Passa já da hora o vosso despertar espiritual . . . Saiba que a tua verdadeira pátria é no mundo espiritual . . . Teu objetivo aqui é adquirir luzes e bênçãos para que possas iluminar teus caminhos quando deixares esta dimensão, ascender e não ficar em trevas neste mundo de ilusão . . .   Muita Paz Saúde Luz e Amor . . . meu irmão . . . minha irmã

terça-feira, 29 de julho de 2014

CAPÍTULO XX – 2ª Parte – Livro: Vida de Jesus ditada por ele Mesmo. Quando Jesus indicou a infância como exemplo a imitar para conseguir-se a salvação, quis somente referir-se à sua falta de malícia, porém de nenhum modo à sua falta de conhecimentos. Refere Jesus suas impressões no momento da desencarnação e suas manifestações a seus discípulos, sendo Pedro o que melhor os percebia. Contesta a suposição que faz da pessoa de Jesus o resultado das façanhas de três bandidos, que lutavam por manter vivo o patriotismo do povo hebreu e molestar por todos os modos os romanos, que eram afinal os possuidores da riqueza. Se bem tenham existido os tais ladrões e muitos outros, ele nada teve que ver com eles. Depois de sua morte, o que deu unidade à propaganda de sua doutrina foi a sua inspiração permanente no seio de sua igreja, cujos ensinamentos hão de generalizar-se, como já resultou, a despeito do silêncio que os historiadores guardaram dela, chegando ao conhecimento dos homens, e que assim também os mesmos que hoje negam crédito às palavras de Jesus, acreditarão nestas comunicações como sendo a obra de Jesus e as acatarão.



Se certamente a inocência dos que chegaram a participar do reino de meu Pai havia de ser como a das ternas crianças “porque delas é o reino de Deus”, não se quis dizer do atraso intelectual da criança, mas sim unicamente de sua falta de malícia para com o pecado, do que o Messias havia falado, e não é certamente a malícia do pecado a que possa acrescentar grandeza ou algum adiantamento da inteligência aos espíritos. Má interpretação dão portanto os que crêem que o conhecimento das cousas e os trabalhos da inteligência não são necessários para a salvação vossa. “Preciso é que compreendais, que a verdade há de ser procurada na essência do ensinamento e não em sua forma, posto que esta seja a que sirva ao meio em que se fala e ao ambiente em que o ensinamento se produz.” Assim também, se acompanharam sempre os ensinamentos de Jesus, mais que outra cousa, a mansidão, a humildade, o perdão, a resignação, a pureza da consciência, alcançando até a inocência das ditas crianças, foi porque estas cousas eram mais que todas necessárias nesses tempos no meio desses povos de tanta dureza de coração, de tantas maldades e de tantas falsidades. Agora ainda esses ensinamentos são mais que tudo necessários, porquanto o egoísmo, a ambição e as próprias necessidades fazem pressão contínua no espírito para seu adiantamento na inteligência e assim naturalmente o avanço desta, primeiro é no espírito que o da moral. Tal se vê na maneira das cousas e tal crê o homem em seu egoísmo; porém, em verdade vos digo, que aquele que a maior altura chega, maior felicidade terá alcançado ao encontrar-se novamente no mundo dos espíritos, será maior também a extensão de suas percepções e mais clara sua visão. Quer, pois, isto dizer que nele também tem de se encontrar o adiantamento intelectual.

Muitas vezes percebi vossos desejos para o conhecimento da natureza do espírito depois de abandonado o corpo material e deixei esse desejo ir-se madurando principalmente até chegar eu mesmo ao conhecimento da falta de fé nas revelações recebidas, que comportam, entretanto, a verdade até onde a palavra humana consente.A atual revelação tão amplamente vem, que a todas as partes chega e de tal sorte é seu efeito, que em todas as classes consegue insinuação, porque é próprio da caridade o ataviar-se como para ser recebida dos que tem de favorecer. Assim, portanto, não acrediteis que toda a verdade vos é dada, senão unicamente aquela que vosso adiantamento comporta e ainda esta mesma ataviada de maneira que não provoque choque violento com vossas idéias anteriores. 

O adiantamento dos espíritos comporta maneiras muito diferentes e deve-se, portanto, demonstração continuada de tolerância e resignação em todo o possível, porque uma igual verdade, vista e aceita por dois espíritos, o é de diferente maneira pelos dois; buscai que a mesma o seja em sua essência. Chegando enfim ao desejo vosso, vou dizer as cousas tal como se recentemente eu mesmo houvesse partido de entre vós.

Apesar de ser completa minha lucidez, a intensa dor física e moral tinham proporcionado o enfraquecimento da vontade; mas improvisadamente se fez presente para mim muita luz e muita claridade de espírito. Não era, portanto, a minha penetração acostumada nas pessoas e nas cousas, senão melhor a presença de todo o meu passado e de suas relações de lugar e de pessoas. Tudo me era, com a maior clareza, presente. Tomou-me depois uma sensação de frio muito grande, que penetrava até os ossos; a língua parecia presa em sua raiz; o corpo teve sacudidelas; escureceu-se a vista e os ruídos com rapidez se distanciaram; ouvia ainda os últimos sons de vozes longínquas e apagadas, quando uma nova sacudidela, que me pareceu a mais forte, mudou por completo minha situação. Uma calma deliciosa invadiu todo o meu corpo e uma brisa fresca acariciava minhas faces. Pareceu-me ouvir um tênue murmúrio de vozes a meu derredor e ocorreu-me rapidamente então, no meio de um profundo suspiro, pronunciar estas palavras:“Piedade de mim, Pai meu!...” “Fica tranqüilo, Deus te ouve e está contigo”, responderam-me várias vozes carinhosas, conjuntamente. Permaneci durante algum tempo cheio certamente de algo como evidentes promessas de uma felicidade indizível, porém sem dar-me conta de meu estado. Compreendi que a morte se havia produzido, porém a mudança repentina na maneira de perceber o ambiente e de sentir-se a si próprio me enchiam de confusão, porém uma confusão sem agitações, porquanto, pressentia-se detrás dela a calma e o bem-estar da alma. 

Muito depressa, entretanto, fui compreendendo o meu novo estado, e, ao cabo de algumas horas talvez, me incorporei, toquei meu corpo, que o mesmo continuava a ser como sempre, e olhei tudo em volta de mim, sem compreender que tudo já tinha visto ainda antes de abrir os olhos, os quais me parecia tê-los tido sempre abertos, antes de incorporar-me e antes de mover-me. Assim, portanto, tudo o que interesse tinha para meu espírito, tudo claramente via diante de meus olhos. Ao mesmo tempo foi se descerrando o véu que me ocultava o passado, ocultação, entretanto, muito menor que nos demais mortais, e um intensíssimo pesar se apoderou de mim por alguns instantes, ao considerar a imensidade do sacrifício feito, agora e antes, para conduzir a Humanidade por caminhos direitos, terminando sempre por arrastarem-me como vítima das torpezas humanas.

O que disto resulta, segundo a lei justa de Deus, é que o pobre, o mártir, a vítima, vê-se elevada até o sétimo céu de seu progresso, ao passo que os poderosos que desprezaram sua palavra e o fizeram sofrer, seguem rastejando entre os acontecimentos humanos, principalmente inferiores. Entretanto, tudo em minha pessoa me parecia igual como anteriormente, porém tudo aperfeiçoado, mais leve e mais formoso no aspecto, como se de luz fosse todo o próprio corpo. Levantei-me e comecei a andar como quando entre vós me encontrava. Os espíritos amigos rodeavam-me silenciosos, se bem que com semblante de terníssimo afeto e comiseração. Nesse momento senti imprevisto e intenso desejo de ver aos de minha Igreja e nesse mesmo instante no meio deles me encontrei. Foi esta uma das cousas que contribuiu para o esclarecimento da maneira de minha nova existência, pois de súbito deduzi que toda essa materialidade aparente do que me rodeava, obra era de meu próprio espírito, que empenhava-se em arrastar-se quando o chamavam os espaços superiores. Voltei, pois, a compreender que no espírito o pensamento é tudo, ao passo que em meio da matéria assemelha-se somente a um pássaro engaiolado. Assim, desde esse momento concedi ao meu pensamento toda a amplitude de sua ação e desde então acabou-se para mim a chamada perturbação espiritual, apesar de que depois de passados três dias e um pouco mais, algo faltava ainda para o completo domínio do que me rodeava.

