Querem hoje os homens
ver no Messias, a quem antes negaram, não já o mediador como a vontade do Pai o
estabelecera, senão a personificação nele, do mesmo Pai que o enviara. Jamais, porém,
saíram, dos lábios de Jesus, tão temerários ensinamentos; mas preciso é, irmãos
meus, curvarem-se antes os altos desígnios de Deus, que por meios
incompreensíveis para o homem rodeia a verdade em cada tempo, da forma de
prestígios que lhe convém, para que sejam cumpridos os propósitos de seu novo
ensinamento entre seus filhos; honrai pois, assim, ao Messias, nessa época de sua
filiação divina na Terra; honrai-o com a verdade que o dito por ele comporta,
no meio do tempo e dos acontecimentos que o rodearam. Irmãos meus, os justos
desígnios de Deus, já vos disse, permitem que por muitos diversos caminhos
chegue o ser ao conhecimento do que ele precisa para a sua salvação. Esses caminhos,
que são freqüentemente desviados em suas aparências, conduzem muitas vezes à
certeza, no fim, porquanto, se não foi Jesus o Deus que lhes falou e os dirigiu
em pessoa, foi entretanto Deus mesmo quem o fez por intermédio de seu filho.
A superstição e o
desejo do maravilhoso, fomentados pelas fantasias de um discípulo, que muito
longe se encontrava dos verdadeiros propósitos do mestre, rodearam a minha
pessoa dos prestígios da divindade, pela divulgação de falsos milagres,
concorrendo com isto a que corresse o povo ao encontro do portador da boa nova,
do novo profeta, do Messias tantas vezes anunciado, do salvador prometido e
esperado tão pacientemente pelas gerações que se sucediam. Eis, pois, explicado
o único, o verdadeiro milagre, do que dependia a notoriedade avassaladora do
filho do humilde carpinteiro de Nazareth, a rápida divulgação de seus
ensinamentos e o selo de tão indiscutível autoridade, que se erguia frente a
frente das Sagradas Escrituras, frente a frente do orgulhoso Sinedrim e frente
a frente da tradição inteira, com todos os seus profetas e com todos os seus
divinos mensageiros. Assim também devia acontecer, pois que a criança só
compreende a linguagem da criança e não era possível que resultassem estéreis
os esforços do celeste semeador da nova semente, do revelador da palavra do Senhor
que vinha em seu nome estabelecer a paz entre o império da Terra e os impérios
dos Céus. Se, certamente, sua palavra não estava destinada a ser compreendida e
seguida completamente durante o tempo de sua presença entre esses homens
atrasados e rudes da Judéia, tinha ela, entretanto, seu papel importante no
seio do único povo que fazia da religião uma necessidade e da prática de suas
doutrinas uma parte inerente de sua vida diária. Era daí, de onde devia tirar
sua força e expansão e tirou-a, não sem que dela algo aproveitasse também o
mesmo povo hebreu, tratado com excessiva dureza mais tarde, em conseqüência do
horrível crime de haver tingido as mãos no sangue do Enviado Celeste, que veio para
levantá-lo de sua abjeção e das rudes condições de sua vida, pelo atraso moral
e intelectual em que gemia.
Erro é o afirmar a
falta de oportunidade para a nova revelação na Judéia, porquanto não era o
prestígio do êxito, não era a vitória das paixões sanguinárias e do domínio
estabelecido pelo terror, o que podia dar força de expansão à doutrina do amor aos
nossos semelhantes, do perdão das ofensas e do retribuir o bem por mal. São
justamente os fracos e os vencidos, os que sofrem, os que têm fé e fome de
verdade e de justiça, são estes, justamente estes os únicos que elevam seus
olhares ao céu, suas preces ao Senhor, e foram justamente os pobres e os
deserdados, os enfermos e os perseguidos, os que eram vítimas da opressão dos
poderosos, foram eles os que recolheram minhas palavras e as espalharam aos
quatro ventos.
Oh! ... Não me
rechaceis agora vós outros porque não me apresento com os sinais da evidência
material e com o prestígio dos grandes fenômenos. Sempre o milagre, sempre o
maravilhoso para dar valor à verdade!
Eu não posso deixar
minha natureza espiritual para entregar-me a exercícios de um fenomenismo
material, esplêndido para vós, porém indigno da elevada missão que venho
novamente desempenhar entre vós, ao abandonar as elevadas regiões onde a bondade
do meu Pai me colocou.
Oh! Não me rechaceis
pois, não rechaceis minha palavra, que é hoje a mesma de ontem, porquanto fui
sempre vosso Messias, o Filho de Deus que haveis desconhecido, o Enviado de meu
Pai, o revelador da eterna verdade, assim como da vontade divina. Não
rechaceis, pois, minhas palavras porque rechaçaríeis a palavra de Deus. Vinde a
mim de preferência pela humildade e pelo amor; chamai-me com a alma que
prontamente a vosso lado estarei e sempre me encontrarei onde dois ou mais se
reúnam em meu nome. Não vos enganeis pois, porque o que agora vos digo já antes
vos disse. Não vos ofusquem a vaidade e os interesses mundanos. Desprendei-vos
de vossas paixões e do apego aos bens materiais. Pensai em mim com sinceridade
e com amor e me reconhecereis.
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