Aconteceu há alguns milênios decorridos, em
certo plano de vida física do Universo, encontrar-se a sua humanidade na
iminência de passar por grandes sofrimentos em conseqüência da desintegração
que se iniciara numa das extremidades, isto é, num dos pólos dessa esfera ou
plano físico de vida. O fato estava em desenvolvimento, e a cada nova etapa de
desintegração sucedia um abalo em toda a superfície, com enormes sobressaltos
para a população.
Os cientistas desse mundo, cujo volume pode
ser comparado ao de cem vezes a superfície da Terra, entraram a estudar o
fenômeno com grande empenho, para poderem prevenir-lhe as possíveis
conseqüências. Excursões e excursões de geólogos, engenheiros, físicos, e de
outras categorias se dirigiram aos pontos mais próximos do local em que a
desintegração progredia, na ânsia de identificarem as causas e proverem os
remédios se possível. Enquanto isso, toda a superfície da esfera registrava os
abalos sofridos pelo fenômeno ameaçando a segurança total, com grave perigo de
vida para seus habitantes que já não encontravam momentos de paz e
tranqüilidade para seus Espíritos.
Uma providência, das primeiras a serem
tomadas, foi à entrada em comunicação telepática com habitantes de outra esfera
reconhecidamente mais evoluída, durante a qual se pedia a seus felizes
habitantes uma informação segura acerca do que então se passava, e dos meios
adequados a impedir a desintegração total do planeta em causa. Naturalmente, em
se tratando de mundos distantes, afastados por algumas centenas de milhões de
milhas um do outro, somente após uma insistência prolongada foi possível aos
habitantes da esfera vizinha receber e entender o que lhes suplicavam os irmãos
aflitos do mundo em princípio de desintegração.
Foram então promovidas grandes reuniões dos
habitantes da esfera solicitada, a fim de, mediante o estabelecimento de uma
forte corrente magnética, poder-se obter de muito mais alto a informação que
lhes estava sendo solicitada. Numa oitava, nona ou talvez décima reunião,
realizada com o máximo fervor da fé que se implantava nesses corações de
Espíritos já possuidores de grande evolução, manifestou-se uma Entidade
extraordinariamente radiosa, enviada pelos dirigentes do mundo que lhes era
superior, e lhes entregou a resposta ao pedido ardentemente feito, para
orientação dos habitantes do mundo em desintegração. Sem que permitido nos seja transcrever a íntegra do conteúdo da informação
em referência, procurarei traduzir uma pequena parte dela, pelo interesse daí
resultante para os meus queridos irmãos terrenos. Dizia a radiosa Entidade em
sua informação, que a esfera onde tal movimento se processava, em que muito
pesasse as autoridades responsáveis pelo seu governo e evolução, não tinha mais
possibilidades de sustar a própria desintegração, a qual provavelmente estaria
concluída em pouco mais de um e meio milênios. Adiantava a informação que os
registros siderais eram de tal maneira desfavoráveis aos habitantes daquele
plano, que outro remédio não fora encontrado para pôr-lhe fim, que não fosse a
sua desintegração total. Adiantava ainda a informação, para edificação
espiritual daqueles irmãos desejosos de ajudar aos do mundo vizinho, que as
partículas provenientes da desintegração do momento, seriam reunidos num futuro
mais ou menos remoto, e dessa reunião um novo plano habitável seria edificado e
pronto a receber uma nova humanidade.
Atendendo bondosamente a uma indagação que
flutuava no ambiente, a radiosa Entidade explicou que, como não podia deixar
de ser, todas as almas então encerradas na esfera em processo de desintegração,
seriam conduzidas aos seus respectivos planos espirituais para um estágio
indeterminado. A outra indagação igualmente ali produzida, a respeito dos
motivos que teriam determinado medida tão radical em relação aos seres viventes
na citada esfera, a radiosa Entidade respondeu em palavras que eu vou tentar
reproduzir aqui.
— “Meus filhos, disse, pelo vosso grau
evidente de desenvolvimento espiritual, já sabeis que tudo tem um limite no
Universo, exceção apenas do próprio Universo. Os seres viventes no mundo pelo
qual vos interessais, desenvolveram em suas numerosas vidas nele vividas, todos
os poderes ao seu alcance, tanto no bom como no mau sentido. Dando, porém, mais
atenção às solicitações da matéria do que às do Espírito, desprezando a estas
quase por completo em proveito exclusivo dos sentimentos inferiores, a vida de
relação entre eles transformou-se numa espécie de luta constante, cujo objeto
outro não era que o de locupletar-se uns do que a outros pertencia. O Senhor
desse mundo tentou por milênios implantar o espírito de fraternidade, de
bondade e amor no coração dos seus governados, tudo, entretanto, sem resultado
apreciável.
Procurou-se paralelamente afastar desse plano
as almas que iam desencarnando, com o objetivo de as substituir por outras
menos afeitas a essa maneira de viver, porém esse empenho não deu resultado em
face das ligações poderosas que prendiam aquelas almas ao mundo de onde provinham,
e para ele eram fortemente atraídas pelas vibrações afins que nele deixavam.
