Irmãos meus: A
predicação de Jesus, já vos disse, sofreu alteração desde seu começo, pelo
atraso dos homens que mal a compreendiam e pelo próprio fanatismo e ignorância
dos apóstolos, quando a obra do Messias foi substituída pela de seus discípulos
depois do cruel sacrifício do Gólgota. Não vos deixa compreender assim vossa
própria consciência, quando pensais nestas palavras que também vos foram
transmitidas: Ama a Deus sobre todas as cousas e ao próximo como a ti mesmo,
esta é a lei e os profetas? O principal, o fundamental, a essência do que
se me atribui, como dito por mim e repetido por meus apóstolos, não vos instrui
do errôneo e contrário à minha missão de todo o conjunto de maravilhosos
aditamentos que às minhas palavras se fizeram e aumentaram paulatinamente, por
meio da tradição de meu apostolado?
Como se pode manter
confusão entre o fim grandioso que a palavra de Deus trazia ao mundo, pela
própria boca do Enviado Celeste, e as aparatosas demonstrações do culto
idólatra, que mais tarde se constituiu com os reflexos de antigas religiões,
com velhos mitos e até com dogmas escolhidos das primitivas tradições sagradas
do longínquo Oriente?
No que das palavras
de Jesus se diz, o suficiente se conservou do que por ele dito foi realmente
para compreender seu espírito, cuja confusão jamais a divina vontade do Pai
teria consentido.
É justamente o
espírito, queridos irmãos meus, o que de Deus vem, porquanto a palavra é do
homem e somente se ajusta ao espírito enquanto a luz da alma a consinta em cada
caso, de acordo com a pureza do pensamento e elevação da idéia em cada homem.
Assim, pois, se
sempre falei do meu Deus e do nosso Deus, se em cada instante dei provas de
minha completa submissão ao Pai, que me enviou e nada disse de nenhum Espírito que
não fosse significação do espírito de luz, espírito de graça ou espírito de
verdade, não “Espírito de Verdade” e tampouco “Espírito Santo”, como mais tarde se
acrescentou, por que se tomam de minhas palavras tão estranhos ensinamentos,
formando três Deuses, para virem a ser finalmente um só Deus, dando-me, a mim
próprio, culto divino e fazendo do que chamado é em geral Espírito, uma pessoa
com o Espírito Santo?
Quando foi dito por
Jesus: de seu nascimento de uma virgem, por obra do espírito, de sua essência
como segunda pessoa da Divindade e de seus muitos milagres, endireitando
aleijados, fazendo caminhar a paralíticos, dando vista aos cegos, ouvidos aos surdos
e ressuscitando os mortos, tudo o que referido é já da pessoa de Cristna?
Quando dito foi por
Jesus alguma cousa referente à morte dos inocentes (que não sucedeu), mandada
por Herodes e que referido se encontra já com relação ao nascimento do mesmo Cristna?
Assim, muitas cousas
mais são referidas como procurando semelhanças entre o Filho de Deus, entre o
Messias, entre o verdadeiro enviado do Pai para os homens e esse personagem da mais
remota tradição da Humanidade; mas nenhuma relação guarda, em verdade, um com
outro, a não ser essa eterna intervenção de Deus sob formas diferentes, no meio
da vida humana, para seu adiantamento e sua marcha por direitos caminhos.
Não deis importância
à forçada semelhança de dois nomes escritos em idiomas diferentes, diversamente
pronunciados e habilmente acomodados para trazer confusão entre os crentes, pelos
que não o são. Posso portanto assegurar-vos que, se no tempo de minha morte,
pouco ou muito tempo depois que ela sucedeu, um adepto do que se chamou Jezeus
Cristna o tivesse articulado e meu nome fosse pronunciado por um hebreu
cristão, nenhuma aparência de semelhança teria suscitado, existindo maior diferença
entre seus nomes que o de Pedro com o de João, o de peixe com o de pássaro.
Assim, portanto, não
vos deixeis levar pelas estranhas fantasias que vieram lançar sobre a obra de
Jesus as aparências do mito, mediante maliciosas confusões entre o que
realmente se disse e se fez em nome do Pai e o que se acrescentou de fabuloso e
sobrenatural.
Oh!...
Repetir-vos-lo-ei com as mesmas palavras: — Oh!... Não me rechaceis agora vós,
porque não me apresento com os característicos da evidência material e com o
prestígio de mentirosos milagres!... Não me rechaceis, pois, e abri antes
vossos corações aos celestes eflúvios que de Deus vêm, abri vossas almas ao
eterno movimento do eterno amor e dilatai vossos espíritos até uni-los com o de
vosso Messias e mestre, unido quanto à grandeza que de Deus vem e até Deus
alcança, colocando-se assim ao vosso lado e elevando-vos a vós até minha
própria altura, para que, em estreita aliança, no Pai nos encontremos, e pelo
Pai testemunho tereis do filho, sendo a voz santa da fé sincera a que tal
mensagem carne fará com vosso próprio ser. Então, também chegado tereis ao
perfeito domínio da mísera natureza humana e próximos vos encontrareis da
conquista que no céu vos é reservada ao termo de vossa jornada.
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