Depois de suas novas
predicações da proximidade do reino de Deus, em todo o território da Judéia, e
de que todas as cousas deviam para ele mesmo antecipadamente preparar-se, levantando
templo de amor e de justiça nos corações dos homens; com muito mais energia
tinha voltado às terras da Galiléia que mais que nenhuma refratárias foram às
palavras do Messias, e ainda que um pouco melhor de disposição tivesse
alcançado, de Cafarnaum entretanto muito bons elementos para a sua obra se lhe ajuntaram,
assim como que setenta discípulos conseguira, e ainda mais, em encarregar do
ensinamento das novas doutrinas pelas paragens que se estendiam nos seus
arredores. Quer dizer, portanto, que antes e depois de minhas longas
peregrinações por terras distantes, desde Filipópolis, Sidon, Tiro, Damasco e
mais longe ainda, na Síria e na Fenícia, muitas vezes por Cafarnaum principalmente,
Betsaida e Corozain, passara e detivera-se em sua passagem o Messias, para dar
também por elas testemunho evidente de seu ministério, tanto quanto comportavam
os costumes e exigências desses tempos em que se pretendia que todo o
verdadeiro messianismo havia de impor crença de si, não somente na sabedoria
das ciências divinas e na santidade da vida e no domínio da verdade de suas
palavras sobre a dos outros oradores nas Sinagogas, como também no poder do
sobrenatural que havia de acompanhar a todo o verdadeiro profeta.
Jesus encontrava-se
colocado muito mais alto que os profetas, como o Filho de Deus, o Messias
prometido nas Sagradas Escrituras, o Salvador do mundo, e tal comportava
realmente sua elevada missão, como bem o sabeis, mas não havia de ser o
milagre, certamente, a violação das leis imutáveis de Deus, o absurdo, enfim,
não havia de ser, nem podia ser, o testemunho evidente de seu messianismo cujas
demonstrações em compensação deviam-se assentar na evidência mesma de seu
elevado ministério, evidência que ficara comprovada já com as particularidades
que rodearam o nascimento de Jesus, multiplicadas e engrandecidas pela fantasia
popular, assim como com os primeiros passos de sua atuação no Templo e em meio
da família, antes ainda de que fosse mandado estudar em Jerusalém. Não é falar
certamente dos milagres, que não existiram; “mas preciso é, irmãos meus,
inclinarmo-nos perante os altos desígnios de Deus, que por meios incompreensíveis
para o homem rodeia a verdade em cada tempo da forma de prestígio que mais lhe
convém, para que sejam cumpridos os propósitos de seu novo ensinamento entre
seus filhos”.
Não é falar
certamente dos milagres, que não existiram, repito-vos, mas o elevado
misticismo evidenciado por Jesus desde sua primeira infância, suas celestes
visões e a forma sentenciosa e a miúdo profética de suas palavras e até seu
próprio retraimento em meio da solidão, procurada para a elevação de suas
preces ao Senhor, colocavam-no em uma posição de muita superioridade em frente
dos demais jovens da povoação e também dos homens que vigiavam as estranhas
manifestações dessa superioridade geralmente a miúdo com mal dissimulada inveja
ou com manifesto despeito.
Já vos disse que em
nenhuma parte foi tão pouco aceita no princípio a atuação de Jesus como em
Nazareth, se bem que muita mudança houve depois em seu favor, para o fim do que
estabelecido estava como obra encomendada a ele pelo Pai. Ao menos que tivesse
escondido o pai, mãe e irmãos, antes de apresentar-se-nos como filho de Deus,
dizia-se, confundindo assim minha filiação divina com a carnal, que era comum
ao Messias como aos demais homens. Assim também procurava-se comparação entre
as palavras de Jesus, pronunciadas em demonstração da nova doutrina, com os
ensinamentos das Sinagogas em que se defendia a velha doutrina, encontrando-se facilmente
motivos de contradição baseados mais nos velhos dogmas que na justiça. Causa,
pois, é esta pela qual distanciado quase sempre andou o Messias do lugar de seu
nascimento entre os homens. Mas não foi unicamente Nazareth a terra que demonstrou
ingratidão ao Messias, mas também esses mesmos povos em que maior havia sido o
esforço de sua palavra, como Cafarnaum, Betsaida e Corozain, principalmente, e
que mal corresponderam, durante muito tempo, aos amorosos chamados que em nome
do Pai lhes fizera obstinadamente o Celeste Portador da Boa Nova.
