Prosseguirei na descrição da
visita que me fizeram aquelas almas juvenis do capítulo anterior e que eu
acomodei na minha própria moradia.
Aquela visita, quero deixar bem claro, não foi a primeira que recebi no meu plano
de vida no Alto, visto como outras almas lá têm ido, levadas por Entidades
evoluídas, também em visita que fazem
por vezes a outros planos. Essas visitas têm, aliás, um sentido muito elevado,
permitindo às almas estagiárias em planos inferiores tomarem conhecimento do
que em nosso plano existe, resultando
daí uma excelente propagação da consciência para as demais em se aprimorarem
espiritualmente com vistas a uma justa promoção. Esta prática tem dado
excelentes resultados, e eu gostaria imenso que as próprias almas encarnadas
como vós também lá fossem em visita durante as horas de sono do corpo, o que é
perfeitamente possível.
O dia seguinte ao da nossa
chegada apresentou-se particularmente belo, com os raios solares filtrando-se
por entre os ramos do arvoredo, numa atmosfera que a todos convidava ao passeio
campestre. Resolvi então proporcionar às minhas visitas esse tipo de passeio,
durante o qual belas coisas teriam oportunidade de observar. Acomodamo-nos
confortavelmente na minha condução, um
veículo desprovido de rodas ou motor que é o tipo de condução usado ali pelas
almas que não tenham suficientemente desenvolvido o seu poder volitivo, e nele
nos dirigimos a uma posição a muitas milhas de distância. Minhas hóspedes
demonstraram-se imensamente felizes nesse passeio, e não se cansavam de admirar
a paisagem que seus olhos descortinavam. Atingido o local desejado, descemos da
condução e passamos a caminhar a pé até entrarmos no belo parque que ali
existe, no qual são cultivadas as mais variadas espécies de flores e frutos,
numa área que se pode considerar de algumas centenas de milhas quadradas.
Sentamo-nos confortavelmente em meio de formosos canteiros de flores que se
estendiam em várias direções, e aí permanecemos envolvidas pelo perfume
irradiado das flores sobre nós. Minhas hóspedes desejavam conhecer os nomes de
muitas das espécies ali cultivadas, e para satisfazê-las eu encarreguei o
próprio governante do parque, uma Entidade muitas vezes centenária, de longas
barbas da cor da neve, cuja maior felicidade consiste em viver naquele
ambiente, dirigindo os trabalhos do parque. Ele tomou então o encargo de
satisfazer a curiosidade daquelas almas juvenis, explicando-lhes em minúcias os
nomes e a história das flores que cultivava.
— Esta que aqui vedes, disse
o bom velhinho, eu fui buscá-la num planeta distante; tão distante que para se
chegar a ele, com a velocidade do pensamento, são precisos de doze a quinze
segundos. Chama-se então eólia esta flor, o nome do seu planeta de origem.
Tratada com o carinho que nós aqui lhe dispensamos, esta flor se mantém assim
viva, vibrante, irradiando este perfume durante cerca de seis meses do vosso
plano, que é o mesmo tempo da Terra. Ela possui uma particularidade notável,
talvez única, entre flores, que é corresponder à nossa linguagem. Querem ver?
Prestem atenção. Eu vou fazer-lhe uma pergunta e ela lhe dará resposta por meio
da mudança de cor. Se sua resposta for de sentido afirmativo, sua cor de rosa
vivo que é, se transformará em ouro, mais ou menos acentuado, segundo a intensidade
de sua resposta. Se esta for de sentido negativo, a tonalidade se apresentará
então num amarelo pálido, rosa claro, às vezes mesclado de branco. Que pergunta
gostaríeis vós de fazer a esta bela flor?
As jovens entreolharam-se
por momentos, em particular, e resolveram fazer à flor a seguinte
pergunta:
— Bela flor que nós tanto
admiramos; gostarias de ir viver também no nosso plano, juntamente com aquelas
que lá cultivamos? Todos nós passamos a
observar com grande curiosidade a transformação a operar-se na coloração
daquela flor. Passados os primeiros segundos de expectativa, o róseo vivo das
pétalas entrou a empalidecer e assim prosseguindo até a tonalidade rosa claro
mesclado de branco em todas as pétalas. Concluíram algo melancólicas aquelas almas
juvenis que a bela flor não desejava ir viver também no seu plano de vida.
