Continuemos a nossa
agradável visita a esta esplêndida Exposição Anual de Belas-Artes, onde tantos
e tão belos trabalhos se encontram expostos à vista e análise das almas
visitantes. É altamente confortador para as almas apreciadoras do refinamento
artístico, verificarem a presença desta multidão enorme de almas que se
movimentam em todos os setores da Exposição, interessadas, como nós, em
apreciar os magníficos trabalhos expostos. Numa Exposição de Belas-Artes como
esta que estamos visitando, minhas almas queridas, é mister que nos
transportemos mentalmente até aos próprios artistas, com o objetivo de
testemunharmos a preocupação de cada um deles em poderem captar uma idéia
grandiosa, uma idéia feliz para a elaboração dos seus trabalhos. É preciso
reconhecermos em cada uma das peças expostas à apreciação do público visitante,
o grande esforço mental despendido por seus autores até que lograssem fixar-se
na idéia final, e se decidissem a dar início à elaboração do trabalho. É
necessário alguém transportar-se à situação do artista e tentar fazer-se mesmo
artista, preocupado em dar forma às suas belas idéias, para que melhor se possa
analisar a obra finalmente exposta com todos estes detalhes no conjunto do seu
acabamento. Há mesmo necessidade de os visitantes deste tipo de exposições
meditarem um pouco sobre cada um destes detalhes, para que melhor possam
penetrar a concepção do artista ao se decidir por esta ou aquela expressão da
sua idéia. Sem esse esforço de meditação, o visitante apenas poderá apreciar a
forma externa da obra exposta, sem penetrar, contudo, no sentimento do artista.
Eu procedo sempre de outra maneira. Agrada-me deter-me por longos momentos na
contemplação das obras que visito, com o desejo muito meu de viver com o
artista os seus momentos de imaginação, concepção e realização do trabalho
finalmente exposto, algumas vezes o segundo ou terceiro iniciados. Desta
maneira a minha própria alma se afina com a alma do artista, e eu consigo
melhor compreender todo o esforço e valor de cada um dos autores dos trabalhos
que visito e analiso. Quero dizer em outras palavras, que procuro descobrir e
apreciar, não só a bela expressão da obra esculturada, mas também a alma da
própria obra. Por este meu processo de admirar as obras que visito nesta, como
em outras exposições, eu consigo integrar nelas a minha própria alma ao lado
daquela que elas possuem. O assunto é um pouco difícil de explicar mas é fácil
de entender, como todas vós já o entendestes, minhas almas queridas.
Prossigamos então em nossa visita a outros trabalhos.
— Bela alma que acabas de
chegar, aonde nos levarás hoje?
— Para hoje, Alma Excelsa,
temos um trabalho a visitar, que eu considero dos mais importantes deste setor.
Ele está aqui adiante. Ei-lo, Alma Excelsa. Este conjunto escultural foi dos
últimos a chegar, tal a grandiosidade da sua confecção.
— Belo conjunto, bela alma!
E qual é a sua interpretação?
— A idéia irradiada, segundo
a imaginação dos autores, porque são vários, é a do mundo terreno. Apenas, em
vez de construírem uma figura esférica com a semelhança da Terra, seus autores
preferiram executar a idéia no plano, tal como se se tratasse de um mapa-múndi.
Aqui se encontram, então, num relevo bastante expressivo, todos os detalhes do
mundo terreno, suas enormes montanhas, planos, rios e mares, numa perfeita
reprodução dos seus numerosos acidentes geográficos. O trabalho pode ser
considerado dos mais perfeitos desta Exposição. Vejamos aqui estes detalhes. Os
autores da escultura tiveram a preocupação de estudar nos mapas elaborados
pelas Forças Superiores, as modificações em princípio de execução na Terra, e
aqui as assinalaram em sua quase totalidade.
— Magnífico este grandioso
trabalho, bela alma! Eu admiro nele, não apenas a sua grandiosidade, como
também a perfeição com que tão bela idéia foi executada.
— Aqui estão-se aproximando,
Alma Excelsa, duas das Entidades que executaram este grandioso conjunto. Deseja
ouvi-las?
— Sim, bela alma, com grande
alegria o farei.
— Artistas eméritas, que
concebestes e realizastes este belo conjunto, quereis dizer-nos algo sobre o
vosso trabalho?
