Já vos disse e vos
tenho repetido muitas vezes, que minha missão não está terminada e nunca
tampouco foi interrompida, pois sem cessar, enquanto vivi no meio de vós, dela
me ocupei com o ardor de que somente Jesus era capaz e quando me vi no espaço
livre das cadeias da carne e senhor de todas as minhas faculdades, com mais
clareza ainda pude avaliar a grandeza de minha obra e a ela continuei
consagrando todo o poder de minha alma ardente.
Muitos corações me
acolheram desde o princípio, pois minha morte abriu os olhos de muitos, sendo
isto o resultado do que me havia proposto ao aceitar a morte que bem podia ter evitado,
como já disse por outro conduto¹
para dar testemunho da verdade de meu apostolado.
Muitos deste modo
falavam, entre a gente sincera e de bons sentimentos: “Um homem de quem não
há recordação de jamais haver feito mal a ninguém e que somente de ensinar o
bem e de praticá-lo se ocupava, perdoando até aos que lhe deram morte horrível
e ainda pedindo a seu Deus por eles, não pode ser senão outro Deus, porque
homem nenhum da Terra é capaz de tanta grandeza”.
Não poucos cérebros à
altura desses pensamentos e não poucos corações, elevados de sentimentos nobres
iguais a esses pensamentos, iluminaram com ele, desde os primeiros momentos de
minha partida, o vasto campo do porvir que o aguardava à religião do amor; com
a qual o Messias viera à Terra para a redenção humana. Com todo o direito deve
ela chamar-se Religião Universal, e assim é chamada porque nada há tão
universal como o amor, representando ele em síntese toda a obra do Universo inteiro,
pois que a manifestação é do Infinito Amor.
Muito depressa, por
efeito mesmo de minha morte, rodeada dos maiores prestígios viu-se minha
memória de parte dos humildes e dos pobres, de todos os que principalmente
viviam sob o despotismo e a insolência dos ricos e poderosos, que manejavam tudo
sob o império de suas conveniências e caprichos. Se antes, pois, chegaram
minhas doutrinas a formar a religião de todos os pobres, de todos os humildes e
de todos os deserdados que a conheceram, o prestígio de meu martírio e de minha
morte deu-lhes depois ascendência sem limites entre a humanidade toda enferma,
que enferma é toda a vossa mísera humanidade. Chegou-se, portanto, a considerar
o Messias como a vítima mais inocente e de maiores afetos, pelo cruel
sacrifício feito por ele em aras do cego fanatismo e do mais brutal egoísmo dos
sacerdotes que queriam continuar gozando de seu império sobre as ignorantes massas
populares. Foi assim consagrado pelas multidões como a representação verdadeira
do amor, o escudo dos fracos, o protetor dos perseguidos, o defensor da
inocência, o amparo dos desfalecimentos, o consolo para os que sofrem e a
esperança para os caídos no erro do pecado. Uma intensa corrente de simpatia
foi estabelecendo-se paulatinamente para os que o haviam acompanhado em seus
trabalhos, haviam escutado sua palavra, ensinando-a também sob a própria
direção do Mestre.
Decorrido pouco tempo
da morte de Jesus, a natural perturbação que se apoderou da pequena igreja, a
dor e o terror de seus membros ante o horrível, embora previsto desenlace da
obra levada a cabo com tanto sentimento e com tanto afeto para os homens, converteram-se
em um fogo intenso de apostólica unção que chegou a vivificar todas as molas da
pequena comunidade, convertendo a cada um de seus membros em um gigante da
idéia, em um herói para o seu apostolado e em um mártir capaz dos maiores
sofrimentos pela religião de Cristo, pela verdade de Cristo e pelo amor de
Cristo.
