A visita que estamos fazendo
à Exposição de Belas-Artes num dos mais luminosos planos do mundo espiritual,
tem-me fornecido inspiração para abordar e desenvolver vários temas
estreitamente relacionados com a vida das almas encarnadas. E eu espero
encontrar nas obras expostas outros motivos igualmente importantes para os
comentários que ainda conto fazer neste livro, a fim de que possais regular os
atos da vossa presente existência, segundo os princípios que mais vos favoreçam
na aquisição das luzes e bênçãos que viestes buscar na Terra. Assim, pois,
vamos prosseguir em nossa visita à grande Exposição de Belas-Artes.
Vamos admirar ainda no setor
da escultura o que mais possa despertar a nossa atenção, dado o grande número
de trabalhos expostos. Aqui está ao nosso lado, alegre e sorridente, a bela
alma que nos serve de cicerone, e que tão inteligentemente nos tem ministrado a
explicação e interpretação a respeito das obras expostas.
— Bela alma, o que deveremos
apreciar hoje ainda neste setor da escultura? Que novos trabalhos nos sugeres
visitar?
— Alma Excelsa! Eu gostaria
de mostrar a totalidade das obras expostas, que são numerosas, e todas muito
belas e interessantes. Sugiro então examinardes esta que aqui está. Foi
modelada por uma verdadeira alma de artista, autora também de outros trabalhos.
Esta estátua simboliza a Primavera, segundo a concepção do artista. Examinai-a,
Alma excelsa. O artista imaginou simbolizar a Primavera nesta bela figura de
mulher, por considerar tratar-se da mais bela das quatro estações. Ele se
esmerou de tal maneira em sua concepção, que aqui nos apresenta nesta bela
escultura, a sua idéia da Primavera. Como seja esta a estação em que as árvores
se cobrem de flores, e também os prados e os jardins, eis a figura da Primavera
tomada de flores, dando-nos a impressão de ser ela própria feita de flores.
Examinemos este detalhe na base. Vemos aqui como que saudando a Primavera
vários representantes do reino animal numa atitude de contentamento pela
chegada da mais bela estação do ano, aquela em que todos eles iniciam uma nova
vida, em que uns e outros se procuram, se aproximam para o amor e para a vida.
Nesta mão estendida da Primavera, vieram pousar estas duas avezinhas atraídas
por estes poucos grãos de alimento que a Primavera lhes oferece em sua mão
espalmada. O artista pretendeu significar neste detalhe o início da fartura
para os seres viventes no plano terreno, nesta fase em que uma nova vida se
desperta por toda a parte. Mas vejamos ainda este outro detalhe. O artista
colocou na outra mão da Primavera esta delicada cestinha contendo algumas
flores de árvores frutíferas, sobretudo das cerejas, como a anunciar para breve
o aparecimento destes saborosos frutos. Mas há na cesta ainda outras flores
indicativas da próxima colheita dos respectivos frutos, desenvolvidos na seiva
de cada espécie pelas irradiações benéficas da Primavera, a estação mais bonita
e agradável para todos os seres viventes no solo terreno. Para coroar a obra,
como vedes, Alma Excelsa, o artista imaginou com muita propriedade esta bela
coroa de jasmins que tanta graça veio emprestar à fisionomia da estátua.
É realmente belo este
trabalho, bela alma. Sua concepção e realização refletem bem a mais bela das
quatro estações. Este lindo rosto de mulher coroado de flores, traduz bem o
despertar da vida na Terra, após os sofrimentos impostos pela neve e, para
muitas almas, algumas privações bem duras na fase do inverno.
Cabe então aqui, almas
queridas, um pequeno comentário a respeito da Primavera, representada nesta
obra que estamos apreciando. O artista foi muito feliz em esculturar uma figura
feminina como símbolo da Primavera, porque em verdade foi às almas femininas
que a bondade do Criador conferiu os mais belos e importantes poderes na Terra.
As almas femininas foram dotadas de poderes tão importantes, que, utilizados
com propriedade e inteligência na Terra, poderão operar verdadeiras maravilhas
no seu próprio, assim como no interesse geral. Assim como sabemos ser na
Primavera que se despertam na seiva das plantas as radiações criadoras que aos
olhos humanos se apresentam na forma de suas flores precursoras dos saborosos
frutos, também se concentram nas almas femininas os poderes capazes de imprimir
à coletividade humana os sãos princípios do amor ao próximo, para que se
instale no solo terreno igualmente o princípio da harmonia e do entendimento
geral. Se percorrerdes atentamente as páginas da história, lá encontrareis pelo
menos um nome de mulher como incentivadora, tanto dos fatos que levaram as
nações aos conflitos armados, como daqueles que se assinalaram no mundo como
acontecimentos grandiosos e úteis à coletividade. Em todos esses acontecimentos
ireis encontrar um nome de mulher como elemento incentivador por excelência, no
uso das faculdades e poderes persuasivos recebidos do Criador. Sirva então isto
de incentivo a todas as almas viventes em corpos femininos, para que, como
autênticas primaveras da vida terrena, só façam uso das suas belas faculdades e
poderes persuasivos para o bem geral da coletividade, tal como procede a
estação primaveril que vos visita anualmente.