Enquanto o assunto era objeto de comentários entre nós, todos pudemos constatar
a volta da flor à sua cor habitual.
— Minhas queridas, informou
o bom velhinho: da resposta dada por esta flor extraordinária temos de concluir
que ela representa já na escala vegetal a que pertence, um ser vivente,
pensante, inteligente, capaz de compreender o sentido daquilo que se lhe
pergunta, e responder segundo o seu próprio desejo. Mas eu explicarei ainda de
outra maneira o fenômeno que acabais de presenciar. Pelo que se observa neste
pequenino representante da escala a que pertence, somos levados a acreditar na
existência de uma alma da mesma procedência das nossas em cada haste desta
plantinha mimosa, não apenas ouvindo e respondendo às perguntas que lhe
fazemos, mas ainda reunindo no ambiente a quantidade necessária de íons e
elétrons para a conservar durante tanto tempo em sua plena forma, aberta, viva,
numa existência jamais imaginada para uma flor.
A explicação do bom velhinho
agradou imensamente àquelas almas juvenis, muito curiosas de quanto estavam
vendo e ouvindo. Prosseguimos no nosso passeio pelo parque, guiadas agora pelo
seu governante, o bom velhinho que nos atendia.
— Venham observar aqui bem
perto outra autêntica maravilha da escala vegetal, um dos mais belos ornamentos
do nosso parque celeste. E conduziu-nos
às proximidades de um grupo de plantas de pequeno porte a alguns passos donde
nos encontrávamos.
— Estas plantinhas que aqui
vêem conversam entre si o dia todo, dando-nos a entender que possuem uma
linguagem própria, como a nossa.
Vamos vê-las de perto. Vejam
como se encontram agora perfeitamente serenas, numa tranquilidade absoluta. Eu
apenas tocarei numa delas e logo o diálogo começa. Querem ver?
E tocou levemente numa
delas, a qual em poucos instantes se inclinou, tocando de leve a mais próxima,
como a participar-lhe que havia sido tocada por alguém. A segunda, recebendo a
informação, inclinou-se até tocar a vizinha, e esta a seguinte, num
entendimento visível. Como estavam localizadas estas plantas num canteiro em
forma circular, e eram em grande número, logo todo o conjunto se entregou a
movimento constante; seus ramos se agitavam e tocavam como se uma corrente
aérea estivesse soprando sobre eles. No entanto, a atmosfera mantinha-se
serena, nenhuma aragem circulando naquele momento.
— E quando é que estas
plantinhas vão voltar à serenidade? —
indagou uma das almas visitantes bastante curiosa.
— Tão logo nós nos afastemos
— foi a resposta do governante do parque.
E esse movimento, querido
velhinho — indagava outra das visitantes —, significará que elas se assustaram
com a nossa presença, ou será de contentamento?
— Segundo a observação que
venho fazendo pacientemente há muito tempo este movimento que estamos
observando na agitação constante dos ramos, significa uma espécie de
contentamento pela nossa presença. Esta classe vegetal está situada no mais
alto grau evolutivo de sua escala, e apenas pode manifestar-se por meio de seus
movimentos. Assim, vendo-nos em sua proximidade, e sabendo que todos aqui só
irradiamos o amor, o bem e a fraternidade, estas plantinhas sentem a nossa
presença, recebem a nossa irradiação amorosa através do toque de um dos seus
ramos, e logo se apressam em comunicá-la às demais, que constituem a
família.
Escusado será dizer que a
explicação dada ao fenômeno pelo bom velhinho agradou a todas as visitantes,
satisfazendo sua natural curiosidade.
