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quinta-feira, 24 de julho de 2014

CAPÍTULO XVII – 2ª Parte – Livro: Vida de Jesus ditada por Ele Mesmo. A família e a fraternidade universal. As doutrinas de Jesus sobre este particular.



Se humanamente hão se ser consideradas as cousas, poderia crer-se que as doutrinas de Jesus se haviam de muito antecipado ao tempo que lhes fora oportuno, porquanto agora mesmo não compreendereis o amor mais além do círculo de vossos parentes e amigos. Se muito se observasse no coração vosso, ter-se-ia ainda de chegar à dúvida de se amais realmente alguém além de vossa própria pessoa. Quando, pois, Jesus dizia que todos os homens são irmãos e que deviam portanto afeto uns para os outros, como membros de uma mesma família, colocava-se na posição de um iludido desde que sem cessar via-se o homem em guerra contra o homem, muitas vezes por mesquinhos interesses, dominando entre eles a mentira, as desconfianças e o egoísmo apropriado certamente para desunir os homens, jamais para constituir família entre eles. É por isso justamente que o Messias era pródigo na repetição desta parte essencial de suas doutrinas, dizendo:

“Justo é e santo, o amor que prodigalizais a vossos pais, mas na   verdade vos digo que o Pai Universal muito acima há de ser amado que o pai de uma só família humana. E em verdade também vos digo que se justo é o amor entre os irmãos desta família humana, justo é também que os irmãos da família universal sejam amados acima dos irmãos dessa única família humana, porquanto a família universal é permanente, o Pai Universal é também permanente, e os irmãos desta família universal são também para toda a eternidade; ao passo que a família humana e tudo o que a ela se refere, é transitório, como tudo o humano é transitório. Deveis, não obstante, ensaiar vossos sentimentos na família, sendo que quem não ama o pai e a mãe como há de amar o próximo?

“Vós todos sois, pois, filhos de Deus, antes que de vossos pais e o  último de vós há de chegar a ser grande por meio de seu trabalho.

“Faz-se maior festa na casa do Pai por entrar nela um de seus filhos  recém-trazidos ao bem, que pela perseverança dos justos.

“O amor de Deus inspira o amor das criaturas que são a obra de  Deus.

“Os que muito tenham amado porque muito têm vivido e sofrido,  superiores chegam a ser do círculo estreito das afeições de família; eles hão de ser os porta-vozes do Messias, abandonando todo o laço da carne para irmanarem-se com ele no Pai. Felizes dos que assim compreendam minha palavra que não veio para edificar sobre o restrito senão sobre o que dá vida eterna e é da vida eterna”.

Compreendiam meus ouvintes o significado contido nestas palavras? Não o compreendiam sem dúvida e por isso, justamente, ele não vos foi transmitido.

Mas, ainda assim, com o que se dá como tendo sido dito pelo Mestre, chega-se contudo a compreender: Que o amor há de ser a base de uma sociedade bem constituída.

Que os laços carnais da família hão de deixar-se de lado quando se trate de toda a família humana para a qual a todos vos liga o dever, enquanto que a cada membro somente de cada família, liga o dever particular no seio da mesma.

Mas a essência verdadeira do ensinamento permanecia oculta para esses pobres entendimentos e é esse justamente o motivo por que, na tradição que vos chegou de minhas palavras, não ressalta patente essa essência; falta assim o verdadeiro espírito do que foi dito por Jesus.

Falando-lhes dos homens, era de sua condição permanente de espíritos do que entendia falar. Assim, portanto, é de todos formada a família dos espíritos, sendo também eterna porque os laços da matéria se destroem, enquanto que nada é a morte do espiritual, senão a volta à vida. Quanto maior é o adiantamento dos espíritos nas cousas do Pai, mais garantidos se encontram entre os laços do sentimento e da luz da alma, ligados por eles dentro da própria condição que esse mesmo adiantamento lhes deu e unidos a seus semelhantes tanto mais estreitamente, quanto maior é a atração do carinho e das afinidades que arrastam aos diversos núcleos de espíritos para rumos também diversos, ainda que sempre dentro da família comum, que formam todos os espíritos. Assim, pois, só transitória é a condição do espírito que tomou um corpo e, formando famílias carnais, consegue nelas a formação de laços espirituais, que são os do amor, os que persistem depois da morte do corpo, ligando-o melhor, dentro da família espiritual, que é o objetivo, enquanto que a carnal constitui apenas um meio.

As condições da família carnal encerram os altos propósitos do Pai, que, mediante elas, sabiamente fazem brotar os mais belos sentimentos entre os esposos, entre pais e filhos, entre irmãos e irmãos, transformando os ódios, momentaneamente ocultos pelo véu da matéria, em estreitos laços de afeto que vão depois entrelaçar os membros da família espiritual em pontos em que a recordação de ofensas ou o desejo de vingança deixaram manchas de obscuridade no meio de campos de luz.

Nem outra cousa nisto se encerra senão o que outras vezes simplesmente disse: “Na verdade, na verdade vos digo, que só o que renascer de novo verá o reino dos céus”. Porém tampouco nesta simplicidade fui compreendido.

Encerra-se sem embargo nisto, a chave para o porvir da Humanidade, na vida eterna que lhe está reservada por toda a eternidade. É portanto na fraternidade
universal sobre o que o espírito há de repousar, encontrando nela o fim dos tropeços na rota e sobre ela a base eficaz para a sólida edificação de seu porvir, como anjo de luz, mensageiro do Senhor.

Irmãos meus, vede no que ficou dito a sublime religião de Deus que a todos alcança, inundando de luz vossas consciências e indicando-vos o caminho para a felicidade, pelo cumprimento da lei de justiça, que integralmente se traduz na lei do amor, porquanto sendo Deus a justiça é também o amor e é no amor universal onde toda a justiça repousa e tampouco há amor fora da justiça.

Ela constitui a religião universal que a todos alcança e a todos está destinada a elevar para o Pai, que vos manda procurar o caminho da felicidade mediante a liberdade de vossa alma que se consegue pelo desprendimento dos gozos materiais para vivificar no espírito o desejo do bem, a aspiração para a verdade e o domínio absoluto sobre tudo o que é da carne, humilhando vosso corpo para obrigá-lo a que vos sirva unicamente como instrumento, jamais como senhor de vossa vontade e de vossos gostos.


Desprezai as dores passageiras da carne em benefício dos gozos verdadeiros e eternos do espírito. Tudo passa na vida humana com rapidez vertiginosa, somente se recolhe o bem que se faz e tudo o que dá engrandecimento à alma.

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