmente, porém,
aqueles ensinamentos, de tão superficiais, não chegam a incutir na mente dos
encarnados a realidade de sua vida transitória na Terra, encarnação após
encarnação, deixando os adeptos apenas cientes da existência de um Deus por
vezes vingador, de Jesus, seu filho unigênito, em cujo poder muito poucos
chegam a acreditar. Temos todos verificado que as pessoas que realmente pensam
na misericórdia do Senhor Jesus, voltam seus pensamentos para o sacrifício do
Calvário de há dois mil anos sem chegarem a meditar a sério na grandeza dessa
misericórdia que não cessa um dia sequer de envolver a todos os filhos
encarnados.
Com a aproximação do momento decisivo para a operação-transformação,
deliberou o Senhor mandar emissários a Terra a despertar individualmente a
todos, e eis o que estamos fazendo, percorrendo todos os caminhos e regiões
habitadas, e batendo de porta em porta como quem tivesse de despertar os
moradores para algum grande perigo iminente que estivesse a pique de os
atingir. Esse perigo existe realmente, meus queridos e não é outra a nossa
tarefa em procurar despertar-vos do sono da matéria que estais vivendo, o que
esperamos conseguir por meio da palavra escrita e outros meios ao nosso
alcance.
Poderá algum filho argumentar dentro dos
limites de seu conhecimento, que não haverá necessidade deste chamamento a que
se devotam muitos milhares de mensageiros do Senhor, visto como sempre se
morreu na Terra sem necessidade de conselhos espirituais. Quem assim
argumentar, por hipótese, está claro não deixará de estar certo, porque em
verdade sempre se registraram desencarnações, normalmente ou não, sem que uma
preparação se fizesse no sentido do esclarecimento dos encarnados. Está certo o
argumento do ponto de vista da Terra, mas não o está do ponto de vista do Alto.
Exatamente pela falta de preparação dos encarnados acerca de sua origem,
finalidade e destino, é que tem resultado o desperdício de existências e mais
existências para milhões de almas na Terra, regressando quase todas ao Espaço
em condições algumas vezes inferiores àquelas em que reencarnaram. Disso tem
resultado a falta de progresso daquelas almas na Terra, tendo necessidade de
aqui voltarem seguidamente sem nenhum ou quase nenhum proveito para a sua
evolução.
As circunstâncias são agora outras, porém, em
face das modificações a serem introduzidas na estrutura da Terra e na vivência
dos Espíritos encarnados, tornando-se necessário afastar deste plano quantos
Espíritos já esgotaram os prazos que lhes foram concedidos para evoluírem na
Terra — e quão longos tem sido! — tendo por isto de passar a outros planos de
acordo com a sua categoria.
Estou a adivinhar uma pergunta que poderão
formular alguns leitores menos compreensivos, desejosos de um esclarecimento
acerca de como se poderá identificar esses Espíritos que persistem em viver
afastados de seus compromissos e deveres espirituais. Eu lhes deixarei nestas
linhas esse esclarecimento, porque muito útil poderá ser igualmente para todos
os leitores, habilitando-os a, por sua vez, esclarecerem os demais. O processo
é o seguinte: todo encarnado, homem ou mulher, cuja maneira de viver entre em
choque com os postulados da sociedade humana; que, de modo próprio, incide e
reincide na infração a esses postulados, ou para ser mais claro, que engana,
prejudica, ofende o semelhante, está incorrendo não apenas na infração aos
postulados da sociedade de que faz parte, como também das leis de Deus que
mandam amar aos semelhantes como a nós mesmos.
Criaturas que por interesses malsãos vivem a
se aproveitar da confiança, boa fé ou ignorância dos semelhantes para os
prejudicarem, estão desde logo identificadas como Espíritos recalcitrantes na
prática do erro, uma vez que sua consciência lhes diz continuamente que tais
atos não são dignos nem corretos, e que um dia virão a pagar por eles. Isto é a
pura verdade, visto como a lei nos ensina que teremos de resgatar todas as
dívidas até ao último ceitil. Todas as criaturas nas condições descritas, assim
procedem por inferioridade moral, por maldade, usando de astúcia ou de
violência para prejudicar seus irmãos, contrariamente ao que no Alto prometeram
antes que lhes fosse concedida a presente encarnação. Não sendo então a
primeira vez que assim procedem, nem talvez a décima para muitos destes irmãos,
tem de todo esgotada a tolerância que lhes fora creditada e terminarão desta
vez suas vindas a Terra, onde tão pouco conseguiram de útil para o próprio
progresso. Estes irmãos recalcitrantes não poderão, evidentemente, fazer parte
de uma humanidade correta, cumpridora dos seus deveres espirituais de amor e
bondade como será a humanidade, porque sua permanência na Terra constituiria
nada menos que uma mancha negra sobre uma superfície alvanescente,
característica dos atos e pensamentos da nova civilização que virá habitar a
Terra.
