Se
é certo que toda a doutrina, todas as leis e os profetas, concretizados estão
nas palavras “ama a Deus sobre todas as cousas e a teu próximo conto a ti
mesmo”, não menos certo é que nada de bom poderá buscar-se que do amor não
reconheça dependência. Só o mal ou o interesse hão de estar fora do amor. O mal
por si só o é, mas o interesse filho é do egoísmo.
Assim
também as obras que somente pelo interesse se praticam não elevam o homem e não
outro galardão, mais que suas próprias conseqüências, hão de recolher, no
entanto gelam a alma pelo frio do egoísmo que as inspirou.
Somente
pois as obras pelo amor ditadas enaltecem a alma e dão-lhe grandeza,
abrindo-lhes as portas que à perfeição conduzem, isto é, até o Pai.
A
perfeição no amor, porque é infinita, somente no Pai é compreendida, não outra
cousa sendo a criação mais que o reflexo de seu amor.
O
amor humano cheio de erros é, pois, enquanto que deseja o bem da pessoa amada,
mal entretanto lhe ocasiona muitas vezes, e é porque ainda não chegou ao justo
discernimento do certo e do incerto, do bom e do mau.
Contudo,
também o simples desejo sincero do bem, o movimento de afeto que espontaneamente
move o homem para outro homem para servi-lo em seu interesse e sem interesse
por parte de quem o pratica, já muito caminho andado significa nas vias que
para o Pai, isto é, para a perfeição conduzem. E se esse sentimento ainda e do mesmo
modo sentis para os que bem e para os que mal procedido hajam para convosco,
então mais, muito mais avançados nessas vias vos encontrais.
Oh,
irmãos meus! — Quanta luz ao espírito traz o obrar assim! Quanto o próprio
engrandecimento da inteligência com isto ganha! De quanto o caminho para a
perfeição assim se abrevia!
Já
vos disse, amigos meus, que a nova vinda de Jesus pela razão de sua aliança com
os homens cujos cérebros poderiam servir-lhe de meio e como instrumento de
interpretação de suas idéias na linguagem terrestre, teria de resultar mais
explícita em suas manifestações, mais clara e mais humana em sua forma, não pela
mudança de Jesus, senão pela mudança dos homens mais dados agora à observação
na matéria e aos trabalhos que relacionam o cérebro com o movimento da vida
orgânica, que à contemplação da natureza e à elevação do espírito pelas idéias religiosas.
Ao
mesmo tempo muito mais adiantamento há no presente entre vós e muitas grandes
cousas encontrais em grau de conseguir. Portanto, tudo o que há de dar
engrandecimento à pessoa do homem é útil, somente que nada há de separar-se da idéia
de Deus se o que chamais progresso tal é realmente. A verdade à verdade conduz,
o progresso a progresso maior arrasta; toda a verdade, portanto, e todo o
progresso que apouquem a idéia de
Deus, nem verdade nem progresso são, senão mentira e retrocesso de ouropel
ataviados, como para simular as aparências do bom e do verdadeiro. Acontece
também muitas vezes que a verdade mal compreendida, contra a verdade a luta é
arremessada, e assim somente se compreende que muitos homens no caminho da
ilustração, tenham seguido para a descrença em lugar de elevarem-se para a fé,
que de Deus vem.
Igualmente
o orgulho e a vaidade envolvem o espírito com as trevas da alma e o tornam incapaz
do justo equilíbrio da razão e do sentimento, porquanto, se a verdade dos fatos
descobrem, as harmonias de suas relações não percebem e cegos também permanecem
com relação à luz de suas finalidades.
Mau
companheiro o orgulho é; egoísmo em si sempre traz porque é de sua origem e
ambos são pecados; um, venda para a luz do espírito e o outro, tropeços em sua
marcha, cego e torpe, entravam o progresso. Aquele que verdadeiramente ama,
livre se vê destas misérias.
Sede
portanto humildes de coração, sede mansos e ao mesmo tempo generosos com os que
mal vos querem, devolvendo sempre bem por mal.
Jamais
pode o homem ser inimigo do homem, é somente o atraso o que impele um contra o
outro. Se esse atraso não houvesse, conhecimento teríeis, não de palavras mas
de entendimentos e de sentimento, pois que, entre quem faz o bem e quem o
recebe maiores benefícios colhe o primeiro que o segundo.
Mais
que virtude, pois, conveniência é fazer o bem. Praticar o bem, semear é em
proveito de quem o praticou. Quem mal faz mal recebe, porque semente de má
sementeira e jamais a semente do mau fruto deu o bem.
— Oh,
irmãos meus! Quão feliz me sentiria se tão-somente compreendido me visse!... As
palavras compreendeis, mas não penetra sua essência nas profundidades de vossas
almas.
Vossa
falta de compreensão é em grande parte devida a que julgais das cousas em
relação sempre com a vida terrestre, esquecendo que nesta não há realidade
senão aparências pelo que à pessoa se refere. Já vos disse que a pessoa é a
alma e a alma não a vedes nem sequer no meio do que chamais vida e que morte melhor
é para o espírito, pois que até sua realidade diminuída fica que até a
desconhecê-la chegais e a negá-la, no entanto veste-a um corpo.
Falo-vos
com toda a simplicidade própria da verdade, bem vejo porém que dispostos estais
a encontrar exagero em minhas palavras e isto falta é, porquanto não pode Deus,
nem em muito nem em pouco, enganar-se nem enganar-vos e de Deus a palavra é,
quanto em seu nome seu filho vos traz nesta sua nova manifestação entre os
homens. Crede, pois, que: A personalidade é a alma e que o corpo só à alma
aparências dá, e ao que chamais forma entre a matéria, sem ser realidade
absoluta, também lhe dá.
