Jesus de Nazareth
veio a este plano físico em corpo humano, em decorrência de deliberação
acertada no Alto pelas Forças Superiores do Universo, na persuasão de que a
humanidade terrena de então, já estivesse preparada para as modificações a
serem introduzidas na vida dos seres humanos na Terra. Trouxe o Senhor Jesus
como lema e argumento fundamental de sua missão, o princípio espiritual de que todos
os homens são irmãos, e por isso devem amar-se uns aos outros. Pregou o Senhor
Jesus a necessidade do amor ao próximo como a chave mágica da vida de todos os
seres, capaz de abrir todas as portas da felicidade eterna.
O que aconteceu ao
Senhor Jesus de Nazareth todos o sabeis de sobra. Ao fim de 33 anos de estada
na Terra em corpo humano e apenas três de sua pregação, foi seu Espírito
expulso do mundo físico da maneira menos merecida, porque a sua Doutrina
prejudicava os interesses de muitos e incomodava a quantos seguiam outros princípios
religiosos. Para tudo, entretanto, devem existir atenuantes, e no caso de Jesus
elas também existiram. O mundo encontrava-se inteiramente mergulhado no lodaçal
dos interesses mesquinhos, que superavam por toda a parte as qualidades
espirituais que começavam a despontar em muitos corações, volvendo a atenção
daqueles que as possuíam, para o sentimento de fraternidade para com seus contemporâneos.
A preponderância, entretanto, estava do lado egoísta dos dirigentes de então, a
qual tinha de prevalecer em todos os acontecimentos da vida terrena.
Desejo assinalar, com
isto, o verdadeiro heroísmo demonstrado pelo Senhor Jesus, em se decidir a
percorrer o caminho mais perigoso e menos cômodo ao cumprimento de sua luminosa
missão junto à humanidade encarnada, Ele, para quem não havia mistério algum quanto
ao que lhe iria acontecer.
Lançou-se assim o
Senhor ao desempenho da missão que o Pai Celestial confiou no Alto, sabendo embora
que apenas estava rasgando um terreno demasiado endurecido, para lançar a
semente luminosa do amor e da fraternidade entre os homens. Este Espírito
considera-se absolutamente insuspeito para falar desta maneira, porque todos já
conheceis demasiado a minha história, escrita posteriormente à partida de
Jesus, é certo, porém com o melhor material para torná-la digna de ser
conhecida pelas gerações que se sucederam na ocupação da Terra até aos dias presentes.
Desejo, a propósito, confessar uma vez mais a minha convicção acerca do que
possa ser dito ao ser humano ou ao Espírito que o anima. Aquilo que apenas for
ouvido pelo homem e nele desperte embora um grande interesse, está longe
de se comparar em assimilação com o que for entendido pelo Espírito do
ser humano.
A minha própria
experiência o atesta desde os idos tempos em que fui Paulo de Tarso, época em
que, tendo ouvido falar de certo missionário vindo de Nazareth pregar em
Jerusalém uma doutrina que aconselhava o desinteresse pelas coisas materiais,
como o meio eficaz de alcançarmos o Reino do Céu, achei sua pregação contrária
aos hábitos da época, que entronizavam a riqueza como o poder mais forte jamais
conhecido. Tendo tido conhecimento dos princípios divulgados nas praças e no
templo por aquele extraordinário personagem, não consegui interessar-me pelos
mesmos, até ao momento em que, para a minha felicidade imensa, sucedeu o
encontro histórico no caminho que me conduzia à cidade de Damasco, aonde eu me
dirigia precisamente para combater, pela palavra e pela ação, tão luminosos
princípios.
Verificou-se naquele
acontecimento este fato extraordinário, que eu incorporei à minha vida: Jesus
manifestou-se, não ao homem que seguia montado pela estrada, reunindo idéias
prestes a serem exteriorizadas aos habitantes de Damasco, mas sim, ao Espírito daquele
homem, única Entidade capaz de compreender Jesus. Foi pois a este Espírito que
vos fala que o Senhor se dirigiu, e com tal poder de convicção o fez, que o
resultado não se fez esperar, como sabeis. Agora eu vos darei um detalhe do
acontecimento, detalhe não divulgado até hoje precisamente porque somente eu e
Jesus o conhecemos. Trata-se da maneira como eu, Espírito, recebi e como reagi
às palavras proferidas pelo Senhor.
