Já vos dei, irmãos
meus, uma idéia de meu encargo como Messias e de meu poder como filho de Deus. Vós
compreendereis agora minha missão, que não terminou, e meu caráter de filho de
Deus, que distinguirá a todos os que se alimentarem da graça e se aproximarem à
chama divina, a todos os que propagarem belas doutrinas e praticarem o eterno mandamento
do amor, aos que desempenharem missões de espíritos inteligentes no meio de
espíritos inferiores e turbulentos, aos que fizerem a luz no meio das trevas e
fizerem crescer o grão entre o pó, aos que se tiverem emancipado da dependência
odiosa das paixões para elevarem-se à atmosfera pura da espiritualidade.
O título de filho de
Deus pertence aos espíritos de pacientes investigações e de abnegação pessoal. O
título de filho de Deus pertence aos espíritos de penetrante ardor e de terna humanidade,
de emanações benéficas e de forças fecundas, de tendências espontâneas para os
sacrifícios pelo bem e de perseverante energia na prossecução dos trabalhos
empreendidos.
Todos nós somos
filhos do mesmo Pai. As esperanças da alma, os atrativos do espírito, os vícios
da natureza carnal nos são comuns, e o poder divino nos chama para a perfeição
com a suprema honra de nosso livre arbítrio.
Ponhamos à prova
nossos recursos, permaneçamos firmes na luta, e peçamos a Deus a proteção de
seus melhores espíritos; mas não contemos com esta proteção enquanto não nos
emendemos de nossos hábitos fatais, e mediante nossos esforços postos em
evidência como um chamamento e como promessa de purificação.
Elevemos nossas
preces com fé e simplicidade: obremos com humildade e justiça; destruamos os
maus germes e volvamos a empreender a marcha por outras sendas; busquemos a lei
de Deus no fundo de nossos corações, e elevemo-nos acima dos costumes de um
mundo corrompido, pelos desvios que faz desta lei santa; dirijamos os olhares
de nosso espírito no livro das manifestações gloriosas e gozemos do amor dos
anjos, cumulando de amor aos que nos desconhecem.
Definamos a religião
de maneira que não dê lugar a equívocos, e declaremos com energia que as
guerras, os ódios, as vinganças e todas as horríveis carnificinas, quaisquer
que sejam as vítimas, são, sem exceção, ímpias, sacrílegas e merecedoras do castigo
do Criador.
Os grandes espíritos
experimentaram desgostos ante as alegrias humanas em virtude das alegrias da
graça. Mas estes espíritos também tiveram que dar seus primeiros passos porque ninguém
pode eximir-se dos sacrifícios que solicitam a graça.
Inclinemo-nos uma vez
mais perante a justiça de Deus e continuemos a narração interrompida no final
de meu último capítulo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
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Mediante o estudo da Natureza todos os
homens podem chegar até à concepção do inteligente autor da mesma. Eis o que me
conduzia a procurar os homens que se encontravam em contato com as maravilhas
da Criação. Eu me aproximava a Cefas e a André procurando convencê-los de meu
poder moral e intelectual. Preparava meus meios de ação, instruindo a meus
êmulos, e deduzia provas para minhas palavras nas obras de Deus e nas
manifestações de sua munificência e de seu amor.
O acolhimento cheio
de respeito de meus adeptos se havia transformado em um verdadeiro culto depois
da pesca milagrosa, como chamavam à abundante pesca que já referi¹ e os cérebros estavam prontos para
exaltar-se quando ocorria alguma discussão a respeito da natureza de meu poder.
A luz não se havia feito nestes corações ingênuos e entusiastas e, sem
julgar-me senhor absoluto dos elementos, atribuíam-me a influência passageira
dos profetas, cuja história fabulosa conheciam. Minhas instruções praticavam-se
com a maior deferência para com minha pessoa e a natureza do impulso explicava
a fraqueza dos espíritos. Mas eu, de acordo com a minha penosa missão, devia
aproveitar-me desta fraqueza e purificar os instintos, sem comprometer o
prestígio que tinha. Tinha que apoiar minhas demonstrações, já seja sobre a
tradição, já seja sobre os recursos de meu próprio espírito e manter assim a
crença nas predições, fazendo-me o apóstolo da nova verdade.
O temerário ardor de
meus discursos e os hábitos simples de minha vida ofereciam um contraste que
impressionava todos os corações e levava a convicção aos espíritos. Retirava-me
muitas vezes no momento de maior entusiasmo e minha desaparição contribuía para
estabelecer o sobrenatural de minhas formas oratórias, assim como a luz da nova
doutrina que explicava.
Convencido de minha
missão e desiludido, sem tê-los experimentado, dos gozos mundanos;
desmaterializado moralmente com o alimento de meus idealismos e doçuras de imaginação,
adiantei rapidamente na espiritualização do pensamento e minha palavra estava
impregnada dos ternos ecos da poesia celeste. Tinha ainda algumas ligações
humanas e meu coração ficava às vezes indeciso entre a radiante esperança e a realidade
da alegria presente; mas estas indecisões eram passageiras e, acionado por uma
vontade invencível, adquiria novas forças depois de cada luta . . . . . . . . .
