A vida dos Espíritos de todas as categorias,
tanto daqueles que iniciam os primeiros passos como seres encarnados, seja
neste planeta terreno já em certo grau de adiantamento espiritual, seja
naqueles onde ainda impera a lei do mais forte, a vida de todos eles obedece
aos mesmos princípios evolutivos, e há de os conduzir a todos ao mesmo alto
grau de aprimoramento espiritual.
Aqueles que já mereceram viver na Terra e
aqui têm vindo século após século, já se encontram numa fase que eu denominarei
de média evolução, embora ainda se encontrem em seu meio almas bastante
endurecidas. Por endurecidas eu desejo significar um não pequeno número de
encarnados refratários aos ensinamentos esclarecedores da vida no Além e suas
obrigações para com Deus e Jesus. São almas que ainda não abriram o coração aos
ensinamentos do amor e da fraternidade, não podendo assim irradiar bondade e fé
em torno de si, embora estes atributos se encontrem latentes em seu coração. É
o mesmo que haveis de testemunhar ao tomardes nas mãos um minúsculo botão de
rosa que em vão tentareis aproximar do olfato, visto como, sendo apenas botão,
não pode exalar o delicioso perfume que somente a rosa perfeitamente aberta
pode exalar.
Pois os nossos irmãos ainda na fase que
chamamos endurecida, são outros tantos botões de rosa que ocultam no íntimo dos
seus corações os belos sentimentos que hão de elevá-los um dia à categoria de
Espíritos Superiores. Prosseguindo com a imagem dos botões de rosa, já sabemos
que sua abertura plena depende entre outros fatores, de sua fase de crescimento
e maior ou menor exposição aos raios solares. Também os nossos irmãos
endurecidos hão de alcançar seu próximo estágio evolutivo de Espíritos de fé,
segundo a circunstância em que se encontrarem em relação aos ensinamentos
espirituais. Àqueles que tiverem a felicidade de conviver com outros irmãos
esclarecidos, e ouvirem deles conselhos e ensinamentos para seus Espíritos,
mais depressa se abrirá o coração ao amor e à fé, e mais depressa alcançarão
também o seu próximo degrau espiritual.
Já os demais, os que viverem retirados dos
centros de irradiação espiritual, e por isto privados do convívio com irmãos
preparados que lhes ministrem os ensinamentos de que carecem, são botões de
rosa criados à sombra, e só tardiamente poderão irradiar o perfume que se
aninha em seus corações.
Disto se infere, por conseguinte, que não
existem homens maus e homens bons porque assim tenham nascido, mas simplesmente
porque diferente é o seu grau evolutivo, ou seja, a sua idade espiritual.
Nosso Senhor Jesus manda-me recomendar a
todos os meus leitores, em face do exposto, que ajudem no que puderem a
abertura dos botões de rosa que lhes estiverem próximos, por meio de
pequenas palestras informais, conduzidas habilmente para esse objetivo, na
certeza de que o que fizerem beneficiará igualmente a ambos: ao que recebe o
ensinamento, iluminando-lhe o Espírito, e aos que o proferem, exercendo dessa
maneira um mandamento divino: ensinar os ignorantes, estão com isso
acrescentando luz aos seus Espíritos. É preciso contudo, agir com muita
prudência e bastante paciência, não vão os ensinamentos que pretendem
ministrar, provocar reação contrária da outra parte.