— Com grande alegria o
faremos, Mãe Santíssima, que tanto nos honrais com a vossa visita! A idéia que
concebemos para concorrer a esta Exposição foi a de produzir uma obra que além
de bela pela sua grandiosidade, pudesse contribuir para o maior esclarecimento
das almas deste plano, acerca das transformações a serem realizadas na
superfície terrena. Para isto conseguirmos, tornava-se necessário conhecermos
em detalhes os planos elaborados pelas Forças Superiores, para execução na
Terra. Procuramos então conhecer esses planos, o que nos foi relativamente
fácil em face da excelsa bondade das Forças Superiores. Fomos convidadas a
visitar aqueles planos no Palácio da Engenharia Celeste, e lá nos demoramos
cerca de doze meses no estudo e anotação de todos os detalhes mais importantes.
Como vedes, Mãe Santíssima, o nosso trabalho teve de ser bastante demorado para
nele incluirmos aqueles detalhes. Aqui, por exemplo, estamos vendo o continente
asiático, onde o regime montanhoso se apresenta como dos mais importantes da
superfície terrena. Pois bem; destas montanhas que aqui vemos, várias delas se
desmoronarão, segundo foi projetado pelas Forças Superiores. Desmoronadas estas
montanhas, surgirão em seu lugar grandes planícies cultiváveis, destinadas à
produção de alimentos para as novas e as populações atuais. Como sabemos, a
falta de alimentos já é grande em toda a Ásia, onde suas populações estão
ameaçadas pela fome, Uma vez concluídos os trabalhos transformatórios do solo,
porém, conforme está aqui assinalado, surgirá a abundância de alimentos em todo
este continente, inclusive para suprir as regiões vizinhas.
— Excelente a vossa idéia,
grandes almas! A contemplação deste vosso trabalho já nos fornece uma idéia
quase completa da superfície terrena transformada.
— Foi exatamente isto o que
nos levou à execução deste trabalho. Como é fácil de ver, toda a região
asiática está destinada a sofrer grandes transformações, em benefício do seu
próprio bem. Verificando as Forças Superiores a existência de montanhas em
excesso, e a carência de superfícies cultiváveis, os planos elaborados, os
quais aqui se demonstram, são no sentido de transformar certas montanhas em
áreas cultiváveis. Eis a sua demonstração, segundo a coloração dada a cada um
desses detalhes. Estas elevações em cores amareladas representam as montanhas
terrenas a serem demolidas pelos acontecimentos em curso, transformando-se em
planícies cultiváveis. Para identificar essas áreas, nós demos-lhes esta
coloração, podendo assim apreciar-se o mesmo fato em toda a superfície terrena.
— Pelo que aqui podemos
observar, esta região asiática parece ser a mais atingida pelos acontecimentos
em curso.
— Sim, Mãe Santíssima. Isso
será um fato, segundo os planos das Forças Superiores. Examinemos agora o que
se refere propriamente à região européia, que aqui está representada. Para
evidenciar um fenômeno diferente do que se verificará no continente asiático,
nós demos a certas áreas da Europa esta coloração azulada, para significar as
localidades passíveis de invasão pelas águas do oceano, com risco de ficarem
submersas. Vejamos isto em detalhe. Aqui temos uma grande parte da Itália, da
Espanha, da França, e mais acentuadamente da Inglaterra, as quais poderão ficar
submersas em grande parte. Nós demos a estas áreas a coloração azulada para
melhor as distinguir daquelas áreas asiáticas. Prosseguindo veremos aqui
numerosas outras áreas cobertas pela mesma coloração azulada. Elas aparecem
também nas duas Américas em maior ou menor extensão, segundo os planos
elaborados pelas Forças Superiores. Vemos aqui os dois pólos da Terra, o do
Norte e o do Sul, ambos cobertos por outra coloração diferente, esta da cor de
tijolo, para designar o aparecimento à superfície de dois novos continentes,
após o degelo já em franca atividade. Estas duas regiões, bastante extensas,
uma vez livres da espessa camada de gelo que as recobre, há vários milênios,
tornar-se-ão áreas perfeitamente habitáveis e bastante férteis para acomodar
muitos milhões de almas.
— Eu estou deveras encantada
com o vosso trabalho, grandes almas. E ocorre-me aqui uma pergunta, a propósito
do próximo degelo dos pólos, fato tão bem apresentado neste vosso grandioso
trabalho. Esta pergunta é quanto à futura temperatura da Terra, livre da
radiação gelada procedente dos dois pólos.