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. . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Os
primeiros apóstolos de Jesus, irmãos meus, foram, depois de Cefas e André,
Tiago e João, filhos de um pescador chamado Zebedeu. Aqui devo dedicar uma
página a Salomé, mãe dos novos discípulos. Esta mulher heróica, porém simples
no heroísmo, é conhecida tão-somente pela celebridade de seus filhos, e entretanto
ela possuía mais grandeza de alma que seus dois filhos reunidos. Esposa
carinhosa de um trabalhador, mãe admirável, mulher inteligente e de uma devoção
elevada, Salomé foi, entre meus ouvintes, uma das mais assíduas e fervorosas.
Eu não elevei Salomé, ela elevou-se sozinha, mediante a intuição de minha missão
divina, e ambos nos encontrávamos caminhando unidos na força da fé para o
calvário, eu para morrer, e ela para ver-me expirar em meio das torturas. Não é
verdade que Salomé me haja pedido que colocasse a seus dois filhos um de
cada lado meu na mansão de meu Pai. Se Salomé tivesse formulado semelhante pedido,
eu não teria que apresentá-la aqui na forma que o faço. Os dois irmãos estavam
cheios de vivacidade e de ardor. Eu lhes havia posto as alcunhas de relâmpago e
de raio e aproveitava com êxito as suas qualidades. Mas, ai! Quantas amarguras
depois do prazer! Quantos arrependimentos resultaram de minhas fraquezas!
Tiago, o mais velho, não era mais que o modelo de João, quer dizer que os
mesmos sentimentos, as mesmas faculdades, os mesmos gostos, os mesmos hábitos
se manifestavam nos dois; porém João empregava mais ardor na discussão, mais
extravagância em seu entusiasmo, mais paixão na amizade e, também, mais vaidade
no apego à minha pessoa. Eu não me preocupava em combater as tendências de João
para a exageração, e seu irmão, menos exagerado, me inspirava temores que
jamais se realizaram. Fatal cegueira! João era a estrela de meu repouso como
Cefas era o instrumento de minha vontade, o braço da ação, e entre estes dois
homens estabelecia a mesma diferença que estabeleço hoje. Mas nas discussões
que se promoviam entre todos eu costumava inclinar-me de preferência para o
lado de João. Não me apercebia que seus caprichos de preferido, que suas exaltações
de ânimo semeavam a desordem no presente e preparavam as sombras do porvir! Irmãos
meus, este discípulo, cujas ternuras constituíam minha felicidade, foi
realmente o mais querido; porém neste momento eu lhe retiro diante da
posteridade o prestígio de discípulo fiel a seu mandato, porque todo o
desempenhou com o inverossímil, referindo os fatos, não tal como eles haviam
tido lugar senão como ele desejava que houvessem sucedido.
Aos quatro discípulos
familiares de Jesus se agregaram outros quatro, cujos nomes são: Mateus, o
aduaneiro; Tomé, o mentor de meus apóstolos pela inteligência dos assuntos
externos; Lebeu, o mercador, e Judas, célebre por sua traição.
Na criação de minha
pequena brigada havia estabelecido que seus componentes deviam ser entre eles
irmãos e que o último chegado devia ter as mesmas prerrogativas que o mais
antigo. Uma noite em que, depois de cear, me achava rodeado de todos meus
irmãos, o contentamento deles se manifestava com gracejos picarescos e
acertados ditos, quando a alguém ocorreu chamar-me Rabi, que significa mestre e
pai, nome mais expressivo que o de senhor. Para participar do bom humor de meus
irmãos, me dirigi a todos e a cada um deles, pesquisando os signos de seu
porvir no caráter de cada um, que eu havia estudado. Das cabeças ardentes de
Tiago e de seu irmão, da penetração de Mateus, da capacidade administrativa de
Tomé, a natural bondade de Lebeu, deduzi horóscopos confirmados mais tarde
pelos fatos. Acalmei também os ciúmes de Judas, favorecendo-o mais que aos
outros. A André, dei-lhe ânimo, dizendo-lhe²
“Meu querido André, abraça-te a teu irmão e
apóia sobre ele tuas débeis mãos. Os
passos de Cefas te conduzirão a trabalhos aos que tu só não conseguirás levar a
termo; sua força cobrirá tua fraqueza. Livra-te da languidez que debilita tua
alma; a fé e a resolução não dependem da fadiga dos órgãos e do pesadume na
execução. Honremo-nos imitando nossos laços fraternais e nossa confiança no porvir.
Dos cuidados que demanda a grandeza futura de nossa empresa não te preocupes.
Descansa no Mestre e, depois do Mestre, sobre teu irmão, que é a pedra
fundamental de nosso edifício”.
Cefas levantou-se
radiante e disse:
“Mestre, abençoa a pedra fundamental e
jamais virá abaixo o edifício”.
