A Exposição de belas-artes
que estamos visitando, almas queridas, não é um certame improvisado neste plano
espiritual, mas um acontecimento periódico, muito apreciado pelas almas amantes
deste gênero de trabalhos elaborados por Entidades de apurado gosto artístico.
A Exposição é realizada anualmente e a ela concorrem estas duas categorias: os
chamados artistas de tradição, e os artistas novos, muitos dos quais comparecem
pela primeira vez com os seus trabalhos. Há aqui o setor dos novos, como é
designado, e este que estamos percorrendo onde se apresentam os trabalhos
elaborados pelos artistas de tradição. Vamos prosseguir então em nossa visita
ainda ao setor da escultura, a fim de apreciar outros trabalhos, em companhia
desta bela alma que gentilmente nos serve de cicerone.
— O que deveremos visitar
agora, bela alma?
— Temos tantos e tão belos
trabalhos, Alma Excelsa, que o mais difícil é escolher os melhores. Apreciemos
então este conjunto. É uma alegoria simbolizando a Poesia. O artista imaginou
simbolizar a Poesia nestas três belas figuras de mulher, de uma confecção
primorosa, como vêem. Esta que se encontra no alto do conjunto representa a
Inspiração. A segunda colocada um pouco abaixo, portanto em segundo plano,
representa a Graça; e esta terceira, colocada no mesmo plano, representa então
a Beleza. Quer o artista significar que a Poesia para ser autêntica deve
possuir a Inspiração, a Graça e a Beleza. É esta a concepção plasmada neste
belo conjunto de três almas femininas, com o objetivo de traduzir o seu
pensamento a respeito da Poesia.
Vede, almas queridas, o que
o artista entende necessário à verdadeira Poesia: Inspiração, Graça e Beleza,
no que eu estou de inteiro acordo. Efetivamente, para alguém expressar
sentimentos poéticos, que são próprios das almas refinadas, necessita de
traduzi-los de maneira que neles se encontrem essas três características, que
eu denominarei aqui de divinos dons. Fazer alguém Poesia, é penetrar
mentalmente nos planos mais elevados da vida universal, nos quais possa receber
os divinos dons da inspiração, da Graça e da Beleza, traduzido-os então segundo
o seu estado d’alma. A Poesia que conheceis neste mundo terreno pode ser
considerada ainda no seu estado infantil, salvo raros momentos poéticos vividos
aqui por algumas almas bem dignas dessa consagração. A arte poética é cultivada
nos planos superiores do mundo espiritual em tão elevado grau de refinamento,
como não podereis imaginar enquanto viverdes na Terra. Se tempo houver em nossa
estada atual nesta Exposição eu terei grande alegria em vos conduzir ao Palácio
da Poesia, onde tereis a ventura de entrar em contato com as mais belas
concepções poéticas. Lá se reúnem diariamente as almas mais devotadas a este
importante setor da expressão humana, estudando cada qual o seu ramo predileto
segundo a forma e refinamento artístico. Comparecem lá igualmente em grande
número almas desejosas de conhecer de perto as belas obras poéticas ali
expostas, e também para se deleitarem com a declamação de importantes momentos
poéticos pelas almas mais categorizadas que comparecem. O Palácio da Poesia é
talvez um dos monumentos mais visitados no mundo espiritual pelas almas mais
aprimoradas, e a tal ponto, que nos dá em certos dias a impressão de se estar
realizando ali alguma festividade, tão grande é o número de almas presentes.
Resulta deste interesse assim demonstrado pelas almas do Além no conhecimento
dos mais belos momentos poéticos, como costumamos designar os trabalhos
produzidos pelos poetas do Além, que o sentimento da poesia vai penetrando em
todas as almas para se manifestar a seu tempo em novas expressões desta bela
arte.
Em princípio podemos
considerar que uma alma encarnada que se demonstre cultora ou aficionada da
arte poética, já alcançou um grau assaz elevado de refinamento espiritual que
lhe permite penetrar naquele plano, onde moram estas três figuras tão bem
plasmadas neste conjunto que estamos apreciando: a Inspiração, a Graça e a
Beleza, cujo semblante, como vedes, é todo alegria. Uma alma encarnada, por
conseguinte, possuidora de determinado grau de refinamento espiritual encontra
maior ou menor facilidade em se expressar através da poesia, como tereis podido
constatar entre pessoas vossas conhecidas. Mas vamos prosseguir na visita. Eu
desejei fazer o comentário que aí fica com o objetivo de chamar a vossa atenção
para este detalhe da vida: as almas devotadas ao cultivo da poesia, e que já
conseguem expressar através dela as suas idéias, são almas já em fase adiantada
de refinamento espiritual, e bem próximas da sua redenção.