— Está prevista nos planos
das Forças Superiores a modificação para melhor da atual temperatura da Terra,
após a conclusão das modificações em curso. A temperatura acentuadamente fria
da atualidade modificar-se-á segundo a posição do planeta em relação ao Sol,
porém jamais haverá na Terra a época da neve e do gelo, pelo desaparecimento
desses grandes depósitos gelados nos dois pólos da Terra. Os felizes habitantes
da esfera terrena passarão a gozar então, de duas principais fases ou estações
anuais: a Primavera, que se prolongará por um período de seis meses, e o Verão,
que completará o período anual.
— Estou satisfeita com a
resposta, grande alma. É exatamente o que me havia sido dito por elementos das
Forças Superiores a esse respeito. Devo dizer-te, com toda a minha admiração,
que este grandioso trabalho é digno de ficar exposto ainda por muito tempo,
para que possa ser visto e estudado pelas almas do plano, desejosas de voltar
ou não ao plano terreno. E aqui vai a minha sugestão: este vosso esplêndido
trabalho melhor ficaria se exposto no próprio Palácio da Engenharia Celeste,
para ser visto e examinado em todos os seus belos detalhes. É-me impossível
poder examinar esta obra grandiosa numa única visita, tão interessante e
objetiva ela se apresenta. Eu pretendo voltar aqui amanhã e nos dias seguintes,
para ver e apreciar outros detalhes, todos tão bem elaborados por vossa
comprovada capacidade. Eu vos felicito desde já pelo vosso grandioso e belo
trabalho, grandes almas. Vejo, porém, algo mais que ainda desejo examinar
detidamente nesta visita. Vejamos o que se prenuncia nesta obra em relação à
América do Sul. Ela aqui está assinalada em parte pela coloração azulada, o que
quer dizer que deverão ocorrer submersões também nesta região.
— Sim, Mãe Santíssima; mas
apenas ao longo do litoral e só uns dois ou três lugares. Aqui, por exemplo, no
extremo do continente, poderão submergir algumas áreas habitadas, mas só em
parte, em consequência do crescimento do nível do mar. De um modo geral esse
nível deve crescer em todo o planeta, em face do volume líquido resultante do
degelo dos pólos. Bom seria, por conseguinte, que as populações residentes nas
cidades marítimas fossem delas se afastando para o interior, estabelecendo-se
nos lugares mais elevados. O fenômeno do crescimento do nível dos mares é de
todo inevitável, como é fácil de deduzir após o degelo de centenas de milhares
de toneladas de gelo acumulado nos dois pólos terrestres. Sem pretender referir
números exatos, eu direi que o nível dos mares terrenos poderá crescer em doze
a vinte graus sobre os números atuais. Desta maneira, partindo os habitantes
das cidades marítimas deste pressuposto, já poderão formar uma idéia da região
em que poderão encontrar-se a salvo da submersão pelas águas dos mares.
— É uma boa advertência,
grande alma, essa que acabas de fazer. Vamos procurar difundi-la na superfície
terrena e por toda a parte, como um bom aviso, não apenas aos habitantes, como
também aos responsáreis pela administração das cidades marítimas da Terra, para
que voltem os seus olhares para determinados locais onde possam edificar outras
cidades a salvo da invasão pelas águas do mar.
Eu recomendaria, inclusive,
aos industriais, a iniciativa do desdobramento de suas indústrias atuais,
procurando localizar alguns setores de suas fábricas no interior, a pelo menos
vinte graus acima do nível do mar, a fim de se prevenirem contra qualquer eventualidade.
Se tal fenômeno — a inundação da cidade — se verificar, as indústrias e a
mão-de-obra encontrar-se-ão a salvo, o que é muito importante decidir desde já.
E se tal não acontecer, ou acontecer em grau mínimo, nada evidentemente se
perderá. Devo confessar aqui de todo o coração, que muito temo pelo que possa
suceder a esta bela cidade³ na qual estou ditando este livro desde o mês de
maio do ano findo. E muito feliz me sentirei em saber que sua boa população
nada terá sofrido com o desenrolar dos acontecimentos em curso na Terra. Até
amanhã.
Deixo-vos aqui a bênção que
o Senhor vos envia por meu intermédio, e a minha própria que eu vos ofereço de
todo o coração.
³ cidade do Rio de Janeiro
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