Assim, portanto, no
último período de seu ministério, viu-se um tanto exasperada a imperturbável
paciência e o amor para os homens do Filho de Deus, quando, não obstante a importância
que em Cafarnaum havia começado a obter a nova doutrina e não obstante os bons
e bastante numerosos discípulos que conseguira, assim como os sinceros afetos
de que rodearam ao Mestre os simples
povoadores das praias do mar de Tiberíades, voltaram assim mesmo a persegui-lo
a maioria dos povoadores, não somente com sua incredulidade, mas também
geralmente com mal dissimuladas demonstrações de hostilidade para quem vinha exprobrar-lhes,
em nome do Pai, seu completo olvido das cousas celestes e seu vergonhoso apego
aos bens materiais.
Irritava-os minha
prédica persistente em anunciar a proximidade do reino de Deus e a derrocada de
todas as instituições que não correspondiam à nova revelação trazida, para os
homens, pelo próprio Filho de Deus. Tenho-vos dito já tudo o que em Jerusalém
recolhera como aproveitamento dos conhecimentos que me haviam de servir para o
exercício de meu ministério, assim como do que na Cabala alcancei para o bem
dos desgraçados. Porém, também em aproveitamento do que havia de revelar-se
mais tarde na pessoa do Messias, com relação às suas elevadas alianças no reino
dos céus, muito tirou daí e esses foram portanto os meios que, em virtude
também de sua superioridade, lhe serviram para livrar muitos homens das
obsessões do espírito do mal. Isto e a cura de muitas enfermidades, assim como
o conhecimento profundo que Jesus tinha dos homens e que lhe ditavam meios de
previsão do porvir, sua penetração também no conhecimento das intenções dos que
o rodeavam, a facilidade de solução rápida de todas as dificuldades que se lhe
apresentaram, a veemência de suas afirmações e o tom profético de suas
palavras, por tudo isto e pelo mais que foi dito, havia-se esforçado Jesus com
seu maior desejo e com a maior habilidade de que era capaz, para que fosse
recebido como o testemunho evidente de sua missão e que formou depois a prova
externa irrecusável do que internamente era a ele somente revelado, mediante as
elevadas alianças celestes que o acompanhavam e o ajudavam invisivelmente na
grande obra da redenção humana.
Assim, portanto, não
é de estranhar-se que alguma vez, no último período de sua estada entre os
homens, quando a negra ingratidão dos mesmos se preparava para aniquilá-lo corporalmente,
não é de estranhar-se que um profundo sentimento, uma grande dor lhe arrancasse
palavras de exprobração e de ameaça principalmente contra essas cidades, nas
quais sua predicação tanto se havia esmerado. É de justiça, não obstante, dizer
que muito de bom se conseguiu em meio dessas populações que padeciam afinal da
geral descrença, tendo-se chegado, não somente nessas cidades da Galiléia como
também na Judéia, até a olvidar o que sempre por dogma se havia tido, isto é, o
da ressurreição, que alguns tomavam pelo que vós chamais reencarnação e outros
por sua volta à vida como espírito, no céu, depois da morte do corpo, e outros
ainda como voltando à Terra com os mesmos corpos, e era assim a ressurreição
para alguns na Terra e para os outros nos céus, porém, para a maior parte
fábulas chegaram a ser, nada vendo fora da vida que levavam na época de sua
presença no mundo. Tudo assim, para a maioria, levado era com indiferença e
melhor lugar, de costume que de devoção, tomavam em seus corações as práticas
religiosas.