Prossigamos, porém, almas
queridas. Vejamos esta bela escultura que parece feita de prata brilhante, tão
bela se nos apresenta. Ouçamos a nossa bela cicerone.
— Esta escultura, Alma
Excelsa, representa a homenagem do artista à verdade, segundo a sua concepção.
O autor concebeu expressar assim a Verdade, construindo esta figura brilhante
assim prateada, para significar o que ele acredita ser realmente a Verdade. Na
concepção do artista a Verdade deve ser clara e brilhante, sem a menor nuança,
para que não haja o menor sofisma na sua expressão. Escolheu também esta figura
de mulher para expressar a Verdade, em homenagem ao sexo feminino. Também
preferiu esta coloração prateada por lhe parecer mais adequada e ao alcance de
todas as posses humanas. Esclareceu o artista que a Verdade bem merecia
aparecer esculturada no metal mais caro, que houvesse, em face de ser ela
própria a expressão mais preciosa na vida de todas as almas do Universo.
Considerou, porém, que se assim procedesse, fixando o símbolo da Verdade em
metal muito caro bem merecido, aliás, ele colocaria a Verdade unicamente ao
alcance das classes mais abastadas, ou seja, dos ricos, quando a Verdade deve
prevalecer tanto nas classes ricas como nas classes pobres. E concluiu então o artista
por construir em prata este símbolo da Verdade que aqui está.
— Magnífico, minha filha!
Estamos encantadas com a interpretação que nos dás, da concepção do escultor da
Verdade.
Por minha vez vos direi,
almas queridas, que concordo inteiramente com a concepção do artista, pois que
a Verdade deve ser situada em todos os setores da vida, assim como deve
constituir o ornamento espiritual de todas as almas. Uma alma que estabeleça
como norma de sua vida a Verdade, e que à mesma se filie em todos os seus atos,
esta alma pode ter a certeza de poder realizar a sua caminhada terrena livre
dos escolhos tão comuns a quantos se afastam dos sãos princípios da Verdade.
Uma alma amante apaixonada da Verdade pode considerar-se livre da prática de
atos capazes de afastá-la desse belo princípio, e de caminhar assim em linha
reta em direção ao seu desejado progresso espiritual. Construindo o artista a
Verdade numa estátua de prata ou apenas prateada, ele imaginou muito
acertadamente colocar esse belo princípio ao alcance de todos, como de fato
assim deve ser. Sobre a necessidade de estabelecerem todas as almas o princípio
da Verdade como norma de vida terrena, muito ainda pode ser dito no interesse
geral. Assim, por exemplo, uma criatura amante da Verdade jamais concordará na
prática de um ato contrário a esse belo princípio, ainda pela circunstância de
não poder mencioná-lo em determinado e imprevisto momento, porque poderia ter
necessidade de negar esse ato, com o que estaria faltando à Verdade. Desta
maneira, para que uma tal circunstância não surja em vossa vida, almas
queridas, o melhor, como vedes, é praticar só e exclusivamente os atos
confessáveis em perfeita homenagem ao belo princípio da Verdade. Creio que
podemos prosseguir.
— Bela alma, o que de
importante terás para nos mostrar em seguida?
— Depois deste símbolo da
Verdade, podemos apreciar este outro trabalho do mesmo autor da Verdade: é o
símbolo da Mentira. Eis o que o artista concebeu para simbolizar a Mentira em
forma de escultura. Bem vejo o horror que o objeto vos causa, Alma Excelsa. Ele
é realmente o trabalho mais horrendo que há nesta Exposição. É difícil, como
vêem, definir com precisão se se trata de figura humana ou de bicho. Ao
contrário da Verdade aqui ao lado que é de prata brilhante, a Mentira é deste
negro arroxeado difícil de definir. A figura imaginada pelo artista também se
torna difícil de identificar se é crustáceo, ofídio, ou outro animal horrendo
nesta atitude que nos leva a traduzir uma expressão traiçoeira, disposta a nos
assaltar. Explica o artista que contra os assaltos da Mentira, sempre
traiçoeiros, imprevistos, devemos conservar-nos permanentemente prevenidos. A
Mentira é tão má, tão hipócrita e insidiosa em suas manifestações, que devemos
manter-nos em harmonia com a Verdade, para derrotarmos a Mentira sempre que a
mesma tente assaltar-nos. Esta é a interpretação do próprio artista ao
idealizar este horrendo símbolo da Mentira.
— Eu te agradeço,
sensibilizada, minha filha, a tua interpretação tão clara deste trabalho,
realizado mesmo assim horrendo para nos afastar sempre dos assaltos da Mentira.
