Passa já da hora o vosso despertar espiritual . . . Saiba que a tua verdadeira pátria é no mundo espiritual . . . Teu objetivo aqui é adquirir luzes e bênçãos para que possas iluminar teus caminhos quando deixares esta dimensão, ascender e não ficar em trevas neste mundo de ilusão . . .   Muita Paz Saúde Luz e Amor . . . meu irmão . . . minha irmã

sábado, 30 de agosto de 2014

NOVA ORDEM DE JESUS - Livro: Vida de Jesus ditada por Ele Mesmo.


A Nova Ordem de Jesus, é uma Instituição Espiritualista, Beneficiente e Cultural, foi fundada na Terra no dia 22/02/1970, por determinação do Nosso Senhor Jesus de Nazareth e administra os livros da Grande Cruzada de Esclarecimento: Vida de Jesus Ditada por Ele Mesmo, Nova Ordem de Jesus (Vol. 1 e 2), Corolarium, Forças do Bem, Derradeira Chamada, Vida Nova e Elucidário . Tem como objetivo a espiritualização das almas encarnadas , mediante o desenvolvimento das seguintes atividades:

- difundir a excelsa verdade de que todos os homens e mulheres são irmãos perante a Divindade, devendo cada qual amar ao seu próximo como a si mesmo e praticar a fraternidade;


- propagar a verdade de que todas as almas encarnadas são criaturas em busca de mais luz e progresso espiritual na Terra;


 - preconizar a necessidade de cada ser humano tratar de corrigir possíveis faltas ou desvios morais, com o fim de melhorar desde logo suas condições de vida e, conseqüentemente adquirir as luzes que veio buscar na Terra;

- propagar a existência do mundo espiritual, donde vieram para a Terra as almas que aqui vivem, ao qual regressarão ao findarem a sua presente encarnação;

- esclarecer a conveniência do intercâmbio espiritual das almas encarnadas com seus entes queridos que partiram;

- difundir entre todas almas encarnadas a necessidade da oração   fervorosa;

- difundir a necessidade de cada ser humano passar a ver um verdadeiro irmão no seu semelhante, e ajudá-lo no que puder, tal como faria com um irmão consangüíneo;

- esclarecer a importância e a ação da prece, e dedicá-la aos irmãos  necessitados, tanto aos da Terra como aos do Espaço, aos cegos, enfermos e criminosos, ajudando com essas orações, inclusive, a melhorar o nível vibratório do mundo terreno;

-  esclarecer que a NOVA ORDEM DE JESUS se propõe a colaborar com as religiões na espiritualização de todos, para a felicidade geral da humanidade.


Final – Livro: Vida de Jesus ditada por Ele Mesmo.







Depois de terminado este último capítulo, o médium X.X. evocou o Mestre para saber se havia alguma cousa a modificar ou a acrescentar à Obra.

Apresentou-se-lhe Jesus perfeitamente visível, precedido por esse ambiente Celestial que a seu derredor parece derramar-se e com a mesma doçura que lhe é habitual respondeu-lhe:


“Muitas cousas teria que dizer; porém os homens não me compreenderiam; quanto à Obra, ela está terminada; nada, nada tenho que tirar-lhe e nada que acrescentar-lhe. Tudo isto é meu e volto a afirmá-lo, como suas são as comunicações dos apóstolos e de Maria, que formam capítulos desta Obra”.

CAPÍTULO XXXIII – 2ª Parte – Livro: Vida de Jesus ditada por Ele Mesmo. COMUNICAÇÃO DO APÓSTOLO MATEUS. A dupla consciência, a recordação do passado e os colpinos



A comunicação que eu dei, poucos dias faz,¹ para ser incluída nesta transcendental obra, dada com a sinceridade que me é característica, resultou um tanto dura para o elevado critério do Messias, por sua índole de severa justiça.

Disse-me o Mestre: “Reconheço o mérito e a veracidade de teu trabalho; mas minha obra não é obra de julgamento mas sim de amor”. — “Eu não vim para julgar, senão para semear o amor entre os homens.” — “Guarda-a, pois, em estrita reserva, para os que tenham que levar a cabo o restabelecimento da justiça, no que dela tinha ficado velado pela ação do tempo e da malícia humana; e traze para a obra somente a elucidação dos pontos de que te encarreguei, porquanto a tua comunicação, como as dos outros Apóstolos e a de Maria, constituem capítulos da mesma, como que desenvolvendo-se dentro da ordem e estrita continuidade dela”. — “Graças devo dar a Deus; continua o Mestre, pela estrita verdade conseguida em tudo isso com o médium que me serve de instrumento, pois no livro inteiro não passou uma única palavra que não seja minha, de Maria ou dos Apóstolos, que nele colaboraram.”

 “Louvado seja o Senhor que assim consentiu que minha volta entre os homens, desta forma, resultasse tão real e verídica, como se eu mesmo ressuscitado em corpo, vos tivesse falado com meus próprios lábios.”

Confirmadas com o que fica dito, as palavras de Jesus, passarei a ocupar-me do tema que encabeça estas linhas, repetindo somente, com respeito à minha outra comunicação, que deve levantar-se a Judas o cruel julgamento que sobre sua memória pesa, porque sua traição foi unicamente o efeito de sua fraqueza diante das sugestões malignas que continuamente o trabalharam, sob o esforço de interesses inconfessáveis.

Ninguém ignora que há em nós uma dupla consciência, efeito de nosso atraso, a consciência do espírito livre e a do encarnado; ainda devemos admitir uma consciência intermédia, a consciência do espírito do encarnado quando se desdobra, parecendo que, quando dormis ou simplesmente estais distraídos, vossos espíritos se encontram muito longe do corpo, atuando conscientemente fora dele. É claro que não pode existir a recordação da sua atuação, desde o momento que o cérebro não recebeu impressão alguma a respeito dela, sendo sabido que a memória do homem é somente cerebral.

Bem se diria afirmando que o espírito atua com uma nova personalidade em cada encarnação, pois que o cérebro vai recolhendo paulatinamente todas as impressões que lhe chegam do exterior pelo contínuo e agitado movimento do meio que o cerca.

Pelos órgãos do ouvido, da vista e do tato, sem cessar se vê impressionada a massa encefálica, onde tudo se grava e se associa de acordo com as diversas circunvoluções que a formam, constituindo-se assim a memória, o juízo e o raciocínio.

Verdade é que tudo isto tem lugar sob o controle do espírito, porém ele, não dispondo de outros meios para a sua realização e manifestação dentro do mundo de que forma parte, deve conformar sua consciência dentro do círculo que tais meios lhe oferecem. Tudo o que o homem tem gravado no cérebro constitui, portanto, as suas recordações, seus conhecimentos e os materiais para a atuação de sua consciência, que resulta, como se vê, muito diferente da verdadeira consciência do espírito.

Para nós não existe a divisão do tempo que regula entre os homens, e somente nos guiamos pela sucessão dos fatos, no meio dos quais temos vivido e que de certo modo forma a parte de nossas atividades; por isso não calculamos as idades e é assim que, fazendo talvez uns trinta e tantos anos, segundo ouvi dizer entre vós, que deixei minha envoltura corporal, parece-me entretanto que ontem vivia ainda com os homens, razão, precisamente, que induziu o mestre a encarregar-me do tema proposto, porque deveria eu elucidá-lo mais humanamente que os outros Apóstolos.

Disse já que na minha última encarnação fui Rafael Fernández, tendo-me ocupado não pouco, ainda quando universitário, de assuntos filosóficos e religiosos, em estreita relação com o cristianismo, fazendo assim justiça ao meu passado e às benéficas influências do Mestre, muito longe estava entretanto de acreditar que tal atuação constituía, de certo modo, uma recordação do que, uma vez deixada a matéria, havia de encontrar-me aqui e que muitos sonhos e fantasias de minha vida, que eu considerei faltos de fundamento, constituíam na realidade verdadeiras recordações do passado, resultando assim ter sido mais consciente nos momentos em que me havia considerado privado de toda a consciência. Sem dúvida, em muitas circunstâncias da vida humana nos assaltam, sem nos apercebermos, recordações do passado, sendo que falta-lhes o controle da consciência, como disse João devido a que a consciência humana unicamente pode desenvolver-se dentro dos elementos que lhe emprestam as impressões cerebrais.

Como se vê, a dupla consciência é um efeito natural do esquecimento do passado e é necessário que este vá modificando-se, a fim de que o espírito possa trabalhar com eficácia no sentido do seu verdadeiro progresso.

Paulo descobriu que, o que ele chama desdobramento voluntário, quer dizer, a faculdade de desdobrar-se quando se deseja, durante a vigília, é o que mais ajuda para a recordação do passado. Por isso ele formou escola em tal sentido, indicando os métodos para o caso. Este bom companheiro, apesar da recordação que guarda a respeito do passado,² chegou a esquecer-se do seu mandato, de tal forma que, devido aos seus estudos e ao ambiente científico que o rodeava, chegou a olhar com desprezo o próprio Mestre, a ponto de apontá-lo como um vagabundo, por não ter lar nem meio de vida conhecidos.

Era, dizia, um iluminado ignorante que arrastava massas mais ignorantes do que ele. Eu o digo, porque ele próprio o confessa. Verdade é, segundo afirma, que suas recordações a respeito do passado, recentemente começaram a manifestar-se e com nitidez aos trinta anos, aclarando-se e manifestando-se com muita facilidade depois, devido à sua mediunidade e à faculdade de desdobramento que conseguiu dominar quase por completo.

Três vezes, refere Paulo, em seus desdobramentos não pôde voltar a seu corpo e que, se não fosse pela intervenção dos bons espíritos que o introduziram em seu organismo, com a maior facilidade teria morrido.

Os espíritos aconselham que se avise os Protetores antes de entregar-se um encarnado a exercícios de desdobramento em estado de vigília. Os espíritos protetores são os que antes se chamavam anjos guardiães, pois se consagram especialmente na custódia dos homens e eles são os que, durante o sono, ajudam os espíritos dos homens a separarem-se da sua envoltura corporal para que deixem por alguns momentos a materialidade da vida humana e gozem de certa liberdade espiritual, comunicando-se com os seres queridos que os precederam no Além e de quem recebem novo alento para as lutas da vida material assim como ensinamentos e conselhos.

Certamente que, disto não se lembra o homem ao despertar, porque o cérebro não pode guardar impressões do que não passou por ele, porém sempre fica um reflexo disso, o estado de intuição ou disposição favorável para o que se há de fazer. Não se deve crer que durante estes desprendimentos o espírito do encarnado vá atuar realmente no plano espiritual, mas sim em um plano intermediário a que Paulo chama plano fantasmático ou simplesmente plano extracorporal.

Fantasmático o chama porque é o plano dos fantasmas, esse ambiente em que conseguem tornar-se visíveis os que costumam chamar fantasmas, que as crianças mais sensitivas que os adultos vêem com terror, enquanto que não são mais que espíritos de pessoas vivas, os quais tornam-se visíveis algumas vezes para todos, devido ao corpo fantasmático, que os envolve, formado pelos fluidos vitais do corpo mediante os quais o perispírito se liga ao corpo.

Os fantasmas que são visíveis também podem ser fotografados, como muitas vezes se havia feito já durante a minha última encarnação. O espírito do encarnado, desdobrando-se, pode dar comunicações aos vivos, mediante a ajuda de seus protetores.

Paulo as tem dado umas vezes com este nome e outras, que são a maioria, com o atual nome. Não deve confundir-se o citado plano intermediário com o que os espíritos chamam zona limite, que separa um plano do outro e cujo ambiente é algo aterrador por sua atividade combatente. Daí vêm geralmente os pesadelos, quando mal desdobrado o mortal, pelo mau estado de sua saúde muitas vezes, o acompanham fluidos afins com tal plano; mas não é esta a oportunidade para tratar de tal assunto, direi antes, que muitas vezes conseguem os protetores, depois de um bom desprendimento, que o encarnado guarde a lembrança de sua atuação durante o desdobramento e então dizeis ter tido um sonho lúcido. Nada se recorda geralmente do sono profundo e é porque o sono unicamente é profundo quando o espírito do encarnado atua distante do corpo.

