As almas que vivem no mundo
espiritual, nos intervalos entre uma e outra encarnação, encontram muitas
maneiras de se aprimorarem nas especialidades de sua preferência. Encontram,
inclusive, numerosos cursos ministrados por outras almas mais adiantadas, nos
quais aquelas que aspirarem a novos conhecimentos podem matricular-se e
adquiri-los. No setor das belas-artes, por exemplo, existem no Alto trabalhos e
escolas ainda desconhecidos no mundo terreno, por mais aperfeiçoados que sejam
os trabalhos aqui realizados. Certamente que os elementos à disposição das
Almas no Alto não são os mesmos existentes na Terra, porque bem mais refinados.
No setor da pintura as almas aficionadas têm a satisfação de encontrar tintas
de todas as tonalidades imaginadas à sua disposição, enquanto que na Terra os
pintores se esmeram na preparação por eles próprios das tonalidades desejadas
para as suas pinturas. É de justiça reconhecer, no entanto, que vários dos
maiores artistas da pintura que passaram pela Terra, chegaram a confeccionar
tonalidades notáveis para os seus quadros tão admirados ainda nos dias que
correm. No Alto, porém, um dos fatores primordiais no gênero é a própria
imaginação do artista. Se este se concentra na imaginação de uma determinada
tonalidade que deseja aplicar na sua pintura, ele tem logo a satisfação de a
ver ao seu alcance, independente da mistura que poderá fazer com outras
tonalidades. Daí o fato de podermos contemplar nos ateliês e nas exposições de
belas-artes, trabalhos que na Terra seriam considerados impossíveis de
realizar.
Isto que acabo de escrever
dar-vos-á uma idéia mais aproximada dos belos trabalhos de pintura que
ornamentam a Exposição que estamos percorrendo, na qual já apreciamos os belos
trabalhos destes verdadeiros mestres que foram na sua arte: Rembrandt, Rafael e
Miguelangelo, cuja história podereis encontrar nas vossas enciclopédias.
Regressando ao mundo espiritual cada qual à sua vez, sua grande preocupação
continuou sendo a pintura. E de tal maneira se integraram suas almas nesta bela
arte, que tudo fazem no sentido de despertar nas almas amigas este nobre
sentimento. Estas grandes almas da pintura fundaram cursos gratuitos, é claro,
ensinando a sua arte às almas desejosas de aprendê-la, enquanto se entregam nas
horas vagas à execução de trabalhos notáveis, como aqueles de que me ocupei em
capítulos anteriores. Já que estamos em visita à bela Exposição do Além, vamos
tentar aproximar-nos de algum destes grandes mestres da pintura, para ouvirmos
algumas das suas impressões acerca da sua arte. Vejamos se algum deles aqui se
encontra. Sim, almas queridas; lá está Miguelangelo, rodeado de almas suas
admiradoras. Vamos cumprimentá-lo.
— Desejamos apenas
cumprimentar-te pela beleza daquele trabalho que ali está, querido mestre!
— E quem é que me vem
cumprimentar! Isto me sensibiliza a alma profundamente! Gostaram, então, do meu
quadro?
— Sim, mestre; nós admiramos
de uma maneira especial a tua concepção maravilhosa. O Amor está ali tão bem
plasmado que nos faz admirar-te e querer-te cada vez mais.
— Alma Excelsa — retrucou o
artista — para alguém poder plasmar o Amor pela maneira que eu o fiz naquele
quadro, é essencialmente necessário conhecer o Amor, e ter dele repleto o
coração. Como vê, eu não tentei retratar um objeto, uma cena, uma paisagem. Eu
me esforcei em retratar um sentimento dos mais puros que é o Amor. E como isto
me foi difícil, Alma Excelsa! Para alcançar o resultado que a minha imaginação
conseguiu plantar naquele quadro que exponho, eu resolvi mergulhar fundo no oceano
da vida humana, em busca da inspiração que só a sua realidade nos pode
oferecer. Pelo meu gosto eu ampliaria de muito as várias fases e circunstâncias
em que o verdadeiro Amor se manifesta; mas não me chegaria então o reduzido
espaço duma tela. Eu teria de utilizar para isso o espaço de centenas de telas
reunidas, a fim de nelas poder fixar os incontáveis aspectos e fases inúmeras
do Amor. Sendo-me isso impossível, eu procurei retratar então este belo
sentimento em suas fases principais, segundo as circunstâncias da vida terrena.
Porque, aquelas em que o Amor se manifesta no plano espiritual, em sua
sublimidade, estas são absolutamente impossíveis de fixar ao mais refinado
artista. Só um artista eu considero em condições de poder retratar o Amor, não
simplesmente numa pintura palpável, mas imprimir a sua sublimidade em nossas
almas; esse Artista maravilhoso é Deus, Alma Excelsa.