Vede, então, almas queridas,
a grande diferença imaginada pelo artista, que deve ser uma alma de grande
refinamento, entre os aspectos de dois sentimentos humanos: e que traduz a
Verdade, límpida, prateada, brilhante, e este outro que simboliza a Mentira,
feio, horrendo mesmo, caracterizado por esta figura indefinível de animal em
atitude de nos atingir de modo imprevisto, traiçoeiro. Livrai-vos, pois, da Mentira
em todas as circunstâncias, almas queridas, deste bicho terrível que aqui se
nos apresenta, ora como ofídio ora como crustáceo, ou outro semelhante, nesta
atitude de bote a qualquer instante sobre a alma desprevenida. Ficareis então
sabendo que só a Verdade vencerá a Mentira, por mais alentada e poderosa como
possa apresentar-se. E se vos apoiardes diariamente na Verdade em seus vários
aspectos, certas estareis então, almas queridas, de que vos não atingirão
jamais os botes traiçoeiros da Mentira. E no dia em que todas as almas
encarnadas se tornarem cultoras sinceras da Verdade, desaparecerá então,
perecerá de inanição, a traiçoeira e detestável Mentira da superfície terrena.
Isto acontecerá muito breve, em face do nível moral e espiritual das almas que
estão sendo selecionadas no Alto para encarnar na Terra, e também em face de
muitas outras que já aqui se encontram.
Gostaria de estender o meu
comentário neste sentido a vários outros aspectos condenáveis da Mentira no
ambiente terreno, porém o coração me diz que cada uma de vós, almas que eu
muito amo, vos encarregareis de os descobrir ao longo das vossas atividades.
Conveniente me parece entretanto, frisar um ponto que deve merecer a vossa
melhor atenção, que é adequação dos vossos filhos. Procurando incutir neles o
princípio da Verdade e o repúdio à Mentira, desde que comecem a entender as
palavras e as coisas, estareis fazendo-lhes um grande bem, porque plantando a
boa semente em terreno no qual a mesma deverá frutificar abundantemente. E mais
tarde, quando puderdes testemunhar tão belos frutos plantados por vós, haveis
de sentir brilhar em vossas almas a recompensa do Senhor em luzes e bênçãos
pela bela sementeira que soubestes fazer no devido tempo. Uma boa parte dessa
recompensa vos chegará inclusive dos vossos próprios filhos, ao recordarem as
vossas palavras em sua infância, fazendo dos mesmos novos cultores da Verdade.
Convém terdes também em
vista o fato muito comum, de estarem encarnando almas não raro de maior
evolução do que as dos próprios pais, e portanto aptas a compreender e
assimilar de pronto os ensinamentos que ouvirem, tanto de ordem material como
de ordem moral, entre estes o do culto apaixonado da Verdade. Mais tarde, ao
recordarem em sua memória física o belo ensinamento recebido no lar, eles se
demonstrarão agradecidos aos pais, emitindo vibrações que o Senhor transformará
em outras bênçãos e luzes para os progenitores. Como o tempo de que hoje
dispomos está a findar-se, não nos permitindo ir mais adiante, atentemos um
pouco mais nestas duas interessantes esculturas, sobretudo nesta da Verdade,
tão agradável ela se torna à nossa contemplação. Vejamos a delicadeza da
imaginação do artista, na concepção deste belo símbolo da Verdade, mas
igualmente na perfeição do trabalho que aqui nos apresenta. Esta linda figura
de mulher de fisionomia tão simpática que parece cumprimentar-nos num sorriso
apenas ensaiado, bem reflete o sentimento mais aprimorado na imaginação do
artista. Os cabelos assim deixados cair com esta simplicidade, traduzem bem a
ausência de preocupação quanto à expressão da própria Verdade, que deve ser
simples, exata, sem artifícios. Assim deve ser encarada, portanto, a expressão
da Verdade em todas as circunstâncias da vida humana: exata, simples, livre de
artifícios, para poder ser aceita e acreditada. A Verdade sem artifícios é, por
assim dizer, a Verdade verdadeira, a Verdade pura, aquela que não pode sofrer
qualquer contestação. É assim, minhas almas queridas, que o Senhor deseja ver
as almas encarnadas proceder em sua vivência na Terra, apenas preocupadas com o
que é bom, puro e santo, como a própria Verdade. Repousemos então por hoje para
voltarmos aqui amanhã a fim de prosseguir nesta agradável visita às
belas-artes; onde tanto temos logrado aprender no exame dos trabalhos expostos.
Até amanhã, pois, minhas almas queridas.
Deixo-vos aqui a bênção que
o Senhor vos envia por meu intermédio, e a minha própria que eu vos ofereço de
todo coração.
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