A mediunidade, assim como facilita o desdobramento, facilita a lembrança do passado, do mesmo modo que a influência dos desencarnados é muito maior nos médiuns que nos que não o são. Por outra parte, as boas influências que sempre acompanham as pessoas que sempre levam uma vida regular e de bons procedimentos, favorecem grandemente tudo o que se refere ao medianismo e aos desdobramentos, sem que por isso deixe de ser necessária a prática de tais faculdades para obter seu desenvolvimento.

A zona limite encontra-se cheia de espíritos inferiores e também de espíritos sofredores que, por suas condições momentâneas, se encontram à altura desse meio ambiente; sofrem talvez um castigo, ou seus perseguidores, sempre de má-fé, se aproveitam deles, em virtude da malfadada lei de talião, para fazerem sofrer repetidamente suas faltas aos espíritos fracos e imprudentes. Faz-se-lhes recordar a sua dívida, apesar de já a terem pago, exigindo-lhes novo pagamento. É indubitável que os espíritos que assim sofrem purificam-se nesse ambiente e progridem.

A lei de Deus é lei de amor e de progresso, mal pode atribuir-se-lhe portanto a paternidade da lei de talião, lei de vingança e de retrocesso; tudo se paga indubitavelmente e em verdade o mal que se faz aos outros redunda sempre em sofrê-lo por fim o seu autor, mas não da maneira que os homens supõem, pois somente o bem é boa moeda; o sofrimento é conseqüência do mal que se fez, mas o mal feito, unicamente com o bem se redime.

Bem disse por isso o Mestre: “Só pelo amor será salvo o homem”. Na zona limite de que nos temos ocupado, emprega-se uma gíria quase falada, incompreensível para vós. Daí é que vem a palavra colpino e desta deriva-se o verbo colpinar. As enfermidades dos homens, para eles são devidas a colpinamentos.

Esses espíritos parasitas que vivem entre os homens e a expensas dos mais fracos são colpinos. Indubitavelmente tudo é um dano, tudo é mal que eles fazem, porém o que é preciso notar é a hipocrisia com que procuram justificar o dano que causam.

A indicada palavra vem de culpa, quer dizer que o colpinado sofre a conseqüência de uma culpa; eles são pois os juizes que avaliam a culpa e a castigam sempre em benefício próprio.

Para nos defendermos destes colpinamentos, que podem realmente dar lugar a um sério mal, encontramos o seguinte: Pode doer ao colpinado um membro ou toda a extensão de um músculo, uma artéria ou um nervo, porém procurando, encontra-se o ponto bem circunscrito, muito mais dolorido. Comprime-se fortemente com um dedo esse ponto enquanto se detém a respiração o mais que se possa, e se repetir a operação várias vezes ao dia, com este processo quase sempre desaparece o mal. Deve-se recordar que, detendo a respiração, se desenvolve uma grande energia magnética.

A região, mais que qualquer outra, escolhida para os colpinamentos é a cabeça, a seguir os intestinos e depois o coração. Pelos intestinos se colpina também o coração e pela cabeça se colpina todo o corpo.

Os homens que levam vida inativa e são de caráter débil vivem sempre colpinados; porém ninguém se livra absolutamente desses parasitas espirituais.

Guardando a lembrança do passado, todas estas cousas se evitariam, ao passo que agora até difícil nos é fazer-vos compreendê-las, porque estais sempre dispostos à incredulidade a respeito do que não podeis ver, pela enorme diferença que existe entre o corporal e o extracorporal.

Desenvolvei, pelo menos, vossas aptidões para o magnetismo curativo, com o qual não somente podeis fazer muito bem mas também chegareis ao mesmo tempo a desenvolver as vossa aptidões psíquicas, porém ao magnetizar, tende cuidado com quem o fazeis, porque se um mau magnetizador transmite um grave perigo, não é menos grave o que ameaça a um bom magnetizador quando pretende beneficiar um ser inferior. É o mesmo que com a caridade, que é preciso ver a quem e como se faz a caridade, para não sermos vítimas, como muitas vezes sucede, do bem que se fez.

Muito estranho vos parecerá o que fica dito e é, porque tendes cheia a cabeça de máximas e teorias que muito longe estão de ser o resultado da prática.

Eis um fato: Entre meus amigos conto com o espírito de uma que foi virtuosíssima irmã franciscana, muito adiantada, ela dizia: “primeiro está a obrigação que a devoção”, e quando havia enfermos pobres para atender, dizia a suas subordinadas: “a missa, a confissão e a devoção, tendo enfermos para atender, são esses mesmos enfermos. — A prática da caridade é a devoção por excelência”.

Devido a tal proceder quiseram tirar-lhe o hábito e dissolver a sua pequena comunidade, porém ela resistiu e, não querendo recorrer à autoridade civil, continuou com sua idéia até morrer. Pois bem, sofre agora muitíssimo pela perseguição de uma multidão de espíritos inferiores por ela favorecidos.

Reclamam-lhe, exigem-lhe o que ela lhes não pode dar. Perseguem-na e a oprimem, sem deixar-lhe um momento de repouso. Ela diz: “não tenho forças para afastar esta avalanche de seres inferiores e que se julgam com direito sobre mim porque pela caridade rebaixei-me até seu próprio nível”. “Crêem que o bem que lhes fiz não foi por bondade mas por obrigação que julgam subsistir ainda.”

Todos nós cercamos e ajudamos a virtuosa irmã, proporcionando-lhe momentos agradáveis, porém ela terá que voltar à Terra, já o compreende, para desenvolver as faculdades que lhe faltam, entre outras a do são critério de como, quando, e a quem se deve fazer a caridade. E onde está a justiça divina? — se dirá. “Ajuda-te, que Deus te ajudará, é o rifão aplicável aqui.” A justiça de Deus cumpre-se na eternidade. Essa boa irmã não chegou ainda a merecer a felicidade, porém alcançou já muitos títulos para isso.

Com valor e constância, todos chegaremos à meta, entretanto muito há que aprender e experimentar. Muito tino faz falta em todas as cousas, até para fazer o bem, porque este pode converter-se em mal.

Levantando e favorecendo, por exemplo, um malvado com aparência de bom, podemos armar um inimigo do bem, talvez encaminhar um déspota, em seus primeiros passos, para as alturas, para sermos depois suas primeiras vítimas.

Enfim, eu quis com esta modesta comunicação juntar a esta magna obra um tanto prática se se quiser, humana, e em verdade eu próprio termino por julgar-me homem e vivendo no meio de vós.

Seria para mim uma grande felicidade haver atingido meu fim.

Que Deus seja convosco.

MATEUS, Apóstolo.

¹ Dita comunicação, editada em folhetos, à “Associação Cristã Providência, Biblioteca Pública” a envia grátis. Solicite-a, calle Herrera 1680. Buenos Aires.


² Sabemos que em certa ocasião levou ao Doutor Cosme Marinho, Diretor da Revista “Constância”, um artigo referente a um sucesso do qual tinha sido vítima havia uns outros mil anos; pedia-lhe a sua publicação por tratar-se de algo que a história parece negar, tendo a certeza de que as escavações que se fazem no Egito confirmariam as suas afirmações. (A publicação não se fez.) — Nota do Sr. Rebaudi.

sexta-feira, 29 de agosto de 2014

CAPÍTULO XXXII – 2ª Parte – livro: Vida de Jesus ditada por Ele Mesmo. Fala Maria, a mãe de Jesus


A minha palavra não pode acrescentar a menor importância a esta obra, pois ninguém ignora que fui elemento completamente negativo para a missão de meu filho Jesus. Cedo, entretanto, ao pedido do médium e direi o que possa ser de interesse com referência ao assunto.

Na realidade, era tão pobre a educação da mulher hebréia que dificilmente se teria podido encontrar alguma, capaz de avaliar o significado do que o pretenso profeta, como eu o chamava, manifestava com suas palavras, com sua ação e com seu exemplo. Entre os homens, tampouco havia-os verdadeiramente preparados para compreendê-lo.

Eu pensava que meu filho estava louco e todos os da família acabaram por pensar do mesmo modo. Sobre isto, pois, mal posso dizer algo de útil e falarei de preferência do que mais tarde observei em torno da atuação de meu filho.

O martírio e a morte de Jesus, a fé ardente dos apóstolos e a influência de João, iluminaram meu espírito, convertendo-se na minha mente transformada, a vítima inocente em um Semi-Deus, e não coube já em meu espírito a menor dúvida a respeito de tão grandiosa manifestação do amor do Pai sobre seus filhos, os homens todos da criação; isto, porém, se bem significava grandes realidades para minha pobre alma tão cheia de escuridão mental, fora de mim mesma, não podia representar um grande progresso porque na Natureza não se dão saltos, senão que tudo se encadeia logicamente; a luz que se fez assim, então, na minha alma, brilhou no fundo de minha consciência, servindo-me de guia em todas as minhas idas terrestres.

O grandioso mito que se fez de Maria entre os Cristãos mais tarde, nada, absolutamente nada tem de real. Fui sempre mulher, menos em uma ocasião, que me ensaiei no sexo masculino; foi a vez que mais comodamente passei, porém que me resultou de pouco progresso para o meu desenvolvimento espiritual. Eu sentia-me sempre inclinada a ser mulher e distingui-me quase sempre por minhas inclinações religiosas, sendo que também fui monja, chegando a ocupar uma invejável posição nesse meio, havendo eu cultivado um pouco minha inteligência, o quanto então era possível a uma mulher religiosa.

Em verdade, recentemente, na minha última estada na Terra, na qual de muitos dos hebreus fui reconhecida, pois poucos anos faz que novamente regressei ao mundo dos espíritos, então adquiriu verdadeiro desenvolvimento a minha inteligência, completamente livre já de todos esses prejuízos causados pelo fanatismo religioso que constitui um obstáculo quase invencível para o progresso humano.

Certamente que de amigos, recebi constantemente, dentro de uma boa direção, uma proteção invisível à qual correspondia até onde era possível, aos planos formados de antemão no espaço. Nunca cessou o labor cristão, sempre do alto, pelo próprio Mártir do Gólgota que aí selara com seu sangue os sublimes ensinamentos ensinados já por ele, com a palavra e o exemplo.

Sem dúvida, seguidos foram os obstáculos com que o magno labor tropeçou na Terra devido à falta de capacidade de seus enviados para a transcendental tarefa. Muitos e repetidos foram os ensaios, constante o esforço e continuada a luta, porém faltou a unidade de ação, essa unidade que anteriormente fácil alcançar ao Mestre pela mediunidade de Paulo que, submetendo-se a Jesus no caminho de Damasco, nunca lhe faltou durante esses tempos, comunicando com bastante exatidão ao homem a sua palavra principalmente nas etapas subseqüentes, não que diminuísse a mediunidade do Apóstolo, mas sim que lhe foi adverso o ambiente e em nenhum caso o favoreceram as circunstâncias, o referente, ao menos, como que para dar lugar à clareza e segurança das manifestações a que agora alcançou, devido em grande parte às suas recordações retrospectivas que lhe servem de sólida base para não esmorecer em sua tarefa, apesar da incredulidade e oposição dos próprios cristãos que pensam que São Paulo havia de apresentar-se-lhe como um ser extraordinário, uma personalidade rodeada de portentos e milagres, não já um homem como os demais, muito mais desprendido, que a generalidade, o material e convencional, principalmente no cumprimento de sua missão, porém sem transparecer nada que possa fazer dele um ser superior.

A tradição cristã, muito exagerada quanto ao valor dos homens, converteu os apóstolos, que eram sumamente humildes de posição e compreensão, em personagens de grande valia, isto é e foi a causa de muitos erros. Estes homens eram unicamente extraordinários por sua fé, sinceridade e vontade ardente assim como por seu grande amor ao Mestre, porém se houvessem tido suficiente adiantamento que lhes permitisse recordar o passado, durante suas encarnações, não teria faltado ao Cristianismo a unidade no esforço e na direção única, que só de Jesus podia vir.

Pelo contrário, nem bem retornados à vida humana, esqueciam todas as suas promessas e toda a noção sobre o verdadeiro propósito e fins precisos de sua missão, vendo-se geralmente, devido a isto, lutar em campos opostos, como sucedeu durante a reforma, em que ambos os campos conduziam-se mal, e muito antes também com as heresias e os trabalhos do livre pensamento.