Se não foi repentina
a mudança ante os olhos profanos, quase, pode dizer-se, que o foi no meio da
Comunidade. A obra exterior devia necessariamente depender de diversas circunstâncias
que exigiam preparativos difíceis de afrontar para os que repentinamente haviam
ficado sem chefe visível. Eu disse: chefe visível, o que
implica na existência conhecida de um chefe invisível. Eis justamente a causa
da mudança radical, que pouco a pouco se deu a conhecer fora do círculo dos
apóstolos, pondo-se em evidência depois em toda a Judéia e estendendo-se também
pelo Ocidente. É que as manifestações do Messias, tão depressa o permitiram as
condições de seu recente regresso à vida dos espíritos, foram de tal maneira
tão continuadas e tão cheias de fé, entusiasmo e energia, que seus discípulos
viram-se desde logo lançados para uma intensa atividade apostólica, cheios eles
também de fé na palavra de quem lhes dera provas tão evidentes do conhecimento
das cousas que havia colocado entre suas mãos, e de tudo o que com elas se
relacionava, no presente, no passado e no porvir; porque realmente, havia-lhes
anunciado tudo o que havia de acontecer e também as cousas que com antecedência
haviam preparado o advento do que sucedeu enquanto Jesus viveu entre os homens
e o que havia de acontecer depois de sua morte.
Tudo isto nada tinha
de milagroso, pois outra cousa não era mais que o fruto do conhecimento que
Jesus tinha dos homens e de sua história, auxiliado também pela clarividência
própria de todo o espírito de minhas condições.
O que principalmente
foi digno de nota era o entusiasmo com que as novas doutrinas se propagavam
entre os pagãos melhor que entre os hebreus. Entre estes, resistências maiores encontrou
o espírito dos ensinamentos do Messias, que levava um cunho de liberalidade e
indulgência pouco adaptável ao apego que da lei tinham os verdadeiros filhos do
povo de Jeová. Da nova doutrina somente com grandes dificuldades aceitavam um
ou outro preceito que não tinha harmonia com a Bíblia, encerrando-se neste que
dito foi por Jesus: Eu não venho destruir a lei, senão confirmá-la.
Palavras pela necessidade do momento mais certamente ditadas que pela intenção
do Messias.
Assim pois, entre as
populações dos pagãos, no meio das classes inferiores principalmente, a nova
revelação teve grande acolhida, conquistou adeptos entusiastas e defensores
valorosos que venciam todos os obstáculos para o maior conhecimento do que
entre eles se chamava a boa nova.
Deste modo sem demora
das classes inferiores, a palavra do Filho de Deus, morto sobre a cruz para a
salvação do homem, encontrou eco abundante e decidido nas esferas mais elevadas
desses povos pagãos, e seu espírito de amor, de humildade e de mansidão foi
infiltrando-se no meio dessas sociedades cansadas já de sua própria corrupção,
de suas discórdias permanentes, de seus egoísmos sem limites, de seus ódios
implacáveis e do caos cada vez mais ameaçador e profundo para o qual se viam
arrastados.
Foi então quando o
espírito velho, assustado pelo avanço das novas idéias, se levantou em defesa
dos interesses que representava e que, filhos da usurpação e das violências,
apoiados na opressão e sustentados pela injustiça, viam-se perigar diante do avanço
da onda do espírito novo, que de baixo vinha subindo e engrossando, apesar da
resistência permanente que lhe opunha o próprio instinto de conservação social.
Começou assim uma luta constante e sem tréguas, ainda que sem violência, contra
os nazarenos. Eram alvo de burlas contínuas, não se pagavam os serviços de suas
ocupações, quase sempre humildes, e negava-se lhes justiça perante as
autoridades, porque todos julgavam lícito testemunhar contra eles; depois
começaram a encarcerar-lhes os predicadores que nas praças e nos caminhos
sempre atraíam a atenção do povo que às vezes os rodeava em grande massa, distraindo-o
de suas tarefas normais, dizia-se, com doutrinas opostas à tradição e aos bons
ensinamentos. Outras vezes provocavam discussões e fazia-se intervir a
autoridade, que começou também a agredir alguns predicadores, por causa de desordens,
dizia-se; até que finalmente acabou por produzir-se o choque entre o espírito
velho e o espírito novo. Foi o choque da força com a resistência passiva.
Venceu a resistência passiva; mas em verdade vos digo que a pessoa de Jesus se
manteve alheia a esse sacrifício injustificado de tantas vidas, vítimas não de
meus ensinamentos, senão de seu próprio fanatismo. A natural simpatia colocava-me
ao lado dos fracos e dos perseguidos e era intensíssima a minha dor ao
contemplar o martírio dos que morriam pelo nome de Jesus.