Devo fazer-vos presente que, quando me encontrei entre os meus, vi-me como inteiramente material, como se a morte não houvesse ocorrido; era, pois, tal como os demais, apesar de que bem depressa tive a dolorosa impressão de meu isolamento relativamente a eles. Pedro era quem ouvia realmente minha voz e compreendia minha palavra, os outros somente a intuição de meu pensamento e a influência de minha presença percebiam, apesar de que seu amoroso empenho deu à minha presença no meio deles a maior realidade material. O que desde esse momento todos claramente percebiam era a inspiração do que tinham de compreender e ensinar de minhas doutrinas. A isso justamente se deveu a unidade de critério na predicação que muito depressa os apóstolos começaram a levar avante com o tema de meus ensinamentos. Fracamente e com algum temor primeiro, porém logo depois com grande e real entusiasmo. Certamente, misturava-se o ressentimento e certas tendências para o desejo da vingança com o perdão das ofensas e com o amor para os inimigos que a doutrina impunha, e escapavam-lhes também, de vez em quando, ameaças encobertas e prognósticos que mostravam o Filho de Deus como pronto a lançar sobre a torpe humanidade os raios das iras do Pai; mas, à força de constância nas influências continuadamente dirigidas sobre os apóstolos, com as inspirações que de Jesus recebiam,¹ pôde-se suavizar os sentimentos naturalmente ásperos desses homens pouco cultivados, cujas modalidades meus ensinamentos e meus exemplos não chegaram a modificar por completo, tanto mais que o próprio Mestre havia-se mostrado, em duas ou três ocasiões, duro e até inexorável com os pecadores recalcitrantes, com os hipócritas e traficantes da palavra de Deus. Jesus certamente, nessas ocasiões, olvidando a natureza do homem, duplo em sua essência de alma e de corpo e imensamente atrasado em sua hierarquia espiritual por sua submissão cega aos instintos animais e aos impulsos da carne, havia-se abandonado a esses ardores da alma, próprios do ser que se asfixia em meio de pesada atmosfera e profundas trevas que o vício e a ignorância comportam, no mesmo momento em que contempla muito próximas, ante seus olhos, as claridades do elevado ambiente espiritual que lhe correspondem por seu adiantamento e que ele veio para oferecer aos homens em troca de sua situação de trevas e podridão, mediante o preço de um pouco de trabalho, um pouco de moralidade e um pouco desse bem compreendido amor a si mesmos e que faz amoroso ao homem para com os demais homens, rodeando-o por isso de afetos que sempre voltam para seu próprio benefício... Oh!... Quando compreenderão os homens que somente no amor espiritual hão de encontrar seu engrandecimento e sua felicidade no porvir?

Quanto é difícil para o homem a compreensão das cousas mais simples, se é que elas guardam relação com o sentimento de amor, ao qual é ainda refratário. Eis que tropeço agora, no cérebro do homem que me serve de instrumento, com uma estranha exposição que se lhe fez referente às façanhas de três ladrões famosos, que na Índia alcançaram grande renome, lutando pelo nacionalismo hebreu. O que deles se diz e se supõe, vem coincidir com o prestígio que Jesus alcançou nesses tempos, dizendo-se que com os elementos que esses personagens ofereciam, bem pôde dar-se vida à suposta personalidade de Jesus pela pobreza de referências sobre o assunto e pelo espírito novelesco do povo, resultando assim que as palavras de Jesus não eram outra cousa mais que o acontecido com os três indicados bandidos, cuja figuração, constantemente hostil à dominação romana e em guerra permanente contra os ricos e poderosos os quais todos eram cidadãos romanos, constituía o nacionalismo hebreu militante e um timbre de glória para o povo que os secundava, pondo em sérios apuros, em mais de uma ocasião, as autoridades imperiais.

Esses bandidos certamente existiram e muitos outros também que misturavam seus roubos e maldades com a crítica que faziam das injustiças dos dominadores estrangeiros e dos abusos e opressões dos ricos contra os pobres. Porém sua vida era de vícios e de crimes, suas consciências, cavernas de trevas, horríveis antros de desolação. Roubavam mais ao romano que ao hebreu, porque aqueles eram os donos das riquezas e os matavam de preferência, porque lhes era preciso para o roubo e porque também romanos eram os que procuravam impedir seus desmandos.

Sem dúvida, nos primeiros passos de minha vida pública, sendo ainda muito jovem, vi-me arrastado para os agrupamentos que conspiravam no silêncio contra a opressão e exações que sofria o povo e que iam de dia a dia em aumento, porém essas associações importavam o propósito do sacrifício de seus membros para liberdade do povo e nunca foram seus propósitos a depredação e os homicídios. Eram esses os únicos agrupamentos em que minha alma ardente pôde encontrar certa perspectiva de sacrifício pessoal a favor dos fracos e deserdados. Verdade é que as palavras de ódio e de vingança que se ouviam nessas reuniões, chocavam-se dolorosamente com o sentimentalismo de Jesus e levavam confusão à sua mente ao ver por todas as partes que o choque das idéias, choque era antes de paixões e que detrás das aparências da verdade e da justiça, somente havia os baixos propósitos da conveniência pessoal e da satisfação de sentimentos rancorosos; até sob o próprio manto da religião descobri bem depressa a hipocrisia em lugar do amor à justiça.

Mas foram certamente esses primeiros agrupamentos nacionalistas os que deram o primeiro impulso para o despertar de minha missão ainda adormecida em seus propósitos. Não esquecerei de confirmar a falta de publicidade de minha obra e de meu nome que com justiça se afirma, porém muito mal se aplica na negação de minha existência, porquanto conhecida era a obra dos bandidos, para os romanos principalmente, pois eram eles as vítimas. Até à mesma Capital do Império levadas eram oficialmente as suas obras, com seus nomes e com os detalhes que se sabiam.

Os viajantes também crônica levavam do acontecido. O filho do carpinteiro de Nazareth, em compensação, só era seguido pelos pobres, pelos desditosos, pelos que só pelos laços da dor ligados são na Terra, por esses a quem ninguém procura, de quem todos fogem e que nem a lembrança deles se quer... Quem, e para que, havia de dar testemunho escrito disto? — Somente Deus deu prestígio à obra do Filho porque era a obra do próprio Pai que o enviou e eis pois que sem nenhuma menção dos homens que cultivam as letras, os quais antes se esforçaram em lançá-lo ao esquecimento, eis que o filho do humilde carpinteiro de Nazareth, sem um único testemunho de algum valor e com muitas negações contra si e em maior número esforçando-se em seu prejuízo, ei-lo afirmado pelas gentes, em sua pessoa e em sua obra.

Assim também, inútil vos será tapardes os ouvidos ante minha nova palavra, porquanto ela será ouvida e testemunhada por vós mesmos que a negais e que fechais os olhos para não lerdes estes meus ditados, escritos em verdade com a própria mão de um dos homens que menos acreditou em minha pessoa e que mais desprezou minha obra, como a obra de um alucinado inconsciente, sem lar e sem trabalho honesto. O mesmo pode dar testemunho com a pena com que sua mão o que digo insere no papel, e embora respeitando seu silêncio quero perguntar-lhe, para a maior luz de sua própria inteligência: que cousa o induziu, que força o arrastou para a mudança radical operada, se unicamente de testemunhos contrários à minha pessoa se ocupou com a sincera convicção de que ela formava uma grande mistificação na história da Humanidade?²

Não vedes em tudo isto a mão do Pai, que, por caminhos os menos suspeitos, faz chegar sua palavra de vida até o coração de seus filhos? Debalde os espíritos das trevas pretenderam levantar dique intransponível para a marcha da predicação de Jesus e inútil também será que as veleidades humanas prestem apoio à obra satânica, pois acima de tudo encontra-se o Pai com o propósito de salvação de todos os seus filhos, porquanto “Deus não quer a morte do pecador, senão que ele viva e se regenere”, porque “afinal todos serão salvos”. — “Não é o Deus dos mortos, mas dos vivos.”

Regozijai-vos portanto com estas palavras que são sinais dos tempos, pois deduz-se claramente delas a maior compreensão alcançada pelos homens, sua maior penetração para com as cousas do plano espiritual e sua maior capacidade para as percepções do além.

Mas hei de vir dizer-vos ainda, que até o ruído que se levanta em torno dos fenômenos dos espíritos há de se tornar menor e há de chegar ao maior silêncio, enquanto que estas minhas palavras, sem ruído, terão já, sem ostentação, conseguido seu lugar de preferência em imenso número de lares... “Não rechaceis, pois, agora vós, minhas palavras, porque o que agora vos digo, já antes também vô-lo disse...” “Vinde a mim pela humildade e pelo amor; chamai-me com a alma que prontamente a vosso lado estarei.”

¹ Tão só um Jesus, seguramente, podia elevar-se acima das paixões, a ponto de que parecesse ele favorecido com a indulgência dos demais. — Nota do Sr. Rebaudi.