Muito difícil é e somente por exceção, em muito reduzidos casos, pode ter lugar a recordação das vidas sucessivas devido a que a memória do homem reside essencialmente no cérebro, podendo recordar, por conseguinte, somente os acontecimentos que se tenham gravado nele durante cada vida. Por isso não se recordam os sonhos que eu diria verdadeiros, quero dizer, aqueles em que, encontrando-se o corpo completamente dormido, vive unicamente a vida vegetativa e não pode o espírito fazer uso de nenhum de seus órgãos por cuja razão se vê obrigado a agir sem o corpo; de maneira que, exteriorizadas todas as suas atividades, porque o espírito nunca pode ficar inativo, resulta viver longe do corpo por meio do corpo que lhe é próprio e dos fluidos que tira do corpo e que o mantêm unido a ele, assim como a esse meio especial resultante das atividades de todas as pessoas dormidas também exteriorizadas, que pensam e recordam sem os empecilhos do cérebro, porém, sem deixar, em compensação, neste as impressões que constituem a recordação para o homem; os médiuns e os “mãos Santas”, alcançam cousas imensamente mais portentosas que os profissionais do magnetismo, devido à sua maior fé e em geral mais elevados sentimentos.

Mas, volvamos aos propósitos destas linhas. Encontrando-me, como disse, ao corrente de todos os esforços de Jesus para restabelecer a verdade e pureza de suas doutrinas, chegando a ser, muito cedo, eu mesma uma de suas colaboradoras, tive constantemente o pesar de ver desbaratados seus planos pela razão cruel do completo esquecimento de todo o propósito tomado na vida espiritual, pelos que voltavam à Terra onde seguiam geralmente rotas opostas às que haviam escolhido.

Contudo, o esforço que cada qual fazia para ser virtuoso, a oração e a fé em Deus, assim como a experiência paulatinamente acumulada, foram-lhes dando maior consciência de todas as cousas. Compreenderam que para dominar o ambiente fluídico, sem o qual nada se alcança, são necessárias também a saúde e as forças físicas, tendo se empenhado em seu desenvolvimento, principalmente Marcos, Mateus e Paulo; Pedro e João trabalharam mais no sentido extracorporal.

Deveis saber que a saúde e a força física dependem em parte do desenvolvimento do corpo astral, e como nada se perde, tampouco perde-se o desenvolvimento que em cada vida alcança o homem para seu corpo, pois a envoltura do espírito ao separar-se do corpo material, leva consigo todo o melhoramento, toda a aptidão adquirida e até a tendência para adquirir ou vencer as enfermidades de que sofreu o corpo e pôde vencer.

Deste modo, melhor preparados, os Apóstolos sempre sob a direção do Mestre lograram promover, no século XIX, um grande renascimento religioso, principalmente na América do Norte, na esperança de poder derivar dele um progresso suficiente da religião para voltar à pureza do primitivo cristianismo.

Muito depressa, porém, se aperceberam que as preocupações de raça e de seita dominante naquele ambiente não se prestavam para levar a cabo tal propósito. Dirigiram então suas vistas para a América do Sul.

Todos os apóstolos, menos Pedro e João, tinham voltado à Terra. Os apóstolos não se reconheceram entre si, menos Paulo, que bastante titubeou no princípio de sua missão, chegando até a ridicularizar a Jesus, apesar de ser de temperamento muito religioso, Paulo os foi reconhecendo a todos mais tarde, devido ao grande desenvolvimento que em sua atual vida alcançou pela mediunidade, da qual precisamente se serviu Jesus para ditar a presente obra e com a qual se restabelece a primitiva pureza Cristã, livre de toda a fraude.

Esta mesma exposição que faço demonstra que o verdadeiro desenvolvimento do cristianismo é devido ao esforço dos apóstolos e seus discípulos sob a direção de Jesus sem nada de milagroso nem de sobrenatural; inculcando, isso sim, ainda que lentamente e de forma que cada qual vá compreendendo por si mesmo, que existem grandes potencialidades no espírito que ele deve desenvolver, principalmente pela virtude e os sacrifícios, potencialidades que chegarão a fazê-lo senhor da Natureza.

Para abreviar, direi: que Pedro e João, do espaço, conseguiram estabelecer em meados do século XIX, um núcleo importante em Buenos Aires. Esse importante núcleo foi quase constantemente presidido por Santo Estêvão, eleito para o lugar por sua fé, constância e laboriosidade inquebrantável, apoiado por uma moralidade sem jaça, secundando-o muito de perto José de Arimatéia, que também nesta ocasião ajudou a Jesus com sua posição social distinta e opulenta, pois que, como já vos disse, nada se alcança por milagre, sendo que entre os homens e para todo o labor humano, necessários são meios humanos e ainda quando feito foi pelos esforços do Messias a aproximação do Céu à Terra, sempre que a esta se deve chegar, por meios terrestres o temos de fazer.

Santo Estêvão também desfrutava de uma posição social distinta e pecuniariamente desafogada, assim como o evangelista São Mateus, porém, realmente opulento unicamente o era José de Arimatéia. São Mateus distinguiu-se principalmente por sua eloqüência, com a qual chegou em diversas ocasiões a comover os mais elevados da Sociedade de Buenos Aires.

Barnabé desempenhava as funções de tesoureiro e ao mesmo tempo de vigilância da associação; direi seu nome, como o mais modesto e menos conhecido que os dos anteriores; vou dá-lo para que possa servir de base para o conhecimento a que alguém possa chegar, do fato que nos ocupa: chamava-se José Rodríguez e era espanhol.

Paulo, muito jovem ainda e conduzido inconscientemente do espaço por Pedro e João, apresentou-se à Associação que, se bem que fundada em sua origem somente por doze membros, muito numerosa havia chegado a ser naquela ocasião, porém, cousa curiosa, repetiu-se a desconfiança e o temor que houve antes quando os apóstolos não quiseram recebê-lo, renovando três vezes, inutilmente, seu intento até que Barnabé, o mesmo que antes, o apresentou pessoalmente.

Paulo levou depois Marcos, não o apóstolo, mas sim o discípulo de Pedro, o mesmo que com Barnabé o acompanhara em sua viagem a Roma aonde ia evangelizar o Ocidente em nome do Senhor. Ambos foram muito queridos, como já o era Barnabé, por sua laboriosidade e constância apesar de, do mesmo modo que na época evangélica, Paulo ter atuado mais fora da associação que dentro dela.

O apóstolo Marcos permanecia então no espaço; digo espaço, porque se bem que tudo existe dentro do espaço, os homens formam parte da Terra e não se encontram diretamente no espaço; refiro-me pois, ao dos espíritos. A Paulo, por sua mediunidade, nunca lhe faltaram sinais e até conversações do mundo dos espíritos, mas temia por não ver nada perfeito nos demais homens, e por outra parte Pedro e João invisivelmente o velavam para evitar todas as comunicações até que seu tempo chegasse; porém, tão depressa conseguiram cercá-lo dos meios que dentro da associação lhe serviam como elementos da força para lutar contra os espíritos do mal que se empenhavam violentamente em destruir a sua obra, Paulo pôde ser desenvolvido por eles com segurança, dando-lhe paulatinamente a recordação do passado para que pudesse ter melhor consciência da obra que lhe estava encomendada, pois de outro modo, devido a seu espírito investigador e demasiado positivo, qualidades que já anteriormente haviam embaraçado suas intimidades para com os apóstolos, a sua obra não podia ser conduzida dentro de uma associação de um caráter um tanto místico e porque o regulamento proibia todo o trabalho medianímico, fora da sede da associação e qual não estivesse sob a imediata direção da Comissão espiritual que se havia constituído para dirigir do espaço os trabalhos de tal natureza, que tantos perigos entranham no homem.

Paulo foi amplamente autorizado a trabalhar fora da sede da Associação, assegurando-se-lhe toda a proteção espiritual possível. As lutas e dissabores que teve que sofrer Paulo por sua obra são pouco menos que indescritíveis, salvando-o seu poder excepcional, a ajuda e perícia de seus protetores invisíveis que o rodeavam de dia e de noite, com uma dedicação e denodo incomparáveis.

Grande parte de sua obra permanece desconhecida, porém seus efeitos propagam-se já por todas as partes e José, o que foi meu esposo, não permaneceu muito tempo no seio da tal agremiação, devido a seu caráter um tanto duro e orgulhoso, ainda não modificado suficientemente desde aqueles tempos. Era entretanto bastante laborioso e culto para poder prestar bons serviços à idéia e o fez, ainda que fora do núcleo.

Tadeu, que ainda está entre vós,¹ no ano de 1905, recebeu da Itália, sua terra natal, a Vida de Jesus ditada por Ele mesmo, traduzida do francês para o seu idioma, e a “Sociedade Científica de Estudos Psíquicos”² fê-la traduzir para o castelhano, encarregando-se deste trabalho o seu próprio Presidente, que conhecia bem esse idioma por haver feito os seus estudos na Itália.

O segundo tomo foi ditado depois ao médium X.X., instado para isso, por Jesus, em repetidas ocasiões. Depois de uma aparição de Jesus ao médium, além de diversas notáveis manifestações, foi que ele acedeu, plenamente convencido da intervenção direta do Mestre.

Recebeu-se então a comunicação, cercando-a de um controle muito grande e rigoroso, razão por que demorou tanto a completar-se a segunda parte, recentemente terminada, com a adição de dois novos capítulos, o XXV e o XXVI, e a presente comunicação.

Também as outras mulheres seguiram, como eu, prestando a sua cooperação à grande obra iniciada por Jesus há quase dois mil anos, encarnando elas também, de preferência, no sexo feminino. Salomé fez parte do núcleo durante a maior parte de sua vida, prestando importantíssimos serviços com sua mediunidade.

E seu filho Tiago ajudou Paulo com muito interesse e carinho, com outros dois apóstolos que não vou nomear. Marta evangeliza na cidade de Córdova, e Madalena trabalha também com afinco dentro e fora do núcleo, nesta capital.

Eu também cooperei neste grande movimento, consagrando-lhe a maior parte de minha última existência e mantendo estreitas relações, desde Espanha, com o núcleo de Buenos Aires. E foi esta a época de maior luz para o Cristianismo definitivamente libertado de todo o dogmatismo que Jesus sempre combateu fora de toda a religião, porque o Cristianismo é a religião. Os discípulos dos discípulos do Senhor, espalhados por todo o mundo, levam a boa nova por todos os âmbitos do Globo, fazendo estremecer os templos idólatras, desde os seus alicerces, para que se compreenda a idéia de Jesus, que se reconheça o universo inteiro como o templo digno do Altíssimo.

Louvores a Jesus a quem tudo isto é devido! Jesus é um irmão nosso, é um dos nossos disposto sempre a aproximar-se de todo aquele que sinceramente o chame, mas por sua elevação e por sua alta missão, o chamamos: O Senhor, sem fanatismo, apenas como sinal de amor e gratidão pela obra de seu imenso amor.

Em seu nome despede-se de vós e vos abraça.

MARIA

¹ Recentemente voltou ao mundo espiritual. — Nota do Sr. Rebaudi.
² De Buenos Aires.


CAPÍTULO XXXI – 2ª Parte – Livro: Vida de Jesus ditada por Ele Mesmo. Algumas palavras do apóstolo Barnabé.



Inútil é dizer que meu espírito acha-se inteiramente suspenso pelas elevadas idéias, palpitantes nas palavras de João. É ele certamente, com Pedro, o apóstolo verdadeiro de Jesus, e recebendo a palavra de Paulo, se bem que ausente agora deste lugar, tenho prazer em dizer a verdade livremente, para tributar a João e a Pedro o elogio de sua grande elevação.

No que diz respeito às cousas entre Barnabé e Paulo, convém sua consideração pelo proveito apostólico que delas se alcançou e não pelo que o bondoso João veio atribuir às minhas virtudes.

Era eu de alma sincera e homem de ação espiritual e grande era também minha profunda fé no Senhor. Tornava-se então fácil o caminho para as boas inspirações do meu ser. Assim, pois, fácil acolhida teve primeiramente em mim a inspiração que me levou a colocar Paulo em condições favoráveis para o desempenho do apostolado a que já se havia consagrado.

