Estranhas pareciam
estas palavras de Jesus a seus ouvintes o mesmo que outras: “Eu não trago a
paz, senão a guerra”, e isto é porque esquecem que não há paz sem guerras,
nem vitórias sem violências.
Não são guerras e
violências o que a verdade e o bem promovem, senão que em sua própria defesa se
vêem estes obrigados a sobrelevarem-se mais; ai da virtude, quando em meio da
perversidade dos homens carece de força para sustentar-se!
O universo inteiro
move-se ao impulso das forças contrárias, que no mundo físico podem ser
definidas como forças de atração e repulsão e no mundo moral, como o mal e o
bem.
A luta é, pois,
condição necessária da vida e tampouco há virtude sem esforços e sacrifícios.
Sem dúvida, a verdade
vence sempre afinal e o bem chega a predominar sempre, e diversamente Deus não
seria Deus, mas sim há de ser sempre mediante a luta e o trabalho.
É assim no mundo
material como no dos espíritos. Bem equivocados estão, portanto, os que crêem
que, mediante lutas temporais na Terra, podem conquistar a felicidade eterna no
Céu!
Grande é o dano que
os falsos profetas e maus mestres têm causado à Humanidade devido à sua
propensão de sempre escutar mais o mau que o bom, porém jamais deixou faltar
Deus aos bons, um farol de bem definida luz para guiar com segurança seus passos
pela senda que para Ele conduz, sendo que os próprios enviados para amparar o
homem entre a escabrosa rota da verdade, fraquejam as mais das vezes pelos
estorvos e inúteis dificuldades com que lhe agravam e até lhe impossibilitam a
marcha.
O homem é, pois, o
único culpado de seu próprio estacionamento e da maior parte de seus
sofrimentos que se derivam da falta de acatamento das leis com que Deus governa
o universo moral.
Enviou entre vós a
seu próprio filho para que abrísseis finalmente os olhos de vosso entendimento,
mas foi desconhecido, escarnecido, torturado e morto, os poucos que deram
ouvidos às suas palavras somente em mínima parte as compreenderam, transfigurando-as
depois de tal maneira os que lhes seguiram que chegou-se a matar e incendiar em
nome do humilde carpinteiro de Nazareth que palavras de vida e não de morte
tinha trazido e como se pequeno tivesse sido seu martírio e o sacrifício de sua
própria vida, deduziram-se estranhas teorias das simbólicas palavras pronunciadas
na última ceia, derivando delas o festim de carne humana em que voltou a ser
sacrificado e comido durante a missa, sob o símbolo eucarístico que o dogma
converte em fato real.
A este conceito
errado e nocivo ajunte-se o mais prejudicial ainda do quietismo como finalidade
do espírito que passaria à eternidade completa na estéril e incompreensível
contemplação da face de Deus, formando-se com isto e o que disto derivou uma
religião que se algum bem fez no meio do atraso e maldade humana, imensamente
maior é o dano que a ela se deve, sendo seus piores vitimários os seus melhores
cultores, como de momento a momento se observa com os que voltam dentre vós ao
mundo dos espíritos.
O temor aos infernos,
entre outras cousas, prolonga e faz mais dolorosas as enfermidades
inevitavelmente mortais, vendo-se agonias terríveis no crente, que perdidas
todas as suas relações com o mundo mortal, permanece ainda ligado à vida pelo
horror à morte e às conseqüências que com respeito a ela sua religião lhe ensinou.
Observa-se aqui que
por outro lado também os seres virtuosos que viveram dentro da prática austera
do Catolicismo e que fizeram ao mesmo tempo todo o bem que puderam, se os vê aqui
sofrerem cruelmente por sua incapacidade para a vida do espírito e clamam
contra o engano de seus confessores, diretores e mestres, sem recordarem que
ninguém sofre por culpas alheias, pois a justiça de Deus é inquebrantável,
determinando a cada qual o que estritamente lhe corresponde.
É que estes seres
fizeram o bem pensando na generosa retribuição que por ele receberiam no Céu. Pensaram
ver quintuplicados pelo Pai os benefícios por eles outorgados a seus irmãos e
se encontram, em compensação, sofrendo sob o peso de sua incapacidade para a
vida do espírito porque muito pouco e mal cultivaram seu espírito, que não pode
dispor do que não alcançou por seus próprios méritos e esforços.
Os espíritos que são
verdadeiramente virtuosos, que fazem o bem pelo próprio bem, apesar de sacrifícios
e dissabores, são espíritos evolucionados já, que muito viveram, lutaram e aprenderam;
a estes a felicidade espera sem demora na vida espiritual.