Nosso Senhor incumbiu-me ainda de recomendar
aos estimados irmãos leitores deste volume, que se preocupem o que puderem com
o nível de sua linguagem diária usada em suas atividades por que isso
representa muito em relação ao maior ou menor brilho, de sua atual luz
espiritual. Se um encarnado cujo Espírito se encontre classificado numa
categoria bastante evoluída, usar habitualmente um tipo de linguagem
incompatível com a sua categoria, devido quase sempre às circunstâncias do meio
em que cresceu, uma certa névoa se formará em sua aura, empalidecendo-a de tal
maneira que a mesma poderá ocultar-se aos próprios Espíritos Superiores. E
quando este fenômeno se verifica, o que é deveras lamentável, esse encarnado
poderá regressar a seu tempo ao plano espiritual de onde veio a Terra, em
circunstâncias bastante desagradáveis para si próprio. Verificará então, que o
desleixo com que viveu sua existência terrena, segundo o nível da linguagem que
usou, ao invés de contribuir para o seu progresso, o que fez foi determinar o
seu estacionamento sabe Deus por quantos séculos. Já tem acontecido que mesmo
enquanto na Terra, encarnados que se afeiçoam ao uso de uma linguagem
condenável por sua deselegância moral, encerraram sua vida física em situação
bastante triste e dolorosa, com o corpo afetado por enfermidades produzidas
exclusivamente pelos reflexos da má linguagem que tanto lhes agradava usar,
julgando-se com isso originais. Acresce que um tal tipo de enfermidades a
medicina terrena é impotente para curar porque entre vós não existem por
enquanto certos medicamentos espirituais. Quer dizer: para enfermidades de
origem moral, medicamentos espirituais; assim como para as de origem material,
medicamentos terrenos.
Isto posto, meus prezadíssimos irmãos
encarnados, quero oferecer-vos um ensinamento de grande utilidade para todos
vós enquanto permanecerdes na Terra, e de experiência para os vossos Espíritos
quando vos for dado regressar ao mundo espiritual. Quero referir-me ao costume
bastante difundido entre os seres humanos de toda a esfera terrestre, de se
dirigirem a Deus, o Pai Celestial, assim como a Jesus, o Senhor do Mundo, como
se o fizessem a um igual, a um amigo que dispensasse certas normas de
hierarquia ou demonstração do maior respeito vosso. Esse costume nós o
verificamos largamente difundido, mais certamente por falta de ensinamentos por
parte das diversas correntes religiosas existentes na Terra, do que
propriamente pela índole de cada um. É necessário dizer a todos os encarnados
que o ato de alguém se dirigir ao Pai Celestial ou ao Senhor do Mundo, e ainda
às Entidades de sua devoção, deve ser precedido de uma demonstração de
humildade tal, que uma vibração da maior pureza de sentimentos possa atingir no
Alto a Entidade invocada. Costuma-se proferir uma prece, é verdade, antes do
pedido. É necessário porém, que essa prece seja proferida pelo coração, mais do
que pelas palavras declamadas porque essas palavras permanecem no ambiente e só
o sentimento alcança o alvo visado — o Pai Celestial, o Senhor do Mundo ou as
Entidades espirituais. Se aquele que necessita de algo e para adquiri-lo
resolve dirigir-se às Entidades de sua fé, e o faz após a irradiação de uma
prece verdadeiramente sentida e acompanhada de uma vibração harmoniosa de seu
coração, e ainda isento daquela ânsia dos desesperados, mas tranqüila, serena, otimista,
pode ficar certo de que o seu pedido se inscreveu por si mesmo nos arcanos
espirituais, e seu atendimento já não necessita do beneplácito do Alto, porque
o pedido levou toda a força requerida para se materializar sem mais demora. Argumentareis
vós que em tal caso os aflitos, os desesperados, não poderiam ver-se atendidos
em determinadas circunstâncias. Vosso raciocínio estaria certo por
desconhecerdes o potencial enorme de um pedido feito por um ser encarnado em
momentos críticos, num naufrágio ou grave perigo, por exemplo, em que não sobra
tempo para a prece nem a meditação. Nesses casos, que são muitos por toda à
parte, a vibração de socorro emitida pelos Espíritos em perigo é tão poderosa,
que todos nós a identificamos no Espaço pelo traço luminoso característico
produzido no éter que circunda a Terra.