Mais tarde, conhecendo eu toda a razão que lhe assistia ao resistir à influência equivocada dos hebreus cristãos de Jerusalém, chamados ainda então nazarenos, os quais permaneciam ainda confundidos com uma seita judaica, fui buscá-lo em seu país natal onde a desilusão e a impotência a que o condenavam, sua natureza honrada e o firme propósito de não querer enfraquecer a autoridade dos apóstolos, mantinham-no retirado e ocioso.

Oportuno pareceu-me o usar do meu caráter de membro dos doze para dar-lhe uma satisfação pela indiferença e abandono em que tinha chegado a ficar pela oposição do espírito velho contra o pensamento mais liberal e progressista de Paulo.

Diz-se que eu conquistei Paulo e isto pode ser, mas antes Paulo a mim próprio tinha conquistado, pois que atração tinha sua pessoa pela virtude e por suas maneiras. Sua delicadeza e sinceridade, sua disposição sempre pronta ao perdão dos que mal lhe fizessem, sua resignação e paciência para suportar toda a dificuldade e dor pelo bem e pelos demais, sua disposição em dar sempre o direito aos outros, ainda quando adivinhando-se que ele percebia corresponder-lhe o direito, sua grande fé e firmeza de coração, não tinha visto eu tudo isto em ninguém de tal forma como em Paulo.

Na solidão e no silêncio, certamente acontecia às vezes pôr-se sua fisionomia muito dura e em algumas poucas ocasiões de grande contrariedade, vi-lhe um semblante tão duro e ameaçador que fiquei inteiramente frio. Nada, entretanto, se ouvia dele nessas ocasiões, correspondentes a uma cara tão má. Ele, porém, confiou-me que na solidão perseguia-o um espírito tão perverso e de tanto poder que o faria executar as cousas mais terríveis, se não o evitasse a constante proteção de Deus que jamais o abandonava.

Seu caráter enérgico o era somente para o bem e o demonstrava sem cessar, sendo ele o primeiro a impor-se todas as privações e contrariedades próprias do apostolado cristão nesses tempos de grosseiros fanatismos, de geral atraso e maldade.

Ele colocava-se assim, desde o primeiro momento, à frente dos demais, o que foi mal interpretado quando suposto foi incapaz de obediência e falta de humildade. Falou-se portanto de sua incapacidade para acatar a autoridade dos apóstolos ou má vontade em obedecer-lhes.

Todos nós, porém, reconhecemos que do nosso lado, e não de Paulo, foi o primeiro erro. Quando Paulo voltou de Damasco, onde Jesus já tinha ensinado aos 29 anos, feito conversões e havendo evangelizado eficazmente nessa cidade e em outras povoações vizinhas, fê-lo com o propósito de seu reconhecimento pelos apóstolos e do acatamento por sua parte da autoridade dos mesmos.

Os apóstolos, porém, o evitaram com mostras de desconfiança e de temor, se bem que manifestamente não houvesse já motivos para tal. Havia-os então eu bem inteirado já do trabalho de Paulo, resolvendo recebê-lo e ouvi-lo, e assim fui eu junto a ele e conduzi-o aos apóstolos, apresentando-o como bom irmão e muito capaz para o ministério da palavra; os apóstolos, porém, o acolheram friamente e somente Pedro e Tiago, o irmão do Senhor, dirigiram-lhe a palavra, Pedro humildemente, Tiago com autoridade. A frieza desapareceu depois um pouco e entre eles tiveram lugar repetidas conversações e todos juntos andamos nas cousas da comunidade e nos atos religiosos.

Cerca de quinze dias passou assim Paulo com os apóstolos, os quais, porém, faziam-lhe ver sempre sua superioridade por seus títulos de apóstolos de Jesus e por haverem escutado sua palavra. Apesar de tudo, prontamente pôs-se em evidência a maior inteligência e instrução de Paulo que tinha estudado para Rabi e tinha também figura mais digna de respeito.

Isto mesmo, portanto, e o espírito mais liberal do novo irmão tornou-o pouco agradável ao Conselho dos Doze. Tiago principalmente, que inimigo voluntário havia sido dos ensinamentos de Jesus antes de sua morte, inimigo involuntário se tornou dos mesmos depois de morto o Mestre, porquanto, desmentiu-os, substituindo-os pelas estreitezas do Judaísmo que era precisamente o que Jesus tinha vindo reformar.

Foi então que Paulo falou de forma a dar-se a conhecer como capacitado, pela influência direta do Senhor, para a grande obra pelo Cristo Redentor trazida. Os apóstolos o respeitaram então e acreditaram na unção do seu espírito, mas nada lhe ensinaram e pareciam antes fugir das suas perguntas. Assim, pois, o novo adepto tomou dos apóstolos, por ver, as formas de suas práticas, como o sopro a distância sobre a fronte, as imposições, as aplicações, os exorcismos, o azeite e a água influenciados pela imposição e pelo sopro, para a cura de enfermos, etc.; mas os apóstolos não lhes ensinaram.

Se, pois, devia haver mais humildade em Paulo, menos ciumentos se deviam ter mostrado os apóstolos, influenciados por Tiago, exceto Pedro e eu. Eis, portanto, o que ninguém sabe porque calou-o a virtude de Pedro, isto é, que foi Pedro quem teve a idéia, convindo-se logo entre os dois que fosse eu buscá-lo para conduzirmos em comum uma propaganda mais ampla que até então.

Logo os Doze aproveitaram o projeto e Pedro deu-me por companheiro João Marcos, seu discípulo, a quem amava como filho. Não deveis escandalizar-vos por estas pequenas dissensões apostólicas, acontecidas há quase dois mil anos. Deve antes maravilhar-vos que Jesus, do espaço, tenha feito o que conheceis com tão pobres e escassos elementos. Deve também maravilhar-vos que nesses tempos de tanta maldade e ignorância, doze apóstolos e Paulo encontrassem tanta convicção e valor em si e tanta fé no Messias, que se atreveram a empreender a conquista do mundo, conseguindo-a fundamentalmente.

Judas Iscariotes reuniu-se também, em uma nova vida, aos trabalhos do Senhor. Não o julgueis, pois, por um só detalhe de uma única vida, quando sabeis que nada significam cem vidas para a eterna vida do espírito. Conheço homens perversos que são hoje o mesmo que foram há dois mil anos. Se tivessem olhado para Cristo, em vez de desprezá-lo, estariam agora tão alto como os apóstolos. Crede, portanto, que toda a luz no cristianismo se encontra, o cristianismo, porém, se engrandece e eleva com o engrandecimento e a elevação do homem.¹ Aquele, portanto, que de obscuridade tacha hoje o cristianismo é que em sua alma a obscuridade tem.

Jesus e os espíritos que o acompanham buscam o progresso no bem. Autorizado estou para dizer-vos que Jesus à frente se encontra do espiritismo, mas não encerra nele todo o progresso que infinito é como Deus mesmo.

Nem tudo me é permitido manifestar, mas posso dizer-vos que o intenso movimento espiritualista iniciado no século passado, principalmente sob a forma espiritista, foi provocado por Jesus, vindo ao mundo para isto a maior parte de seus apóstolos seguidos de muitos discípulos. João e Pedro, com Jesus ficaram, mas os conheceis por suas obras. Dos que estavam entre vós poucos vão ficando e à medida de seu desaparecimento vai enfraquecendo-se o espírito cristão do espiritismo, substituindo-se a razão do espírito pela razão dos sentidos.

A ciência é a verdade, mas a verdade não é dos homens, mas sim de Deus. Vós, em compensação, vos arrastais fitando a Terra para encontrar a verdade e juntando o que encontrais e ordenando-o, dizeis que tendes a ciência e para o alto não olhais porque a demasiada luz vos deslumbra e para vós o que não podeis ver, não existe; porém, certamente, o infinito por todas as partes vos rodeia com as infinitas leis divinas, sendo a Terra um ponto no meio da imensidade sem limites do TODO.

Do espaço, pois, tudo vem, não da Terra para o espaço. Olhai, portanto, para cima sempre, quer dizer, para fora do vosso planeta, não vos arrasteis como a serpente pelo solo. Estudai, trabalhai, lutai, porque sem isto não há progresso, mas fazei-o sempre com sinceridade e humildade e recordai-vos também nas vossas tribulações, que Deus ouve sempre com benevolência as orações de seus filhos, mas, antes sede misericordiosos com os vossos semelhantes para que Deus possa sê-lo convosco.

Não façais caso dos que vos falam contrariamente da oração, dizendo que ela é inútil porque não pode alterar as leis do Universo. São papagaios faladores que não sabem que justamente do cumprimento de tais leis é que a oração forma o meio de relação mais simples e real entre a criatura e seu Criador. Não o sabem porque nada são capazes de perceber fora da matéria. Serve-lhes a razão como as andadeiras para a criança em seus primeiros passos, mas a criança deixa depois as andadeiras e eles incapazes são de deixar sua razão humana para elevarem-se a outra superior que nós já temos, a que pela experiência, pelo trabalho e pelo sofrimento, e mais ainda, pela fé e pelo amor, alcançamos.

Bem haveis dito portanto: “Sem caridade não há salvação”. Os que desprezam a caridade são os mesmos que repelem a oração, porque não as compreendem, procurando seu significado entre as cousas de ordem material, por meio de palavras baseadas na razão dos sentidos. Somente o que sabe amar compreende a caridade que a síntese encerra do universo inteiro. É que o espírito adiantado, com corpo ou sem corpo de homem, percebe, sente, vê as cousas da alma que não têm, porém, tradução em vossas palavras; aqueles, portanto, que com as muletas da razão humana unicamente caminham, cegos são de alma, porque jovens são ainda como espíritos e é da caridade vossa, de vosso amor e da vossa fé que hão de aprender, não de vossos raciocínios.

A razão leva para o fanatismo, a caridade somente ao bem conduz. A razão, a puramente humana, também precioso instrumento é do progresso, mas não deve ela encerrar-se no círculo fanático das observações materiais, sendo que abertas deve deixar suas portas superiores para poder-se elevar, por elas, pouco a pouco, até à razão superior do espírito.

Sede, pois, humildes e confiados e crede em Jesus, que o mais elevado espírito é, aquele que a Humanidade conduz.

Estas palavras são de Paulo, de quem eu muito aprendi. Ele, porém, não pode escrever, porque diz que com seu cérebro de homem melhor escreve porque sua independência do corpo que anima, é antes um defeito que uma virtude de sua encarnação, e que se poucos fazem caso de suas palavras de homem assim trazidas, menos atenderiam às de sua comunicação deficiente.

Paulo! Paulo! Tão grande sempre como simples. Cheia está minha alma de admiração e de gratidão para ti, que me mostraste o livre espírito da razão humana unida à razão superior do espírito, porque se nada vale o saber sem o amor, muito pouca cousa é o amor sem o saber; mas o amor ao saber nos impele. Não creias portanto que a algo bom chegareis com vossas lutas sociais se não vos fazeis melhores.

Terminarei, pois, com estas proféticas palavras do Messias: “Só pelo amor será salvo o homem”Eu também, com todo o sentimento de que é capaz a minha alma, faço votos fervorosos pelo triunfo do bem entre os homens, mediante o advento da idéia de Jesus assim enunciada.

Toda a felicidade vos deseja em Deus.

BARNABÉ, Apóstolo.


¹ Este conceito, precisamente, é o que quis manifestar ao dizer que os ensinamentos de Jesus implicam na idéia de progresso, quer dizer que suas doutrinas são progressistas. Muitas são as passagens dos Evangelhos que assim o provam e muito claramente o explica o Mestre no capítulo XIV, onde diz o que deve entender-se por “o espírito de verdade”, palavras estas que acertadamente foram tornadas por alguns espíritos elevados para assinar suas comunicações, que contêm realmente as manifestações do mais elevado espírito de verdade que podemos alcançar. — Nota do Sr. Rebaudi.

CAPÍTULO XXX – 2ª Parte – Livro: Vida de Jesus ditada por Ele Mesmo. O Apóstolo João explica sua posição em meio da pequena igreja galiléia e a sua atuação posterior, aproveitando o momento para esclarecer muitos pontos obscuros dos princípios do Cristianismo.