Irmãos meus, jamais
saiu de meus lábios o mesquinho jogo de palavras que se me atribuiu a este
respeito. A origem do nome de Pedro foi devida simplesmente à facilidade de comparação,
que me proporcionou esse momento de confidencial abandono entre homens cujo
valor eu havia aquilatado. O nome de Cefas foi substituído imediatamente pelo
de Pedro. Assim o designaremos daqui por diante, como Pedro, o apóstolo de
Jesus, fundador dessa religião, materialmente pobre por seus membros,
resplandecente de riquezas por suas aspirações, doce e caritativa, forte e
majestosa, terna e paciente para todos, cultivada de todos os deveres, poderosa
apesar dos assaltos sofridos, eterna pelos exemplos de virtude, que deviam
levantá-la até Deus e conquistar o mundo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
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. . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Meus
discípulos, em número de oito, acompanharam-me na minha visita a João, que
descia do deserto para presidir as purificações no Jordão. A purificação, como
temos dito, praticava-se mediante a imersão completa ou parcial, e minha
intenção era a de submeter-me ao uso humilhando-me perante o apóstolo para minha
purificação parcial, que em seguida eu haveria de praticar com meus discípulos.
João reconheceu-me
logo e me fez caminhar a seu lado, dando-me vivas manifestações de veneração. A
multidão, que observou estes testemunhos, me confundiu sem mais no
mesmo respeito que tributava ao Solitário.
A função da
purificação foi precedida de sermões e jejuns, o que convém recordar aqui para
fazer compreender a meus leitores que a purificação era o que mais tarde se
chamou o sacramento da penitência, e não o batismo, que não tinha razão de ser
nesta circunstância.
Todas as populações
da Judéia parecia que se haviam posto de acordo para concorrer à purificação
nesse ano, que foi o último de João. A multidão era compacta, pressurosa e
delirante e a animação tomava o lugar do silêncio ordenado. Qual era, pois, o motivo
dessa emoção, dessa tendência para o sentimento religioso, desses desvios do
pensamento estranhos ao princípio da fé?
A pregação de João
vos explicará. Depois de um exórdio em que os atributos de Deus haviam sido
desenvolvidos com uma potência de palavra e um entusiasmo do coração tais, que
ninguém, além dele, era capaz de manifestar, o orador, baixando das alturas da
espiritualidade para as imperfeições humanas, humilhou seu próprio gênio com injuriosas
alegações e ameaças proféticas.
A impureza dos
vínculos, o luxo das festas da Corte, a desmoralização dos governantes, a
pesada opressão das leis arbitrárias e cruéis foram exibidas em uma forma tal
como que para lançar os espíritos para o caminho da revolta. João tinha seguido
uma vez mais o caminho fatal que conduz a virtude ao erro. João havia
contemplado as torturas do povo e introduzido o fogo de sua alma no fogo que se
alimentava escondido na alma do povo. João havia transgredido a ordem que
estava prestes a romper-se. João seria encarcerado, julgado, condenado à morte
e decapitado no decorrer do ano destes sucessos; dois antes da crucificação de
Jesus.
Minhas recordações
levam-me para a purificação dos hebreus no Jordão. Vejo barracas levantadas por
todas as partes para albergar os homens durante a noite e servir-lhes de abrigo
durante o dia. O poder humano curva-se perante o poder divino e os pecadores
vêm implorar o arrependimento, a paz e o esquecimento. A palavra de João
entusiasma a multidão e, se eu me entristeço por suas comparações inoportunas,
elevo-me em troca na sublimidade de seus ímpetos e identifico-me com seu delirante
entusiasmo para a magnificência divina. Os homens que afluíram ali para a
purificação das chagas de suas almas purificaram também o corpo com muitas
imersões saudáveis nesta estação ardente. Durante a purificação dos homens, as
mulheres permanecem nas barracas. Mais tarde, depois de alguns dias, elas também
cumprirão com o preceito da lei, para regressarem em seguida todos satisfeitos
para seus lares, se todos souberem tirar proveitosas luzes espirituais. As
exterioridades da penitência e as resoluções manifestadas nada valem. É
necessário a penitência no coração e o cumprimento das promessas.
Irmãos meus, a cabeça
de Jesus inclinada e protegida sob o signo da purificação, a cabeça de Jesus
que recebeu a ablução das mãos de João, ficou humilhada com a recordação de
suas faltas passadas, porém levantou-se animosa para contemplar o porvir que
era necessário merecer. Os preparativos de Jesus para receber a água das mãos
de João foram-lhe inspirados pela necessidade de demonstrar-se como discípulo
de um homem cuja santidade era universalmente reconhecida, e sua iniciação na
penitência devia salvá-lo da censura de haver-se
colocado acima de um costume tomado da antiga lei e apresentado pelo Solitário
sob uma nova forma. A penitência desse tempo era uma manifestação pública que significava,
como conseqüência, a reparação das culpas cometidas e o esquecimento das
ofensas. A purificação desenvolvia os bons sentimentos e restabelecia a
concórdia nas famílias; purificação queria dizer limpeza e alívio das fadigas
da alma. A lavagem do corpo e a explicação da função que rodeava o ato
constituíam o símbolo da fé. A penitência dos judeus, como a dos cristãos mais tarde,
exigia disposições humanas, cujo fruto devia ser a purificação do coração. Mas
— ai! — No ano seguinte deviam tomar-se as mesmas disposições para o
cumprimento dos mesmos deveres e a fraqueza de espírito teria que encontrar-se
em frente das mesmas demonstrações banais.
