Como dito foi, a
personalidade inteligente da Criação, dupla é em sua constituição, da alma
sendo formada e de sua envoltura, de cuja reunião resulta assim o espírito.
Palavra é vossa, a de astral e bem poderíeis chamar-lhe astral à envoltura da
alma.
Ter-se-ia portanto a
alma com seu astral formando o espírito. A alma depois, por meio do seu próprio
astral, liga-se com um corpo material especialmente elaborado para ela. Assim,
o trabalho da vida na matéria, ao dar forma a um organismo por meio das leis que
ides estudando, põe ao serviço do espírito um instrumento material, bom para
sua obra no meio da matéria mas ao qual ele mesmo deve ir aperfeiçoando,
enquanto por outro lado adquire o crescimento que por lei orgânica lhe
corresponde. De tal modo é o trabalho do espírito que consegue moldar o corpo
sobre si mesmo, de sorte que, intimamente unidos, resultam como a mão e a luva,
sendo que a luva não cresce e o corpo cresce e recebe o esforço do espírito que
lhe imprime, pouco a pouco, todas as aptidões necessárias para
todas as manifestações de que é capaz. Assim, portanto, o espírito (já sabeis
de alma e astral formado) vê-se estreitamente relacionado com a vida dos
sentidos, mediante os sentidos que lhe dá o corpo, e estes sentidos o
enriquecem com impressões sempre novas que formam o cabedal para seu progresso
no porvir. As particularidades, contudo, que estes fatos comportam e as leis de
que dependem, não é do encargo de Jesus comunicar-vos.
Só lhe corresponde
portanto a verdade dos fatos, como acaba de ser dito e em poucas palavras
também repetido o que segue:
Alma:¹ princípio
inteligente não individualizado, no sentido humano.
Astral:² Não existe
separadamente, somente existe como envoltura da alma, a qual individualiza, no
sentido humano.
Espírito:³ Personalidade
inteligente da Criação, composta da alma e de seu astral.
Homem: É a união do
espírito com uma envoltura material organizada, o que é o mesmo que dizer que o
homem resulta da união da alma com o corpo, mediante o anel do astral.
O dito, certo é, de
absoluta certeza, fora de toda a religião ou doutrina humana. Assim, portanto,
como a verdade é, já antes foi revelada ao homem e o próprio Jesus fê-lo
também, porém os homens eram incapazes ainda de o compreender e resultaram confusões
de idéias por entenderem as cousas de modo diferente uns dos outros, até
moverem-se guerras entre si, as gentes, pela fé revelada, que havia sido
entretanto a mesma para todos.
Assim também se disse
dos nascimentos, que muitas vezes haviam de suceder para cada espírito, até
chegar a todas as cousas que o espírito possa alcançar, a cúspide do melhor, “porque,
como escrito está, quando ressuscitarem dentre os mortos... são como os anjos
que estão nos céus”. Mas antes, como também se escreveu, “necessário vos
é nascer de novo, renascer e tornar a nascer”.
“O que é nascido da carne, é carne; e o que é nascido do espírito, é espírito”, mas “não pode entrar no reino de Deus, senão o que renascer de novo”. Não vos maravilheis portanto do que já antes vos disse: “Necessário vos é nascer outra vez”.
Mas não façais
questão de palavras que transformem o fundo das cousas. Tendes assim, com as
palavras escritas sobre o dito por Jesus, muitos de vós alterado aquilo que
Jesus disse, tanto que até o contrário uma cousa da outra resultou. A vida é
uma, costuma-se dizer, mas da vida da alma pensou-se falar, à qual servem as
vidas carnais como noites da alma, porquanto as faculdades da alma todas
embotadas se encontram, porque tudo percebe, não já com as suas próprias
faculdades, senão por meio do corpo. Assim também, se dais à alma outro
significado como alguns dão da própria manifestação da vida da matéria, isto é,
das simples manifestações de matéria organizada, recordai que esse não é o
significado que aqui lhe dou; e se também à palavra espírito emprestais
diferente maneira de expressar, como a dos que querem ver nela somente o valor
de uma força, um princípio gerador, tendo também presente que não é isso o que
agora penso dizer, senão como disse; não é pois nas palavras, senão no significado
que lhes dou, que se deve dar atenção. Se em outras ocasiões outro significado
eu mesmo lhes dei, é no significado e não nelas mesmas no que deveis o
pensamento vosso deter, porquanto eu, de vossa linguagem, só tenho o que me
proporciona o cérebro humano que me serve. O pensamento, a idéia, o ensinamento,
a verdade, isso sim, de Jesus é e de Deus vem.
Sabeis, pois, que a
vida é da alma e as existências carnais os meios de sua realização, com a ajuda
do trabalho que conduz à verdade e ao bem.
Tomais por trevas o
que não é: Assim, se disse que “no princípio havia trevas e o caos”. As
trevas, portanto, são a negação, o que não é; e à medida que se avança na
existência, mais distantes se encontram os seres das trevas, isto é, no meio de
maior luz, porém é que também muito mais sofreram, mais trabalharam, mais
praticaram o bem e lições maiores também colheram de sua experiência. Fugi
pois, irmãos meus, das trevas da alma, que são as únicas verdadeiras, e não
olvideis que é a bondade o que maior luz dá à alma.
A criatura humana,
feita, certamente como foi dito, à semelhança de Deus, o é justamente por sua
essência divina, por sua alma imortal, não pela passageira e torpe forma
material que somente como provação lhe é dada e como instrumento de seu adiantamento
nas vias do Senhor que são as que, pela luz, para a eterna luz, conduzem os
filhos de Deus por ele criados para compreendê-lo e para amá-lo, no meio da
felicidade completa que haveis, com segurança, de alcançar, pondo unicamente em
prática e de verdadeiro coração o que já vos disse: “Ama a Deus sobre todas
as cousas e ao próximo como a ti mesmo”; mas asseguro-vos também que,
quando tiverdes compreendido o sentido em toda a sua pureza, e em toda a sua
grandeza essa máxima, de tal modo que ela seja essência de vossa própria
essência, como Jesus sereis vós também e à altura do Filho de Deus, filhos de
Deus também sereis. Isto será quando espíritos velhos já sobre a terra e todo o
adiantamento nela possível, vosso for e tampouco voltareis a ela com as cadeias
da carne, mas sim como espíritos livres e dominareis por cima dela, no meio do
etéreo ambiente de luz e de felicidade que de muito longe a envolve.
Podeis, portanto,
grandemente encurtar o caminho e o tempo para o vosso triunfo definitivo sobre
a matéria, caminhando diretamente para o exato cumprimento dessa máxima que
tudo encerra e que é a religião única que, trazida do céu, tenho querido e firmemente
quero implantar em vossa morada, para a salvação vossa e que nela unicamente
haveis de encontrar.
¹ Alma é o espírito ligado a um corpo humano.
² Astral ou corpo astral é o
perispírito, dos espiritistas, segundo explica Allan Kardec nos §§ 93 a 95 do
Livro dos Espíritos.
³ Espírito: — Alma livre dos liames da
matéria humana.
Nenhum comentário:
Postar um comentário