O que disser: não tenho pecado, a si mesmo enganaria e se eu vos disser que não tenho pecado, me torno mentiroso e não está em mim a palavra daquele que veio em nome do Pai para o conhecimento da verdade que do Pai é. Mas se longe estava João da pureza do Salvador, seu coração estava no entanto com ele, que sob seu amparo o cobriu e como filho amado o tratou.

Como vos digo aconteceu: que estavam unicamente com Jesus, Cefas e Simão¹ na aprendizagem do apostolado aos quais o Messias havia dito: pescadores sois de peixes, mas vinde, segui-me e pescadores vos farei de homens; e nesse tempo minha mãe, chamada Salomé, ouvia a Jesus com grande fé e devoção na palavra de Deus, e compreendendo ela que era ele verdadeiramente o profeta esperado, o filho de Deus vivo, quis dependência dele para seus filhos, no amor, nos ensinamentos e na obediência, como pai, mestre e senhor. Estes eram: Tiago meu irmão mais velho, e eu, João.

Nosso pai, Zebedeu, achou bem como a mãe e levados fomos à presença de Jesus, que nos recebeu com o amor que lhe era comum, sendo-lhe estimada a família de Zebedeu que fé e devoção nele tivera.

Já disse portanto, sem culpa não devo dizer-me, porém os curtos anos, a natural vivacidade e muito loquaz, compreendendo também mais depressa as cousas pelo Mestre ditas, davam-me, perante o Senhor, alguma aparente preferência e dela não soube João usar para o bem, mas sim, para querer elevar sua própria pessoa de discípulo preferido. Tão-somente a Cefas, ou Pedro como se lhe chamou desde esse tempo, tinha João em consideração, por seu grande zelo e firmeza no amor do Mestre e cumprimento das cousas que dele vinham.

A vaidade e a falta de experiência chegaram desta maneira a ser causa de alguns ciúmes na família de Jesus e discutindo com mau modo, ainda que com razão muitas vezes, estabelecia causas de pequenas discórdias. Meu irmão Tiago vinha sempre em meu apoio. Era ele também vivo e inconstante no temperamento, sendo que na iniciativa acanhado era e em ajudar o irmão era o contrário.

Muito pouco certamente era de importar, para a pequena comunidade, os ditos ciúmes e a tais dissensões entre os irmãos. É preciso, porém, considerar a diferente natureza de todo o homem, e é por isso que Judas, chamado o Iscariotes, débil de corpo, com timidez e retraimento em sua pessoa, deu-se em acreditar que não o tomavam em consideração e as aparentes preferências do Senhor por Pedro e por João abriram profunda ferida em seu coração. O espírito do mal trabalhava invisivelmente e faltou-lhe a confiança no Mestre, que o teria salvo; antes o entregou, porém não por dinheiro, que ninguém lhe ofereceu, mas sim por idéia de sua vingança.

Judas, caído no arrependimento assim que o mal praticou, internou-se no campo, vida levando de pena e de trabalho. Espírito de luz é hoje como os outros discípulos do Senhor.

João pôde bem desinteressar-se um pouco de si próprio para aproximar-se do irmão e libertá-lo das trevas de seu coração com palavras de amor, enquanto que somente de fantasias e do desejo de glória apostólica cheia tinha eu minh'alma.

Irmãos meus: Qualquer que comete pecado, transgressão faz também à lei e para o cumprimento dela, nela mesmo castigado é o transgressor, encontrando entrada o espírito maligno. Ele age depois tentando a cada qual em suas fraquezas. Assim sucedeu portanto que não tentou a João na maldade o espírito maligno, mas sim em suas fantasias, dadas a exagerar todas as cousas do Mestre, querendo elevá-lo até Deus para elevar-se depois até ele também. Porém o amor de João era grande. Sua fé, grande era também e sua vontade como as duas. Queria o engrandecimento da doutrina elevando o seu divino divulgador e perante até os outros apóstolos, engrandecimento demonstrava de tudo o que ele só lhes dizia saber ou haver visto do Mestre.

Eis, portanto, que o espírito maligno preparava nele as causas do que mais tarde aconteceu em Éfeso. Tudo o que saído foi da boca de João em sã intenção foi para o amado Mestre e também os milagres não foram assim como meu exagerado caráter os pintou; não foi somente João que os afirmou, mas sim também os outros discípulos e muitos de seus ouvintes. Exagero, devo dizer, não falsidade, pois milagres eram nesses tempos a visão do ainda não acontecido, o conhecimento do pensar de outro, a cura de enfermos incuráveis, a liberação dos espíritos imundos dos pecadores dominados por eles. Isto o Senhor fazia e ensinou-o a fazer aos seus discípulos também; porém, o que de verdade há em chamar-se milagre não existiu e de sua invenção a João por completo pertence a iniciativa; os outros discípulos submeteram-se pouco a pouco ou calaram e depois aceitaram e também como eu, falaram afinal.

Se eu vos disser, portanto, que não tenho pecado, torno-me mentiroso, porém o tal pecado em falar dos milagres que não existiram, eis que para bem vieram, como pelo próprio Jesus dito é.² O espírito maligno, portanto, apesar de procurar o mal, fez o bem, porquanto até o mal e a própria morte³ hão de servir de pedestal ao bem, pois tal é a lei de Deus.

Isto foi quanto aos fatos do Messias; nos tempos porém que decorreram depois de sua morte, nas doutrinas confusão trouxe também sua fantasia, por querer fazer melhor, em recordação e amor, das palavras do Mestre, sendo porém que o espírito maligno da vaidade, ainda que fosse pouca, porém grande por ser do apóstolo, porta aberta encontrou no curto entendimento do discípulo predileto de Jesus.

É assim, portanto, que muito trocadas foram as palavras do Messias no Evangelho de João, que aos outros arrastou em parte, dando-lhe a todos para dizer da anunciação do anjo, do nascimento de uma virgem, da morte dos inocentes e outras cousas que João soube de conhecimentos adquiridos nas cidades que visitou quando se dispersou a primeira igreja, pela destruição de Jerusalém, no ano 70 de Jesus Cristo.

Pecado portanto houve em João, porém não a intenção do mal; sim, mais desejo do bem em seu coração por amor do Mestre e pelo maior valor que nesciamente acreditou dar às suas palavras, perante os homens. E é verdade que nós, unção do Filho de Deus recebemos e o amor e a fé estavam em nós e tudo assim para nós era levado e o pecado de João foi muito maior que outra cousa, pela falta do entendimento no qual soprando o espírito maligno e entre o vaidoso de seu coração, que pouco via já a humildade da doutrina, fez-lhe ver o que não devia, quer dizer: Quis engrandecimento dar às cousas que de Deus vinham e que maiores por isso eram; porém o grande fez pequeno e das causas de Deus cousas de homens.

Porém no tempo que isto fiz, cegos eram os entendimentos e as cousas assim ditas mais valor por certo encontravam, do que se a simples verdade ouvissem. Contrário, porém, é hoje o fato, chegando as gentes a desconhecer não somente os milagres mas também as cousas dos grandes espíritos, o que o grande espírito de Jesus pôde fazer e fez.

Assim, em tal causa não dão já testemunho de Cristo e da palavra que do Pai recebeu e em seu nome aos homens ensinou. Grande prejuízo é, pois, agora o de João. Mas eis que volta o Messias para restabelecer as cousas como estava anunciado e eis também seus apóstolos trazendo-vos cada qual o que lhe foi ordenado.

Porém, ao aproximar-se João até vós para o restabelecimento da verdade, há de fazê-lo de maneira que, em sua essência e em sua forma, o verdadeiro esteja certamente com a pessoa desses tempos, não se afastando do que então foi. Hei de recordar portanto os passos dessa época que tão dilatada foi para o apóstolo João que, João o Velho deram em chamar-lhe.

Ensinado por mim foi, não deve duvidar-se, o Evangelho de São João, mas não na letra que o conheceis, apesar de ter sido bem o espírito do discípulo predileto quem o inspirou. Assim, portanto, verdade fala quem diz: João escreveu o Evangelho; e assim pois verdade também fala quem diz: João não escreveu o Evangelho. Quer isto dizer que o apostolado e o ensinamento são de João, mas a letra é e em parte não é. Depois da prisão que sofreu por ordem do Imperador Domiciano e do desterro em Éfeso com que o César o castigou, voltou outra vez a Éfeso quando da morte do mesmo Imperador e começou a preparar as cousas do Evangelho com diferente idéia da que no ano 70 de Jerusalém consigo resolveu. Não, em verdade, o espírito outra cousa fez senão engrandecer-se,  propôs a influência que pudesse ter sobre os gentios.

Disse, pois, assim João: Aqui em Éfeso, em que a tanto a filosofia subiu, muito pouca cousa é a simples doutrina nazarena ensinada por Jesus aos também simples galileus, porém Jesus mais sábias doutrinas aqui houvera dado aos homens que aqui estão porque, sendo Jesus o maior, não há de haver doutrina mais elevada que a dele. E eis, portanto, que entreguei-me ao que nesse tempo chamado era a inspiração do Espírito Santo, e assim, não o Espírito Santo, mas o espírito de meu ofuscamento fez-me escrever e mudar as ungidas palavras do Messias nas frias palavras daquele que suas fantasias quer estabelecer com o raciocínio.

A teologia estranha com nascimento na Ásia Menor nesses tempos e que em Éfeso maior crescimento teve, grande influência alcançou em meus ensinamentos, mas não tal como no Evangelho de meu nome se encontra, porquanto acréscimos e mudanças de importância há no que João ditara a seus discípulos, e no princípio do Evangelho, principalmente, nada é de João.

Os sublimes discursos do Messias procurava eu fazê-los de importância maior nos ensinamentos a meus discípulos de Éfeso e eles, assim dessa maneira vô-los transmitiram e é por isso que falta-lhes, de certa maneira e completamente, sua original sublimidade; saboreai no entanto o dizer de Mateus no Evangelho que de seu nome se escreveu em Betânia, por seus discípulos também, poucos anos antes que o meu. Tais discursos, a palavra e o espírito do Messias em si levam, mas os de João frio reflexo somente em si mostram.

Por escrever certamente as “Revelações” que primeiro existiram, foi que no ano 95 do Senhor, moveu perseguição aos cristãos o Imperador Domiciano e fez-me meter primeiramente em cadeias em Éfeso, onde vindo era João para ensinar “O Evangelho”, desde os dias da destruição de Jerusalém. Antes, já conhecido era, com Pedro, em Éfeso, e levado também havia as palavras do Messias; somente mais tarde lhe chegou a idéia de estabelecer-se no lugar, inteiramente, para os propósitos do Senhor.

Estabeleceu João assim em Éfeso base para a Igreja do Oriente, entretanto o Imperador, não satisfeito com as cadeias de João, quis dar-lhe morte; mudada, porém por Deus sua idéia, bastou servir-lhe de desterro a ilha de Patmos. Foi, no entanto, nesse lugar que escreveu a “Revelação”, sendo já a outra metade de ano 95 do Senhor. Chegado o ano 96, livre viu-se João pela morte do César, indo ocupar seu apostolado em Éfeso, onde se ocupou em ditar “O Evangelho” assim como se ocupara antes em ensiná-lo a seus discípulos.

Sopravam, porém, neles as idéias estranhas de novas doutrinas que em públicos ensinamentos muito valor a alcançar chegaram, e é por isso que, no brilhante, singelo e sublime das palavras do Senhor, as que já João diminuíra, confusão levantaram-lhes ainda os discípulos deste. Prova vos dá a melhor, disto, o capítulo I que nada tem de João.

Toda a verdade deve ser dita, somente o capítulo XXI, todo inteiro, completamente, é de João, sendo que ele mesmo, como já dito foi, chegou a tomar parte das tais idéias com intenção de pôr em maior destaque o que dito foi singelamente pelo Mestre.

Chega portanto ao justo conhecimento das cousas: que João ditou “O Evangelho” a seus discípulos os quais porém somente o espírito guardaram. É assim, portanto, que em vossas mãos está a palavra do Messias com inteira certeza no que da doutrina é, se bem que nas palavras, diferença haveis de encontrar. Em Mateus pode-se dizer que a palavra e a doutrina do Salvador estão inteiramente. Em Marcos do mesmo modo estão, porém principalmente em Mateus.