Uma vez identificado esse traço, acorrem ao
local as Entidades disso incumbidas, e o socorro é imediatamente prestado. Isto
não quer dizer, contudo, que as vidas em perigo sejam todas salvas, mas algumas
o serão, aquelas cuja hora de partir não tenha chegado para elas. As demais, as
que não puderam ter sua permanência na Terra prolongada nesses momentos, são
Espíritos cuja partida de regresso estava de antemão fixada, inclusive da
maneira pela qual se verificar.
Isto sucede em virtude da lei que conheceis
pela denominação de Causa e Efeito ou Lei do Karma. É ela que
prescreve a maneira pela qual deverá desencarnar este ou aquele Espírito em
peregrinação na Terra, cujos motivos o próprio conhece e conferirá em sua
chegada de regresso ao seu plano espiritual.
Assim pois, desejo firmar ainda uma vez a
necessidade de vos dirigirdes ao Pai Celestial, a Nosso Senhor, bem como aos
vossos Santos preferidos, não em atitude de quem se sente em condições de
ordenar que lhe enviem isto ou aquilo, mas em atitude de grande humildade, de
muita bondade e doçura de coração, não se esquecendo de acrescentar ao pedido a
condicional de se o merecerdes, inclusive se ele for justo e
conveniente para vós. Quem assim a Deus se dirigir, quem assim pedir a
Jesus seja o que for, demonstrará desde logo pela maneira por que o faz, que
seu coração se encontra em perfeita harmonia com as Forças Superiores, e
portanto em estado de merecimento. Muitas outras coisas eu desejaria
ensinar-vos, meus queridos irmãos, para que mais depressa alcanceis a vossa
meta espiritual. Como, porém, outros Instrutores aqui tereis depois de mim,
eles certamente vos dirão o que faltar, e que tudo somado completará este
valioso compêndio de ensinamentos espirituais que hão de ajustar-vos na vossa
ânsia de alcançar a Luz Espiritual que ainda vos falta.
Adeus meus amiguinhos. Se porventura
necessitardes de algum novo esclarecimento que em mim esteja, apelai
mentalmente para o vosso dedicado irmão e amigo
ANTERO DE QUENTAL
Not.
biogr. — Antero de Quental — 1842-1891 — Poeta-filósofo português.
Nasceu em Ponta Delgada, na ilha de São Miguel, Açores, em 18 de abril de 1842.
Foi um dos caracteres mais nobres e um dos Espíritos mais profundos do Portugal
moderno. Pertenceu a uma família ilustre por títulos nobiliárquicos e também
literários. Feitos os primeiros estudos em sua Cidade, foi enviado a Lisboa,
onde cursou o colégio fundado e dirigido por Antônio Feliciano de Castilho, e
mais tarde para a Universidade de Coimbra, onde se bacharelou em Direito. Uma
inteligência invulgar iluminava o Espírito de Antero de Quental, levando-o à
produção de uma obra
poética notável, e ao seu
engajamento em virulenta e prolongada polêmica com outros poetas e escritores
da qual resultou bater-se em duelo a espada, no Porto, com Ramalho Ortigão, do
qual resultou um ferimento leve no pulso de Ortigão.
Sua
vivacidade e madureza intelectual positivou-se também na área política, com a
organização em Lisboa de um programa de “Conferências democráticas”, iniciadas
em maio de 1871, tendo por companheiros outras importantes figuras da época,
entre as quais Eça de Queiroz, Oliveira Martins, Manoel de Arriaga e Teófilo
Braga. Estas conferências, porém, foram proibidas pelo marquês de Ávila, então
presidente do Conselho de Ministros, o que levou Antero a dirigir-lhe uma carta
“escrita com o fogo de sua legítima indignação”, segundo a crônica da época.
Desgostoso com a situação em Portugal, Antero dirigiu-se aos Estados Unidos e
depois à França, onde necessitou de consultar alguns médicos, inclusive
Charcot. Regressando a Portugal bastante doente, retirou-se para a sua Cidade
natal, de onde uma triste notícia em breve surpreendia toda a população culta:
suicidara-se o grande poeta a 11 de setembro de 1891.
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