² Completamente convencido agora de que é realmente Jesus o autor da “Vida de Jesus, ditada por Ele mesmo”, como o é também destas comunicações, que vêm formar com ela como que uma ampliação e um complemento de seus ensinamentos, confesso que antes de pensar assim havia chegado a criar verdadeira antipatia à pessoa do Mestre, não precisamente à pessoa, senão ao papel que se lhe fazia desempenhar. Incapaz de abrigar um mau sentimento para com ninguém, meu desgosto se concretizava precisamente sobre a personalidade fabulosa que, segundo meu entender, se havia formado sob o nome de Jesus, atribuindo-se-lhe tudo o que os Vedas dizem de Krishna. Eu creio ainda agora mesmo, que com os poucos elementos humanos que possuímos a respeito, nada pode dizer-se de seguro a respeito de Jesus. Quanto às causas de minha mudança radical, hão de buscar-se na contínua cadeia de manifestações, cada qual mais evidente e assombrosa, que nem mesmo capaz seria de referi-las. Não é que meu positivismo em nada haja sofrido, unicamente se há modificado. Contra o que sempre me havia rebelado, para o que me encontrava inteiramente refratário, era o crer que Jesus havia tido conhecimento claro de que ia morrer por suas doutrinas e que aceitava a morte com inteiro conhecimento de sua necessidade para o triunfo das mesmas. Enfim, que tinha perfeita consciência do que ia suceder e que o aceitava em bem da Humanidade. Agora tenho disto o mais profundo conhecimento. — Nota do médium XX.

sábado, 26 de julho de 2014

CAPÍTULO XIX – 2ª Parte – Livro: Vida de Jesus ditada por Ele Mesmo. O verdadeiro espírito da predicação de Jesus¹



Tenho que repetir-vos uma vez mais, queridos irmãos meus, que nunca o espírito de meus ensinamentos foi compreendido, resultando em parte justamente o contrário do que o Messias se propusera, porquanto chegaram a ser eles motivos de maiores dissensões entre os homens quando buscavam pelo contrário estabelecer a unidade da doutrina, mediante a unidade do sentimento, elevado este à causa primeira e essencial da própria doutrina. Não era, pois, seu propósito trazer uma nova religião, senão A Religião como que do Pai para isto recebera mandato.

Dentro da Religião, depois, tudo o que ao sentimento e à moral se refere, haveria de encontrar seu lugar para a mais acabada glorificação do Altíssimo, mediante o cumprimento de suas sagradas leis.

Com o andar do tempo, entretanto, corromperam principalmente seus ensinamentos os mesmos que se apresentavam perante os homens como mestres e depositários deles, levantando templo de desunião com práticas que não comportavam os propósitos do Messias, tais como os demonstrara, quando praticado havia obras de amor no dia de sábado, enquanto que o proibia a lei mosaica que ele tinha vindo não obstante restabelecer e não para destruir.

Assim também quando bebeu a água da samaritana e quando demonstrou que o próximo era o samaritano que se apiedou do ferido da parábola e o curou e lhe prestou toda a sua proteção, e quando disse também à samaritana: Mulher, acreditai-me, que é chegado o tempo em que nem em Jerusalém, nem neste monte prestareis a meu Pai a adoração que lhe é devida. Com isto e com o anteriormente assinalado e outras muitas cousas ditas em igual sentido, claramente referia-se Jesus à Religião Universal, que reuniria em seu seio, pelo amor, a todos os homens, filhos de Deus e portanto irmãos destinados a conhecerem-se e amarem-se. Templo de todos e para todos era portanto o que viera levantar o Messias e a esse se referia quando, inspirado por sua visão interna, disse à samaritana: Mulher, acreditai-me, que é chegado o tempo em que nem em Jerusalém, nem neste monte prestareis a meu Pai a adoração que lhe é devida. Significa isto dizer que têm vindo preparando-se paulatinamente os tempos que próximos estão agora a chegar, em que nem dentro de lugar determinado nem dentro de religiões diferentes hão de elevar-se preces ao Senhor, senão no único templo e religião de vossos corações e de vossas consciências, isto é, dentro de uma mesma religião para todos, religião universal, portanto, cujo único preceito para todos se encerra dentro da sinceridade e elevação de sentimentos, unido a um veemente desejo de progresso para a verdade e o bem.

Isto que tão simples parece, muito tem que andar ainda, para que pela generalidade dos homens seja compreendido, sendo por isso necessária a nova presença de Jesus a fim de destruir os falsos conceitos que a ela se opõem e que vão ensinados como por ele ditos. Assim, falsa é sob todos os pontos, falsíssima a insistência com que meu querido, porém obcecado discípulo João, dá cor material, realidade carnal, ao dito referente à transubstanciação do pão e do vinho na própria carne e sangue de Jesus.

Não há de duvidar-se certamente que o escrito muito diferente é do que realmente por ele foi dito; mas ele que teve de meus lábios a forma figurada de minhas palavras pelas que unicamente o conceito espiritual da frase evidenciava, podia bem deixar mais claramente expressa a verdade. Diz ele entretanto que nada disse que pudesse tomar-se materialmente e jamais acreditou tampouco que pudesse ter lugar algum dia tão estranha cousa, como a de mudar em carne do Mestre o pão e tragá-lo para salvação das almas.

Confessa outros erros cometidos, embora sempre com bom desejo e com acendrado amor ao Mestre, confessa-se culpado de exagerações e de arranjos de milagres que tais não foram, porém, a respeito do que deu origem à eucaristia, ele não falou no significado material da carne e do sangue; foi tão somente sua vontade a de dar relevo, dar vida à expressão, como que assim também o havia feito o Mestre.

Já vos disse, pois, e vô-lo confirmo com veemência, qual era o espírito da predicação de Jesus e quais propósitos ela comportava, sendo que procurava como base primeira o sentimento mais universal: o amor. Quando o amor fosse o elemento essencial das relações humanas, todos os corações palpitariam sob os impulsos de uma só religião, que certamente seria a do amor e que outra cousa não resultaria mais que o laço de união entre as amorosas solicitudes do Pai e suas agradecidas repercussões no coração dos filhos, os quais elevariam assim ante o excelso trono do Senhor a mais pura e significativa das orações, a única que certamente é de seu agrado: a prece que do coração sai até Deus chega, tal como lhes repetia em meus ensinamentos a todo o que me escutava.

Assim portanto, pela porta aberta da simpatia e do afeto, facilmente passam novas verdades para o conhecimento do homem, que de boa-fé se entrega às novas doutrinas, que sobre o amor também se tem elevado como conseqüência do mesmo. Isto é certamente ao que à virtude e à moral se refere, porquanto não há de olvidar-se que, ao mesmo tempo que pela moral, pelo saber também há de elevar-se o espírito, sendo que é na moral, pela religião essencialmente, que se encerra a missão oficial de Jesus, como que foi e é nela e dela o fundamento e o meio de sua elevação espiritual.

Oh!... Crede-me, pois, irmãos meus, que o que se eleva às alturas da mais pura concepção moral em toda sua amplitude do bem e da religiosidade, crede-me, que participe é, desde logo, de todos os resplendores que a inteligência divina derrama nessas alturas, a que o espírito chegou, sendo que tampouco há de olvidar-se que na virtude se encerra também o trabalho, pois que a inércia e o ócio hão de encontrar-se sempre com as trevas do atraso, jamais no meio dos resplendores do verdadeiro apostolado do progresso humano. Eis que, como tudo há de ser adquirido pelos próprios esforços de cada um, vejo-me forçado, eu mesmo, a manifestações de índole também alheia ao meu verdadeiro ministério.

É assim que já vos tenho manifestado a maneira da aliança do espírito livre com o espírito unido a um corpo, para o ensinamento do que convém saber ao homem para seu adiantamento. Assim também dei explicações da maneira como o espírito estreitos laços assume para com o corpo, dando nascimento ao homem. Só resta dizer que o homem, sendo primeiro criança, desde a concepção perdeu já a consciência própria do espírito livre e começa o desenvolvimento da consciência humana, a qual se localiza no cérebro e parcialmente (em sua função mecânica, isto é, quanto ao impulso) também no coração, por mais que assim não vos pareça; este é seguramente quem antes percebe o que se traduz pelo sentimento no homem e é porque o espírito tem laços muito estreitos para com ele, mais ainda que para com o cérebro, se bem que é neste sobre o qual o espírito mais continuadamente e mais conscientemente age; porém, os laços que melhor o unem ao corpo são os que se acham relacionados com essa porção do corpo de grande conjunto de nervos que está sobre o estômago. Aqueles, os últimos também são em soltar-se do recíproco aprisionamento de ambos os princípios, o espírito e o corpo, quando sucede a morte.

A inteligência e a vontade individual é no cérebro certamente, como tantas vezes se tem dito, onde obra, tomando formas de pensamentos humanos, porquanto deveis saber que o pensamento não tem forma de palavras, sendo que no cérebro é que assim se converte para humanizá-lo, o que quer dizer que lhe dá roupagem material para que possa circular praticamente no mundo dos sentidos. Se ao pensamento não lhe alcançassem formas materiais, não poderia ser traduzido em palavras e a linguagem não teria aparecido e o pensamento teria permanecido órfão de alianças para com o corpo humano, o que não teria podido acontecer, porquanto faltaria o propósito da encarnação se não tivesse o pensamento meio para seu exercício e adiantamento.