Conforme sabeis, eu
havia sido designado pelo Sinedrim para prender na região de Damasco os adeptos
da Doutrina de Jesus. Como o Mestre se intitulava ser O Caminho, seus
adeptos começaram a ser conhecidos como adeptos do caminho, que se tornava
necessário impedir que continuassem a pregar o absurdo da renúncia aos bens
materiais para amar como irmãos os outros seres humanos. Eu, como elemento de
destaque junto à cúpula do Sinedrim, estava empenhado na tarefa ingrata,
reconhecida mais tarde, de perseguir os homens do Caminho. Foi,
portanto, nessa disposição que me dirigia em companhia de três ou quatro
ajudantes e alguns soldados à cidade de Damasco. Já em suas proximidades, começamos
a observar o fenômeno que passo a descrever. Era de tarde e o Sol ainda
brilhava intensamente, iluminando toda a paisagem, num dia claro, sem nuvens.
De repente, porém, uma espécie de nuvem branca, volumosa, em transformação para
o róseo, se nos deparou bem próxima à nossa frente, deixando-nos de certo modo
perplexos ante o inesperado. Continuamos porém a marchar um pouco mais devagar,
os olhos postos no fenômeno. Este avançava também em nossa direção. Ao
aproximar-se mais de nós, resolvemos fazer alto, dado que nossa visibilidade
cessara de todo. No mesmo instante se nos depara a figura imponente, radiosa,
do Senhor, o qual, pondo nos meus olhos a intensidade do seu olhar penetrante, pronunciou
aquelas palavras que conheceis, com as quais transformou por completo a minha
tarefa de perseguidor dos seus seguidores, em seguidor eu próprio de sua
luminosa Doutrina pelos séculos adiante. O fato foi de tal modo intenso para a
minha sensibilidade espiritual, que eu fiquei por momentos privado da consciência
de mim mesmo. Meus companheiros atenderam-me prontamente, levantaram-me, e
verificaram que minha visão se imobilizara, o que os deixou profundamente
abatidos. Conduziram-me a Damasco, onde penetrei, não mais como perseguidor dos
homens do caminho, mas como enfermo, quase aniquilado, em busca de socorro
médico. Não tiveram, entretanto, os meus amigos que procurar nenhum
facultativo. Antes que o fizessem, apareceu-nos um homem já idoso, anunciando
que vinha procurar-me por ordem de Jesus de Nazareth, para tratar-me a vista.
Fiquei deveras impressionado com o fato, uma vez que poucas pessoas sabiam do que
me acontecera. Isto serviu para radicar em mim a convicção de que se tratava
realmente de uma personalidade superior do Mundo Divino, aquele ser que em
corpo humano, em meio à maior pobreza, acabava de cumprir sua elevada missão na
Terra. O bom homem (*) que me procurara, visitou-me durante uma semana para me
aplicar passes magnéticos nas duas vistas, ao mesmo tempo em que relatava fatos
extraordinários da parte de Jesus. Confesso que à medida em que minha visão se
restabelecia, confirmando o prognóstico do bom homem, crescia no meu Espírito a
idéia de me lançar eu próprio, a partir desse momento, a difundir a consoladora
Doutrina Cristã por todos os povos e países que minhas forças mo permitissem, o
que realmente fiz, não quanto eu o desejara, mas na medida das minhas
possibilidades.
Bem, amigos leitores.
O que de novo existe nesta narrativa é bem pouco, e só aquilo que no meu íntimo
se passou. Quis trazer o assunto para este livro, com o objetivo de firmar
também no vosso entendimento a diferença que existe entre o que apenas penetra
os vossos olhos ou ouvidos materiais, e aquilo de que o vosso Espírito toma
conhecimento e se interessa. Pelo fato da humanidade não ter se esforçado em
receber com ouvidos espirituais o mundo de conselhos e ensinamentos que lhe têm
sido trazidos por verdadeiros amigos e conselheiros vindos daquele Mundo Divino
de que falei, é que a vida terrena tem permanecido estacionária em níveis por
vezes remanescentes da barbárie, procrastinando com isso o seu avanço na escala
espiritual, a mundos muito mais felizes do que a Terra. O desapego das coisas
puramente materiais é neste século absolutamente indispensável a todos os seres
humanos, certos já de que a vida terrena é uma simples noite tempestuosa, para
conduzi-los às claridades espirituais existentes em outros planos de vida. Para
alcançá-los, porém, torna-se necessário um pequeno esforço por parte de cada
um, no sentido de aplicar o Espírito em seus diversos passos diários,
ouvindo-lhe as sugestões e conselhos que a todo momento ele está inspirando.