"O Senhor do mundo em referência não
desanimou ante o fracasso do processo tentado. Fez baixarem no solo dessa
esfera alguns dos seus mais valorosos emissários, os quais, na sua qualidade de
Profetas e Grandes Instrutores Espirituais, deveriam captar a fundo o coração
dos Espíritos encarnados, e com seu esforço elevar-lhes as vibrações para o Pai
Celestial. Ah! amiguinhos meus! — declarou por fim a radiosa Entidade —
imaginai que nem os Profetas e Grandes Instrutores foram respeitados por uma
população inteiramente mergulhada — chafurdada seria a expressão — nos prazeres
e vícios que se estendiam por toda a superfície daquele mundo, chegando a
sacrificar não poucos deles, que voltaram desanimados ao seu plano
espiritual."
Aqui retomo eu a palavra para mais algumas
considerações muito úteis para os vossos Espíritos. Sabendo-se que o progresso
ou retrocesso moral de um mundo é a decorrência do nível vibratório de sua
população, a qual, por conseguinte, tanto pode contribuir para a mais rápida
evolução do mundo em que habita, se procurar elevar sempre mais e mais o nível
de suas vibrações. Se ao contrário disso todo o conjunto vibratório do mundo
passar ao mais baixo nível moral indesejável, esse fato passa a se integrar no
sistema psicofísico que alimenta e provê as necessidades radioativas do solo,
podendo chegar, ao fim de milênios decorridos, àquele processo de desintegração
de que vos falei linhas acima. Pode dizer-se que toda a contextura do solo do
mundo em referência, entrou num processo de empobrecimento tal, que anos e anos
decorridos iriam determinar a desintegração total.
Deste fenômeno naturalíssimo se evidencia a
ausência completa de uma vontade superior, de Deus ou do Senhor do Mundo, por
exemplo, na desintegração da mencionada esfera, a qual pudesse vir a ser
considerada por algum Espírito menos preparado, como um possível castigo do
Céu. Absolutamente, meus amigos, Deus não castiga ninguém, por maior que seja a
infração cometida contra as leis divinas. A reação que uma infração desse
gênero possa produzir, é que se incumbe de levar a quem tiver produzido a ação,
o que inadequadamente costumais denominar de castigo. Foi em conseqüência dessa
lei que a esfera citada entrou em franca desintegração, a qual se prevê estará
em breve terminada. Isto feito, um mundo a menos deixará de existir no Universo
infinito, até que das partículas recolhidas um outro possa constituir-se...,
nos próximos doze a quinze milhões de anos.
Aí tendes, meus irmãos terrenos, um relato
histórico que deconhecíeis, a conseqüência inevitável a todos os Espíritos
que se desprendem de suas ligações multimilenares deixadas no Alto, para se
dedicarem afincadamente ao solo onde tem firmado os pés, na ilusão de ser essa,
exclusivamente essa, a finalidade da existência na carne. Muito ao contrário
disso, a existência na carne representa a necessidade do Espírito para se
manter no solo terreno durante o maior período de tempo possível, enquanto vai
praticando suas melhores ações, ampliando laços de fraternidade e amor aos seus
semelhantes, para delas recolher novos focos de luz espiritual de que tanto
necessita.
Que cada um de vós se compenetre desta
verdade absolutamente incontestável, e se desprenda o mais depressa que puder
de certas práticas que a seu ver não possam produzir essa luz de que precisam,
porque farão com isso, ainda nos dias, meses ou anos que lhes restam, o que não
puderam fazer antes. Quem tal prática vos aconselha, aqui o faz devidamente
autorizado pelo meigo Nazareno, o meu e vosso Senhor e Mestre Jesus, a cujo
serviço eu me devotei de longas eras. Somai o que aqui vos deixo ao muito que
outras Entidades do Senhor igualmente vos disseram e tirai as vossas
conclusões. Seria deveras para deplorarmos, nós todos que deixamos no Alto os nossos
afazeres para tentar despertar-vos ainda na Terra, seria deveras para
deplorarmos, repito, se tivéssemos de constatar um início de desintegração
deste planeta, por motivo da inferioridade das vossas vibrações. Eu estou
convicto, porém, de que uma tal desgraça não acontecerá na Terra.
Aqui vos abençoa e se despede, vosso irmão
JÚLIO VERNE
Not.
biogr. — Júlio Verne — 1828-1905. Escritor francês dos mais notáveis.
Nasceu em Nantes e desencarnou aos 77 anos, após difundir pelo mundo inteiro os
seus romances em que apresentou narrações de uma invenção engenhosa e pitoresca
e ao mesmo tempo instrutiva. Seus livros subordinados à série “Viagens
Maravilhosas” empolgaram os leitores de todas as idades, e ainda constituem a
leitura predileta da geração atual. Júlio Verne concebeu idéias de viagens
julgadas pura fantasia imaginativa no seu tempo, as quais entretanto vão sendo
concretizadas, como a viagem à Lua num foguete, à volta ao mundo em oitenta
dias e as viagens submarinas. Escreveu também peças teatrais de grande sucesso,
tendo adaptado ao teatro igualmente vários de seus romances. Sua obra literária
característica foi o gênero romance científico e geográfico, que fundou
rapidamente a sua reputação. Seu primeiro trabalho “A cabra cega”, uma peça de
teatro, apareceu em 1853, aos 25 anos, portanto, e o último, “Os irmãos Kip” em
1902. Entre as duas datas o escritor publicou em média um trabalho por ano, tal
a fecundidade de sua prodigiosa imaginação.
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