Não acrediteis nas aparências que supõem o pensamento como filho das sensações que de fora para dentro recebe a alma, não, o exterior desperta no espírito a idéia que ele já tem em embrião. Isso que chamais sensação é antes a excitação para o pensamento e depois sugere-lhe uma forma nova que se grava no cérebro para sua associação mais tarde com impressões novas, todas as que, encontrando pouco a pouco suas relações recíprocas, concluem em um conjunto harmônico, dando lugar ao raciocínio.

O cérebro é, pois, o órgão material do pensamento, como os órgãos vocais são o da palavra, porém o pensamento existe antes que a cerebração e a palavra existe na mente antes que a formulem os lábios. Sem dúvida são cousas muito intimamente ligadas ao homem e não pode dividi-las, mas fá-lo-á a morte, sem que perca o espírito a sua faculdade de pensar que antes melhor resulta, acrescentada por sua liberdade dos entraves da matéria, encontrando-se também enriquecida em seu haver de idéias pelo progresso reportado dos trabalhos e lutas da encarnação. O que é, pois, do espírito, do espírito é e o que é da matéria, da matéria é, um e a outra se enlaçam sob o império das leis que do Pai vêm de toda a eternidade, porém, jamais um é a outra, sendo que a outra instrumento há de ser para o adiantamento do espírito e cumprimento da suprema lei do progresso, preenchendo-se assim a vontade do Pai, que é a causa última e a primeira, o motor único do universo inteiro.

“O que é nascido da carne, é carne; e o que é nascido do espírito, é espírito.

“O espírito sopra onde quer; e ouves a sua voz, mas não sabes donde vem, nem para onde vai.”

Se verdade é que estas, ou palavras mais bem parecidas a estas, foram ditas pelo Messias, dando a conhecer os novos nascimentos que a alma toma na Terra por motivo de seu adiantamento, elas encerram portanto não a mesma intenção que então, e agora ele fez e faz, quer dizer, que quis explicar que o corpo material vem da matéria, porém a alma, que lhe dá personalidade, vem do mundo dos espíritos; não nos é dado vê-la e tocá-la com os sentidos do corpo porque também a alma somente por suas percepções da alma é apreciada, porém, enquanto se dá o nascimento pela união do espírito com um corpo que há de ser seu instrumento.

Portanto, o que é da matéria, matéria é e o que é do espírito, espírito é; porém tudo é um para o progresso, que é a glorificação do Senhor. Tudo é um e certamente, nada é sem o autor; o espírito não alcançará adiantamento e a matéria estéril seria em seu desenvolvimento sem o fim da inteligência.

De tudo isto se vê que a pessoa propriamente é o espírito, o qual com o tempo, com o trabalho e com a regeneração dos pecados que cometeu por sua torpeza, chega a elevar-se até a verdade e à justiça, não em uma vida seguramente, senão em muitas. Não traz recordações em cada vida de sua vida antecedente, porque ele mesmo foge dessas recordações, o que pode fazer por seu encarceramento na matéria e porque em seu cérebro tudo vai formando-se de novo, pelas impressões que vai juntando e irmanando para que resulte cadeia ordenada deles, isto é, raciocínio, porém raciocínio com os elementos novamente colhidos, na recente vida corporal. Podia bem o espírito, com algum esforço seu e ajudado por suas alianças do outro mundo, manter a recordação de seu passado, mas isto jamais pode acontecer-lhe, porquanto ocuparia seu cérebro e gastaria suas forças para a recordação daquilo que justamente lhe convém olvidar, e que voltou à Terra para esquecer. Assim, pois, os que guardam recordações, e muitos há, é por causa espontânea, devido à sua elevação moral.

A elevação moral certamente é a que dá maior progresso ao espírito, porquanto ela coloca-nos no meio exato das maiores verdades, as que se lhe colocam em evidência com tal clareza que não somente as compreende, senão que participa delas, como se interviessem em seu governo por mandato de Deus.

Ah! Sede, pois, grandes de alma, sede verdadeiramente bons e não temais, porque o Universo inteiro vos pertencerá, como verdadeiros filhos do verdadeiro Pai. Não vos confundais com tantas doutrinas, porque são os fatos os que valem, e estes governados são pelo Pai e não pelas doutrinas saídas de vossas cabeças. E vos disse e novamente vos repito: amai, amai sempre, perdoai sempre, e fazei o bem, fazei-o sempre, até aos que vos fazem mal. Vereis assim vossos espíritos, uma vez chegada sua hora, elevarem-se sobre nuvens de luz para Deus, no meio da felicidade perfeita de que só aos anjos de Deus é dado desfrutar.

Quisera o Messias poder introduzir-se em estreita união com vosso ser para que suas palpitações encontrassem eco decidido em vossos corações e que a luz que justamente ilumina sua inteligência pudesse igualmente brilhar na vossa; mais acima de seus desejos está o cumprimento da lei de justiça que rege o mundo moral; é pois que a seus desejos devem responder os vossos com igual intensidade e não o fazem. Vedes, entretanto, que a palavra é difícil a Jesus, encontrando-se tão distante de vós que não o atraís pelo magnetismo da simpatia, isto é, pelo amor sincero. Custa a meu próprio intérprete sua tarefa, pela enorme distância que nos separa, pelos muitos intermediários que formam a cadeia que de Jesus até ele chega e pela completa falta de ajuda por parte dos que o rodeiam e para quem estas palavras são não obstante dirigidas.

¹ O verdadeiro espírito da predicação de Jesus nunca foi compreendido, tendo seus ensinamentos servido de motivos de discórdia, enquanto que seu objetivo foi o de procurar a harmonia de todos os filhos de Deus sobre a base de uma religião, que, por isso mesmo, havia de ser a RELIGIÃO UNIVERSAL, da qual justamente ele sempre disse ser o fundador, religião sem templos nem altares, que radica no sentimento e nas consciências, constituindo uma cadeia de união entre todos os filhos de Deus, que, pelo fato de o serem, estão destinados a buscarem-se e amarem-se como irmãos que são. Declara que jamais passou por sua idéia o que a igreja católica entende a respeito da eucaristia, que ele só fez referência à confraternização, quis dizer, talvez, que o pão e o vinho que repartiam amigavelmente, como representação de afetos recíprocos, constituíam para ele como sua própria carne e seu próprio sangue. João afirma que se adulteraram suas palavras.

Acrescenta também o Mestre que o progresso intelectual é igualmente necessário, porém pareceria deduzir-se de suas palavras que o moral e o intelectual se acompanham, pois no homem virtuoso tudo tende para a atividade e o progresso. O pensamento toma no cérebro somente a forma que lhe permite ser traduzido por palavras, porém não é o cérebro que forma o pensamento. As sensações são unicamente excitantes da faculdade de pensar e prestam-lhe novos motivos de desenvolvimento, porém o pensamento é próprio somente do espírito. — Nota do Sr. Rebaudi.


CAPÍTULO XVIII – 2ª Parte – Livro: Vida de Jesus Cristo escrita por Ele Mesmo A desgraçada condição humana atrai a comiseração dos espíritos de luz. É necessária a desmaterialização do espírito para libertá-lo da escravidão das paixões. Jesus prossegue sua obra de redenção, dificultada principalmente pela obstinação dos homens em sua materialidade e falta de fé. Eles, não obstante, como espíritos que são, estão destinados à vida espiritual e tudo o que ao espírito se refere deve interessar-lhes.



A desgraçada condição vossa, filha principalmente da cegueira com que vos apegais às cousas terrestres, move-nos a piedade por vós, aos que vivemos já no meio das intensas claridades da alma, que demonstram ante nossos olhos as torpezas que como pesadas cargas de chumbo, oprimem vossos espíritos, impedindo-lhes o vôo para permitir-lhes somente arrastarem-se pelo imundo lodaçal das baixezas próprias dessas capas inferiores, que unicamente por cobardia não haveis ainda abandonado. Vossa teimosia, mais que tudo é, pois, o que vos tem acorrentado ao próprio montão de pó que pisais.

Amigos meus, filhos meus, queridos irmãos meus, refleti com seriedade alguma vez sobre a mísera situação a que vos encontrais submetidos por não quererdes fazer um pequeno esforço de espiritualidade, isto é, um pequeno esforço de vossa personalidade sobre os instintos carnais e tendências mundanas inerentes à vossa natureza terrestre.

Essa desmaterialização é a que vos há de encaminhar para o grandioso destino que vos aguarda e ante o qual, não obstante, perplexidade demonstrais, ou temor e cobardia, em vez de decidido impulso, como devera acontecer. Fugi portanto dessa prejudicial perplexidade e empreendei com valor e confiança a conquista do império que nos céus vos está destinado e cujos caminhos o próprio Filho de Deus vos ensinou, e volve ainda ele sobre seus passos, para guiar-vos pela própria mão.... Chegareis ainda até rechaçá-lo novamente?... Tapareis vossos ouvidos a suas palavras, vossos entendimentos a seus conselhos e vossos corações ao calor intenso de seu sentimento?...