Não, irmãos meus,
essa não é a virtude, não são esses os ensinamentos do Messias. Sede fortes na verdade,
sim, e mais fortes ainda nas boas obras; preferi a morte antes, que manchar
vossas consciências com más ações; porém, perder o precioso dom da vida que vos
foi dada para vosso próprio progresso, somente por um capricho de palavra; é um
gravíssimo erro que faz das vítimas novas vítimas no espaço, pelo reconhecimento
do erro cometido.
Podeis imaginar quão
triste espetáculo era para mim a prolongação, neste lado, das sangrentas cenas
que enchiam de vítimas os anfiteatros. Esses pobres seres, no meio de uma
permanente e dolorosa tensão de espírito, enchiam o ambiente de quadros
tristíssimos, no qual não era possível a seus protetores levar-lhes um consolo
e um auxílio eficaz, porquanto tomavam suas palavras por insinuações do espírito
do mal, tal era o fanatismo que os dominava. Toda a idéia que se procurava
levar-lhes, com o objetivo de lhes dar luz a respeito da sua situação, era
rechaçada como tentação infernal.
Inútil era todo o
esforço, pois somente o tempo e a alguns unicamente a volta à vida em um corpo
material, conseguiu apagar por completo tão perniciosa obsessão.
Prevejo a dúvida em
alguns dos que isto leiam, pois muitos crêem, em sua simplicidade, que devia
necessariamente aguardar a felicidade aos que alcançam a coroa do martírio. Acreditais
porventura que as leis divinas possam sofrer transgressão pela temeridade dos
que, na certeza de alcançarem a felicidade eterna por meio do momentâneo
sofrimento da morte material, entregam sua cabeça ao verdugo ou seu corpo ao tormento
ou às feras? Acreditais acaso que a eterna justiça há de curvar-se diante da
sedução dos que se dizem seus campeões pela defesa que proclamam fazer de Deus
e de seu culto? — Oh! —Não! — Não confundais os atributos de Deus com as
fraquezas de vosso caráter. Não pretendais levar ao Infinito o que só é filho
do reduzido papel que desempenhais na limitadíssima vida terrestre.
Não, não; Deus não se
curva perante nenhuma classe de lisonja, não tem parcialidade nem faz exceções.
Suas leis são eternas e imutáveis, e é tal a sua estrita justiça, que cada
obra, cada esforço, toda a intenção tem como conseqüência o que há de ser seu próprio
prêmio ou seu próprio castigo.
Grande e meritório
teria sido o sacrifício dos mártires se esse sacrifício tivesse sido
previamente meditado e examinado com um objetivo benéfico, se ele tivera sido —
por que não dizê-lo? — como o sacrifício de Jesus que aceitou a morte, não com
a perspectiva de um bem maior para si mesmo no qual nem sequer sonhava, porém
com a completa certeza e plena consciência de que unicamente nela repousava o
triunfo de sua doutrina, a qual era por sua vez necessária para a salvação do
homem. Eis pois, como as cousas devem ser olhadas e consideradas. Tudo há de levar
sempre o propósito da verdade e do bem, jamais as intenções egoístas da própria
pessoa.
Agora, em sua nova
manifestação do Messias entre os homens, têm-se tornado indispensáveis e
urgentes as aclarações que a respeito de seus ensinamentos, tão desfigurados e
tão mal compreendidos, vem trazer aos sinceramente desejosos da verdade e aos
que certamente humildes são de coração, o qual converteram no santuário da fé.
A fé que de Deus vem e a fé que para Deus vai.
A fé que dos homens
vem, entre os homens fica. Não é a religião que se professa a que forma o
sentimento do homem, senão que o próprio adiantamento deste determina a
qualidade de sua fé e a elevação de seus sentimentos. Por isso há homens bons
em todas as religiões e em todas há consciências limpas e corações sinceros. Estes
são os que de fato ficam consagrados como representantes dos meus ensinamentos
sobre a terra, segundo o que se disse: pelo fruto conhecereis a árvore.