— Muito grata eu te fico,
alma querida, pelas tuas belas palavras — repliquei. — Que Deus continue a
inspirar-te em tua bela arte, até que possas chegar um dia a fixar em
tonalidades excelsas a sublimidade do Amor espiritual, aquele que purifica,
redime, e eleva as almas para Deus.
Despedindo-nos daquela
Grande Alma, vamos prosseguir em nossa visita à grandiosa Exposição de Belas-Artes.
Caminhemos um pouco em direção ao setor ali em frente. Apreciemos o que ele nos
apresenta. Eis-nos em presença duma outra especialidade artística — a
escultura, à qual igualmente se têm dedicado muitas almas na Terra. A
escultura, ao contrário da pintura, é uma arte por assim dizer realista,
enquanto esta se caracteriza pela imaginação. Apreciemos então estes trabalhos
tão finamente executados. Gostaria de encontrar alguém que os pudesse descrever
para nós, para a nossa melhor compreensão. Entendendo eu bem pouco de
escultura, vejo que estes trabalhos foram modelados segundo idéias muito
avançadas. Aqui está chegando uma das almas encarregadas deste mister.
— Bela alma, queres
deliciar-nos com a descrição destas obras que aqui estão, sem o que não
poderemos apreciá-las?
— Aqui estou exatamente para
isso, Mãe Santíssima E com que alegria o faço! Iniciemos pelas obras chamadas
avançadas, que são estas — e apontou-nos um conjunto de trabalhos expostos por
diversos autores. E assim nos falou aquela bela alma:
— Neste conjunto escultural,
o artista imaginou reunir dois símbolos representando a Felicidade e o Amor.
Esta figura — a Felicidade, não podendo vir sem o Amor, procura enlaçá-lo em
seus braços, com este empenho refletido nos traços fisionômicos. A Felicidade,
segundo a concepção do artista, não pode prescindir do Amor para viver, e por
isso aqui se apresenta de braços assim estendidos para o Amor, procurando
enlaçá-lo e atraí-lo para si.
Vede, almas queridas, que
bela concepção aqui se encontra neste lindo conjunto. Não podendo existir
Felicidade sem Amor, porque somente os dois se completam, este grande artista
imaginou plasmar as duas figuras transcendentes neste conjunto escultural.
— Magnífico, minha filha!
Queres ter a gentileza de prosseguir na tua interessante descrição do conjunto?
— Aqui vemos então o Amor
numa atitude que podemos dizer de observação das disposições da Felicidade,
assim nesta expressão de certo retraimento, como que aguardando algo mais
positivo para então se entregar à Felicidade. Desta atitude do Amor, segundo a
concepção do artista, devemos deduzir que ele reluta em aceitar de pronto os
anseios da Felicidade com seus braços estendidos procurando enlaçá-lo, temeroso
ele de que possa tratar-se, possivelmente, de uma Felicidade mais aparente do
que real. E é por isso, por causa desse receio, que o Amor reluta em acreditar
na Felicidade. Esta é a idéia concebida pelo escultor ao edificar este belo
conjunto, Alma Excelsa.
— Eu te agradeço de todo o
coração, bela alma, a tua interpretação tão interessante para nós.
Vamos prosseguir, almas
queridas. Vejamos este belo trabalho que aqui está, e qual o seu significado. A
bela alma que gentilmente nos acompanha dir-nos-á também o que realmente
pretende significar segundo seu autor.
— Este trabalho foi
constituído também por um dos mestres desta bela arte. Ele representa, na
concepção do escultor, o Desejo. A atitude da figura imaginada é a que melhor
poderia representar o Desejo, conforme se pode deduzir do seu olhar e da expressão
do rosto, bem demostrando o seu grande desejo de algo que desconhecemos. É um
sentimento difícil de reproduzir, certamente, o do Desejo, no qual muito se
esmerou o autor.