Do apóstolo Lucas não chegou a escrever-se o Evangelho. Outro Lucas, a quem Galiléia e Jerusalém não conheceram, na Ásia Menor, porém com empenho buscou as cousas pelos discípulos dos apóstolos ditas. Estava também em Damasco um discípulo direto do Senhor, chamado Ananias, que a Paulo para curar viera nos dias de sua consagração pelo espírito do Senhor, quando vinha Paulo de Jerusalém a caminho de Damasco. Ananias do mesmo modo consultado foi por Lucas, ou melhor Lucano, para o Evangelho que empenho em escrever ele teve e Policarpo também, discípulo de João, perguntado foi e assim vistos foram de iguais documentos e contudo escreveu Lucas um Evangelho bom, se bem que não procedesse de nenhum discípulo direto do Senhor.

Os três outros, pode dizer-se, saíram: Mateus, no ano do Senhor 89; Marcos 91; e João 96. Pode dizer-se, quer dizer: que por esses anos Mateus e Marcos ocuparam-se em escrever guiados por Pedro; Mateus juntou notícias e discursos do mestre em língua aramaica; Marcos dedicou-se principalmente em escrever sentenças e anedotas do Senhor e fê-lo em língua hebréia. Os discípulos destes, porém, logo que pouco depois estes apóstolos morreram, maiores cousas acrescentaram aos mesmos ensinamentos daqueles. Sucede no entanto que tais terminados primeiro foram que o de João, o qual pouco depois se viu no ano 96 do Senhor. O de Lucas, porém, não é já do primeiro século, sim da metade do segundo, isto é, por cerca do ano 140 do Senhor.

A importância que do escrito, naquele momento, não se deu, foi em razão da proximidade dos tempos. Sendo que todas as cousas em renovação, caídas ver-se-iam. Que era de importar aos homens que fossem escritas? Aproximava-se o Reino de Deus, chegando já a erguer-se sobre a destruição do velho, passado e mau, levantando-se sobre toda a morte, toda a vida. Havia-se então de escrever para os mortos? A anunciação, como escrito está na história, se não existiu certamente, sempre se disse que, em vozes misteriosas faladasouviu-se do Messias vindouro a anunciação e em sonhos também, isto é, de Jesus, de quem não pode duvidar-se que tudo o que escrito estava encontrou seu cumprimento, também como o Batista o disse: “Este é aquele de quem disse: Depois de mim vem um varão o qual é antes de mim, porque era primeiro do que eu e certamente, espírito maior que Jesus jamais veio entre os homens, que tinham de vir.

Obrigado vê-se ele mesmo, no entanto, a demonstrações mais pequenas de si próprio do que em verdade comportava sua pessoa, sendo que os dons que vós chamais médiuns, mais que ninguém ele alcançou, o que junto com a inteligência, perspicácia e sua grande vontade, tinham-no mais alto colocado e com maior poder que nenhum outro homem.

Se, portanto, milagres não pôde fazer, porque tampouco Deus pode, grandes cousas porém, por ele aos homens foram feitas para que os homens nele acreditassem, sinais são que do Pai recebera ministério. Nenhum nome mais odiado é e mais temido que o de Jesus, pelos espíritos do mal e nenhuma pessoa foi, é e será mais tenazmente perseguida pelos homens inimigos de todo o bem que a personalidade do Mártir do Gólgota. Prova é isto que ninguém há maior que Jesus entre os homens.

Depois do desaparecimento material do Mestre, somente em sua lembrança e amor ocuparam-se a princípio seus discípulos, por inteiro entregues às manifestações de sua ressurreição espiritual. Poucas vezes certamente deixou-se ver o Senhor de todos os seus discípulos reunidos, mas muito freqüentemente, entretanto, de dois ou três discípulos reunidos, principalmente de Pedro e de João. O que chamado é “a visão de Pedro”, um sonho dele foi somente.

A pesca milagrosa, abundância recolheu somente seguindo conselho de um homem que viera falar a Pedro desde a costa, no qual mais tarde, com André, Tiago e João, acreditaram ter visto o próprio Mestre, que na ofuscação de seus espíritos, desconheceram. Os tais casos que da fantasia e fé ardente dos discípulos confusão foram fazendo com fatos verdadeiros, antes da morte e depois da morte do Messias, fizeram enredadas relações na lembrança depois dos discípulos dos apóstolos os quais destes receberam o Evangelho e completaram mais tarde com acréscimos de suas recordações. É certamente para notar que passam sempre sem atenção dos homens as cousas de maior importância, fixando-a no entanto nas menos importantes que principalmente vêm bater em suas vestes, das quais escrava dependência guardam ainda.

Tanto mais alto alcançareis em perceber a verdade quanto a maior independência dos sentidos chegardes, quer dizer que o espírito chegará à dominação dos sentidos antes que estes sobre o espírito.

Não está portanto em vós o modo de apreciar os fatos de Jesus, alguns dos quais, João, espírito mais velho que vós, não chegou ainda a compreender e outros dois mil anos sendo passados, o abismam em seu entendimento por sua imensidade e cegam seus olhos a muita luz deles. Os homens no entanto somente as palavras vêem e mais que tudo trazem confusão a seu entendimento os chamados milagres, sendo que nem sequer ainda o conceito da fé e da oração é compreendido depois de quase dois mil anos. Unicamente as palavras e o raciocínio sobre tais conseguis alcançar, porém a essência delas não a percebeis. É vos necessário portanto nascer de novo, renascer e tornar a nascer para compreender, para dar com a essência dos simples ensinamentos do Messias.

De boa vontade nesses tempos veio o Senhor para dizer: “Se vos disse cousas terrenas e não as acreditastes, como acreditaríeis se vos falasse das celestiais?” Os discípulos, portanto, eles também jamais estiveram no inteiro entendimento das cousas por ele trazidas ao mundo. Significação fácil em aparência muitas vezes têm as cousas, enquanto que escondido guardam o espírito delas.

João, também da recordação dos ensinamentos do Senhor recebidos, é lhe dado agora vir deles em muito maior aproveitamento, sendo assim que: o que era desde o princípio do Pai era, porque todas as cousas são dele e dele vem toda a vida; dele, portanto, vida eternapara trazer-nos veio o Filho, porque a graça do Pai pelo Filho temos e é por isso que tudo o que no Messias era e todos os seus fatos e ensinamentos testemunho davam do alto ministério que de Deus recebeu, e assim também dele ouvimos: “Eu vim em nome de meu Pai e não me recebeis: Se outro vier em seu próprio nome, a ele recebereis.” “Mas eu tenho maior testemunho que o de João, porque as obras que o Pai ordenou-me que cumprisse, as quais eu executo, dão testemunho de mim, que o Pai me enviou”.

É assim agora, que, se naqueles tempos as fantasias e os milagres inventados por um discípulo deram notoriedade ao Mestre, eis que obrigado se vê a vir novamente e dizendo assim, que o milagre nada tem com a doutrina e a doutrina nada tem com o milagre, sendo que este não existiu, enquanto que a doutrina do Pai vive em todo tempo.

No dizer do Senhor: “Eu milagres não fiz”, verdade diz, e ouvido é dos que não querem milagres; estes, porém, a verdade não compreenderam, porque entendem que o Senhor não fez as grandes cousas que vindo foi para cumprir.

Em verdade vos digo, porém, que a presença de Jesus somente bastava para impor sua pessoa; da fronte e dos olhos dele parecia sair luz: a palavra com doçura e com sentimento dita, ao coração chegava dos ouvintes e saía da sua pessoa num fluido tão suave, que a curar chegava muitas vezes os enfermos que dele se acercavam.

Bem tendes vindo vós agora em conhecimento do atraso dos homens que dão em negar, entre vós também, as grandes cousas que pela ciência da alma são feitas, porque não compreendem, isto quer dizer, porque lhes falta a fé, e falta-lhes a fé porque ainda à compreensão não chegaram. Falta-lhes o adiantamento para compreender as cousas do espírito e quando mortos são do corpo, mortos quase andam na vida espiritual, pois que não sabem e não compreendem. Esta é portanto a vida do espírito — a vida eterna — que pelo Filho do Pai temos, pois que a verdade e a unção no amor de Deus e dos homens e todas as cousas do espírito que pelo Senhor chegamos a conhecer e assim também o grande poder que por tais cousas o espírito alcança, dá-lhe capacidade para a vida inteira e completamente sem dependência do corpo e depois também que este morrer, a vida eterna portanto nossa é.

Por tais cousas, veio João para dizer que a graça do Pai pelo Filho temos e do Pai pelo Filho vida eterna alcançaremos.

Vou contar agora o acontecido nos primeiros tempos da sociedade galiléia dos apóstolos e discípulos do Messias, os quais voltando a Galiléia durante poucos dias em obediência ao espírito ressuscitado dele próprio, vieram para abrigar em suas almas o repouso e a tranqüilidade que somente longe de Jerusalém podiam encontrar. Nessas terras, das mais ternas recordações, fizera-se ver o espírito do Senhor ressuscitado de uma maneira mais tranqüilizadora para nós, pelo que acontecido foi de seu martírio, e morte em Jerusalém, pois de tudo era mais dolorosa recordação, aí.

Porém, grande exagero nisto também há, das aparições do Senhor no meio de todos os seus discípulos, pois que muito poucas vezes isto aconteceu, sendo que muitas vezes deixava-se ver de um ou de dois deles, e isto contado era depois a todos, isto é, falava-se entre todos, e um ou outro aumentava alguma cousa também chegando afinal a vós como cousas maravilhosas.

Porém, freqüentemente ouvidas eram dos discípulos vozes de espíritos, que lhes ensinavam os caminhos do Senhor, como agora também a vós acontece. No meio dessas vozes, portanto, fácil vos é compreender que a do querido Mestre principalmente vir devia aos discípulos amados.

Assim portanto, como dito foi por Pedro, a ressurreição do corpo não houve para o Messias e sim somente a do espírito, como a todos acontece. Assim, o dever de terem como que reflexão e decisão para o futuro fizera-os buscar o Mestre, no repouso das suas almas, na querida Galiléia, principalmente em Cafarnaum e mais ainda nas praias do mar de Tiberíades, às quais no oficio de pescadores outra vez viéramos e nisto também para maior semelhança com o passado, ganhamos na recordação do Senhor.

Assim, portanto, passou-se o tempo da morada dos apóstolos na Galiléia, porém nem todos eles estavam nesse lugar juntos como nos dias do Senhor. Em Jerusalém, sim, todos juntos estavam depois, não separando-se mais até ao tempo da grande dispersão no ano 70 do Senhor.

Deu certamente o Messias princípio ao ensinamento da palavra de Deus, tendo 25 anos; antes, porém, já falava nos lugares públicos onde os hebreus pobres se juntavam para falar de seus males, os quais andavam em queixas sem fim justas, porém contra os ricos e os mandões que vinham, sem cessar, oprimindo e empobrecendo o povo, sim que também falava o Senhor dos justos de Deus e das cousas que dele vinham em sinais de confusão dos maus e galardão dos bons. Quer dizer portanto que o Messias 23 anos tinha nesse tempo, porém, em chegando aos 25 a predicação começou. A Jerusalém fora antes, mandando-o o pai primeiramente, indo com a mãe depois, sobrevindo a morte do pai.

Em estudos ainda, já ensinando andava, pois que tendo apenas 15 anos os estudos em Jerusalém principiou, até aos 23 chegando Dos estudos vieram ao Senhor as cousas da vida, das que precisão tem todo espírito para seu trabalho na Terra, o qual porém de ordem superior para ela era entre os demais homens, pois que para estabelecer a verdadeira religião ao mundo viera.

A certeza disto e a clareza vêem-se em lendo a própria vida de Jesus por ele ditada. Jesus, portanto, conhecedor era e escritor da língua hebréia desses tempos, mestre também era no conhecimento das sagradas escrituras. Das poucas ciências que para estudo eram, dos ensinadores judeus, Jesus todo o conhecimento tinha e da aprendizagem para a cura de enfermos principalmente.

Pouco, em dar remédios, era dado e mais, o que agora chamais magnetismo, usava, isto é, as mais das vezes o que chamado é por vós imposição e aplicação e sopro, ou mais do que isso ainda, o que chamado é mentalismo; tudo isso, porém, vinha a ser a forma, obtendo assim na aparência humana as cousas ao grande espírito de Jesus devidas. Aos espíritos inferiores, e aos que em maior inferioridade estão no mundo, não é dado as cousas chegar dos espíritos puros, as quais só em palavras compreendem, não na essência.