A
entidade inteligente, vivendo de sua vida própria, livre do que chamais
matéria, manifesta-se com uma envoltura que a circunscreve e que lhe
proporciona maneira de perceber e de manifestar-se; porém, corpo não é
propriamente; podeis como “corpo astral” designá-lo entretanto, chamando
então espírito à alma revestida, e usar da palavra alma quando se fale do
princípio inteligente, sentimental e volitivo do homem, o qual não obstante, sob
forma de espírito (alma revestida) e não de alma, separa-se no ato
impropriamente chamado morte por vós.
Tudo
isto, para dar clareza às idéias que resultam poder abordar assim, com
simplicidade, os problemas mais árduos, justamente porque as idéias tanto mais
simples são quanto mais próximas da verdade estão.
Temos
chegado portanto à definição das novas doutrinas, isto é, à aclaração do que
foi dito, porquanto nada foi dito que certo não seja, mas nada também se disse
que o “espírito de verdade” não devesse esclarecer e ampliar mais tarde,
sendo que o “espírito de verdade” próprio é de cada época, como próprias
são das diferentes idades do homem o que em cada uma delas produz; sem que o
homem deixe de ser o que é.
O
“espírito de verdade” chega assim a constituir como se fosse a
personificação do que em síntese têm de verdadeiro as doutrinas; trata-se pois
das próprias doutrinas depuradas, pelo progresso, de seus erros e imperfeições.
Cada século portanto tem seu “espírito de verdade” superior ao do século
que o precedeu, mas não diferente; como maior é de ano para ano o homem, sendo sempre
o mesmo entretanto.
Na
expressão “progresso” entender-se deve, pelo que à doutrina se refere, a
verdade revelada segundo a elevação do homem em seu adiantamento alcançada.
Refere-se propriamente às manifestações do “espírito de verdade”, que
definitivamente de Deus vem por intermédio de seus Messias, apesar de ignorados
muitas vezes. Assim, pois, muitas são as doutrinas verdadeiras, mas elas devem
ser passadas pelo tamis do “espírito de verdade”, que em cada época, sob
diversas formas, se manifesta aos homens por mandamento divino. Profetas,
Messias, Anjos, Santos, quando verdadeiros são, de Deus vêm e iluminados pelo “espírito
de verdade” falam. Mas a verdade, como quer que seja manifestada e por mais
pura que ela seja, desfigurada resulta sempre no meio do ambiente humano, bem
depressa aparecendo em todas as partes variedades e até contradições, sendo
entretanto uma verdade revelada, e assim tendes e assim tereis por muito tempo
ainda o que comparar se podia com a confusão de línguas na Torre de Babel: — A
obra que a Humanidade há de levar avante é uma... a obra de seu progresso, isto
é: a obra da Torre de Babel; mas em lugar da harmonia dos operários
manifesta-se a conhecida confusão e torna-se forçoso abandonar a obra; porém
Deus, obrando como tal e não como a Bíblia falsamente vos transmite, manda-lhes
um Messias que os ponha em inteligência uns com os outros; a todos, com o fim
de que levem a cabo sua torre, a obra do humano progresso, na verdade e no bem¹.
¹ O homem faz-se não obstante de
desentendido, dando as costas ao único caminho que o Messias lhe apontou como
conducente à sua salvação, quando lhe disse: Só pelo amor será salvo o homem.
Afirma-se, entretanto, que os cataclismos sociais são indispensáveis para o progresso
humano, quando, pelo contrário, somos nós mesmos os que temos preparado suas causas,
procurando cada um de ensinar e de aproveitar-se dos demais. Grandes e
pequenos, ricos e pobres, todos procedem com falsidade e cada qual, no posto em
que se encontra, busca explorar aos demais em proveito próprio. Se os patrões
são tiranos com os trabalhadores, estes, os que chegam a impor-se sobre seus
companheiros, são piores tiranos ainda com seus iguais, que os piores patrões.
Em nossas democracias muito fácil seria formar bons governos, que chegariam às
mais vantajosas reformas sociais, porém o povo, longe de procurar os homens
virtuosos para elegê-los, ri-se deles, apontando-os com o dedo como malucos,
porque os homens virtuosos amam a justiça e não se poderia obter deles dádivas
imerecidas, prebendas injustas, encobrimentos vergonhosos. As palavras verdade
e justiça servem muito bem para encabeçar a revolta sanguinária, a base do ódio
e vingança, cataclismos.
Se atiramos uma pedra para o alto e permanecemos debaixo é fatal que ela nos parta
a cabeça, e assim também são fatais os cataclismos sociais, cujas causas foram preparadas
por nós mesmos. Assim também, com uma má legislação, os homens bons saberiam
viver em paz e felizes, ao passo que com a mais perfeita legislação, os homens maus
viverão em perpétuo motim. O que primeiro havia que reformar não são as leis,
senão os homens, porém isto é precisamente o que se não quer. Contudo, o homem
melhora paulatinamente e quando as hostes do mal acendem a fogueira dos ódios e
das paixões sanguinárias, arrasando tudo a ferro e fogo, não faltam espíritos
do bem que façam ressurgir, do meio mesmo da horrível hecatombe, os
resplendores da verdade e o doce aroma da paz e do amor. — Nota do Sr. Rebaudi
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