Irmãos meus, meus
queridos irmãos, detenhamo-nos aqui. Examinemos a penitência da alma e
expliquemos nosso pensamento sobre este ponto. A penitência quer a expiação e a
tendência dos homens para o orgulho impede a expiação. A penitência exige a
resolução e a resolução nunca é sincera no cumprimento da penitência. A penitência
favorece a alma quando a alma vê o perigo e o afasta. O adiantamento é o
resultado da verdadeira penitência. A penitência converte-se tão-somente em uma
fórmula religiosa ridícula quando não converte os humildes em fervorosos e
fiéis servidores da causa santa de Deus. O humilde não sente já a necessidade
do fausto das riquezas e ele emprega essas riquezas em facilitar a instrução e
no bem-estar material das pobres crianças da grande família humana, e
desenvolve no coração de seu filho o sentimento da fraternidade. O fervoroso
pede a Deus sua lei. Deus lhe responde e ele proclama a lei de Deus para tornar
melhores os homens. O carinhoso suporta com resignação a miséria, as privações,
a perda dos seus; olha com desprezo o luxo que o esmaga e permanece tranqüilo
diante da morte que lhe dá a liberdade.
“Irmãos meus, dizia Jesus a seus discípulos,
caminhai pela estrada humana com a vista
fixa na pátria da alma. Permanecei pobres e sede pacientes na prova. Vivei
entre os homens para consolá-los e reconciliá-los uns com os outros.
“Acalmai o crepitar das paixões com
palavras de misericórdia. Descobri as chagas para curá-las e demonstrai
vossa força com os impulsos de vossos corações para levar alívio a
todos os sofrimentos.
Conquistai o mundo com o amor.
Permanecei unidos na graça e fortes sob sua influência; defendei vosso espírito contra
os assaltos do pecado; mas, se o pecado invadir vosso
espírito, arrojai-vos entre os braços de vosso Pai e ele vos perdoará.
“O espírito eleva-se por meio da
penitência. “Dizei isto a todos.
“Solicitai os dons do Senhor com as
mãos puras de todos os bens da Terra.
Deponde na porta do templo as honras que vos tributem e esquecei-as ao sair.
“Depositai as oferendas que vos
façam no tesouro dos pobres e sacudi o pó de vosso calçado para não levar partícula alguma para vossa casa.
“Deponde aos pés de vosso Pai
celeste as fraquezas e os rancores de vossos espíritos e dizei: Deus meu, eu quero elevar-me acima dos desejos
da Terra para não desejar senão a ti; e acima das injustiças dos
homens para fazer resplandecer a seus olhos a força que de ti me vem.
“Fazei praticar as virtudes que eu
vos ensino, praticando-as vós mesmos,
e regozijai vossos espíritos participando das alegrias de minha
mansão divina.
“Solicitai meus colóquios e
honrai-me como se me encontrasse ainda no meio
de vós.”
Depois da morte de
Jesus, seus apóstolos foram desmaterializados moralmente. Conversavam com o
preferido e pediam a Deus os dons da pregação para conquistar o mundo, como
Jesus lhes havia dito. Mudavam de residência e se separavam uns dos outros para
desviar as perseguições. À minha natureza, à minha presença, eles atribuíam o
êxito de sua missão.
Esta grande idéia
enchia de brios sua fé e a sublimava por sua valentia e dom de persuasão.
Viam-se estes homens, pouco eruditos e simples de espírito, valerem-se de
nossas conversações de outros tempos para entabular uma conversação espiritual
e animada a respeito da elevada filosofia da alma. Eles honravam meu lugar
vazio. Evocavam meu espírito, que gozava da felicidade deles. O terror de meus
apóstolos durante minha paixão não havia deixado lugar a que se suspeitasse
essa força e essa tranqüilidade que demonstravam depois de minha morte. De que
provinha isto senão da ressurreição do espírito? E por que os sucessores de
meus apóstolos foram degenerando cada vez mais? Porque caminharam com o orgulho
de quem dispõe de bens; porque subiram, com a cabeça que só devia adornar-se
para o serviço de Deus, os degraus do poderio humano; porque imaginaram dogmas
absurdos e deram em terra com minha doutrina com o exemplo de seus vícios, que ela
condena; porque desmentiram minha moral de amor com o ódio e a vingança: porque
favoreceram as orgias dos reis e os assassinatos fratricidas; porque fomentaram
a discórdia entre os povos e alimentaram o fogo destruidor.