A razão do homem a dúvidas leva sempre enquanto que o espírito com elevação vê e sente as cousas da verdade como vós a luz do dia vedes. Assim, portanto, os próprios discípulos do Senhor eram levados mais por suas palavras que pelo espírito dos seus ensinamentos.

Não mais de oito dias moraram os apóstolos em Jerusalém, depois que a morte deram seus inimigos ao Senhor, quem para indicar-lhes para irem a Galiléia manifestação de si deu a Pedro e João, e nessas terras melhor prepararam o seu futuro ministério e ele também para melhor facilidade manifestou-lhes ali sua presença e sua palavra. Assim, foi dito já como apresentando-se o Senhor entre seus discípulos muitas vezes, principalmente a Pedro e a João, ampliando-lhes também os seus conselhos e ensinamentos, mas não como foi escrito, mas sim tal como vós sabeis que acontece entre vós também.

Sucedeu portanto que nos primeiros dias do mês de abril do ano 33, caminho tomaram da Galiléia a maior parte dos discípulos, quer dizer, Pedro, André, Tiago e João filhos de Zebedeu, Tomé, Tiago filho de Alfeu, Natanael, Filipe e os dois irmãos do Senhor, que andavam com eles, isto é, Tiago e o outro. Estes filhos eram de José, que em casamento tomou a Maria, e era ele viúvo e tinha filhos. De Maria não eram portanto estes, os quais, porém, em ajudar os apóstolos mais dados eram que os outros. As mulheres galiléias que atrás do Messias vieram na última viagem a Jerusalém, todas a caminho de Galiléia com os apóstolos, foram. Estes, porém, para Pentecostes voltaram, saindo para o grande acontecimento do dia, e quando chegaram a Jerusalém, orando todos juntos os apóstolos com grande unção, Pedro e João viram luz sobre a cabeça de todos, devido a estar o aposento bastante escuro, com porta e janela fechadas. Os outros também ver disseram, atribuindo-se o fato, com grande entusiasmo, à presença do espírito do Senhor, quer dizer, emanação do Senhor, ou outra cousa assim, sendo que em muita confusão estavam ainda os conhecimentos dos apóstolos.

Falou-se depois das línguas de fogo de Pentecostes como sendo obra do Espírito Santo. Porém, nenhum milagre aquilo foi porquanto de todo homem luz sai, ainda que em muita pequenez e facilmente um médium poderá vê-la em todo aquele que, entre a sombra encerrado como os apóstolos, em unção ora. Pecado porém está nisto também de João, quem exagero aqui como em tudo trouxe. Porém, não em dúvidas deve tomar-se a presença do Senhor no fluido de tais luzes, as quais, e a oração com elas se elevam em união com a elevada influência do Mestre, quem, a seu lado, por cada um era sentido.

Se antes, já a visão e a voz do espírito do Messias ressuscitado havia restituído o valor aos discípulos, no tal dia de Pentecostes cheios saíram de felicidade, certos dos grandes auxílios do Senhor, vindo-lhes grande vontade de levar a todas as partes a verdadeira doutrina.

Com maior valor, portanto, entregaram-se aos trabalhos começados já, com inteligência e resolução. Sendo, porém, de muito perigo ainda andar falando de Jesus justiçado, entre os mesmos que pelo ódio a tal chegaram, dando-se abominável fim, o próprio Senhor falou em visão a Pedro, mandando-o voltar a Galiléia, e que daí viesse quando outra ordem recebesse. Esta, portanto, já antes do dia de Pentecostes teve-a Pedro em sonhos, não em visão verdadeira, tal como no Evangelho de João está dito:

“Simão Pedro, amas-me mais do que estes? E ele respondeu: Sim, Senhor, tu sabes que te amo. Disse-lhe: Apascenta minhas ovelhas. Tornou a dizer-lhe: Simão Pedro, amas-me? Disse-lhe: Sim, Senhor, tu sabes que te amo. Disse-lhe: Apascenta minhas ovelhas. Disse-lhe terceira vez: Simão Pedro, amas-me? Pedro ficou triste por lhe ter dito terceira vez: Amas-me? e disse-lhe: Senhor, tu sabes todas as cousas, tu sabes que eu te amo. Jesus disse-lhe: Apascenta as minhas ovelhas”.

Outras cousas disse-lhe também o Senhor; destas, porém, chegou-se a entender que, a vontade da nova marcha dos discípulos para Jerusalém, era do Senhor. Na seguinte noite do tal sonho, Filipe teve um também do mesmo modo, que vira-se, ele mesmo em marcha com o Mestre e os outros, caminhando para as festas de Pentecostes, do que ordem precisa do Senhor se teve, juntando-se os apóstolos com a gente que já em caravana caminho tomava da grande cidade. Das mulheres, porém, somente Maria, a mãe do Senhor, caminho tomou de Jerusalém com os dois filhos que estavam com os apóstolos e com João.

Sucedidas as cousas, como ficou dito, de Pentecostes, com maior valor se dedicaram aos ensinamentos das palavras do Senhor e do reino de Deus próximo. Todos os dias davam-se eles ao ministério da palavra debaixo do grande pórtico de Salomão, no templo; o mesmo lugar ocupado com eles pelo Messias. Não chamaram muito a atenção dos sacerdotes nesse lugar, porém crescendo o número dos que recebiam a palavra e eram batizados em nome de Jesus Cristo, começaram por querer fazer mal aos apóstolos, até encarcerar a Pedro e a João.

Pilatos, porém, grande severidade fez sentir nisto aos judeus, impedindo com forças as cousas que em prejuízo dos cristãos queriam os sacerdotes. Já Pilatos tudo de seu poder fizera por querer livrar da morte a Jesus e aos discípulos dele, e vendo neles homens bons e de humildade em suas cousas, parecia-lhe dever defendê-los perante a injustificada dureza dos judeus. Estes, porém, com muito trabalho e mentiras, recorreram de Pilatos ao Imperador que teve de ir a caminho de Roma para responder às queixas de seus governados.

Isto sucedeu no princípio do ano 36, sendo que reunidos estavam em vida comum com os apóstolos um grande número de crentes, chegando-se a ter que escolher alguns de maior unção no meio destes para que das comidas cuidassem e de todas as cousas em comum, enquanto que os apóstolos somente do ministério da palavra cuidavam.

Estes diáconos, assim foram chamados, eram cinco. Todos grandes na fé e na vontade. Estêvão e Filipe, porém, tiveram maior nome entre os tais, não somente pelo trabalho na diligência das comidas e demais cousas em comum, mas também nos ensinamentos do reino de Deus e do Cristo Redentor eram de muita ação em discursos e em discussões. Em grande ódio por isso caíram eles entre os judeus, os quais já na prisão haviam metido a Pedro e a João, tendo que soltá-los devido às ordens por Pilatos dadas por não querer castigos para cousas religiosas.

Em maior ódio dos judeus caíam por isto os cristãos, principalmente os chamados helenistas, por quem os gentios eram convertidos nas doutrinas do Senhor. Assim, portanto, tão depressa no fim do ano 36 afastara-se Pilatos de Jerusalém a caminho de Roma, prenderam a Estêvão e deram-lhe morte por apedrejamento e entregaram-se também a grande perseguição aos cristãos, principalmente aos helenistas convertidos.

Dispersão houve assim, portanto, dos cristãos por toda a Judéia e Samaria e mais longe ainda, levando, porém, a boa nova a todos os lugares; Filipe principalmente, não o apóstolo que ficou com os outros em Jerusalém e com os hebreus cristãos, mas sim Filipe o diácono. Dissolvida ficou assim a comunidade cristã que princípio teve na metade do ano 33; não chegou pois a completar quatro anos.

Para tão grande perseguição, grande prudência usaram os apóstolos e discípulos de Jesus e os outros irmãos que no lugar permaneceram e silenciosa, portanto, ficou a igreja de Jerusalém.

Nesses dias, porém, que era no princípio do ano 37, aproximou-se dos cristãos um jovem chamado Saul, o qual grande inimigo havia-se manifestado antes contra eles, tocado, porém, pela graça dedicou-se com grande fervor ao ministério da palavra pelo reino de Deus, trazido pelo Filho para salvação dos homens. Este Jesus era o Messias prometido, o Cristo que martírio e morte sofreu para remissão dos pecados.

A caminho de Damasco, Saul, chamado depois Paulo, teve visão do Senhor, em forma de luz, que lhe disse: “Saul, por que me persegues?” Nisto caiu por terra e, enfermo, levantaram-no levando-o à presença do discípulo de Jesus, Ananias, que o curou, pois que Jesus já no ano 29 a Damasco também fora e muitos discípulos fez. Em Damasco já apresentou-se a falar por todas as partes em nome de Jesus e pelo ministério que dele recebeu, como ele costumava dizer.

Grande confusão e ódios entre os hebreus de Damasco suscitou, os quais a morte dar-lhe quiseram. Fugiu, porém, Paulo a caminho de Jerusalém e quis juntar-se aos apóstolos, os quais, porém, o temiam.

Barnabé, no entanto, ouvindo as cousas a Paulo sucedidas, levou-o aos apóstolos e embora desconfiados a princípio paz tiveram e em amor entraram. Tais cousas, porém, ele por si mesmo melhor as disse. Assim, mais ou menos como quinze dias, passou em vida em comum com os apóstolos e com Tiago, o irmão do Senhor. Partiu depois, no cumprimento de seu ministério, que grande em verdade foi, a ponto de dar-se-lhe depois o nome de: “O Apóstolo dos gentios”.

Não creio, porém, como Pedro diz, que por Paulo salvou-se o cristianismo, pois que o cristianismo no Evangelho estava, e este dos apóstolos galileus saiu. Também mesmo muitos eram já os nazarenos, cristãos depois chamados, como ele mesmo em Damasco os encontrou.

Diz-me, porém Pedro agora, que do espírito do cristianismo que conheceis, quis ele dizer que Paulo foi o maior, pois que o espírito do cristianismo apostólico era mais judeu que cristão, pois que seguia as práticas todas do judaísmo, até o sábado e a circuncisão, as orações¹⁰ no templo de Salomão e as outras cousas.

Justo é o dito assim por Pedro, João reconheceu-o. Paulo, porém, muito estimado por nós, entre vós está agora e muitos o têm reconhecido, mas ele, que o sabe, nega.

Embora sendo homem, como espírito costuma manifestar-se longe de si, em certas ocasiões. Se assinou Paulo comunicação, não pode vir como homem e dizer: eu Paulo sou. Muitas outras coisas decerto Paulo têm sido e ele recorda-se sempre, porém, uns mais alto, outros mais baixo, unidos todos estamos às ordens de nosso Mestre Jesus. O Senhor, porém, nada escrito deixou, sempre dizendo: “A palavra falada muito mais vale que a palavra escrita, sentida ainda mais vale que palavra ouvida”, por isso foi, no entanto, que pouquíssimos discípulos reuniram depois os escritos que iguais fossem aos dos discípulos que a palavra do próprio Jesus ouviram e o sentimento dela, dele sentiram.

O trabalho de Jesus na vinha do Senhor, como nos outros tempos, continua, manifestando-se com maiores aclarações por intermédio de seus discípulos que, em turnos, cada um toma corpo para nascimento entre vós. Eles também, porém, esquecimento têm do passado, sendo que seu cérebro tão-somente a fotografia guarda das cousas pelos olhos vistas e pelos ouvidos escutadas, e isto é a memória do homem desde o nascimento. Nos sonhos, porém, e nos êxtases e outras maneiras de alcançar maior liberdade para o espírito, nasce memória das outras vidas em outros nascimentos do homem. Também é de considerar que nos poucos anos das crianças e mancebos principalmente, escravo é o espírito do cérebro de seu corpo; em mais largos anos do corpo, maior trabalho no seu cérebro fez o espírito e maior domínio alcançou nele, a menor dependência chega assim o espírito de seu cérebro e vêm, em certas ocasiões, à memória, as cousas de outras vidas. Isto, porém, acontece aos espíritos de longa existência, não aos novos. Muitos há, porém, entre vós que memória guardam das cousas de seus outros nascimentos. Vós também, no que é costume chamar fantasia, recordações tendes em verdade do passado, memória é, sem guia de consciência, portanto desordenada.