Oh! Não seja, pois, novamente vossa pertinácia e vossa cegueira, causa de profunda pena para o ser que tanto por vós já sofreu, que a vós consagrado vive e em cujo porvir principalmente, fixos estão com empenho seus constantes olhares.

Desprezai a vaidade e orgulho que vos ofuscam, impedindo a vossos sentimentos o confundirem-se com os meus e aos olhares de vossa fé o descobrir-me detrás das singelas palavras, porém cheias de amor e de sinceridade, com que volto agora a me apresentar ante vós.

Se certamente cumpre agora o Messias seu mandato divino em melhores condições das que lhe serviram em sua anterior sementeira e se certamente também o rodeiam com muito maior eficácia as elevadas alianças espirituais de que no princípio vos falou, não deve tampouco olvidar-se a maior clareza de visão e a maior sutileza de exame que passou a ser natural nele, oferecendo-lhe com maior rudeza nos detalhes e mais profunda verdade no fato, a ingratidão, a falsidade, as vergonhosas claudicações, os torpes vícios, a negra teimosia no erro, os ódios fratricidas, as traições nefandas, as horríveis vinganças e os asquerosos desafogos das paixões carnais; todo esse escuro abismo da louca fantasia do homem no erro e no mal, claramente exibido se encontra diante de meus olhares angustiados, tendo adquirido brilho inusitado ante meus olhos os últimos e mais recônditos escaninhos da consciência humana.

Acreditais porventura que no meio da condição vossa, tão longe ainda de vislumbrar a verdadeira luz do espírito, acreditais porventura que a alma de Jesus possa permanecer indiferente e fria? Não, certamente e tampouco o podem os celestes mensageiros que o acompanham no cumprimento de sua sagrada missão.

Só o amor e o perdão traz como armas Jesus, para o cumprimento do que em suas mãos lhe foi confiado, “porque não enviou Deus seu Filho ao mundo para julgar o mundo, senão para que o mundo se salve por ele”.

Mas este é o preceito: “Que a luz veio ao mundo e os homens amaram mais as trevas que a luz; porque suas obras eram más”. “Porque todo homem que procede mal, aborrece a luz, e não vem à luz para que suas obras não sejam censuradas.”

Assim portanto, hoje também acontece, com grande pesar para mim, que ausentes vejo de meu lado muitos espíritos que deveriam ter conquistado maior elevação e grandeza e retrocederam entretanto do caminho que com tanta vontade empreenderam.

Volvei, pois, sobre vossos passos, vós os pusilânimes, recordando o que já antes disse: “O céu e a terra passarão; mas minhas palavras não passarão”. “Olhai pois por vós, não aconteça que vossos corações se encham de glutonaria, e de embriaguez, e dos afãs desta vida, e que venha de repente sobre vós aquele dia”... dia de responsabilidades, que para todo o espírito chegará, como os dias da Terra, mas que dentro de si mesmo tem suas limitações, pelo que significa quanto ao que o espírito tem de receber como prêmio ou como castigo, assinalando também uma nova etapa para seu porvir.

Não vos assombre do que em ocasiões dissera com palavras como estas: “Na verdade vos digo que não passará esta geração sem que sucedam todas estas cousas”, porquanto Jesus olhava muitas vezes mais para o ambiente do espírito que para o do homem e apesar de mudado o homem por encarnação diferente, o mesmo espírito discernia freqüentemente. Assim também, seus juízos formados eram, mais para o ambiente espiritual, que lhe resultava mais propício e mais harmônico, que para o da carne.

Portanto sua apreciação de tempo, diferente era por completo da dos homens, pois via-se levado a considerar todas as cousas quase como presentes, tal como com o espírito acontece.

E dizia Jesus aos hebreus, que nele haviam acreditado: “Se vós perseverardes em minhas palavras, verdadeiramente sereis meus discípulos e conhecereis a verdade e a verdade vos fará livres.” Dessas palavras saídas dos lábios de quem chamado foi o Mestre, há de sair luz novamente, porquanto está dito nelas verdade e sabedoria maiores que as que o homem possa produzir.

O próprio saber, na ordem física, de grande proveito para a alma também resulta porquanto é dele, ao lado das boas obras, que a alma vive e não de incentivos puramente materiais. O homem alma é revestido de um corpo pela cadeia de seu astral, como já vos disse e unicamente pelo corpo participa da natureza carnal, para motivo de adiantamento. Toma assim adaptação entre as cousas da Terra para o enriquecimento, com elas, de sua própria pessoa de espírito. Mas vós, em vez de enriquecer dessas cousas o espírito, formais com elas correntes que à Terra o atam e sobre ele exercem pressão para impedimento de seu vôo. Dominar, pois, antes que tudo, o corpo e seus apetites e elevar-se, superior na vontade e no caráter, por cima de tudo o que lhe oferece sua passageira morada da Terra, o primeiro que tudo e o principal deve ser para vós espíritos, desde que, como tais, destinados sois para a vida gloriosa dos espíritos, partícipes da grandeza e da sabedoria do Pai, que até vós manda a seu próprio Filho para vô-lo dizer.


Elevai, pois, constantes orações ao Pai para que ilumine vossas consciências e vos faça ver claramente a verdade do que vos digo e a verdade de minha própria natureza; ante a qual vos obstinais novamente em fechar os olhos entravando os amorosos propósitos do mesmo Pai que brilhantes reflexos fazem brotar do Filho, que com constante empenho vos chama, tendo ele depositado também em vós todo o apaixonado calor de seus sentimentos.

quinta-feira, 24 de julho de 2014

CAPÍTULO XVII – 2ª Parte – Livro: Vida de Jesus ditada por Ele Mesmo. A família e a fraternidade universal. As doutrinas de Jesus sobre este particular.



Se humanamente hão se ser consideradas as cousas, poderia crer-se que as doutrinas de Jesus se haviam de muito antecipado ao tempo que lhes fora oportuno, porquanto agora mesmo não compreendereis o amor mais além do círculo de vossos parentes e amigos. Se muito se observasse no coração vosso, ter-se-ia ainda de chegar à dúvida de se amais realmente alguém além de vossa própria pessoa. Quando, pois, Jesus dizia que todos os homens são irmãos e que deviam portanto afeto uns para os outros, como membros de uma mesma família, colocava-se na posição de um iludido desde que sem cessar via-se o homem em guerra contra o homem, muitas vezes por mesquinhos interesses, dominando entre eles a mentira, as desconfianças e o egoísmo apropriado certamente para desunir os homens, jamais para constituir família entre eles. É por isso justamente que o Messias era pródigo na repetição desta parte essencial de suas doutrinas, dizendo:

“Justo é e santo, o amor que prodigalizais a vossos pais, mas na   verdade vos digo que o Pai Universal muito acima há de ser amado que o pai de uma só família humana. E em verdade também vos digo que se justo é o amor entre os irmãos desta família humana, justo é também que os irmãos da família universal sejam amados acima dos irmãos dessa única família humana, porquanto a família universal é permanente, o Pai Universal é também permanente, e os irmãos desta família universal são também para toda a eternidade; ao passo que a família humana e tudo o que a ela se refere, é transitório, como tudo o humano é transitório. Deveis, não obstante, ensaiar vossos sentimentos na família, sendo que quem não ama o pai e a mãe como há de amar o próximo?

“Vós todos sois, pois, filhos de Deus, antes que de vossos pais e o  último de vós há de chegar a ser grande por meio de seu trabalho.

“Faz-se maior festa na casa do Pai por entrar nela um de seus filhos  recém-trazidos ao bem, que pela perseverança dos justos.

“O amor de Deus inspira o amor das criaturas que são a obra de  Deus.

“Os que muito tenham amado porque muito têm vivido e sofrido,  superiores chegam a ser do círculo estreito das afeições de família; eles hão de ser os porta-vozes do Messias, abandonando todo o laço da carne para irmanarem-se com ele no Pai. Felizes dos que assim compreendam minha palavra que não veio para edificar sobre o restrito senão sobre o que dá vida eterna e é da vida eterna”.

Compreendiam meus ouvintes o significado contido nestas palavras? Não o compreendiam sem dúvida e por isso, justamente, ele não vos foi transmitido.

Mas, ainda assim, com o que se dá como tendo sido dito pelo Mestre, chega-se contudo a compreender: Que o amor há de ser a base de uma sociedade bem constituída.

Que os laços carnais da família hão de deixar-se de lado quando se trate de toda a família humana para a qual a todos vos liga o dever, enquanto que a cada membro somente de cada família, liga o dever particular no seio da mesma.