A humanidade que já se encaminha para a
Terra, distinguir-se-á da atual pelo alto nível moral de seus pensamentos, os
quais, reunidos na atmosfera da Terra, hão de formar uma espécie de novo
satélite destinado a fornecer aos viventes de então a força magnética de que
eles possam carecer em seus empreendimentos. Será esse novo satélite ao mesmo
tempo, um regulador indispensável da vivência planetária, assim como ao atual —
a Lua — incumbe regular um sem número de atividades em vários setores da vida
terrena.
Aí tendes meus queridos irmãos encarnados, em
breves traços, um quadro que vos poderá habilitar a identificar ao vosso redor
os irmãos cujos atos os impedirão de voltar a Terra por todo o sempre, uma vez
que terão de seguir um caminho que os levará a encarnar em mundos onde poderão
ensinar algo do que aqui aprenderam, a quantos outros filhos de Deus nesses
mundos sofrem ainda a lapidação de seus Espíritos primários.
Eis o que veio dizer-vos por determinação do
Senhor Jesus, um irmão vosso que também palmilhou como vós os mais áridos e
sombrios caminhos da Terra, ao longo dos quais tanto amou e sofreu em prol de
sua evolução. Hoje, distinguido com a graça do Senhor, aqui está e se despede
LÉON TOLSTOI
Not. biogr. — Léon Nicolaievitch,
Conde de Tolstoi — 1828-1910. Romancista e moralista russo. Nasceu em
Iasmaia em 9 de setembro de 1828. Ficando órfão muito cedo, teve um preceptor
francês, Saint Thomas, apresentado em suas recordações com o nome de Jerônimo.
Em 1843 entrou para a Universidade de Kasan, dela se retirando quatro anos
depois para Iasmaia Poliana, sua terra natal, onde pretendia residir. Em 1851,
porém, foi mobilizado para o Cáucaso, sendo nomeado oficial de artilharia na
guerra do Oriente. Aí escreveu sua primeira obra “A infância”, publicada em
1852 com as iniciais L. T. Sua atuação destacada no cerco de Sebastopol e na
batalha de Tchernaia, valeu-lhe a nomeação para comandante da sua divisão.
Terminada a guerra fixou-se em Petrogrado, onde se dedicou à literatura,
escrevendo aí várias obras. Em 1858 percorreu vários países da Europa, onde
escreveu mais algumas obras. Regressando à sua cidade fundou uma escola modelo
para os camponeses e uma revista pedagógica, sendo nomeado juíz de paz.
Casou-se em 1862, em cuja vida tranqüila do lar, escreveu “Guerra e Paz” e “Ana
Karenina”, duas obras que bem prenunciavam as suas idéias futuras. Travando
conhecimento com dois camponeses, Soutaiev e Bondarev, fundadores de duas
seitas religiosas destinadas a demonstrar que a renovação do mundo se fará por
meio do trabalho manual e individual, Tolstoi abandonou o mundo para se dedicar
aos trabalhos da terra com suas próprias mãos. Tornou-se então vegetariano,
vestiu a blusa do monjik e renunciou aos bens, mas não abandonou a pena,
escrevendo a seguir várias de suas obras importantes, como: “Senhor e servo”,
“A sonata de Kreutzer”, “O poder das trevas”, “A morte de Ivan de Illitch” e
algumas outras. A 20 de dezembro de 1910, durante uma excursão iniciada dez
dias antes, Léon Tolstoi desencarnava em Astapow, extinguindo-se aí uma vida
inteiramente devotada ao aperfeiçoamento da maneira de pensar e de viver dos
seus contemporâneos. Suas máximas prediletas eram: “Amai-vos uns aos outros” e
“Não resistais ao mal pelo mal”. Para Tolstoi toda a esperança numa
transformação social num sentido melhor, residia na reforma moral dos
indivíduos. Suas “Obras completas” foram publicadas em 18 volumes (1893-1903).
Nenhum comentário:
Postar um comentário