Em número absolutamente incontável, os mundos
que giram sobre si mesmos na imensidade do espaço cósmico, obedecem todos eles
às mesmas leis evolutivas que regem a vida na Terra, e de quantos Espíritos de
Deus aqui se empenham noite e dia pelo seu próprio engrandecimento. Apenas o
esforço despendido pelos Espíritos encarnados na Terra visa objetivos
diametralmente opostos aos do seu verdadeiro interesse.
Em todos os mundos conhecidos vossos, assim
como na imensidade dos que vos são desconhecidos, impera e reina o mesmo e
único princípio que aqui vos trouxe, que outro não é senão a necessidade de
adquirirdes mais luz para os vossos Espíritos. Naqueles mundos a que me refiro,
a vida dos seus habitantes está subordinada ao mesmo princípio da aquisição de
luz, mais luz, sempre mais luz, o que vale dizer em outras palavras, sempre
maior grau de aprimoramento das qualidades morais que ornam a personalidade
espiritual. Os homens e as mulheres que presentemente se encontram na Terra —
já foi dito isto por outra Entidade — não são em absoluto de primeira vez, nem
segunda, e nem de quarta ou quinta viagem a Terra, visto como já aqui viveram
várias encarnações com este mesmo e único objetivo: aperfeiçoarem suas
qualidades de coração e de caráter, através de anos e anos de existência nas
mais diversas condições de classe social. Se eu vos disser que Espíritos de
reis e imperadores viveram e vivem entre vós na condição de simples e modestos
trabalhadores sociais, estarei dizendo-vos uma verdade autêntica porque na
realidade assim é. Quando revestidos de todos os poderes que na Terra
adquiriram em lutas memoráveis ou os herdaram de seus antepassados, esses
Espíritos não encontravam tempo para se dirigirem ao Senhor do Mundo suplicando
ajuda e inspiração para os seus atos de governantes e chefes absolutos de
milhões de almas encarnadas nos seus domínios, preferindo agir segundo seus
próprios interesses de domínio incontrastável sobre aquelas almas.
A muitos desses potentados sucedeu terem de
assistir em vida ao declínio de seu poderio ou à própria debacle total de sua
autoridade temporal assim exercida, vendo-se a certa altura inteiramente
impotentes para conservar o poder, e terem de assistir à passagem do mesmo a
outras mãos por meios violentos ou não. Os governantes que tal debacle puderam
testemunhar em sua vida terrena, foram talvez os mais venturosos de sua
categoria, meus estimados amiguinhos terrenos. Esses tiveram oportunidade de
testemunhar em causa própria como é frágil o poderio na Terra, a ninguém sendo
dado ufanar-se de poder gozá-lo indefinidamente.
Aos que puderam testemunhar a transferência a
outras mãos do extraordinário volume de poderes que chegaram a enfeixar nas
suas, a esses sucedeu a melhor coisa que suceder podia: entregarem-se todos por
sua vez ao exame de consciência que antes não haviam feito, daí resultando
invariavelmente entrarem em contato com o Divino Mestre, a quem muitos têm
suplicado perdão para os atos que teriam ferido ou prejudicado a muitos ou
alguns dos seus vassalos.
O fato de terem perdido o extraordinário
volume de poder que antes detiveram, e que a muitos teria cegado na
distribuição da justiça, serviu admiravelmente para a construção em cada um de
uma nova consciência de si mesmos, iluminada pelas luzes que o seu
arrependimento terá merecido do Senhor do Mundo.
Isto, quanto aos potentados de todas as
categorias que chegaram a perder em vida posições e poderes incontrastáveis
então possuídos. Porque os demais, aqueles que houverem partido da Terra em
pleno uso de tais poderes e prerrogativas, esses, com algumas exceções é
verdade, foram encontrar no Alto devidamente anotadas todas as injustiças,
faltas ou violências por eles praticadas, cujo arrependimento se lhes tornou
muito mais doloroso, porque compulsório, ao invés de espontâneo, à custa de
suas meditações ainda na Terra.
Isto que um tanto alinhavadamente eu aqui vos
relato, tem o objetivo de deixar-vos perceber o funcionamento da lei de Causa
e Efeito no plano espiritual, onde outra lei igualmente funciona
para-lelamente, que se denomina Lei de Conseqüência. É em virtude desta
lei que têm de voltar a Terra, não apenas despidos de todas as prerrogativas
que tenham usado para o mal, ou simplesmente delas tenham feito mau uso, que se
encontram em meio da humanidade atual Espíritos da categoria acima apontada,
cumprindo tarefas às vezes rudes para suas mãos delicadas, em busca da
humildade de que necessitam para o equilíbrio da sua personalidade espiritual.
Isto acontece muito freqüentemente, não apenas em vosso pequeno planeta como em
todos os demais em que vivem existências de aprendizado outras categorias de
Espíritos de Deus.
Poderei comparar o fenômeno com o que sucede
aos alunos de vossas universidades que se vêem na necessidade de repetir
determinadas matérias que não souberam ou não conseguiram assimilar, com a
única diferença de que no caso dos vossos alunos, eles conservam o grau ou a
classe em que se achavam matriculados; ao passo que os governantes, por mais
alta e honrosa que sua classe haja sido, somente podem voltar à escola terrena
como ornamento de classe bastante inferior.