Mas a essência verdadeira do ensinamento permanecia oculta para esses pobres entendimentos e é esse justamente o motivo por que, na tradição que vos chegou de minhas palavras, não ressalta patente essa essência; falta assim o verdadeiro espírito do que foi dito por Jesus.

Falando-lhes dos homens, era de sua condição permanente de espíritos do que entendia falar. Assim, portanto, é de todos formada a família dos espíritos, sendo também eterna porque os laços da matéria se destroem, enquanto que nada é a morte do espiritual, senão a volta à vida. Quanto maior é o adiantamento dos espíritos nas cousas do Pai, mais garantidos se encontram entre os laços do sentimento e da luz da alma, ligados por eles dentro da própria condição que esse mesmo adiantamento lhes deu e unidos a seus semelhantes tanto mais estreitamente, quanto maior é a atração do carinho e das afinidades que arrastam aos diversos núcleos de espíritos para rumos também diversos, ainda que sempre dentro da família comum, que formam todos os espíritos. Assim, pois, só transitória é a condição do espírito que tomou um corpo e, formando famílias carnais, consegue nelas a formação de laços espirituais, que são os do amor, os que persistem depois da morte do corpo, ligando-o melhor, dentro da família espiritual, que é o objetivo, enquanto que a carnal constitui apenas um meio.

As condições da família carnal encerram os altos propósitos do Pai, que, mediante elas, sabiamente fazem brotar os mais belos sentimentos entre os esposos, entre pais e filhos, entre irmãos e irmãos, transformando os ódios, momentaneamente ocultos pelo véu da matéria, em estreitos laços de afeto que vão depois entrelaçar os membros da família espiritual em pontos em que a recordação de ofensas ou o desejo de vingança deixaram manchas de obscuridade no meio de campos de luz.

Nem outra cousa nisto se encerra senão o que outras vezes simplesmente disse: “Na verdade, na verdade vos digo, que só o que renascer de novo verá o reino dos céus”. Porém tampouco nesta simplicidade fui compreendido.

Encerra-se sem embargo nisto, a chave para o porvir da Humanidade, na vida eterna que lhe está reservada por toda a eternidade. É portanto na fraternidade
universal sobre o que o espírito há de repousar, encontrando nela o fim dos tropeços na rota e sobre ela a base eficaz para a sólida edificação de seu porvir, como anjo de luz, mensageiro do Senhor.

Irmãos meus, vede no que ficou dito a sublime religião de Deus que a todos alcança, inundando de luz vossas consciências e indicando-vos o caminho para a felicidade, pelo cumprimento da lei de justiça, que integralmente se traduz na lei do amor, porquanto sendo Deus a justiça é também o amor e é no amor universal onde toda a justiça repousa e tampouco há amor fora da justiça.

Ela constitui a religião universal que a todos alcança e a todos está destinada a elevar para o Pai, que vos manda procurar o caminho da felicidade mediante a liberdade de vossa alma que se consegue pelo desprendimento dos gozos materiais para vivificar no espírito o desejo do bem, a aspiração para a verdade e o domínio absoluto sobre tudo o que é da carne, humilhando vosso corpo para obrigá-lo a que vos sirva unicamente como instrumento, jamais como senhor de vossa vontade e de vossos gostos.


Desprezai as dores passageiras da carne em benefício dos gozos verdadeiros e eternos do espírito. Tudo passa na vida humana com rapidez vertiginosa, somente se recolhe o bem que se faz e tudo o que dá engrandecimento à alma.

terça-feira, 22 de julho de 2014

CAPÍTULO XVI – 2ª Parte – Livro: Vida de Jesus ditada por Ele Mesmo. Sede justos e não vos cegue a paixão em vossos julgamentos. O que é bom o é por si mesmo, pois obra é do Pai; o que é mau não deixará de o ser em sua mínima parte, apesar do beneplácito humano e das fórmulas com que às vezes se pretende substituir a virtude.



Se tiverdes prestado atenção, irmãos meus, à minha anterior comunicação, tereis compreendido quão fácil é confundir a paixão com a virtude, ainda quando a paixão possa arrastar aos piores extravios do espírito. Ai! pois, daquele que abandona o próprio raciocínio entregando-se ao impulso do cego fanatismo, porque para sua perdição caminha certamente. Que foi a morte de Jesus? Obra aziaga da paixão que fecha os olhos do homem à luz do raciocínio e faz insensível o espírito ante os lampejos da verdade. Que foram os mal chamados mártires do Cristianismo? — Vítimas, não estéreis, porque a abnegação nunca é estéril, porém desnecessárias, de seu próprio fanatismo e da cega paixão de seus vitimários.

De um lado e do outro a paixão, ainda que sob diversos aspectos. Que foram as bárbaras e sangrentas guerras para a reconquista do que se chamou Terra Santa? — Foram o resultado das paixões enfurecidas, legitimadas com o nome de Deus, que jamais lançou o homem contra o homem em horrível mortandade, senão que, por boca do Messias, mandou-o amar a seus semelhantes e devolver bem por mal; legitimados sob o nome de Deus e sob a bandeira da mal chamada Igreja de Deus, disposta sempre a santificar o que aumentasse seu poderio e sua grandeza.

Que foi o Santo Ofício, dos pretensos Vigários do “Manso Cordeiro”, e a Santa Inquisição? Foram as manifestações mais legítimas e boas para a paixão feroz assenhoreada das posições do poder, da paixão convertida em fanatismo e tomando o lugar da razão. Sede razoáveis, pois, irmãos meus, e jamais vos ofusque a paixão, porquanto o que é bom, bom é por si mesmo e sem violências; o que não é justo, inutilmente o legitimareis sob o império da força porque nada que seja injusto deixará de o ser pela convencional legitimação humana.

Bem deveis entender que o homem nada pode tirar e nada pode acrescentar às leis de Deus que a própria essência da verdade e do bem formam. Assim, portanto, “com a mesma medida com que medirdes, sereis medidos”, e como castigada é a igreja católica com a sua decadência e completo desprestígio a que vai chegando, pelo mau uso que dela foi feito com os meios de domínio e ensinamento que em suas mãos estiveram, assim vós também castigados sereis se abusardes, como às vezes o fazeis, do lugar vantajoso em que vos encontrais colocados ante os conhecimentos humanos, ante a lógica e a história, armas empregadas agora em vez de ferro, e que certamente melhores e mais duradouros êxitos alcançam nas guerras das religiões.

Não sejais, pois, injustos com os adeptos dessas já velhas religiões, se bem que de curta vida ainda, porém velhas quanto ao atraso de suas doutrinas com relação a muitas verdades perfeitamente conhecidas pelo homem e ainda desconhecidas ou negadas por elas, tais como: a igualdade perante Deus de todos os homens, sem eleitos e sem graça especial para ninguém; a pluralidade de vidas carnais e de mundos habitados; Deus eternamente igual a si mesmo e não diferente em personalidades, ao ponto de assumir uma delas, o filho, uma natureza finita e mortal; que cada espírito é filho de suas próprias obras, única maneira que permite existir verdadeira responsabilidade e verdadeira justiça na distribuição do prêmio e do castigo. Porém, ainda assim, apesar da desvantagem no atraso de suas doutrinas, é entre os católicos onde se notam os maiores esforços para aumentar o império do espírito sobre a natureza carnal do corpo; entre eles observa-se ainda a maioria dos que desprezam seus próprios interesses pelos interesses do próximo e dos que lutam e trabalham para desgastar as asperezas da pessoa humana, suas tendências para o predomínio bestial; dignificar o amor pelo respeito para o lar constituído; dar brilho, enfim, grandeza e elevação à alma humana, feita, a alma não o corpo, à imagem da do próprio Deus.

Observai com sinceridade e discerni as cousas com justiça e vereis, como prova do que vos digo, que dos povos de onde desaparece o catolicismo, antes que as novas religiões tenham podido exercer a necessária influência sobre eles, a imoralidade aumenta, os crimes e os suicídios se multiplicam e a sociedade dá um passo para trás pelo caminho do torpe materialismo.

Muitas vezes o sacerdote católico tem-se levantado frente a frente dos potentados em defesa dos direitos do povo, ao passo que os ricos e os mesmos costumes sociais que deles sofrem predomínio, toda a sua influência derramavam aos pés desses mesmos potentados em defesa do que se chamou seus foros; a opulência, o fausto, a gente de distinção, como chamais aos homens que por seu dinheiro mais vivem com o corpo que com a alma, os bons costumes e até as leis, têm dado muitas vezes em apoiar o erro contra a verdade; mas tudo isto e quanto se fizer, nada tirará de sua maldade ao que é mau.

