As dificuldades encontradas vida afora pelas
almas encarnadas na Terra constituem os pequenos problemas que lhes são
propostos como parte das lições que vieram aprender em sua nova encarnação. São
pequenas lições que lhes cabe estudar ao longo dos seus dias terrenos, como
exercício que todas devem fazer para marcharem adiante, em busca de cursos mais
adiantados. Não há, por conseguinte, problemas, superiores à capacidade de cada
alma, porque tudo é determinado exatamente segundo as possibilidades de cada
uma.
Paralelamente é facultado às
almas encarnadas apelarem aos céus em qualquer momento em que defrontem
dificuldades aparentemente superiores às suas forças, e receberão então do Alto
o socorro, ajuda ou esclarecimento que lhes permita vencer o impasse. Bom seria
para todos os encarnados firmarem-se nesse princípio de recorrerem ao Alto o
mais frequentemente possível, porque essa prática lhes proporcionaria sem
dúvida uma trajetória terrena bem mais suave e tranquila do que possam
imaginar.
Todos nós que vivemos no
Alto após havermos percorrido seguidamente os vários caminhos da Terra, onde
logramos acumular os conhecimentos e experiências que possuímos, todos nós nos
empenhamos de toda a maneira em cooperar com as almas encarnadas, sempre que um
pedido nos chega nesse sentido. Da observação que habitualmente fazemos do
nosso plano de vida, temos constatado que ainda vivem muitas almas encarnadas
no solo terreno, inteiramente desligadas do seu plano espiritual, onde não
chega um pensamento sequer, por se encontrarem completamente mergulhadas nos
interesses da vida material. Muitas há, inclusive, que nesse estado de absoluto
desinteresse partem de regresso deste mundo terreno, onde não cuidaram, mesmo
por alto, da vida espiritual.
Essas almas assim
desencarnadas sem o menor cabedal de conhecimentos da vida espiritual e
inteiramente desprovidas da luz que teriam adquirido através do hábito da
oração diária, encontram-se numa situação deveras lamentável. Não tendo
adquirido a luz que vieram buscar na Terra, motivo principal da sua encarnação,
não podem ascender, em muitos casos, aos planos que lhes estavam reservados. Eu
vos apresentarei uma imagem terrena que poderá ajudar a compreensão do que
venho dizer-vos.
Imaginai uma criatura humana
que, por motivos superiores à sua vontade, foi retirada da cidade em que vivia
confortavelmente, mas absolutamente despreocupada de seu futuro, e foi levada
para bordo de um navio juntamente com muitas outras, cujo destino ignorava.
Isto não fora, entretanto, uma surpresa, porquanto todas aquelas criaturas
sabiam que um dia isso aconteceria, mas sem saberem quando. Uma vez a bordo,
essa criatura da minha imagem começou a
pensar seriamente em sua situação, uma vez que não se prevenira de recursos
para viver no porto onde tivesse de desembarcar. Chegado então o momento de
desembarcar, teria essa criatura verificado tratar-se duma bela cidade muito
bem construída, muito ampla, dotada de excelentes casas de hospedagem, hotéis
de fino trato, etc. Verificou porém, profundamente constrangida a criatura
imaginária, que não dispunha sequer de um mínimo que lhe permitisse tentar
viver nas condições mais precárias da cidade.
Seus pensamentos
voltavam-se, desolados, para a vida que logrou construir na cidade que deixara
para trás, donde não trouxera o necessário, o indispensável mesmo para viver em
sua nova situação. E o que testemunhava, então, a nossa criatura imaginária?
Apenas isto: outros passageiros do mesmo navio em que viera, iam-se acomodando
confortavelmente nos melhores hotéis e outras casas de hospedagem, para o que
se encontravam fartamente providas da moeda que tal situação lhes permitia. E
depois de muito peregrinar através dos vários bairros de sua nova cidade,
sentindo já necessidades alimentares impossíveis de satisfazer, o que é que
restava à nossa criatura imaginária? Nada mais do que estender a mão à caridade
pública para poder sobreviver.
Transportemos em seguida
esta imagem para o plano espiritual, e facilmente vos convencereis, filhas e
filhos meus, do valor da oração sincera, com o mesmo propósito com que
diariamente cuidais da alimentação do corpo. As almas que aportam ao plano
espiritual desprovidas de um foco de luz própria, objeto fundamental de sua
vinda à Terra, podem ser comparadas àquela criatura da imagem precedente. Não
possuindo luz própria decorrente de seus atos e pensamentos vividos no corpo,
as almas nestas condições ou permanecem estacionadas no local em que foram
deixadas após largarem na Terra os seus despojos, ou se decidem a implorar a
caridade daquelas que lhes passarem próximas, para que as ajudem a caminhar.