Irmãos meus, a
penitência de todos trará a paz sobre a Terra . . . . . . . . . . . . . . . . .
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. . . . . .
Mulher e mãe, segundo
a natureza humana, Maria, mãe de Jesus homem e Espírito da Terra, chegou por
esse tempo a Cafarnaum e nós a encontramos no seu regresso da cerimônia do Jordão.
Maria empregou todos os recursos de sua ternura e todos os raciocínios da
autoridade materna para persuadir-me da loucura que fazia em cerrar meu coração
às alegrias da família para acariciar um propósito quimérico, posto que era tão
formoso, acrescentava minha mãe.
Maria chorou pelos
perigos que eu afrontava. Vendo suas lágrimas, eu sentia uma profunda dor, um deslumbramento,
alguma coisa que me atraía para as alegrias da adolescência, mas subitamente
fugi do prestígio do amor materno, pronunciando estas cruéis palavras:
“Minha mãe, roga por teu filho, já
que se distancia neste momento do dever
traçado pela natureza humana.
“Mas nota bem a forma de minha
repulsa: Não tenho mais nem mãe, nem
irmãos, nem irmãs, nem parentes, e a potente voz de Deus me chama
para o martírio.
“A mulher deve retirar-se e a mãe
consolar-se para deixar ao homem e ao filho a plenitude e a liberdade
de seus atos.
“Vai-te, pois, minha mãe, e fazei a
Deus o sacrifício de teu filho, como eu lhe
faço o de minha vida”.³
Em meu ardor pelo
serviço de Deus, esquecia a virtude do espírito encarcerado na matéria e jamais
me foi tão penosa a contradição assim resultante entre a fraqueza corporal e a
atração do fardo divino. Sentia-me dominado e perplexo entre o dever filial e
minhas elevadas esperanças, vendo-se assim turbada a paz da consciência do
missionário ante os desmentidos que isto poderia significar para a realidade de
sua temerária missão.
Baixava meu espírito
das festas da celeste habitação para o árido caminho das harmonias terrestres e
sofria pelo abandono de uns deveres para o cumprimento de outros. Uma vez que
se foi minha mãe, procurei recobrar essa calma e também essa
alegria que me eram habituais; porém meus esforços só conseguiram tornar mais
dolorosa minha incerteza. Decidi então estabelecer algum laço entre minha
felicidade corporal e minhas aspirações espirituais, entre minha dependência humana
e minha elevação de pensamento para o único bem do porvir, entre minha mãe da
Terra e meu Pai celeste. Quero dizer que renunciei repentinamente ao meu
isolamento a respeito dos meus, e acedi ao desejo de minha mãe de receber um de
meus irmãos como apóstolo, e o irmão de minha mãe como administrador de meus
interesses pecuniários, em meio de minha vida de pobreza nômada e de
caprichosas mudanças.
Fiz-me acompanhar de
dois de meus apóstolos. João, filho de Zebedeu, designado como o preferido, e
Mateus, o aduaneiro, e depois de haver encarregado a Pedro do cuidado de minha pequena
brigada, aumentada de três membros, me dirigi para Nazareth.
Minha mãe cumulou-me
de provas de amor e de testemunhos de perdão — Pobre mãe! — O rocio de tua
bênção caiu em meu coração como o fogo devorador do remorso e, pela vontade de
Deus, sofria tormentos inauditos recordando-me o anterior abandono e preparando
meu sofrimento futuro.
Minha doce fadiga, no
meio das privações, das humilhações, dos trabalhos, não seria de natureza
divina, minha mãe, se nós houvéssemos dividido juntos as mesmas privações, as mesmas
humilhações, os mesmos trabalhos; se teu martírio não tivesse sido formado por
todas as torturas da paixão; se teu filho houvesse misturado a ternura dos
braços maternos à força deslumbrante dos transportes divinos.
Sim, minha mãe, a
abundância da graça e a abundância dos desejos de minha alma me afastavam de
ti, mas a fraqueza do homem me devolvia ao teu amor e o destino de minha missão
se viu freqüentemente comprometido por esta minha fraqueza.
Sim, minha mãe, a
majestosa filiação que me cobiçava, humilhava meus laços terrenos, porém o
calor de meu coração te chamava quando a frieza de minhas palavras te afastava.
Sim, minha mãe, eu te
amava... mas tinha que apoiar-me na rigorosa defesa de meus sentimentos em
frente da calorosa expressão dos teus.
Sim, minha mãe, as
lágrimas inundavam meu coração enquanto que minhas aparências demonstravam
tranqüilidade e quando formas abstratas escondiam as pungentes emoções de minha
alma. Mas isto era necessário. Meu amor fraternal devia estabelecer-se sobre as
ruínas das demais formas de amor, minha filiação divina tinha que esmagar minha
filiação terrestre; minha missão de espírito tinha que matar meus gozos humanos
e a alegria espiritual de minha alma devia preparar a pureza de meu ser!