Recordai, irmãos
meus, o que já vos disse sobre como devia ser a fé com relação às cousas que do
Pai trouxe o filho. Recordai, do mesmo modo, o que do poder da fé também vos
foi dito com palavras como estas: “Em verdade vos digo que qualquer que
disser a este monte: levanta-te e lança-te no mar, e não duvidar em seu
coração, mas crer que se fará, quanto disser, tudo será feito”. É, pois,
que a fé tanto pode quão grande é e tanto alcança quanto em intensidade aumenta.
Seja portanto vossa intenção posta no bem e firme vossa fé e assim também o que
disserdes: seja, assim será e o que disserdes: faça-se, assim mesmo será feito.
Quero também dizer-vos que não deveis estranhar se de Samaria muito pouco
testemunho vos dou, porque certamente no meio dessas gentes foi dado testemunho
de meu ministério e mais de uma vez também as elevadas manifestações de que
encarregado fora o Mestre foram-lhes oferecidas para seu conhecimento; mas era
também este povo refratário a tudo o que na Judéia tivesse nascimento e era
considerado como da Judéia saído Jesus, quanto à palavra dos ensinamentos que
levava às gentes. Mas, justo é dizer, que bons crentes também dali surgiram,
sendo que era tal o pensamento dessa gente que com muita dificuldade dele se apartavam
para aceitar crenças de outro povo e ainda que com mais prestígio e importância
muitíssimo perdia, para com as gentes da Judéia e da Galiléia e demais
denominações, todo mestre de religião que em Samaria ensinasse e daí saísse levando
também a palavra aos outros povos. Até proibição absoluta havia para os judeus,
para tudo o que fosse trato com os samaritanos. Jesus, portanto, desempenhou
seu encargo levando a boa nova entre os samaritanos também e até como exemplo
tomou-os ante os judeus em muitas ocasiões para despertar seu amor próprio em
favor da nova doutrina, mas sem ultrapassar os limites que comportava o interesse
da propaganda, a maior probabilidade de êxito para os ensinamentos que o Filho
de Deus trazia à Terra para a salvação de seus moradores.
Se dessa fé de que
vos falo vestígios houvesse encontrado nos tempos que digo, certamente desde o
princípio a grande altura minhas doutrinas teriam alcançado, mas nem sequer essa
fé consegui formá-la e tampouco estavam para ela preparados os tempos, pois que
tal elevação na fé, como já vos disse, elevação primeiro exige de todas as
virtudes do espírito.
Obtive, apesar disto,
em numerosos discípulos, essa fé simples que cegamente se apoiava na autoridade
do Filho de Deus, a quem eles reconheciam, fé suficiente para levar em proveito
da divulgação da doutrina já completamente formada, porém insuficiente para
exaltar-se em alianças superiores com os espíritos do Senhor, impulsionando a
alma humana até a inspiração clara das eternas verdades que somente de Deus
vêm.
Isto foi a causa,
mais tarde, dos desvios que os ensinamentos de Jesus sofreram até ao ponto de
chegarem aos criminosos absurdos que encheram o mundo de ódios em vez do amor,
que se ensinara, de guerras em lugar da paz fraterna predicada, de divisões
profundas entre os homens, em troca da unidade de vistas sobre uma moral comum.
Dessa fé simples
muitas provas colheu seguramente o Messias em todas as partes; mais a doce
impressão repetidas vezes colhida entre os simples povoadores das praias do mar
de Galiléia em Cafarnaum, gravou-se profundamente no coração de Jesus, acompanhando-o
e dulcificando, em mais de uma ocasião, os duros transes do apóstolo e do
mártir.
Oh!... esse tão suave bálsamo para o sentimento
que só amor buscava, porque só amor semeava, esse, como todos os que em minha
longa e dolorosa carreira baixaram com alguma abundância sobre minha alma
suavizando suas penas e alentando-a, resplandece agora sob a forma de
brilhantes diademas que coroam a centenares de espíritos de luz, espíritos do
Senhor, que, na felicidade completa, rodeiam hoje a Jesus no céu, como o rodearam
nesses longínquos tempos dando-lhe o apoio de sua fé e o alento de seu carinho
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