Tendes convertida a
existência vossa em uma contínua mentira em que pareceis não ter outro objetivo
que o de parecer cada um o que não é, diante dos demais. Por isso, inúteis vos
resultam vossas lutas, esforços e sacrifícios, porque mal dirigidos, eles não
podem constituir elementos de progresso para vossos espíritos, que portanto
voltam e vão do mundo dos espíritos ao dos homens e deste ao outro, milhares de
vezes, assim, sem o menor progresso.
Fora da verdade tudo
é estéril e a verdade é o bem. Apressurai-vos, pois, porque a hora das
responsabilidades é chegada e, embora tenhais que passar ainda por cima de horríveis
transtornos, felicitai-vos os que sinceramente tiverdes entrado pelas vias
indicadas por vosso Messias, que para maior claridade delas volta agora desta
maneira entre vós, depois de haver mandado a Pedro, João, Marcos, Mateus e
Barnabé, os quais haveis desconhecido, novamente no mundo dos espíritos de
volta se encontram, Paulo também entre vós esteve mas desviado do caminho
trocou a cruz pela espada, transtornando seu próprio progresso em lugar de
adiantar o de seus irmãos! Tal é a cegueira que a matéria traz ao espírito do
encarnado! Mas Paulo, que também entre os espíritos voltou, vendo e sofrendo as
conseqüências de seu erro, arrependido e entristecido mas não debilitado, entre
vós novamente se encontra para reconquistar o posto que ele considera ter
perdido, apesar de muito ter feito também, sendo que as vias hão de ser bem
definidas para que a meta se veja claramente explorada diante do obreiro da
vinha do Senhor.
A ele sim, muito o
tendes conhecido, porém nem sempre haveis deixado passagem livre às suas
palavras, demasiado entregues à vida dos sentidos, vos assusta quando vos fala
do além e não acreditais em suas recordações do passado.
Do muito que tinha
que dizer, pouco falado, se bem que completamente para isso autorizado se
encontra, porém muito pôde dizer a respeito da doutrina e com isto Jesus
satisfeito está, tendo sido muito maiores seus esforços do que encarregado
estava.
O mais a seu critério
e possibilidades fica confiado. Jesus havia anunciado a seus discípulos que nos
séculos dezenove e vinte faria sua reaparição na Terra, embora sob outra forma,
quer dizer, medianimicamente acompanhado por eles e como quanto sua natureza de
elevada espiritualidade lho consentisse, pondo-se em contato com os homens
mediante a sensitividade de Paulo, pela qual salva tinha sido já sua doutrina, que,
sem ele, quase desconhecida do mundo teria ficado, circunscrita unicamente na
Judéia e regiões circunvizinhas.
Paulo, em comunicação
com Jesus, então como agora, se bem que muito melhor agora, divulgou,
dando-lhes também maior amplitude, aos ensinamentos do Messias, melhor
preparados que os orientais para a nova forma de religião, não amalgamados já com
as confusões, como o judaísmo, dos interesses e paixões humanas, para deslindar
as cousas divinas das humanas, segundo já disse: “Dai a Deus o que é de Deus
e a César o que é de
César”. O costume hebreu,
apesar de fazer depender das cousas do culto também as cousas humanas, buscava
a supremacia religiosa também no civil, pronto a impor seu prestígio entre os
cristãos que, como já em outra ocasião vos disse, haviam estado um tanto sob a
influência de Tiago meu irmão, que professava o antigo culto, pois nada chegado
havia a compreender do novo.
Esta foi a verdadeira
causa das perseguições contra os cristãos porquanto, em verdade seja dito, os
Romanos respeitavam todos os cultos e faziam respeitar a seus próprios súditos
a religião dos povos que conquistavam; por outra parte, eu lhes havia intensamente
recomendado que jamais pretendessem impor-se mas sim que se insinuassem pela
simpatia ensinando o amor entre os homens, e fazendo todo o bem que pudessem em
nome de Deus e de seu enviado Jesus.
Não se conformavam,
porém, com aquilo os Cristãos, principalmente os que vinham a Roma desde a
Judéia, pois que antes faziam alarde da grandeza da nova revelação e de suasuperioridade
sobre a religião do Estado e de seus falsos ídolos.
Desprezavam assim e insultavam
as crenças dos que em sua própria casa os admitiam e deixavam exercer
livremente suas práticas, chegando também, mediante sua assídua e audaz propaganda,
a intrometer-se nas intimidades da vida dos Romanos, estes orgulhosos e
convencidos de sua superioridade sobre todo o mundo, bem depressa respondiam
com a violência à audácia desses desprezíveis e adventícios praticamente
favorecidos nos trabalhos e ofícios mais humildes, até nas idéias e práticas do
governo real pretendiam os cristãos fazer chegar suas opiniões e suas críticas.