Todo o ser alcança da
verdade o que seu próprio adiantamento comporta e sempre há ao seu alcance
muitas mais verdades que as que ele pode possuir. Portanto, unicamente o criminoso
desejo de predomínio brutal e egoísta tem podido sobrepor umas categorias de
homens sobre as outras, impondo-lhes o que hão de crer e o que hão de executar,
quando somente de Deus é o encargo de, desde toda a eternidade, conduzir por caminhos
de luminosidades crescentes para a Eterna Luz, as humanidades por ele criadas e
por todo o infinito espalhadas. Em seu nome, pois, é que para vós volve o Filho
de Deus para dizer-vos: Elevai-vos em vossas alianças para com Jesus até Deus mesmo,
pelo caminho que vos tem indicado e do qual em vossas próprias consciências
guardais a bússola que diretamente vos terá de conduzir somente consultando-a.
Elevai-vos, mediante a fé e o amor, acima das cousas humanas as quais deveis
considerar unicamente como meios de vosso adiantamento.
Jamais ensinou Jesus
o desprezo pelo corpo, mas sim o desprezo pelas imposições que da natureza
carnal resultam para o espírito. O corpo, meio é para a reabilitação e para o
adiantamento do espírito; deve-se portanto cuidá-lo para tirar dele as maiores
vantagens possíveis para a personalidade da alma, que é o essencial, o único
que é realmente, pois que tudo o mais são formas passageiras, amparadas, quando
de corpos vivos se trata, pela mesma função da vida, porém destinadas a
desagregarem-se tão depressa esta desapareça.
Certamente foi dito: “Se
o teu olho direito te escandalizar, arranca-o e atira-o para longe de ti;
porque melhor te é perder um de teus membros do que todo teu corpo seja arremessado
ao fogo do inferno.” “E se tua mão direita te escandaliza, corta-a e atira-a
para longa de ti...”
Mas estas cousas e
outras foram ditas e compreendidas como uma força de expressão, não realmente
como conselho que se devia cumprir e para o qual não teria havido motivo,
porquanto nem o olho, nem a mão, senão a pessoa era a culpada do fato. O modo
de falar desses tempos comportava com muita naturalidade essas expressões e é
grave erro o dos que põem seu pensamento na letra antes que no espírito de meus
ensinamentos, apesar de que muito pobre teria sido minha predicação e meus
ensinamentos se todos eles se encerrassem no que chamais Evangelhos. Não pouco do
aí dito não o foi pelo Messias e muitíssimo mais por ele ensinado falta
completamente em tais escritos, os quais, por outra parte, somente se referem a
um curto tempo de minhas tarefas na vinha do Senhor, entretanto elas muito mais
larga duração tiveram, mais larga extensão alcançaram e mais fortemente
repercutiram nas longínquas povoações dos gentios.
As comunicações que
se faziam então entre as povoações não eram tão escassas como supondes,
mantendo-se assíduas relações de comércio e políticas entre Roma e Jerusalém.
Erro há, portanto, ao supor-se que meus ensinamentos recém chegaram ao conhecimento
dos romanos depois de minha morte. Entre a gente mais pobre e humilde, já
alguns haviam levado a palavra do que se dizia enviado de Deus e em cujo nome
prometiam aos deserdados da Terra a grandiosa herança do reino dos céus,
asseguravam justiça aos oprimidos, proteção celeste às vítimas das injustiças humanas
e eterno galardão de felicidade sem fim aos que sofressem perseguição pela
defesa da verdade e da justiça, convertendo-se em apóstolos da boa nova.
Mas isto, muito pouca
repercussão teve certamente ainda entre a gente do baixo povo romano, demasiado
áspero de caráter e duro de costumes para poder formar ambiente favorável às
doutrinas do amor e do perdão sem limites. Mas não obstante, entre os servos e
os escravos principalmente, algum caminho fizeram já antes de minha crucificação,
esses ensinamentos.