Isto posto, vamos prosseguir
em nossa agradável visita aos belos trabalhos aqui expostos.
— Aonde nos levas agora,
bela alma?
— Temos aqui bem perto uma
outra obra digna da vossa visita, Alma Excelsa. Ei-la, aqui está. Esta alentada
escultura foi construída para simbolizar o Arrependimento. É bem curiosa, como
podeis ver. Quase se poderia dizer que se trata de uma criatura humana sem
cabeça, o que é bastante curioso. Examinai-a de perto, Alma Excelsa.
Realmente, bela alma! Está
aqui bem refletido o gesto do arrependimento, segundo a imaginação do artista.
Vejo que a figura traz a cabeça escondida sob as vestes, certamente porque o
seu ato, do qual tanto se arrependeu, não lhe permite olhar de frente para os
semelhantes. Então ele resolveu esconder a cabeça sob as vestes.
A idéia é perfeitamente
acatável, almas queridas. Há fatos ocorridos na vida de muitas almas, dos quais
o Arrependimento as aconselharia a se esconderem do público. O artista
simboliza semelhante atitude escondendo a cabeça da estatueta sob as próprias
vestes, com o que bem representa o Arrependimento imposto pelas atitudes
impensadas de certas criaturas.
Esse sentimento, porém, não
é daqueles que nós chamaremos irremediáveis. Não, almas queridas. Para os
arrependidos há sempre remédio eficaz e ao alcance de todos. Para o
Arrependimento existe o remédio da oração, do pedido sincero do perdão ao
Senhor Jesus. O fato, mesmo, de alguém se arrepender sinceramente de algo
praticado impensadamente ou por influência de terceiros, já representa por si
mesmo o princípio da absolvição. Há, necessariamente, grande variedade de atos
que podem levar seus autores ao arrependimento. A circunstância peculiar a cada
um desses atos é que determinará a sua maior ou menor gravidade. Quando, por
exemplo, um ato dessa natureza praticado contra uma alma semelhante, vivendo
também a sua vida terrena, possa acarretar-lhe sofrimento ou prejuízo material,
pode o autor desse ato ressarcir o prejuízo ou compensar o sofrimento infligido,
com outro gênero de procedimentos capazes de eliminar de sua mente o
arrependimento que nela se haja implantado. Se, entretanto, o ato praticado
tiver importado em fato de maior gravidade, como, por exemplo, a supressão da
vida de uma alma semelhante, nesse caso somente a misericórdia divina terá
poderes para eliminar da mente do autor o arrependimento que nela se instalou:
E de que maneira? — indagareis vós, almas queridas. Eu vos direi, então, que
somente a prece sincera, fervorosa, do arrependido, poderá eliminar da sua
mente, ou da sua consciência, o sentimento indesejável do arrependimento. O
Senhor Jesus, ao receber a prece continuada duma alma arrependida em tais
circunstâncias, transforma-a em luzes e bênçãos para a alma sacrificada, ao
mesmo tempo em que acalma e tranquiliza a mente arrependida. E se esta decidir
utilizar-se deste luminoso recurso da prece por muito tempo, por toda a sua
vida, por exemplo, então um fenômeno se verificará ao partir ela própria deste
mundo e regressar ao seu plano espiritual. A alma que assim proceder, que
resolver orar a vida inteira por outra por ela sacrificada, terá contribuído de
tal maneira para a iluminação da vítima, que ao encontrá-la no mundo espiritual
será por ela recebida já como alma amiga, benfeitora, e não como algoz.
Vede, almas queridas, como
pode ser praticada a prece sincera ainda com este belo resultado. Duas almas
que na Terra se desentenderam e uma sacrificada pela outra, resultarem
tornar-se verdadeiras amigas no plano espiritual, graças aos benefícios
maravilhosos da prece. Casos desta espécie existem vários no Alto, felizmente.