Maria acreditava na
volta do filho à casa paterna, porém sabia que este regresso só anunciaria o
remorso pelas faltas cometidas em nossa última conversação e havia recebido
forças de Deus para estar preparada para uma separação que lhe parecia dever
ser definitiva.
Quando ficou viúva,
Maria tinha contado com os filhos de seu marido para encaminhar aos seus, isto
é, para colocá-los honrosamente nas fileiras de uma classe laboriosa. Minhas
duas irmãs se haviam casado há pouco tempo e dos quatro filhos de Maria,
unicamente o mais jovem, chamado Tiago, tinha permanecido inativo, chegando por
isso minha mãe a pensar em confiar-mo.
Desde o momento que a
firmeza de minha vocação, dizia minha mãe, me havia impedido até esse momento
de ajudá-la, era necessário, pelo menos agora, que tomasse a meu irmão mais moço
sob minha proteção. Examinei o jovem, que se me apresentava como meu futuro
discípulo, e fiz um rápido exame de seus defeitos e aptidões. Tiago tinha as
aparências de um homem, porém não era mais que um rapaz. Alto e robusto, de
olhar indeciso e de gestos bruscos, manifestava seus pensamentos sem
elaborá-los. Desprovido de instrução, sua memória retinha, tão-só mediocremente,
as impressões de sua alma. Estava embebido de preconceitos a respeito da
personalidade de Deus, porém era de coração terno, desejoso de progredir e
enfatuado pela honra de seguir-me. Era-me necessário tornar a fundir a cera que
revestia este espírito. Minha mãe se alegrava desta união que ela vinha assim a
formar e me enaltecia aos olhos de meu irmão, designando-me com os
qualificativos de poderoso e de inspirado nos caminhos do Senhor.
Meu tio, o único
irmão de minha mãe (sublinho isto como um desmentido à versão que atribui a
Maria uma irmã com o mesmo nome de Maria), meu tio, digo, era o mais convencido
entre os membros da família, a respeito de minha missão; queria acompanhar-me
até à morte, dizia, e cumpriu sua palavra. Heróica grandeza! Fervoroso
fanatismo! — Devoção de natureza superior! vos haveis manifestado neste homem
como revelação espontânea do sentimento e expressão singela de um verdadeiro
servo de Deus.
Oh, meu Deus, tu me
reservaste esta alegria e eu aceitei, feliz, o oferecimento desta dedicação,
deste fanatismo, desta grandeza! Meu irmão Tiago tinha vinte anos. Meu tio
viúvo e pai de duas filhas já casadas, era dois anos mais jovem que minha mãe. Tiago,
meu tio, acompanhou-me até o Calvário; Tiago meu irmão fugiu louco de dor.
Maria de Magdala e Maria minha mãe foram as duas únicas mulheres que
contemplaram minha agonia sobre a cruz.
Cleofas era um filho
de José, nascido do seu primeiro matrimônio com Débora, filha de Alfeu. Este
particular é tão insignificante como o erro que lhe deu lugar e o deixaremos
aí. Tiago, meu tio, desejava participar do caráter sagrado da obra,
reservando-se o humilde papel de encarregado das funções materiais e recusou o
título de apóstolo, que o teria impedido, dizia ele, de manter convenientemente
o equilíbrio de meus meios de subsistência. De antemão minha mãe me havia
deixado entrever este desejo, claramente manifestado depois por ele, e eu pude compreender
desta conjuração dos irmãos o delicado sentimento de carinho, cheio de
compaixão, que a ambos inspirava.
Passei alguns dias no
seio da família e muitos habitantes de Nazareth se apressuraram em convidar-me
para suas refeições. Cumularam-nos de distinções a mim e aos meus discípulos,
com o fim de poderem examinar-nos mais de perto e apreciar, cada um segundo
seus conhecimentos, o valor de nossas personalidades.
De minhas irmãs, uma
vivia em Nazareth e a outra em uma pequena cidade chamada Canaã. Fomos a Canaã;
conta-se que fui atraído por umas bodas em cujas circunstâncias teria chamado a
atenção sobre minha pessoa por meio de um milagre — Milagres. — Sempre
milagres!
Oh, irmãos meus, quão
doloroso é ter que ocupar-me de tal impiedade! — Como sofre meu sentimento de
homem ao ter que desmentir as aberrações dos homens! Em quase todas as
particularidades de minha vida terrena se encontram semelhanças que
surpreendem, com o que sucede agora em uma parte do mundo civilizado.
Minha presença no
casamento de Canaã foi um simples efeito de minha deferência para com os
desejos de minha mãe. Minha presença era efeito de minha própria vontade. Minha
presença humana na humana família, foi apenas notada. Minha presença nesse
pequeno recanto do universo bem poderia negar-se. Mas, que se precisava para
arrastar os homens para o fanatismo? — Milagres. — Pois eles fizeram milagres. Que
se requer para que seja admitida minha identidade, agora? — Uma prova material,
entendendo-se por prova material o aniquilamento de uma lei fundamental da
organização física dos elementos. Na natureza espiritual, nós não dispomos dos
elementos da natureza terrestre e não podemos fazer milagres com o único objeto
de entreter os homens; mas podemos dar-lhes forças para que creiam em nós.