Eis as origens das
perseguições como do mesmo modo os primeiros passos dessa tendência
avassaladora anticristã, que constitui a origem do que mais tarde foi o
Catolicismo.
O reino dos céus
admite violência, porém violência destinada a dominar os perversos, os
avassaladores da verdade e da virtude, repelindo com a força as imposições da
força do mal que pretende cortar toda a liberdade e o direito, para escravizar
a Humanidade inteira sob o capricho dos viciosos e malvados, levantando o
império das trevas acima do da luz, com cujos resplendores vem Jesus, em nome
do Pai, iluminando desde já a Terra desde seus quatro âmbitos.
A história foi, pois,
adulterada sobre este particular, pois unicamente os cristãos foram os culpados
das perseguições de que foram vítimas, assim como foram eles próprios, conforme
iam alcançando importância, que foram humanizando o que era divino, das cousas
do Pai cousas de homens fizeram, resultando enganosa aliança, porque impossível
entre os cristãos e o paganismo; quer dizer, entre o amor e a prepotência
sanguinária, o fruto que conheceis e que sob o nome de religião encheu de
horrores e ódios a Humanidade inteira.
Por isso volta o
Messias com seus apóstolos para o restabelecimento do que se disse: “Ama a
Deus sobre todas as cousas e ao próximo como a ti mesmo, esta é a lei e os
profetas”.
“Mas somente com a
humildade não se alcançará a meta, armado e horripilante como o mal por todas
as partes se apresenta.”
Todas as cousas,
pois, hão de ser em seu tempo e oportunidade. Mal interpretaram certamente os
que deduziram de meus ensinamentos uma religião de caráter passivo e mística contemplação,
pois procurei sempre dar às minhas palavras um valor positivo, e se no
ensinamento da fé e da oração, assim como na prática austera das virtudes que
ensinei e que importam principalmente no sacrifício de si próprio em bem dos
demais, quis ver-se tão-somente misticismo é porque os homens são cegos e
ignorantes, porquanto a luz e a força do espírito importam no único caminho a
seguir-se, a única forma e meio de desenvolvimento do ser para a sua vida
eterna; o sacrifício pois, a dor com a fé e com propósito de bem, são o caminho
para o progresso e a felicidade eterna.
A fé e a oração
encerram em si mesmas uma grande força, como disto a cada passo tendes
exemplos, e os estados de elevado misticismo colocam o homem ao alcance de
forças ocultas, cujos efeitos apalpais a miúdo, em tais casos sem dar-vos conta
do porquê, é que as leis de Deus contêm em si mesmas seu cumprimento do qual
aproveitam os espíritos do bem, que por serem do bem chegaram às alturas da
evolução e do progresso que sobre o indicado caminho se encontra.
Nisto, compreenderam
bem meus discípulos os ensinamentos do Mestre, porquanto vidas de lutas e
trabalhos levaram buscando o bem de seus semelhantes pelos meios que lhes
indiquei, dando lugar muitas vezes aos chamados milagres que vós também
produzis, nenhum de meus discípulos entretanto levou a estéril vida
contemplativa que foi ensinada mais tarde como virtuosa por aqueles mesmos que
chegaram a matar em meu nome, colocando a fogueira e o ferro aí, onde o Messias
havia gravado as palavras: “Ama a Deus sobre todas as cousas e ao próximo
como a ti mesmo, esta é a lei e os profetas”.
A fé e a oração
sincera repartem entre si o estado de misticismo com o grande poder que lhes
deu o Pai, um estado porém, um meio, não podem senão ser transitórios, jamais
formam a base e a razão de uma existência, valem somente naquele momento e
oportunidade, para seu elevado objetivo.
Se minhas palavras
não lhes ensinou o meu proceder para com os escribas e fariseus, a maneira como
tratei os mercadores do templo e a guerra que sempre fiz a todos os ricos e
malvados, principalmente entre poderosos, demonstraram sobejamente que não
baixou Jesus à Terra para estabelecer uma seita de rezadores.
De meus ensinamentos
tudo deve ser tomado em seu lugar e em sua época. Nada tenho que emendar do que
disse, o crente deve saber quando deve apresentar também a face esquerda e
quando deve açoitar os mercadores do templo, conquanto que o propósito seja sempre
o bem de nossos semelhantes.
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