Se todas as almas que na Terra infringiram a Lei divina do não matarás,
se arrependerem verdadeiramente desse ato e decidirem recorrer à prece sincera
em favor da alma sacrificada, se não eliminarem de todo os efeitos da lei
cósmica, terão conseguido reduzi-los ao mínimo em sua próxima encarnação. Eis,
almas queridas, o comentário que esta escultura me sugere, e que eu considero
da maior utilidade para todas as almas encarnadas de todos os tempos.
— Que mais tens para nos
mostrar de importante, bela alma?
— Vejamos aqui bem perto
este outro trabalho que o artista denominou o Inverno. Vede, Alma Excelsa, o
que a imaginação do artista concebeu para simbolizar o Inverno. Vemos esta
figura de homem arruinado pelo cansaço nesta pedra que encontrou no seu
caminho, depois, certamente, de haver percorrido a longa estrada que aqui vemos
bem nitidamente. Seus cabelos da cor do algodão já foram louros, certamente,
quando menino, enegreceram com os anos, e por fim embranqueceram os fios que
conseguiram resistir à sua própria neve. É uma figura de homem forte a deduzir
pelas sandálias, pelo volume dos braços, e pelo rosto enérgico. Foi feliz o
artista nesta concepção, como estamos vendo. Ele pretende simbolizar nesta
figura humana o corolário de todas as almas encarnadas na Terra, representadas
neste velho de tez cansada de lutar na Terra pelo pão de cada dia, não acha,
Alma Excelsa?
Sim, bela alma. Esta figura
de homem simbolizando o Inverno está bem imaginada. O Inverno é isso mesmo,
realmente. O homem, nascido menino, depois crescido, jovem, e mais tarde
amadurecido, vai percorrendo as quatro estações anuais do mundo terreno, para
concluir a jornada na atitude que estamos vendo. Eu desejo esclarecer, contudo,
que esta bonita escultura apresenta-nos apenas o lado externo da vida humana,
que é simplesmente o veículo da alma. Se pudéssemos encontrar aqui ao lado
desta figura exausta de lutar e viver, a alma que tal veículo teria animado,
por certo que a encontraríamos bastante iluminada, radiosa e feliz, ao
contrário deste homem cansado de caminhar.
É um ponto que eu muito
desejo esclarecer a todas vós, almas queridas, este de que, ao passo que o
corpo vai envelhecendo pelo perpassar dos anos de trabalho e permanência, a
alma, bem ao contrário, se torna cada dia mais bela, radiosa e feliz em virtude
das luzes e experiências adquiridas. Ao se desprender do corpo de carne, a alma
se apresenta no mundo espiritual com toda a sua luminosidade num corpo fluídico
em tudo semelhante ao deixado na Terra, porém isento dos sinais de cansaço
demonstrados nesta escultura que temos a satisfação de analisar. Guardai,
então, bem estas minhas palavras, almas queridas. Ainda que chegueis a esgotar
na Terra as energias do corpo em vossas atividades constantes, ao regressardes
ao Alto, vos apresentareis almas jovens, iluminadas pela experiência que
tiverdes podido adquirir na Terra, e não alquebradas ou vencidas pelas vossas
lutas terrenas. O que apenas se faz necessário ter em vista cada uma das almas
encarnadas é o fator luz resultante de suas ações. O fator luz é que determina
em todas as almas o seu índice de progresso na escala espiritual, e nenhum
outro fator estreitamente relacionado com a vida material. Pode uma alma
cumprir um programa de vida terrena, bastante pobre de sucessos ou de bens
materiais, e no entanto ser capaz de refletir perante o Divino Mestre uma
trajetória particularmente propícia à evolução da alma. Uma alma que assim
tenha podido cumprir um programa de vida terrena, orando com devotamento e
sinceridade ao Senhor todo o santo dia, ainda que não possa registrar
determinado índice de prosperidade material, ela contará, contudo, uma pequena
ou grande fortuna expressa em luminosidade no seu diadema espiritual. Ao se
despedir da matéria para reingressar no seu lar espiritual, esta alma
sentir-se-á imensamente mais feliz do que se na Terra houvesse possuído uma
grande fortuna em bens terrenos. Estes, como sabeis de sobra, sendo terrenos, à
Terra pertencem e nenhum reflexo oferecem às almas que os tenham edificado.
Estas, partindo da Terra, não mais os aproveitam, uma vez que para nada lhes
podem servir no mundo espiritual. Guardai bem isto, filhas e filhos que eu
muito amo.
Deixo-vos aqui a bênção que
o Senhor vos envia por meu intermédio, e a minha própria que eu os ofereço de
todo o coração.