Apreciemos, então, almas
queridas, esta escultura do Desejo, e imaginemos a quantos males o mesmo pode
conduzir as almas na Terra, sobretudo quando mal conduzido, ou elevado a
determinado grau de incontinência. Um desejo moderado, quando justo, razoável e
puro, pode ser facilmente atingido com o decorrer dos dias ou meses. O que é
necessário esclarecer em relação a este sentimento, é se do mesmo poderá
resultar a nossa felicidade quando justo ele seja, e jamais o sofrimento por
vezes irremediável e o arrependimento. Eis à nossa frente o que o artista
concebeu para representar o Desejo. Ele soube elaborar com arte todo o aspecto
fisionômico, o olhar inclusive, traduzindo esta ânsia que logo se observa. Os
braços levemente estendidos representam por sua vez o gesto natural da
expressão do sentimento do Desejo, em relação à coisa desejada. É realmente um
belo trabalho, se examinado à luz do sentimento expressado pela maioria das
criaturas humanas. Mas muito se poderá dizer ainda sobre o Desejo e suas
quantas vezes lamentáveis consequências, na vida das almas encarnadas. Um forte
sentimento de desejo, por exemplo, manifestado por uma criatura ainda pouco
evoluída, das muitas que existem na Terra, enxergando mais do que tudo o seu
próprio interesse, que é o interesse do Ego com exclusão do interesse alheio,
um sentimento de desejo de tal natureza pode levar essa criatura à prática de
todos os excessos e até ao crime, como muitas vezes tem acontecido, Há, pois,
necessidade e mesmo toda a conveniência, de que as almas encarnadas se habituem
a submeter os seus sentimentos de desejo, os seus desejos, por conseguinte, ao
crivo do raciocínio, com a finalidade de bem se certificarem se aquilo que
desejam ardentemente poderá acarretar-lhes felicidade ou infelicidade. Eu darei
aqui às minhas filhas e filhos queridos uma fórmula que eu julgo excelente para
que facilmente possam ajuizar com segurança, se isto ou aquilo que ardentemente
desejam, poderá ser-lhes ou não favorável, inclusive quanto à sua oportunidade.
Esta fórmula é a seguinte: sempre que um sentimento extraordinário de desejo se
manifeste em sua vida diária, e desejem saber de pronto se o mesmo lhes poderá
ser ou não conveniente, imaginem uma consulta feita mentalmente ao Senhor
Jesus, e sobre o que o Senhor responderia. Façam mesmo essa consulta mental,
almas queridas. Ou, então, imaginem que o Senhor Jesus esteja presente, e assim
testemunhará a realização desse desejo. Se assim fizerdes, filhas e filhos que
eu muito amo, eu vos asseguro que somente realizareis os desejos que vos possam
engrandecer e elevar espiritualmente para o coração magnânimo do Senhor, e
jamais aqueles que possam deprimir-vos perante o Senhor. Feito este pequeno
comentário, continuemos a nossa visita à Exposição de Belas-Artes, acompanhadas
desta bela alma como cicerone.
Defrontamos agora este
conjunto por assim dizer monumental, dado o tamanho da respectiva construção
arquitetônica. Indaguemos da bela alma do que se trata.
— Este trabalho, Alma
Excelsa, representa o sentido da vida terrena, tal como o imaginou o escultor.
Encontramos na base este ser minúsculo iniciando os primeiros passos, assistido
por forças invisíveis que o observam de perto. Vejam que ele se esforça para
alcançar este primeiro degrau da escada que deverá vencer. E vejam como é longa
a escada, e quase incontáveis os degraus. Alguns, como vêem, são quase
imperceptíveis. Isto significa que as almas encarnadas estão sujeitas a dar
certos passos em degraus imperceptíveis, ou, como se usa dizer na Terra, dar
passos no escuro. O artista figurou este tipo de passos dados pelas almas encarnadas,
apresentando isto que vemos: das diversas almas que iniciaram a ascensão da
escada da vida, nem todas lograram vencê-la. Vejamos este detalhe. Logo aos
primeiros degraus, várias delas perderam as forças e caíram. Com este detalhe o
artista pretendeu figurar as crianças que perecem, e se despedem da escada da
vida. São almas que perderam a encarnação ainda na infância, e logo desaparecem
do cenário da vida. Vejam estas que lograram subir numerosos degraus, mas que
perderam o equilíbrio e caíram também. Este fenômeno todas nós aqui o
conhecemos e lamentamos, pela quantidade de almas desencarnadas em pleno vigor
da sua mocidade. Elas aqui estão representadas pelo artista, despedindo-se da
escada da vida. E veremos em seguida, acompanhando a escada traçada pelo
artista, a alegria das almas que lograram vencer os inúmeros degraus da escada,
e aqui estão descendo já em nosso plano, risonhas e felizes por haverem
conseguido vencer degrau por degrau esta longa escada imaginada pelo escultor.
Este trabalho, Mãe Excelsa, tem sido um dos mais apreciados pelos visitantes da
Exposição. Aqui esteve ontem uma ilustre comissão de almas que foram médicos na
Terra, com o objetivo de estudarem o melhor meio de impedir esta quantidade de
almas de perecerem assim aos primeiros degraus da escada, ou seja, ainda na
infância. Tenho a impressão de que a imaginação do escultor evidenciando este
fato veio contribuir para que algo de eficiente se realize em tal sentido.
— Eu te agradeço, bela alma,
tão úteis explicações, e desejo que nos ministres ainda outras de tão
interessantes para todas nós.
Prosseguiremos no próximo
capítulo.
Deixo-vos aqui a bênção que
o Senhor vos envia por meu intermédio, e a minha própria que eu vos ofereço de
todo o coração.
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