Atribui-se minha presença entre os homens a efeitos de minha natureza
espiritual, sem ter em conta as impossibilidades materiais, e se pedem efeitos
materiais à minha natureza de completa espiritualidade, sem ter em conta as
leis divinas que governam esta natureza de espiritualidade.
Que espíritos que se
encontrem no estado de espiritualidade transitória excitem a curiosidade e
façam nascer a surpresa nas assembléias humanas, com demonstrações físicas, que
a maior parte dessas assembléias fiquem convencidas da presença dos
desencarnados, é cousa útil para levar claridade no meio da escuridão. Porém os
espíritos de Deus não vão para a escuridão e não se apoderam jamais do espírito
humano com jogos de prestidigitação. Descem de sua espiritualidade para honrar
os espíritos encarnados desmaterializados já dos desejos. Eles fazem a luz nas
consciências; eles emancipam a alma; desencadeiam as vontades; desenvolvem o
sentido da verdade divina, conduzem para a alegria, para a felicidade e a paz
eterna.
Irmãos meus, em minha
vida carnal eu não podia ter forças divinas, que me haveriam elevado ao apogeu
das honras humanas, e em minha vida de espírito não devia exercer um poder humano
para tornar evidente minha essência espiritual.
Adoremos o poder de
Deus, porém não lhe peçamos jamais o que é contrário à ordem estabelecida.
Adoremos a graça,
porém não queiramos ver nela mais que um meio para chegar à elevação do
espírito.
Adoremos a sabedoria
dos decretos divinos e pensemos discretamente com a idéia que Jesus não veio à
Terra e não volta agora para ela para deprimir o bom senso humano e comprometer
a justiça de seu Pai. Deprimir o senso humano seria arrastá-lo para as crenças
da antiga barbaria ou infância dos povos, comprometer a justiça de vosso Pai
seria chamá-lo para comprovação de minha palavra de outras maneiras que pelos
meios divinos e pela edificação de minha doutrina.
Permaneçamos em uma
piedosa expectativa e não participemos do erro comum entre os espíritos
humanos, pedindo novos milagres semelhantes aos milagres antigos e estúpidos como
o das núpcias de Canaã. No festim de ditas núpcias os homens se embriagaram tanto,
que me arrependi de haver ido para o meio deles. Minha mãe disse-me: Mesmo que
se convertessem as fontes de água em fontes de vinho, eles as esgotariam. Estas
palavras, ouvidas por um dos presentes, andaram de boca em boca à volta da
mesa. Modos de moralidade duvidosa, propósitos de má lei, gracejos descabidos a
meu respeito e de meus apóstolos deram fim a uma festa durante a qual haveria
transformado seguramente o vinho em água, se me houvesse sido dada a
possibilidade de fazer um milagre. Saí de Canaã na manhã seguinte e de Nazareth
poucos dias depois.
Cansado de
manifestações populares, tinha pressa em voltar a entregar-me aos meus
trabalhos, no meio de meus discípulos, sem deixar-me distrair por honras
fanáticas e por sonhos ambiciosos; honras destinadas aos homens cuja vaidade queria
lisonjear-se, sonhos manifestados nas intimidades do apóstolo preferido com o
doce mestre, como João me chamava.
Irmãos meus, Mateus
encontrou-se também, como João, nas núpcias de Canaã; porém somente João se
apoderou deste fato para lançar a dúvida nos espíritos. Foi João quem me expôs
à adoração dos homens com a narração de mentidos milagres. Foi João quem se
deixou surpreender em flagrante delito de incapacidade, quer
seja em seus discursos, quer seja por motivo do silêncio que guardava quando as
circunstâncias lhe exigiam o dever de falar. João é o responsável pelas
forçadas humilhações de Jesus em face dos desmentidos e dos juízos humanos. É a
João a quem as novas gerações devem culpar pelos erros das gerações passadas,
porque foi ele quem espalhou as palavras de fanatismo, foi ele quem rebaixou
minha missão aos olhos dos contemporâneos e que as tornou impossível de
reconhecer aos olhos da posteridade. Eu tinha por este discípulo a fraqueza que
têm as mães pelo filho cuja constituição física exige mais cuidados que a dos
outros e não me preocupava das vergonhas futuras que me preparavam suas loucas
ambições, quando o fato das núpcias de Canaã veio abrir-me um vasto campo de
reflexões funestas. Em minha pobre estada humana, irmãos meus, o caminho de
minha missão foi sempre embaraçado pelos homens que me rodeavam, e minha
deferência para os desejos dos demais tomou uma aparência de fraqueza. Mas
agora é necessário divulgar a verdade sem restrições humanas, tal o espírito de
Deus a vê e a compreende.