Agora, o que difícil
vos será compreender é o modo desta nova vinda do Messias entre vós. Ela não é
mais que o cumprimento de minha promessa que foi feita certamente aos homens,
mas não nos termos, inteiramente exagerados e muito longe daquilo que aparece
nos Evangelhos. Isso, muito depois escrito foi de minha morte, por um diácono
dos muitos que havia já, que teve diante de si anotações truncadas e confusas
das quais só ficava em substância a promessa de minha vinda no meio do esplendor
e do entusiástico alvoroço do triunfo, sobre formosas nuvens de diáfanas
luminosidades que limitariam para sempre o reinado das trevas, preparando seu
completo desaparecimento da Terra, assim como o domínio definitivo da palavra
de Deus e de sua lei no meio da humanidade terrestre, que seria chamada, por sinais
evidentes dos novos tempos, a participar amplamente da vida celeste.
Mais ou menos essas
tinham sido as palavras ao redor das quais, em mais de uma ocasião, haviam
girado minhas dissertações, algo confusas geralmente, referentes à promessa que
fizera de minha nova vinda entre os homens, a que haveria de ser em condições
muito diferentes das desses momentos. Em verdade, oferecia-se-me o porvir com
tal clareza diante de meus olhos que não o percebe mais claramente um espírito
puro, livre no espaço, porém oferecia-se-me com o mesmo erro na apreciação do
tempo (erro com relação a nossos cálculos) que é próprio dos espíritos em suas
relações para com as cousas temporais. Para nós, o tempo não tem medida e só
vemos a ordenada sucessão dos fatos. Tudo se vê ligado em perfeito encadeamento,
porém sem idéia de tempo. Portanto, os acontecimentos futuros estavam muito
próximos para minha vista. Por isso dizia freqüentemente a meus discípulos: “Em
verdade, em verdade vos digo, que todas estas cousas sucederão dentro desta
geração e muitos de vós as vereis”. Mas meus presságios não são tais como
aparecem e se bem que minha linguagem era em extremo idealista e poética, cheia
de figuras atrevidas, de comparações hiperbólicas e de brilhantes afirmações,
caldeadas por um intenso entusiasmo, uma só vez saiu de meus lábios a afirmação
de que eu desceria sobre uma nuvem à direita do Pai.
De mais a mais, ao
que eu claramente queria referir-me é ao atual estado de cousas, em que uma
brilhante nuvem de luminosas promessas no sentido de um porvir próximo, em que
o triunfo do direito, o predomínio da verdade e o desaparecimento dos ódios e dos
rancores sejam uma realidade preparando o domínio definitivo da lei do amor,
quer dizer, de Deus sobre a terra. Os tempos atuais representam a luz, ante as
trevas que então me rodeavam; a mansidão, ante as asperezas muito maiores
daqueles homens; a verdade, ante o atraso, inconcebível agora, dos que me
escutavam; a liberdade, frente à escravidão desses povos sob os cruéis caprichos
dos que mandavam, e a igualdade, frente às irritantes injustiças com que as
leis protegiam uns em prejuízo de outros.
Tempos são estes,
comparados com aqueles em cujo meio então se desenvolvia o Messias, que
autorizam amplamente as previsões e a indicada promessa de Jesus, a qual vem
cumprindo-se desde algum tempo mediante numerosas manifestações efetuadas em algumas
localidades do planeta por meios análogos ao que me serve atualmente e do qual
estou plenamente satisfeito.
É tal a facilidade e
a exatidão de minha manifestação por este meio, que o aproveito para declarar
categoricamente que a obra intitulada Vida de Jesus, ditada por Ele mesmo à
médium X é realmente obra de Jesus, exata quanto pode ser uma obra medianímica,
o que quer dizer que, se bem deve padecer de algum defeito, principalmente de
forma, pelo fato de ter que me servir de um cérebro alheio, é em grande parte
tão exata como se diretamente eu mesmo a tivesse escrito.
O que resulta algo
inexato nessa obra é o referente aos milagres que, se bem eles jamais existiram
como tais, e nisto diz a verdade, a fama popular afirmava muito diferente
cousa. Aconteceu realmente mais de uma vez que enfermos que tocavam minhas
roupas sararam de improviso e ainda fatos mais assombrosos aconteceram também,
envolvendo o Messias em uma auréola milagrosa que arrastava para ele as
multidões entusiasmadas. Porém, tudo isso não foi mais que efeito da fé intensa
e da confiança sem limites que a palavra de Jesus inculcava a seus ouvintes. O
que o Messias possuía realmente era uma grande penetração que lhe dava a
conhecer com exatidão o pensamento e
sobretudo as intenções dos que o rodeavam, e possuía também algo do que
designais como dupla vista. Isto, unido às aptidões adquiridas para o
tratamento das enfermidades, para o que muito uso se fazia então da imposição
das mãos, contribuiu para dar fundamento à ridícula e reprovável pretensão de
meu discípulo João de fazer prestar ao Filho de Deus o culto que somente a Deus
é devido.