Esses virtuosos sacerdotes, muito poucos certamente, que desafiando tudo, o ouro, as preocupações, a influência das maiorias, seus próprios interesses, as ameaças e até a legislação feita pelos homens do que eles combatem em defesa dos interesses dos deserdados e dos oprimidos, esses virtuosos sacerdotes, que assim entregues vivem ao serviço da verdade, ministros são realmente do Pai, porquanto obra do Pai é a que assim eles levam avante. Mas não é obra do Pai certamente aquela em que o mesmo clero católico vos brinda com frívolas formas em lugar da verdade que deveria ensinar, porém que desconhece pela cegueira em que caiu ao apartar-se dos simples e humildes ensinamentos do Messias.

As mais das vezes, ou sempre, o dogma obscurece a inteligência desses seres tão grandes às vezes nas cousas da alma. Mistério a miúdo insondável, porquanto não pareceria possível que espíritos de luz, ao revestirem-se de um corpo material na Terra, percam seu são juízo a ponto de aceitar como verdades inquestionáveis, absurdos inadmissíveis ante a sã razão. Sucede portanto que, com grave responsabilidade para a igreja católica, as verdades mais fundamentais de meus ensinamentos vêem-se profundamente alteradas, até originarem-se conceitos universalmente opostos a elas e constituir-se um critério religioso que nem sequer relação remota guarda com o que Jesus inculcava; é assim que, aceita-se como boa a instituição da eucaristia e da confissão, quando a elas se opõe o espírito de meus ensinamentos; que consideram-se justas as chamas eternas do inferno, quando disse Jesus que Deus não quer a morte do pecador, senão que viva e se arrependa, “porque finalmente todos serão salvos”; dá-se por satisfeita, a crença imperante, com uma só vida de encarnação quando as próprias diferenças sociais e as diferenças de aptidões entre os homens, demonstram claramente que os que mais sofrem é porque maiores males terão ocasionado em uma existência anterior, e o fato dos nascimentos sucessivos foram por Jesus confirmados quando disse: “Em verdade vos digo que aquele que não nascer de novo não pode ver o reino dos céus” e também: “Vos é necessário nascer de novo, renascer e tornar a nascer”. E também há grande diferença entre o que foi ensinado da religião, como elemento da alma e aroma do espírito que para Deus se eleva pela perfeição de seus sentimentos e pela adoração íntima e sincera do filho para o Pai celestial, e o que por fim resultou dos ensinamentos da igreja católica em que as formalidades e as convenções tomaram o lugar do que Jesus inculcara no ânimo de seus ouvintes.

Do mesmo modo, com o chamado dogma da Imaculada Conceição tomou-se um fato falso e antinatural, em uma ordem de cousas em que o mau e o bom não existem, pois que trata-se simplesmente de fenômenos orgânicos, tornou-se como excepcional caráter de superioridade a errônea crença de que Maria pôde ser mãe sem ser esposa. Se tal fato tivesse sido possível e seu cumprimento certo fora, em que haveria avantajado a virtude ao que hoje é e em que teria sido superior a personalidade de Maria ao que hoje é? Por que confundis o que é do corpo com a virtude, que filha é do esforço do espírito? —

Estabelecei o domínio do espírito até onde alcance o do corpo, mas não maculeis os atributos da alma com as torpes materialidades da vida orgânica. O homem tem podido transformar em vício o que unicamente encerra os meios de sua renovação corporal, por meio da descendência, mas nada há nele que se refira propriamente à natureza superior do espírito. O dizer de virgindade, falando de virtudes da alma, choca ao espírito.

Deixai, pois, ao corpo o que é do corpo e não rebaixeis as elevadas concepções da alma, que busca Deus, com as grosseiras manifestações do corpo que se arrasta no meio do cumprimento das leis que regem a sua evolução, como meio unicamente de progresso do espírito, mediante as vidas sucessivas no seio da natureza organizada, até chegar à conquista do seu caráter definitivo de espírito, que não precisa já da condição humana e não volverá portanto a um corpo para participar da vida intermediária entre o espiritual e o material.

Crede, pois, que rebaixais vossa própria natureza com a virgindade ou não virgindade, porquanto é sempre grosseira a idéia, principalmente quando se refere ao que menos nobreza apresenta quanto à forma. Com relação ao objetivo, sabido é que a intenção sã tudo enobrece e os sentimentos nobres tudo elevam, mas não mancheis o ideal com o que somente é próprio da grosseira materialidade do organismo humano.¹ Riscai, pois, as palavras virgem e virgindade no referente à religião para não rebaixar o elevado conceito desta.


¹ O que se considera como uma virtude é o esforço que se deve fazer para resistir às tendências naturais do corpo que conduzem para o cumprimento do preceito bíblico: crescite et multiplicamini; ou mais naturalmente dito, à renovação da espécie. No fato mesmo não há, pois, virtude ou pecado, sendo uma conseqüência de nossa própria organização e obedecendo a uma lei natural, que deve cumprir-se, somente que pode por nós ser dirigida e dominada até suprimir seus efeitos em si mesmos, ou pode deixar-se dominar por ela como escravo. É questão de evolução: para alguns o domínio sobre sua própria natureza é um impossível e fazem cúmplice a fisiologia para fazê-lo crer assim; para outros isto exige somente um pouco de vontade, resultando vigorizada sua saúde, sua inteligência e seu caráter, a despeito do que a fisiologia afirma. — Nota do Sr. Rebaudi.

domingo, 13 de julho de 2014

CAPÍTULO XV – 2ª Parte – Livro: Vida de Jesus ditada por Ele Mesmo. Da confissão e da Eucaristia. Deus não precisa de intermediários obrigados para com seus filhos. O verdadeiro sacerdote é o homem de bem.



Muito numerosas têm sido já as vezes que Jesus se tem comunicado com os homens nesta sua nova aproximação até vós, porém quase sempre seus ensinamentos têm sido desestimados por encontrarem-se freqüentemente em oposição com o que se atribui como tendo sido dito por ele, segundo o testemunho dos Evangelhos e, pior ainda, de acordo com a interpretação caprichosa que desses mesmos escritos faz o clero atual, sendo, portanto, um obstáculo para que não chegue até vós sua verdadeira palavra, como já antes o foi para dificultar sua predicação até sacrificá-lo cruelmente. Pouca cousa significa que o clero atual obedeça a diferente culto que o da Judéia, porque sempre clero é no fundo, o que quer dizer que se trata de uma associação de homens interessados na conservação do que lhes confiaram como cabedal comum; esse cabedal é o que lhes deram como “a revelação”, interpretada e ensinada na forma que pôde ser a mais acertada segundo os tempos e os meios de que antes se dispunha, porém que os novos dados trazidos pela investigação e a luz sempre em aumento no mundo, a colocam em condições desfavoráveis em frente de todas aquelas verdades que o mesmo homem descobriu por seus próprios meios. Vem então o dogma, isto é, a obrigação de crer, sob penas severíssimas, em tudo quanto o clero veio ensinando como “a verdade revelada”.

É o cabedal de sua própria existência o que eles defendem assim, porquanto a menor concessão que fizessem ao progresso das idéias, reconhecendo em parte, ainda que mínima, os erros de sua Igreja, bastaria para a perda total de seu prestígio, pois o pedestal de sua infalibilidade se teria despedaçado em mil fragmentos. Isto quer dizer que muito diferente cousa resultam a ser a religião e o clero. A verdadeira religião vem de Deus, o culto do clero é no fundo filho dos interesses do mesmo clero e por isso a única revelação admitida é a que não se opõe a esses mesmos interesses, interesses freqüentemente confundidos também com as doutrinas e até em doutrina convertidos. Mas não acrediteis que significa isto o desconhecimento da sinceridade com que muitos do clero procedem, não, pois muitas vezes choro ante as torturas que em si mesmo sofrem muitos corações puros que entendem como a maior necessidade seu submetimento ao dogma, que, não obstante, repele sua consciência.

A igreja católica, que rapidamente substituiu até os singelos ensinamentos de Jesus, resultado foi de alianças do espírito velho com o espírito novo e seu culto foi antes uma adaptação do culto idólatra dos gregos e dos romanos principalmente que das idéias chegadas da Judéia. A obra dos nazarenos que não admitiam nenhuma representação mundana das cousas celestes, ficou portanto quase anulada, detrás das práticas formulistas das religiões dos gentios. Estas alianças foram em seu tempo mais que uma trégua benéfica no meio da luta cruel entre a religião do Estado, que pretendeu imperar pelo sangue e o fogo, e as doutrinas estrangeiras que lhe opunham a resistência passiva da humildade, da resignação, do perdão e de devolver bem por mal, que foram em seu tempo um sensível progresso nas idéias religiosas dos pagãos que, sob um nome novo e com alterações pouco profundas de seus ritos, ganharam tudo o que dos ensinamentos do Messias vedes no catolicismo. Certamente, são estas cousas muito complexas para encontrar solução em tão singelas palavras, mas crede-me que isto comporta o essencial no acontecido. Posso também assegurar-vos que os melhores espíritos dentre os que povoam vossa Terra rodearam a nova bandeira, emprestando todo seu decidido apoio às doutrinas que cobiçava.