Mas agora devem
deixar-se as atenções de lado com respeito aos erros que têm ocasionado os
tristes resultados que se apalpam.
Mas agora convém
semear com a palavra divina e desenvolver a maturescência dos frutos para
aprovisionar com eles aos filhos da Terra.
Definirei a maneira
de ser de João dizendo que era ela como a da generalidade dos homens, que
desejam ver o maravilhoso encadeamento dos desígnios da Providência e são insaciáveis
de graças e promessas, a ponto de atribuírem-se exclusivamente o
mérito das graças e promessas espalhadas pela graça divina.
Concretizemos: João
foi de boa-fé em seus desejos até que os sonhos de sua imaginação delirante o
impeliram a dar vida às divagações de seu espírito, e me amou por todas as
razões que fizeram dele o mais terno e entusiasta de meus discípulos . . . . .
. .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
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. . . . . . . . . . . . . . . . . . Em nosso regresso
a Cafarnaum, encontrei todos os meus discípulos reunidos na mais perfeita
inteligência. A animação a que deu lugar meu regresso encheu-se de atrações
para meu coação. João, humilhado a princípio pela recordação de sua falta, voltou
a assumir suas prerrogativas habituais, que consistiam em colocar-se a meus
pés, quando os outros me rodeavam, e a meu lado durante as refeições. Já hei
dado a conhecer o suficiente sobre Tiago meu tio e Tiago meu irmão. Devo
mencionar agora o nome de meus outros três discípulos. Eram: Deodoro ou Dídimo;
Filipe ou Eleazar, mais conhecido pelo primeiro nome, e Judo, primo de Pedro.
Com o fim de distinguir aos dois Judos se designou ao outro com o nome de
Judas.
Durante o dia
percorríamos a campina dos arredores e à tarde voltávamos a Cafarnaum. O
descanso e a acolhida fraternal nunca nos faltaram ali. Todos os pobres
desejavam tocar as vestes e a capa daquele que dizia: “Felizes os que sofrem
neste mundo, porque verão a Deus. Desgraçados daqueles que vivem aqui na abundância
e na alegria, porque a justiça de Deus prepara-lhes privações e tristezas” .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . .
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. . . . Mas nenhum enfermo foi curado pela aplicação⁴ de minhas
mãos sobre ele, nem jamais a autoridade de minha voz fez recuperar a vista aos
cegos e o ouvido aos surdos, nem a morte jamais restituiu sua presa, pois eu o
disse: “As leis de Deus são imutáveis”.
Concluo aqui este capítulo,
irmãos meus.
¹ Como fiz notar desde o princípio,
Jesus empenha-se em todos os momentos em anular a importância atribuída a seus
poderes psíquicos, que parece não obstante possuíra-os em elevado grau. É que
ele dá toda a importância à doutrina e, convencido sem dúvida do grande
prejuízo que ela e sua personalidade têm sofrido pela propaganda milagreira que
se lhe tem feito, manifesta os efeitos da reação que é sempre algo exagerada, a
qual, unida à sua peculiar modéstia, acabou por esforçar-se em ocultar ou
desvirtuar tudo aquilo que possa guardar alguma relação com o milagre por mais
que se trate muitas vezes de realidades explicáveis em face dos conhecimentos
que atualmente se tem a respeito das ciências psíquicas. Contudo, os estudos
minuciosos feitos nos demonstram que todos os grandes iluminados, chamaremos
assim a todos os grandes espíritos que têm guiado os movimentos religiosos
verdadeiros (quer dizer, os que têm por norte, não as paixões humanas, senão a
verdade e o bem), se têm demonstrado sempre possuidores de poderes psíquicos e
medianímicos especiais. Jesus, portanto, não pôde deixar de possuí-los, e ainda
que procure ocultá-los descobrem-se-lhe em várias partes desta mesma obra. —
Nota do Sr. Rebaudi.
² As palavras: “A André, dei-lhe ânimo,
dizendo-lhe” foram acrescentadas na segunda edição espanhola para aclarar a
passagem, que doutra forma não teria sentido. — Nota do Sr. Rebaudi.
³ Jesus falava como um iluminado, com
a convicção profunda de sua missão. Esta idéia dominava tudo nele e nos explica
o porquê desta sua forma de linguagem para com a mãe. Os homens chamados
equilibrados não podem julgar os gênios e de que Jesus o fora nos prova a visão
clara dos resultados de seu sacrifício, que ele aceitou justamente por julgá-lo
necessário para o seu intento. Resulta disto que não somente Jesus era uma
grande alma, senão também um gênio. Representava, pois, a encarnação de um
espírito verdadeiramente elevado. — Nota do Sr. Rebaudi.
⁴ Isto poderia significar simplesmente
que Jesus nunca empregava as aplicações e que seguramente também não empregou
as fricções nem as insuflações e nem ainda os passes, senão simplesmente as
imposições e a ação direta do pensamento. — Nota do Sr. Rebaudi.
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