Eis aí amiguinhos encarnados o que de
experiência própria vos veio dizer um Espírito que viveu de várias maneiras na
Terra, tendo ascendido na última, por mercê divina, à elevada categoria de
governante do grande e belo país em que ora venho grafar estas linhas, que só
contêm verdades aprendidas de experiência própria. O fato de ter terminado os
meus dias bem longe do vosso país, ao qual até hoje me sinto ligado por
inquebrantáveis laços do coração, esse fato fugiu à regra geral apontada por
mim em princípio, porque nas longas meditações a que me entreguei no exílio, só
encontrei motivos para agradecer a Deus e ao bom Jesus, a inspiração, a ajuda e
proteção que sempre recebera na prática dos atos administrativos que a minha
situação me obrigava a praticar, tendo predominado em todos eles o sentimento
de meu verdadeiro amor a todos os meus governados.
Constituiu então para meu pobre Espírito a
mais agradável quão emocionante das surpresas, quando, reingressado no mundo
espiritual ao término de minha última encarnação, recebi das próprias mãos do
meu amado Jesus, o mais belo galardão que imaginar podia, pela segurança,
lealdade, eficiência e humildade com que me desempenhei da missão antes
igualmente recebida de suas santas mãos, de governar esta nação privilegiada.
Meu caso não é o único, meus amiguinhos
terrenos, existindo vários, mas raros, em que outros governantes de povos
igualmente fizeram jus ao mesmo galardão espiritual. Infelizmente, porém, a história
destes casos, que algum dia podereis vós próprios compulsar, apresenta uma
infinidade de acontecimentos verificados na Terra, cujos autores ou mentores
encarnados por aqui andaram posteriormente em circunstâncias bastante precárias
para seus Espíritos. Ao final, entretanto, depois de idas e vindas, lutas e
sofrimentos, quase todos conseguiram não apenas assimilar as matérias de que
necessitavam, como em alguns casos receber também o seu galardão espiritual
pelo verdadeiro heroísmo de que puderam dar provas em novas encarnações. Daqui
deduzireis, segundo penso, que a circunstância de alguns Espíritos falharem no
desempenho de suas tarefas na Terra, tarefas que conscientemente receberam de
seus maiores do Espaço, não os inibe absolutamente de virem a alcançar aquele
grau espiritual que há milênios perseguem, mas apenas vêem retardado esse
desejado momento, sendo-lhes necessário voltar à existência terrena quantas
vezes se façam necessárias para isso.
Se, entretanto, todos conseguirem ter presente
em sua memória terrena, a grande verdade de que sem Deus e Jesus o homem nada
é, ou que o esquecimento do encarnado dos seus deveres de íntimo aconchego ao
Divino Salvador, só pode contribuir para o cometimento de atos incompatíveis
com a Vontade Divina, se todos vós meus amiguinhos terrenos, conseguirdes
instalar esta grande verdade no âmago dos vossos corações, eu vos asseguro com
toda a luz do meu Espírito, que surpreendente galardão espiritual será cingido
por vós ao regressardes da vossa presente existência na Terra.
Meditai no que vos digo, amiguinhos meus, e
quanto mais nisto meditardes mais estareis vos aproximando do vosso e meu
Divino Salvador, que é Nosso Senhor Jesus de Nazareth. E contai a partir de
agora no Alto, com mais este amigo verdadeiro.
PEDRO DE ALCÂNTARA
Not.
biogr. — Pedro de Alcântara — 1825-1891 — Imperador do Brasil com o
título de D. Pedro II. Nasceu no Rio de Janeiro no dia 2 de dezembro de 1825 no
palácio de São Cristóvão, filho do imperador D. Pedro I e da imperatriz D. Leopoldina,
que faleceu quando o filho contava apenas um ano de idade. Pelo ato de
abdicação de seu pai, a 7 de abril de 1831, D. Pedro de Alcântara tornou-se
imperador do Brasil aos seis anos de idade. Casou-se em 1843 com a princesa
italiana D. Thereza Cristina Maria de Bourbon, de cujo consórcio nasceram
quatro filhos, dois varões que faleceram com poucos meses de idade e as
princesas Leopoldina e Isabel, esta cognominada mais tarde a Redentora por
seu ato extinguindo a escravatura no Brasil, numa curta ausência do imperador.
D. Pedro II realizou uma obra das mais notáveis no governo do Brasil, guiado
por “uma serenidade imperturbável, uma linha reta e constante, invariável
observância do dever, dignidade e elevação permanentes”, como bem acentuou o
conde de Afonso Celso em sua obra O Imperador no exílio. Exilado pela
revolução de 1889 que proclamou a República no Brasil, D. Pedro II veio a
falecer pobre num modesto quarto de hotel de Paris a 5 de dezembro de 1891.
Espírito dos mais cultos, amava as ciências, as letras e as artes, deixou
muitos trabalhos em prosa e verso entre originais e traduções do espanhol, do
hebraico e do italiano. Convidado para arbitrar diversos litígios
internacionais, seus veredictos mereceram o acatamento das partes. Seu nome é
pronunciado com o maior respeito por todos os brasileiros.
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