Foi portanto o cristianismo, que não se chamou assim a princípio, um grande progresso para os povos do Ocidente porque era um convite enérgico contra as práticas e leis de favor para com os poderosos e de opressão contra os deserdados, práticas que acostumavam o homem ao egoísmo, à injustiça e à prepotência, envolvendo-o ao mesmo tempo em idéias e em sentimentos despidos de toda a elevação e somente cheios desse apreço de si mesmo que é próprio dos néscios e dos cegos à luz que do céu baixa sempre para os homens de boa vontade, que são humildes, porque vêem-se pobres de tudo o que unicamente pela graça lhes é dado. O homem cordato não deve portanto ignorar o seu nenhum valor e que somente a humildade lhe abre os olhos para ver, com certeza, o caminho que há de seguir e o trabalho que há de fazer para seu melhor merecimento nas cousas que de Deus vêm e que para Deus conduzem, pelo adiantamento do espírito.

Longe estamos, na verdade, dos ensinamentos e da influência trazida pelos nazarenos da Judéia até à Grécia e Roma, ensinamentos de uma mansidão e humildade muito contrárias ao espírito guerreiro e vingativo dos romanos especialmente. Em substituição do que Jesus dissera “os primeiros serão os últimos e os últimos os primeiros”, estabeleceram-se jerarquias na própria igreja que se disse de Cristo e interpretaram-se as palavras do Messias contra o espírito por ele demonstrado, que de humildade e de caridade mais que tudo estava impregnado, rodeando-se a religião e o clero de toda a suntuosidade, de todo o ouro e de todas as riquezas que se pôde. Consagrou-se o sacerdote com o poder de perdoar todos os pecados, por grandes que fossem, e com o outro, maior ainda e mais incompreensível, de converter o pão e o vinho na carne e sangue do que se chamou o cordeiro pascal, sem deixar de ser vinho e pão, porém passando a ser na realidade a mesma carne e o mesmo sangue de Jesus, com todas as suas propriedades.

As doutrinas do Messias deixaram de estar assim com eles certamente, para esconderem-se outra vez entre os pobres e os deserdados, entre os humildes, entre os que a Deus somente elevam seus corações em demanda do amor que os vivifica e que unicamente dele vem. Acreditais, porventura, que a ação física do que chamado foi Eucaristia, e por mais que freqüentemente a fé a acompanhe de um elemento também moral, acreditais, porventura, que sua ação ao lado do perdão dos pecados, tão facilmente obtido e sem intervenção das vítimas, será de algum proveito real para o espírito? — Só o será quando signifique um sacrifício, um mérito real para o crente que de boa-fé fez um esforço em tal sentido, mas de maneira alguma, por esses meios enganosos e contrários às minhas palavras, poderão alguns adquirir posição mais fiel e segura, para alcançar a sua salvação, que os chamados hereges pela igreja católica, apesar de encontrarem-se geralmente eles mais próximos que ela dos ensinamentos de Jesus.

Tende bem fixo sempre no entendimento vosso que só o amor foi a base e também o objetivo dos ensinamentos de Jesus, pelo que eu vos disse, que “só pelo amor será salvo o homem”.

Que há, pois, de amor no tratamento que se dá a Jesus com a eucaristia, renovando sua dolorosa paixão e convertendo seus despojos em alimento dos fiéis? — Que há de amor na obrigação e necessidade que se impõe ao crente de receber o perdão de suas faltas unicamente por intermédio do sacerdote?

— Nada há pois nisto que se relacione com meus ensinamentos e tende a certeza que jamais teve Jesus a idéia destas cousas quando, sempre pelo contrário, ensinou que todos iguais éreis perante o Pai, e que agradável era-lhe o ouvir as vozes de suas criaturas elevando-se em demanda de sua paternal proteção. A oração que chamais dominical não saiu certamente dos lábios de Jesus que muito orou e muito ensinou a orar, mas eram suas orações de menos egoísmo e materialidade e de maior elevação moral.

A Ceia Pascal, queridos filhos meus, tinha para os hebreus elevada significação de confraternidade com o Senhor. Com dificuldade poderia definir-se a feição peculiar com que assim a alma do povo a consagrava, sem muito cuidar-se da austeridade com que oficialmente a cercavam, pelo que recordava a reconquista da perdida liberdade do povo de Jeová subjugado pelas armas egípcias, que o mantiveram sob largo cativeiro. Mas o fraternal entusiasmo da família hebréia novamente escravizada por armas estrangeiras, encontrava nesse ato oportunidade melhor para as expansões da alma popular. Se, pois, cheios eram esses momentos de religiosas evocações, mais ainda transbordavam de sentimentos de confraternização. Não poderia dar-se portanto melhor oportunidade para as elevadas manifestações das doutrinas de Jesus que são, do próprio amor, a expressão. E certamente, os que a essa ceia se aproximaram e com esses sentimentos o fizeram, ao comer o pão, pão de vida eterna comiam, e ao beber do vinho, vinho de eterna vida bebiam, minha própria carne comiam, pois, e meu próprio sangue bebiam, entrando na própria natureza do Pai, como eu vos disse, porque o princípio e o fim e o meio e tudo, no Pai se encontra compreendido.

Mas não busqueis nos atos materiais dos homens a sua verdadeira essência, porquanto sofre ofuscação a mente, muitas vezes, e é levada a atos em aparência incompreensíveis como o de quem traga a hóstia consagrada, crente de que traga a Deus e está convencido de fazer obra boa assim. — Esse homem obra bem em sua consciência e, freqüentemente, a preparação para esse ato, que ele classifica de santo, implica em uma verdadeira e encantadora purificação, que oxalá tivesses tu, que fazes motivo de zombaria dele, meios com que substituí-lo.

Assim também não acrediteis que a paixão, que não encerra uma estrita justiça, pode ter entrada no coração de Jesus que é um igual para com todos seus irmãos e cuja felicidade é somente a que aspira com todas as suas forças. Quanto vos disse, a verdade há de ser portanto, e isto é o que desejo fazer-vos observar, já que muitas vezes se tem invocado o espírito de Jesus para expulsar novamente os mercadores do templo; crede-me, pois, que entre esses mercadores há ainda muito mais virtude, muito mais grandeza de alma e elevação de espírito que entre vós e nas faustosas habitações levantadas por vossa ciência tão limitada, como orgulhosa e digna da maior lástima. Honrai, pois, ao Messias, com a aceitação de suas palavras que a estrita verdade encerram; honrai-o com o cumprimento do que vos é necessário cumprir para com o Pai, elevando diretamente a ele vossas orações, porquanto nenhuma intervenção estranha vos é necessária para o cumprimento do que ao Pai é devido e porquanto assim também vos hei ensinado. A maior das orações é aquela que o coração mesmo traduz, sendo os sentimentos que comovem o coração os que melhor o Pai compreende. Na sinceridade da intenção, no esforço, no bom desejo, já a oração está que ao Pai agrada. No entanto, bom é que consulteis o recôndito de vossas consciências, quando vos acalorais na defesa do que tomais pela verdadeira doutrina, para ver se não estais faltando com a caridade no mesmo momento em que como seus defensores vos apresentais, pois observei em mais de uma ocasião, sacerdotes do culto protestante e católico, sinceros e crentes do que ensinavam, receberem em silêncio e com humildade os ataques dos que se apresentavam como defensores das idéias novas, da luz, do progresso, chamando obscurantistas a seus contrários, e imputando-lhes, sem conhecê-los sequer, todos os vícios imagináveis, os quais, entretanto, em maior quantidade e mais encobertos, neles mesmos se encontravam; vendo finalmente que os tais sacerdotes não abandonam sua calma e humildade, dizem-lhes que tudo é feito por hipocrisia.


Poucos espíritos há, na verdade, como os apontados entre os sacerdotes do culto protestante e do culto católico, porém muito mais raros certamente, se algum há ainda, hão de ser os encontrados entre aqueles que se chamam liberais e que o são no sentido de romper toda a cadeia que seja um estorvo para a conquista de tudo o que os deleite ou lhes convenha. Estes liberais que nem sequer do sentimento religioso têm uma idéia, espíritos jovens são que muito pouco ainda têm caminhado pelas vias do progresso e seu próprio orgulho prova é do atraso de seus espíritos; inimigos demonstram-se eles de todo o sacerdócio, não por fazer guerra contra o obscurantismo, senão porque toda a religião freio é sempre para o vício. Assim, pois, em toda a cousa e a todo momento é sempre o espírito o que deveis buscar. Quando tratardes, portanto, de explicar-vos as cousas de minhas doutrinas ou das que se me atribuem, observai principalmente se a idéia achada encontra sua adaptação com o espírito dos ensinamentos de Jesus. Facilmente vereis que o que se diz da confissão, da eucaristia, do inferno, etc., não encontra verdadeiro lugar no meio dos ensinamentos do Messias.