Direis vós talvez: e essas
almas não possuíam luz antes de reencarnarem? Sim, é a resposta certa. A luz
anteriormente alcançada pelas almas em referência pertence-lhes, efetivamente,
mas está-lhes reservada para ser entregue no momento oportuno.
No regresso ao mundo
espiritual, deve viver cada alma daquilo que logrou adquirir em sua última
existência no corpo, como prova e consequência do que tiver alcançado ao longo
dessa existência. Já tem acontecido, serem tão precárias as condições em que
regressam ao Espaço certas almas que não se preocuparam jamais com esse
momento, que muitas outras se reúnem para orar por elas, com o objetivo de
implorar ao Senhor uma velinha que seja para que possam caminhar. Isto que aqui escrevo, filhas e filhos a quem
muito quero e estimo, tem o propósito de radicar em vossos belos Espíritos a
idéia da necessidade que a todos assiste de vos preparardes para a vivência nos
planos do Além.
Nenhum de vós aqui se
encontra pela primeira vez, nem provavelmente pela última, tendo reencarnado
muitas e muitas vezes nas várias regiões do mundo terreno, mas sempre com este
único objetivo: aumentar a luz do vosso Espírito por meio da prática de ações
meritórias, mas também da oração constante, como alimento que é do vosso
Espírito. Efetivamente, enquanto o corpo se alimenta e conserva por meio do
alimento material oriundo do solo terreno, o Espírito, que é luz, só se
alimenta de luz, luz e mais luz, mediante a qual se engrandece e progride. A
luz espiritual, o Espírito a adquire em primeiro lugar por meio da oração
proferida como hábito diário em momentos de recolhimento, nos quais ele se
dirige ao Senhor Jesus para agradecer as graças recebidas nesse dia e pedir sua
continuação para o dia seguinte. Recebe igualmente luz o Espírito que ora pelos
semelhantes, os quais lucram com isso esclarecer-se e vencer possíveis
dificuldades momentâneas, graças à oração proferida em seu favor pelos
Espíritos bondosos, a quem a Misericórdia divina distribui porção igual à que
solicitaram para outrem. É, pois, da prática da oração que resulta a iluminação
das almas encarnadas, para o seu engrandecimento. É também a oração uma das
maneiras ao alcance dos mais humildes, para praticarem a caridade aos
semelhantes. Enquanto a prática de obras assistenciais requer a posse de
recursos que a possibilitem, a caridade por meio da oração depende
exclusivamente do desejo de praticá-la, de boa-vontade apenas.
Em seguida eu vou narrar-vos
uma pequena história que muito haveis de apreciar pelo ensinamento que da mesma
há de resultar para os vossos Espíritos. Eu recebi certa ocasião, em meio às
minhas ocupações habituais de orientação e ajuda a quantas almas boas apelam
para mim de muitos recantos da Terra, uma comunicação dos meus assessores de
que uma grande dama da Terra, recém-desencarnada, desejava muito falar-me e
solicitava dia e hora para ser recebida. Este protocolo era comum na Corte
donde provinha a grande dama, e por isso assim marcava o seu pedido de
audiência. Recebida a comunicação dos meus auxiliares, eu determinei que
mandassem entrar imediatamente a ilustre dama, porque eu a atenderia naquele
mesmo momento, como costumo fazer a quantas almas me procuram, e que são muitas
diariamente.
Levada a minha resolução à visitante, ela surpreendeu-se com
a minha disposição de a receber
prontamente, porém pediu para a receber no dia seguinte, visto desejar
apresentar-me certos documentos que não estavam presentes. Ela estava
habituada, como é óbvio, às audiências em seu palácio deixado na Terra, e por
isso desejava apresentar-me elementos que possuía e que julgava importantes.
Cientificada deste fato, resolvi dirigir-me ao seu encontro no salão em que se
encontrava, e isto surpreendeu-a bastante. Com o propósito de a deixar à
vontade, fui-lhe dizendo que era meu o interesse em receber naquele momento a
sua visita, cuja vivência terrena eu acompanhara atentamente do Alto. E quanto
aos documentos, seria bastante citá-los ela mesma, porque eu lhe daria ali
mesmo o conteúdo de cada um. A minha
visitante ficou maravilhada com este fato, mas ao mesmo tempo notei o
seu receio de que eu conhecesse em minúcias todos os detalhes da sua última
existência terrena. Para a tranquilizar eu disse-lhe mais ou menos o
seguinte: — Minha filha muito querida: não há um único ato
praticado no mundo terreno, pelas almas que nele se encontram, que não seja
aqui conhecido por nós, sobretudo pelo Senhor e por mim, pelas
responsabilidades que nos pesam em relação à vivência de cada uma. No teu caso,
por exemplo, eu te direi que conheço todos os atos que praticaste nos setenta
anos que na Terra estiveste, tanto aqueles extremamente meritórios, em que
muitas lágrimas enxugaste graças à generosidade do teu coração, como alguns
outros que não desejo recordar, mas que estão visíveis na tela da tua
consciência.