Certamente, as
elevadas alianças, que com a mesma personalidade de Jesus compartilhavam desde
o alto com a grandiosa missão de que ele estava diretamente encarregado, chegavam
às vezes a tanto brilho em suas esplendorosas manifestações, que pareciam até
formar uma só cousa com a Divindade; podia, pois, quase dizer-se que era a
própria mão de Deus a que por si mesma agia nesses assuntos.
Mas, como é possível
renovar agora essa presença do Mestre entre os homens sem que tenha tomado um
corpo mediante novo nascimento no mundo? Eis, pois, que estas cousas acontecem
como foram prognosticadas que haviam de acontecer quando se disse que vossos
anciões profetizariam, vossos jovens teriam sonhos e vossas filhas visões; e o
que foi dito do Espírito de Verdade também com o mesmo guarda relação, porque
não tem ele o significado de uma pessoa só, senão que são os espíritos do Senhor
que vêm por estes meios para restabelecer a verdade; isto é, pois que o
conjunto dos ensinamentos que de Deus vem por intermédio de seus mensageiros
celestes na nova forma de revelação que conheceis² constitui o espírito de verdade, que tudo aclara,
colocando cada cousa em seu lugar. O espírito de verdade está também no
progresso de todos os conhecimentos humanos que veio colocar o homem em condições
de juízo e discernimento muito superiores aos que o Messias encontrou na época
de sua última encarnação sobre a terra, porquanto as revelações sempre têm
lugar de acordo com o progresso do povo destinado a recebê-las.
Somente como causa de
perturbação entre os homens, haveria de resultar toda a revelação prematura;
porém Deus não quer senão o bem de seus filhos e em sua excelsa sabedoria
dispôs que todas as cousas sejam de tal maneira que tudo chegue a seu tempo, quer
dizer, no melhor tempo para o bem que dele deve resultar.
Formam portanto o
espírito de verdade as vozes que do céu vos chegam, trazidas pelos mensageiros
do Senhor aos homens mais adiantados destes tempos, os quais se tornam assim
solidários com o mesmo espírito de verdade, formando todos um com ele.
Meu espírito, em
relativa consonância com o espírito do homem que me serve de intérprete, dita o
que deseja comunicar aos homens, e o outro espírito que eliminou de antemão
seus próprios pensamentos, entregando-se passivamente aos meus, percebe estes
como se fossem os seus próprios e os escreve. A cada momento sua consciência
pretende reagir, porém, como ignora por completo o que Jesus quer escrever,
apenas resultam pequenos entorpecimentos vencidos facilmente pelo perfeito acordo
das duas vontades.
Irmãos meus, amigos
meus, filhos meus, admiremos os desígnios da Divina Providência que permitem a
vosso Messias dirigir-vos e fazer-vos chegar de tão longe a lembrança exata de épocas
muito próximas para mim, porém muito remotas para vós, com o propósito generoso
de iluminar-vos as vias do porvir com as claridades que resultam da perfeita
associação do que antes se vos disse, do que depois se vos disse também e do
que também agora se vos torna a dizer, porque a palavra de Deus é sempre acorde
consigo mesma; assim, pois, a luz de hoje não substitui a de ontem, senão que a
aumenta, e a luz de amanhã não substituirá a de hoje nem a de ontem, senão que
a elas há de reunir-se, aumentando novamente sua luminosidade, porquanto o
passado, o presente e o porvir, tudo é um nas vistas do Senhor para realizar a felicidade
de seus filhos.
¹ Sem dúvida refere-se à médium pela
qual transmitiu a primeira parte.
² O Mestre refere-se ao medianismo, do
qual podem adquirir-se conhecimentos seguros no Livro dos Médiuns, de Allan
Kardec.
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