Devem ter presente os homens e mulheres em todos os momentos de sua vida
diária, que são Espíritos, apenas revestidos de carne para poderem suportar as
vibrações um tanto grosseiras deste mundo terreno. E sendo Espíritos, bem farão
em transportar para o plano espiritual quanto fizerem, disserem e ouvirem, a
fim de se certificarem se estão ou não procedendo em harmonia com os
ensinamentos e conselhos recebidos no âmago de seu coração.
Procedendo desta
maneira ou semelhante, com o desejo firme de merecerem a estima de seus
luminosos Guias espirituais, e mais hoje mais amanhã a própria graça do Senhor
Jesus ao reingressarem em seu lar espiritual, assim procedendo, repito, uma
segurança aqui lhes deixo: verão transformados em fonte de alegrias numerosos
fatos ou acontecimentos que antes lhes davam preocupação ou tristeza só em neles
pensarem. Para aqueles que isto fizerem, uma nova concepção da vida se abrirá,
assim como nova idéia conceberão acerca de seus familiares, Espíritos
designados pela Providência Divina para se tornarem parentes próximos na
presente encarnação, com o objetivo de criarem ou consolidarem sentimentos de
fraternidade e amor de que estarão todos necessitando. Podem ficar igualmente
cientes os meus estimados irmãos leitores, que seus familiares do momento, são apenas
um número infinitesimal de quantos já possuíram através de suas numerosas
encarnações passadas, e um dia os receberão a todos quando a oportunidade
chegar.
Um dever, contudo, se
aponta aos responsáveis pelos lares da Terra, que consiste em dar aos seus os
mais puros exemplos de dignidade e amor cristão, para que seus dependentes
neles se apóiem, para os transmitir por sua vez aos que vierem depois. Daqui se
conclui, por conseguinte, que os filhos só pertencem aos pais no consenso de
seus dependentes, como irmãos espirituais que lhes foram entregues para criar,
educar e encaminhar numa nova existência terrena, e jamais como propriedade
sua. Os pais de hoje são os filhos de ontem, assim como os filhos de hoje serão
os pais de amanhã. Há, por conseguinte, uma necessidade imperiosa de que os filhos
de hoje recebam dos pais os conselhos e exemplos mais salutares e puros, para
que, agasalhando-os em seus corações, possam transmiti-los por sua vez àqueles
que a Providência Divina amanhã lhes confiar como filhos também, para, com seus
exemplos e conselhos, ajudá-los a galgar alguns novos degraus de sua escala evolutiva.
Muito bem; o que
dizer, então, daqueles que freqüentemente abandonam os filhos ou deles
negligenciam, por se preocuparem exclusivamente com a realização de sentimentos
ou procedimentos menos dignos? Ai desses queridos irmãos que assim procederem,
porque duramente se arrependerão de o haverem feito. Nenhum interesse, por mais
alto e caro que se apresente, pode justificar o abandono dos filhos que Deus
confiou ao homem para encaminhar na vida. Aqueles que tal abandono praticarem,
virão a sentir na própria carne a dor espiritual que o fato produz, não importando
a encarnação nem o século em que as conseqüências se produzirão. Em apoio disto
eu vos direi que vivem no plano espiritual alguns milhares — digo milhares para
usar um termo modesto — de Espíritos que cometeram na Terra a infração às leis
divinas, de terem deixado aos cuidados de outrem, filhos que Deus lhes confiou,
mas que esses pais não quiseram criar e encaminhar por motivos diversos, mas
todos injustificáveis. Nós que percorremos todos os planos espirituais em assunto
de serviço, temos tido oportunidade de constatar a chegada de filhos
abandonados pelos pais, e que estes reconhecem e se precipitam para eles no
desejo de os abraçarem. Os filhos, entretanto, que nada lhes devem, os afastam,
mesmo porque os pais nada podem apresentar para justificar a paternidade.
Repelidos, lamentam-se dolorosamente, muitos deles, infelizmente.
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