“O homem caído de sua
primitiva pureza”,
tem-se dito, “porquanto toda obra saída das mãos de Deus há de ser naturalmente
pura; caindo na impureza tão depressa ele se verá por si mesmo amparado e
guiado, porque o seu pensamento é curto, acha-se em trevas a fé, e a visão da
alma entravada pela falta de conhecimento do espírito. Essa primitiva pureza é
pois com relação ao que se refere ao ponto de partida do ser como obra do Pai,
porém pobre dos dons do espírito, que tão-só pela queda e pela regeneração,
pelo sacrifício e pelo esforço, hão de ser alcançados.”
Difere portanto a
primitiva pureza do ser, que lhe foi dada, da que ao ser lhe pertence por sua
própria aquisição, com o esforço e o sacrifício, com a queda e a penitência.
Mas quando muito fundo a alma mergulhou na impureza e no erro, muito andou a
desordem e muito intimamente se entregou às baixezas da materialidade do corpo
e das paixões carnais e satisfações de desejos impuros, converteu-se então a
alma em escrava da matéria e do corpo; nada já por si mesma pode e preciso lhe
é um Salvador, o que portanto aconteceu com o Filho de Deus.
A redenção humana não
era já possível somente pelo esforço do homem e necessária era a vinda do
Messias prometido, para encaminhá-lo novamente pelo direito caminho que o conduzirá
para sua salvação, no além.
O homem espírito é
encarcerado no cárcere da matéria, mas para vida de espírito foi criado; fora
da matéria há de ser sua liberdade e sua grandeza.
Os anjos no céu moram
e anjos também os espíritos dos homens hão de ser.
Nos espaços é o céu,
mas não são os espaços o céu. Os espíritos do Senhor estão nos espaços e no
céu. Os espíritos do Senhor estão em Deus e o que em Deus está no céu está
também.
Irmãos meus, filhos
meus, amigos meus, ouvi pois minhas palavras, que a salvação vos traz, com o
conhecimento das verdades necessárias para alcançá-la. Abri vossos espíritos à confiança,
acreditai em minha palavra que é a palavra do Pai.
Melhorai-vos em
vossos hábitos e em vossos desejos, elevai vosso pensamento a Deus e fazei
penitência de vossos pecados, confessando-vos também uns aos outros.¹
¹ Deduz-se claramente do que aqui se
diz, que a queda do homem não é tal como o Catolicismo o entende, senão que tal
expressão possui um significado muito relativo. Compreende-se que o ser possui
em embrião todas as faculdades ao vir à vida; inocente como uma criança, é
perfeito em sua relatividade, porque não cometeu erros, porém a mesma falta de
desenvolvimento em suas faculdades faz que seus primeiros passos sejam seus
primeiros erros e a pertinácia consciente neles constitui mais tarde a
verdadeira queda.
Mas chegou a tais extremos o domínio
que, pela obstinação no erro, lograram as baixas paixões sobre o homem que este
não pode já emancipar-se delas, sendo necessária a vinda do Messias para
ajudá-lo a retomar o domínio de si mesmo. — Nota do Sr. Rebaudi.
Nenhum comentário:
Postar um comentário