Já vos disse, irmãos
meus, que as palavras valem somente pelas idéias que querem significar e que
Jesus unicamente dispõe das palavras guardadas no cérebro humano que se lhe
empresta para instrumento¹ de sua nova
manifestação entre os homens. Insisto nisto porque os homens muitas vezes de
simples palavras fazem fundamento de discórdias.
O que se disse, a
verdade é do que nos próprios espíritos se vê, porém resulta também lógico para
o vosso entendimento, porquanto, como se há de individualizar o princípio
inteligente sem algo que o individualize, separando-o dos demais?
Se esse algo o separa
de tudo o que o rodeia, é porque o envolve e se o envolve é para ele como o
corpo para vós. Isto também, dito está, fora de toda a religião e doutrina, porquanto
a religião unicamente do Pai vem e não falha, um só sendo o rebanho e um só
pastor; porém isto é quanto ao que há de observar-se e quanto ao que para o Pai
é devido em acatamento e adoração.
Convém, não obstante,
conhecer alguma cousa também do modo de existência dos espíritos no espaço para
a mesma inteligência do que à religião se refere, evitando, porém, tudo o que
como doutrina possa dividir os homens, quando a missão de Jesus, antes, agora e
sempre, é reuni-los no amor, reuni-los na adoração de um só Deus e no
cumprimento de suas santíssimas leis. Resulta assim, que todos haveis de ser
uno com Jesus no reconhecimento de um só Deus, criador do Universo e Pai de todas
as criaturas que o povoam; uno com Jesus no amor essencial e maior para Ele e
uno com Jesus no amor entre todos os seres; no qual há de resumir-se o fim das
cousas, porquanto a finalidade é o amor. A própria Criação outra cousa não é
mais que o reflexo do infinito amor divino, isto é: a sua manifestação
permanente. Os defeitos que vos parece descobrir na Natureza, defeitos são de vossa
imperfeita observação; os erros que a cada passo descobris, somente o limite de
vossas capacidades como tais vô-lo representa, e é a obscuridade própria de
vosso atraso o que vos faz descobrir pontos obscuros na constituição do
Universo, tanto moralmente como materialmente. Nada pode haver melhor que o que
existe, saído das mãos de Deus; somente nas restrições, unicamente no finito,
filho dos seres também finitos, é que o imperfeito existe. O desconhecimento de
Deus é entre os homens chegados a certa altura, a causa principal de seu
atraso, porquanto sendo Deus a primeira e a maior das verdades, somente sua negação
representa fechar os olhos à luz para arrojar-se no meio das trevas.
Crede, irmãos meus,
que até suicídio para a alma, se isto possível fosse, significa a descrença
voluntária como sempre é. Crede, irmãos meus, porque Jesus lê nos corações como
em livro aberto assim vô-lo assegura, que a descrença é sempre o resultado de
um esforço do espírito para ocultar a si mesmo uma verdade que se atravessa no
caminho de seus apetites e de seus caprichos. Como se bastasse não ver a luz
para que ela deixasse de existir! Não vos enganeis, filhos meus queridos,
porquanto nada existe fora da verdade e do bem; fora da luz são as trevas, o
caos, o nada.
Abri, pois, vossos
corações às doces aspirações da alma. Abri a arca santa de vossos sentimentos
às ternas influências dos espíritos do bem. Abri os olhos da inteligência, para
que penetrem por eles caudais de luz de verdade. Abri as molas de vossa fé,
para que recebam forças da que do alto desce para os homens de boa vontade.
Abri o campo nobre de vossas naturais inclinações para o progresso, para que
com mão pródiga o beneficie a bondade divina. Abri de par em par as portas de
vossa alma, para que cheguem até ela todos os benefícios para elas criados e
que só aguardam se lhes franqueie o caminho.