João, porém, que para estas cousas dizer, tomou a personalidade do apóstolo, isto é, a pessoa do discípulo de Jesus, dificuldade tem, portanto, devido ao seu adiantamento, de agora, com clareza, das cousas daquele tempo ensinamentos vos dar. As maneiras de falar naqueles tempos, de tal modo misturadas de dialetos e idiomas, estranhamente apresentam os pensamentos dele. A sujeição, portanto, a isto impôs-se para maior verdade das cousas que desses tempos veio recordar. Para as cousas portanto desses tempos a palavra desses tempos necessária é.

Sem fim o progresso é; porém somente no bem está o progresso. Tudo bom é conhecer e em todo o trabalho adiantamento para si recolherá o espírito, sempre, porém, com o propósito do bem há de ser.

Aquele que chegar a edificar sobre o amor para todas as suas cousas, o reino de Deus terá alcançado. Tal é o que João deseja para vós e diz: Não vos aflijam as penas da vida, pois que o vencer dificuldades com paciência, fé e vigor, do adiantamento do espírito vem em proveito. Para isto, amigos tendes a vosso lado que vos ajudam e Deus próprio, com os de boa vontade está sempre. Assim também não vos olvideis que tudo aquilo que para o bem de vossos irmãos por vós seja conseguido, em proveito de vós mesmos tudo virá depois.

E preciso acrescentar às cousas que já João disse que do acontecido, tão diferente do por vós acreditado, João somente tem aqui palavras; fê-lo, porém, nas cousas de maior importância acontecidas, se portanto, dito foi por João que em Jerusalém os apóstolos permaneceram até à dispersão de 70, não quer dizer que todos os apóstolos até esse tempo em Jerusalém permaneceram.

Vem-nos assim à lembrança que já no ano 37, Pedro e João foram a Samaria, Jope, Lida, Cesaréia e outras cidades não muito distantes, indo aí no apostolado da palavra e a outras cousas que eram do santo ministério deles. Pedro, já dito foi por João, que discípulo foi melhor entendedor do espírito das palavras do Senhor. João seguiu-o durante muito tempo, até por Antioquia depois, por onde Paulo e Barnabé, pelos anos 44 e 45 a intenso apostolado já se haviam dedicado, chegando a muito progresso essa igreja e fazendo-se, em muita abundância, o que chamado é por vós fenômenos medianímicos, destes em mais ocasiões: inspiração, visões, palavras ouvidas, sonhos, profecias, liberação dos espíritos imundos e curas com imposição das mãos e oração e com o que é costume dizer agora por vós: água magnetizada e azeite magnetizado.

Assim também devo dizer que nesse mesmo ano 44, antes do fim de fevereiro, veio Herodes Agripa para fazer cortar a cabeça de Tiago, irmão de João, e grande perseguição veio durante este tempo sobre os nazarenos, e a Pedro também o quis matar, encarcerando-o primeiro e levando-o depois em público para escarneamento, por ser Pedro cabeça do que chamavam eles: nova seita.

Amigos seus, porém, com grande influência, dirigiram-se a Herodes Agripa e este concedeu-lhes secreta liberdade, pois não era de seu interesse a morte do apóstolo, sim antes o propósito de ganhar para si a boa vontade do povo hebreu.

Sempre, portanto, que Pedro afastado se encontrasse de Jerusalém, Tiago, o irmão do Senhor, que a grande autoridade havia chegado, vinha ocupar o lugar primeiro entre os apóstolos.

Estava certamente no espírito da fé do apóstolo Tiago mais dependência da lei antiga que cristã unção em sua alma, e principalmente dado às cousas do Judaísmo, grande oposição fazia muitas vezes a Pedro em tais cousas; adepto era da circuncisão, nada amigo do ministério da palavra entre os gentios e opositor também, em certas ocasiões, das tais cousas de Paulo.

De todo, ficou enfim Tiago chefe dos anciões, enquanto que a igreja de Jerusalém vinha em decadência e a grande desenvolvimento chegava a de Antioquia, onde se começou a chamar cristãos aos adeptos, que chamados eram nazarenos em Jerusalém. De Antioquia, depois no ano 38, Paulo, Barnabé chamado também Barnabás, e João Marcos discípulo de Pedro que de Jerusalém a Barnabé acompanhara, caminho tomaram para terras dos pagãos, entregando-se com grande entusiasmo e todo o poder da fé, ao apostolado de Cristo; de Chipre, Malta, Puzzola e outras terras, até Roma e cidades vizinhas, Paulo principalmente, e por fim só, ao mais importante trabalho do ministério divino da palavra e demais cousas que em nome do Senhor dirigia, viu-se entregue, sendo dele a conquista espiritual das terras visitadas, sendo portanto dele a semente e o fundamento da igreja do Ocidente.

Isto, para dizer, portanto, João veio, não por intenção da história que bastante é de vós já conhecida, mas sim para esclarecimento do que ele antes neste mesmo lugar disse, sendo que os tempos que ele para mostrar veio, pelo mau conhecimento vosso fez, para que portanto, os anos citados por desconhecidos não sejam tomados.

É por isso que, das cousas mais distantes e em maior dúvida, vosso João falar-vos veio e para conclusão agora este aclaramento último acrescentar.

Se Paulo portanto grande foi nisto e grande foi desde seu princípio na doutrina, ainda mais cristã no espírito das idéias dele que as doutrinas dos nazarenos, os quais, os anciões e os chamados hebreus, assim chamados ainda eram em Jerusalém, e certamente mais judeus que cristãos mostravam-se ainda.

Se Paulo, porém, grande foi, não em menor grandeza há de ter-se a Barnabé que o compreendeu no primeiro momento, quando, aproximando-se dos apóstolos em Jerusalém, estes o temeram e tão somente aquele o apresentou recomendando-o aos próprios anciões. Por tal motivo viu-se confirmado o ministério de Paulo que, portanto, de Barnabé toda força teve, pela justificação de seu apostolado nas cousas que do próprio Jesus recebeu e assim também, mais tarde, fé e força toda dele recebeu durante o tempo que Paulo, por causa da contradição dos que ainda eram partidários da circuncisão e conduzidos eram pelo espírito em hebreu, pelo qual arrastado se viu o próprio bom Pedro, em silêncio resolveu permanecer, por ter compreendido que se a lutar por suas idéias se decidisse, divisão e ruína adviriam para a Igreja de Cristo, porquanto faltava-lhe humildade no submeter-se aos apóstolos.

Barnabé, porém, fez-se pequeno e humilde para o engrandecimento da obra do Senhor, aproximando-se a Paulo, que retirou-se para sua cidade de Tarso¹¹ e o apóstolo, certamente para maior grandeza de seu apostolado, humilhou-se a Paulo não apóstolo e subordinado a ele colocou-se, alcançando assim conquista do espírito ressentido de Paulo, de quem a fé em seu apostolado estremecida quase pareceu.

Muito poucas cousas Barnabé e João Marcos escreveram e a perderem-se essas poucas cousas chegaram, ou em parte misturadas estão sem distinção com as cousas por outros escritas.

Sucede, porém, como já dito foi, que maior valor à tradição tem-se dado do que àquilo que a escrever-se chegou, e para repetir também João veio, que para maior aproveitamento da palavra ouvida o homem veio, que da palavra somente compreendida, sendo portanto que “só pelo amor será salvo o homem”.

A paz do Senhor seja convosco.

JOÃO O VELHO
Apóstolo de Jesus Cristo.

¹ Que é conhecido por André.

² Deve referir-se à seguinte passagem da Vida de Jesus, 2ª Parte: “A superstição e o desejo do maravilhoso, fomentados pelas fantasias de um discípulo que muito longe se encontrava dos verdadeiros propósitos do Mestre, rodearam a minha pessoa dos prestígios da divindade, pela divulgação de falsos milagres, concorrendo com isto a que corresse o povo ao encontro do portador da boa nova do novo profeta, do Messias tantas vezes anunciado” etc.

³ “Admiremos e adoremos os desígnios de Deus, que de tudo e todos os momentos fazem brotar o bem e o amor, a harmonia e a luz, ainda quando tudo parece desfalecer e até quando a morte põe seu selo, aterrador para vossos olhos como cortando toda a esperança e matando a fé; é então quando tudo rejuvenesce e se renova no Pai e pelo Pai, que é finalmente, o principio e o termo de todas as coisas.” (Vida de Jesus, 2ª Parte).

É sabido que a personalidade atual de um espírito é a resultante de todas as personalidades que teve, porque a diversidade de condições de cada encarnação e o esquecimento do passado determinam de certo modo mudanças de personalidade, por mais que cada homem traga em si o substratum de todo o progresso adquirido e guarde inalterável o seu caráter. O espírito toma pois todo o progresso adquirido e a lembrança de todas as suas existências. Agora o que João quer dizer, é que, para ser inteiramente fiel à verdade, esqueceu-se de suas encarnações posteriores, fixando-se na que teve então; daí também a forma antiquada de seu modo de escrever. — Nota do Sr. Rebaudi.

Isto indicaria apenas um simples fenômeno de mediunidade auditiva, sendo que então tais fatos eram atribuídos ao “anjo de Deus”. Dada a transcendência da missão de que Jesus estava encarregado, nada de extraordinário teria o fato da anunciação se o despojarmos de toda a idéia do sobrenatural, de que foi rodeado, porque outras anunciações têm tido e têm lugar em casos de muito menor importância. Unicamente é necessária a mediunidade.

É este um conceito que em todas as comunicações aparece, ainda que de formas diferentes, isto é: que nenhum dos espíritos que encarnaram sobre a terra alcançou a elevação de Jesus. — Nota do Sr. Rebaudi.

Agora mesmo existe entre nós mais de uma pessoa que pode manifestar-se a grandes distâncias, logrando ser vista em algumas ocasiões, percebida por seus fluidos mais freqüentemente, conseguindo proporcionar melhoria ou alívio sempre. Se isto podemos fazer nós, o que não faria Jesus? Deve-se observar que não são os conhecimentos científicos e filosóficos os que conduzem à aquisição destes poderes. Eu desafio a que se me apresente alguém que tenha exercido a magnetoterapia com inteiro altruísmo, como um apostolado durante uns vinte anos e que não tenha esta faculdade. — Nota do Sr. Rebaudi.

Segundo a concepção de Jesus, Deus é a fonte de toda a verdade e de todo o bem; tudo, pois, o que alcançarmos em tal sentido o alcançamos dele, mediante os nossos merecimentos, isto é, o positivo, e nisto está a vida do espírito, porque quanto mais alcança, maior é a sua personalidade. Jesus nos trouxe, de uma maneira concreta, a idéia da personalidade independente do corpo e evidenciou a sua consciência. Na consciência já assim formada e na tendência também desenvolvida para as manifestações do espírito, resulta alcançada a vida eterna na ação pessoal permanente. Resulta assim tê-la trazido Jesus do Pai, que tem vida eterna. O mal é o negativo, a falta de todo o bem e de todo o progresso é o pecado.

Os espíritos imundos, as enfermidades e o pecado se encontrariam juntos. Coisa curiosa!

As observações feitas na Sociedade Científica de Estudos Psíquicos demonstraram a
analogia dos fluidos de um febricitante com os de um criminoso. — Nota do Sr. Rebaudi.

É bem sabido quanto se censurava a Jesus suas contínuas violações do sábado e quanto à circuncisão, embora ele próprio tivesse que submeter-se a ela, o simples fato de sua preferência pelos gentios incircuncisos, demonstra que não era partidário dela, como que jamais tampouco sobre ela pronunciou palavra. — Nota do Sr. Rebaudi.

¹⁰ Pelo que diz respeito à oração, recordem-se suas palavras à Samaritana: “A hora vem, quando nem neste monte nem em Jerusalém adorareis ao...” “a hora vem e agora é quando os verdadeiros adoradores adorarão ao Pai em espírito e em verdade; porque...” — Nota do Sr. Rebaudi.


¹¹ Paulo era de Tarso, porém vivia então em uma cidade próxima a Jerusalém — Nota do Sr. Rebaudi.