A milha filha presente, ao
ouvir minhas últimas palavras, perturbou-se e arrojou-se aos meus pés em pranto
e implorando perdão pelo que de injusto e condenável praticou na Terra. Eu
levantei-a carinhosamente, abracei-a e sentei-a novamente no lugar próprio. E
prossegui: — Como vês, minha filha querida, aqui não necessitamos de
comprovantes para ajuizarmos da conduta dos filhos que se encontram na Terra.
No teu caso particular, eu verifico que possuis uma percentagem muito alta de
atos bons, mediante os quais proporcionaste internação e assistência hospitalar
a milhares de criaturas necessitadas. No caso o teu mérito inconteste reside na
tua ação decidida no sentido de que o Estado construísse os hospitais para a
população pobre; ainda assim, vale a tua iniciativa e determinação de insistir
para que os homens do governo fornecessem os recursos para as obras. Verifico,
igualmente, com grande alegria que muito te empenhaste em povoar de escolas o
território do teu país, em virtude das quais muitos milhares de seres infantis
lograram despertar a inteligência para a vida terrena. Sim, minha filha; louvo e muito a tua decisão de
angariar recursos através das reuniões sociais que organizaste, e que muitas
foram, para atender aos necessitados de tudo: roupas e alimento. Observo que
boa parte da tela na qual a tua vida se reflete, está iluminada de estrelas
muito belas, nela incrustadas por esses atos bons, altamente meritórios.
A sombra do brilho refletido
para esse conjunto de estrelas é que produz este belo foco de luz que ostentas
e pelo qual eu te felicito, minha filha
muito estimada. Ela, profundamente
emocionada, desejava falar-me. Desejava dizer-me algo que eu bem conhecia. Concedi-lhe
a palavra, porém aquela filha ali presente, envolvida na intensa onda de amor
que eu projetava sobre ela para seu maior conforto na minha presença, não conseguia articular as
palavras. Para a consolar eu disse-lhe que apenas pensasse o que desejava
dizer-me, e eu lhe responderia o que fosse necessário. Ela assim fez. Projetou
na tela de sua consciência alguns fatos em que fora parte principal na Terra,
entre eles, lamentavelmente, o sacrifício de uma criatura por motivo de zelos
excessivos. Contribuíra, se não mesmo determinara o extermínio de uma vida que
não lhe pertencia, mas desejava livrar-se de sua presença. Eu conhecia
realmente o fato lamentável, e assim lhe falei:
— Filha do meu coração: a vida terrena, infelizmente, ainda comete
dessas infrações às leis divinas, uma vez que a ninguém é dado interromper o
fio da vida do semelhante. Compreendo bem, que esse ato condenável muito
influiu para que te dedicasses posteriormente à prática de todos aqueles atos
meritórios já mencionados. Isto redimiu em boa parte a falta que cometeste.
Devo acrescentar, porém, que
a tua falta ainda sofreu uma redução bastante notável, por se tratar duma
retribuição de ação, na qual a vítima foste tu própria em vida precedente. As
circunstâncias determinaram que novamente vos encontrásseis no mundo, e os
fatos assim aconteceram. Houve, por conseguinte, aí, uma retribuição pela lei
de causa e efeito. Levanta, pois, o teu moral, minha querida. Eu me incumbirei em seguida de vos
reaproximar, não mais como rivais, mas como boas amigas, numa encarnação em que
sereis mãe e filha. Acalma-te, pois, minha
filha. Afasta essa triste recordação da tua memória, e prepara-te para
regressares à Terra, onde receberás em teu lar como filha a quem muito hás de
amar, essa nossa irmã. Foi assim que eu
me desempenhei da visita daquela filha muito querida. Devo acrescentar, para
finalizar, que ambas voltaram à Terra como eu desejei, aqui viveram uma longa
existência como mãe e filha, através da qual se constituíram em verdadeiras e
grandes amigas.
Deixo-vos aqui a bênção que
o Senhor vos envia por meu intermédio, e a minha própria que eu vos ofereço de todo o coração.
Nenhum comentário:
Postar um comentário