Abri a Jesus, irmãos
meus, abri vossos braços fraternos, para que neles se precipite, cheio todo o
seu ser de nobres aspirações para vós, de grandes desejos para vós, disposto
ainda a uma nova morte, se isto for necessário para vós; consagrado enfim por
inteiro ao amor vosso, somente vosso amor e vossa confiança vos pede. Vinde
pois, a mim, para que o Pai vos encaminhe; afastai todo o temor e desconfiança;
ponde em Deus vossas aspirações e em seu enviado vossa confiança. Nada temais
jamais do amor porque ele a essência é de Deus e para ele conduz; mas seja
vosso amor tal como o amor há de ser, sincero e puro, sem dissimulação, sem
reticências, sem cálculo, tal, enfim, como o que eu vos professo no mesmo momento
em que duvidais de mim e me abandonais, porque não vos seduz a simplicidade de
minhas manifestações e porque vos apraz ser, vós mesmos, o conduto obrigado da
verdade, ou recebê-la entre o estrépito e o fausto das vaidades humanas, jamais
dentre a humildade e o silêncio dos que se escudam detrás da solidão, para que
brilhe em toda a sua pureza a palavra de quem vos fala em nome de Deus, com a
mesma autoridade que dele vem, não já com as aparências de autoridade que
vossas cousas têm pelo falso brilho das simulações e dos aparatosos processos
de vossa literatura.A linguagem de Jesus é a linguagem da alma porque de sua
alma nasce e para as vossas almas é dirigida. Elas devem portanto abrir-se ante
seus ternos chamados, se é que em verdade sentem e escutam sua voz, que com
tanta instância e com tanto amor vos chama para o caminho da luz e da vida.
Levantai-vos pois,
amigos meus, até às alturas do sentimento com que procuro iluminar vossos
espíritos e honrai-me com vossa franqueza e confiança para que possais
estabelecer estreita aliança com quem, desde séculos destinado vos foi para vosso
guia e para vosso Messias.
Oxalá vos fosse dado
descobrir o fulgor com que as almas vossas brilham no espaço da luz da alma quando
nobres sentimentos a arrebatam! Não basta a obscuridade da matéria que a rodeia
para ocultar sua radiante beleza, por mais encarcerada que ainda se encontre no
mundo dos sentidos.
Escutai-me pois, uma
vez mais vos suplico, escutai-me com espírito sereno e com a alma livre de
prevenções! — Não blasfemeis contra Deus ao supô-lo de cumplicidade com algum espírito
mistificador para induzir-vos ao erro! — Não cometais tampouco o grave
desacerto de crer que os espíritos do Senhor possam enganar-vos com um nome
usurpado, ainda que isto fosse com o propósito do bem! — Jamais a falsidade
pode servir de pedestal para levantar sobre ela monumento de verdade e de bem!
Sede humildes de
coração e abri vossos espíritos às inspirações que do alto vêm para os homens
de boa vontade e de sentimentos sãos, e me reconhecereis porque eu não deixei
de ser o que era e o que agora vos digo já antes também vos disse. Orai com
perseverança e com fé e lede depois o que aqui está escrito em meu nome para
que não vos suceda que me desprezeis, abrindo em troca as portas de vosso ser à
perfídia do espírito do mal que sem descanso vos espreita. Elevai portanto
vossos pensamentos ao Altíssimo, com adoração, com reconhecimento e
devotamento, para receber a bênção que com toda a sua alma e em nome de Deus
vos dá Jesus.
¹ Segundo uma infinidade de comunicações
de além-túmulo, recebidas todas de perfeito acordo entre si, os espíritos,
valendo-se do mesmo agente ou fluido que lhes dá forma no espaço (o corpo
astral de São Paulo), apossam-se do cérebro do homem que lhes serve como
instrumento para suas manifestações na Terra. Confundem pois seus próprios
fluidos com os fluidos do intermediário, ficando assim de fato na posse do
cérebro deste. O intermediário perde a vontade e a consciência enquanto dura o
fenômeno, porquanto seu cérebro se converteu em laboratório da vontade e idéias
do espírito, sendo o papel do cérebro humano o de dar forma material às idéias,
quer dizer, de conformá-las de acordo com esse mecanismo ideo-orgânico que
materializa as idéias em um conjunto de sons, capazes de serem percebidos
materialmente pelo ouvido humano para impressionar outros cérebros, despertando
neles idéias correspondentes que os espíritos recolhem. — Nota do Comitê
argentino.
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