Deixamos aquele local ainda
a convite do governante do parque para apreciarmos outra espécie de
curiosidade. Conduziu-nos então até as
proximidades do grande lago ali existente, onde várias espécies de seres
aquáticos eram cultivados. Ali chegados, ele, sem dizer palavra, sentou-se na
margem do lago e deu início a uma canção cuja melodia suave seria ouvida pelos
peixes. Nós nos quedamos na expectativa do resultado. Pudemos apreciar, então,
como alguns milhares de cabeças, grandes, médias, pequenas e minúsculas
afloraram à tona, todas voltadas para o bom velhinho, como a escutar a sua
melodia. O espetáculo era realmente belo. Em toda a extensão do lago, apareciam
cabeças à superfície; nas proximidades, porém, do local onde o velhinho entoava
a sua canção, a quantidade de cabecinhas era totalmente incontável e ali
permaneceram durante todo o tempo em que a canção se fazia ouvir. Um espetáculo
maravilhoso aquele, realmente, até mesmo para mim, pois que poucas vezes me
afasto do meu posto de serviço para apreciar as muitas belezas e originalidades
do plano espiritual em que vivo. Gostei por isto, imensamente, da oportunidade
que se me ofereceu de visitar aquele grande e belo parque em companhia das
minhas queridas hóspedes. Uma destas desejou fazer algumas perguntas ao bom
velhinho, ao que o mesmo acedeu alegremente. Ela indagou então:
— O querido irmão pode
avaliar quantos exemplares existem neste belo lago?
— Neste momento eu acredito
que devem existir de dois a três mil a mais do que anteontem quando aqui
estive. Digo isto, porque essa era aproximadamente a quantidade de ovas prestes
a largar a sua carga. E como anteriormente minha estimativa era de
aproximadamente dois milhões e setecentos mil seres vivos, devem existir hoje
estes e mais aqueles que nasceram nestes dois dias.
— Obrigada, muito obrigada,
querido irmão, pela sua boa resposta. Permita-me ainda outra pergunta — disse a
mesma alma juvenil, que exercia a função de líder do grupo. Perguntou então
novamente ao velhinho:
— Eu gostaria de saber a
maneira pela qual o querido irmão usa alimentar uma população tão grande de
peixes; — pode dizer-me?
O velhinho sorriu
visivelmente feliz ao ouvir esta pergunta. Refletiu um instante e assim falou
para a nossa maior atenção:
— Minha
querida, para poderes bem compreender este problema que é o meio de
alimentar esta grande população de peixes, eu pedirei a tua atenção para o que
nos sucede a todos nós filhos de Deus, vivendo em todos os planos do Universo.
Quando Deus nos criou a todos, criou também ao alcance de todos nós os meios e
processos de nos alimentarmos por nossa própria iniciativa. Os seres humanos
como os espirituais que somos atualmente, conhecem e onde se encontram os
elementos necessários à conservação da vida, cumprindo-nos apenas
movimentar-nos para obtê-los. Com estes meus amados peixinhos sucede o mesmo, a
mesma lei se cumpre. Quando este grande lago foi construído, cuja data contudo
não nos é dado saber, o Criador se incumbiu de nele depositar uma série de
elementos que cresceram e se desenvolveram, os quais haveriam de fornecer aos
peixes o seu alimento. São conhecidas várias espécies de algas que se
desenvolvem intensamente sob as águas e de tal maneira que jamais se
extinguirão por maior que possa ser a sua destruição pelo consumo dos peixes em
sua alimentação. Mas não só as algas lhes servem de alimento. Germinam, crescem
e frutificam nos lagos milhares de outras plantas que apenas vivem sob as
águas, graça às quais os habitantes aquáticos têm a ventura de escolher a
espécie de alimento que lhes convém e jamais o extinguem.
Pequenos animálculos que
igualmente se reproduzem sob as águas fornecem outra espécie de alimento aos
peixes, cuja atividade consiste unicamente em se alimentar. Como vês, minha
querida, eu nenhum esforço despendo para alimentar estes meus queridos peixes.
Apenas me acerco deste lago quase diariamente para lhes dirigir a minha palavra conselheira, quanto ao seu
comportamento. Tenho conseguido evitar várias lutas entre eles, aconselhando-os
a que vivam felizes como bons irmãos que são, porque sendo tão grande como é o
lago, cabem todos eles folgadamente, sem necessidade de se hostilizarem.
Confesso a minha alegria em ouvir o bom velhinho, que,
entretanto, ainda não disse tudo. Voltaremos ao assunto muito proximamente, se
não puder ser já no próximo capítulo.
Por agora, deixo-vos aqui a
bênção que o Senhor vos envia por meu intermédio, e a minha própria que eu vos ofereço de todo o coração.
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