Passa já da hora o vosso despertar espiritual . . . Saiba que a tua verdadeira pátria é no mundo espiritual . . . Teu objetivo aqui é adquirir luzes e bênçãos para que possas iluminar teus caminhos quando deixares esta dimensão, ascender e não ficar em trevas neste mundo de ilusão . . .   Muita Paz Saúde Luz e Amor . . . meu irmão . . . minha irmã

sábado, 12 de julho de 2014

CAPÍTULO XIV – 2ª Parte – Livro: Vida de Jesus ditada por Ele Mesmo. Como foram os primeiros passos do cristianismo antes da morte de seu fundador e depois dela. Os mártires, o “espírito de verdade” e como Jesus se comunica novamente com os homens.



Já vos disse e vos tenho repetido muitas vezes, que minha missão não está terminada e nunca tampouco foi interrompida, pois sem cessar, enquanto vivi no meio de vós, dela me ocupei com o ardor de que somente Jesus era capaz e quando me vi no espaço livre das cadeias da carne e senhor de todas as minhas faculdades, com mais clareza ainda pude avaliar a grandeza de minha obra e a ela continuei consagrando todo o poder de minha alma ardente.

Muitos corações me acolheram desde o princípio, pois minha morte abriu os olhos de muitos, sendo isto o resultado do que me havia proposto ao aceitar a morte que bem podia ter evitado, como já disse por outro conduto¹ para dar testemunho da verdade de meu apostolado.

Muitos deste modo falavam, entre a gente sincera e de bons sentimentos: “Um homem de quem não há recordação de jamais haver feito mal a ninguém e que somente de ensinar o bem e de praticá-lo se ocupava, perdoando até aos que lhe deram morte horrível e ainda pedindo a seu Deus por eles, não pode ser senão outro Deus, porque homem nenhum da Terra é capaz de tanta grandeza”.

Não poucos cérebros à altura desses pensamentos e não poucos corações, elevados de sentimentos nobres iguais a esses pensamentos, iluminaram com ele, desde os primeiros momentos de minha partida, o vasto campo do porvir que o aguardava à religião do amor; com a qual o Messias viera à Terra para a redenção humana. Com todo o direito deve ela chamar-se Religião Universal, e assim é chamada porque nada há tão universal como o amor, representando ele em síntese toda a obra do Universo inteiro, pois que a manifestação é do Infinito Amor.

Muito depressa, por efeito mesmo de minha morte, rodeada dos maiores prestígios viu-se minha memória de parte dos humildes e dos pobres, de todos os que principalmente viviam sob o despotismo e a insolência dos ricos e poderosos, que manejavam tudo sob o império de suas conveniências e caprichos. Se antes, pois, chegaram minhas doutrinas a formar a religião de todos os pobres, de todos os humildes e de todos os deserdados que a conheceram, o prestígio de meu martírio e de minha morte deu-lhes depois ascendência sem limites entre a humanidade toda enferma, que enferma é toda a vossa mísera humanidade. Chegou-se, portanto, a considerar o Messias como a vítima mais inocente e de maiores afetos, pelo cruel sacrifício feito por ele em aras do cego fanatismo e do mais brutal egoísmo dos sacerdotes que queriam continuar gozando de seu império sobre as ignorantes massas populares. Foi assim consagrado pelas multidões como a representação verdadeira do amor, o escudo dos fracos, o protetor dos perseguidos, o defensor da inocência, o amparo dos desfalecimentos, o consolo para os que sofrem e a esperança para os caídos no erro do pecado. Uma intensa corrente de simpatia foi estabelecendo-se paulatinamente para os que o haviam acompanhado em seus trabalhos, haviam escutado sua palavra, ensinando-a também sob a própria direção do Mestre.

Decorrido pouco tempo da morte de Jesus, a natural perturbação que se apoderou da pequena igreja, a dor e o terror de seus membros ante o horrível, embora previsto desenlace da obra levada a cabo com tanto sentimento e com tanto afeto para os homens, converteram-se em um fogo intenso de apostólica unção que chegou a vivificar todas as molas da pequena comunidade, convertendo a cada um de seus membros em um gigante da idéia, em um herói para o seu apostolado e em um mártir capaz dos maiores sofrimentos pela religião de Cristo, pela verdade de Cristo e pelo amor de Cristo.

Se não foi repentina a mudança ante os olhos profanos, quase, pode dizer-se, que o foi no meio da Comunidade. A obra exterior devia necessariamente depender de diversas circunstâncias que exigiam preparativos difíceis de afrontar para os que repentinamente haviam ficado sem chefe visível. Eu disse: chefe visível, o que implica na existência conhecida de um chefe invisível. Eis justamente a causa da mudança radical, que pouco a pouco se deu a conhecer fora do círculo dos apóstolos, pondo-se em evidência depois em toda a Judéia e estendendo-se também pelo Ocidente. É que as manifestações do Messias, tão depressa o permitiram as condições de seu recente regresso à vida dos espíritos, foram de tal maneira tão continuadas e tão cheias de fé, entusiasmo e energia, que seus discípulos viram-se desde logo lançados para uma intensa atividade apostólica, cheios eles também de fé na palavra de quem lhes dera provas tão evidentes do conhecimento das cousas que havia colocado entre suas mãos, e de tudo o que com elas se relacionava, no presente, no passado e no porvir; porque realmente, havia-lhes anunciado tudo o que havia de acontecer e também as cousas que com antecedência haviam preparado o advento do que sucedeu enquanto Jesus viveu entre os homens e o que havia de acontecer depois de sua morte.

Tudo isto nada tinha de milagroso, pois outra cousa não era mais que o fruto do conhecimento que Jesus tinha dos homens e de sua história, auxiliado também pela clarividência própria de todo o espírito de minhas condições.

O que principalmente foi digno de nota era o entusiasmo com que as novas doutrinas se propagavam entre os pagãos melhor que entre os hebreus. Entre estes, resistências maiores encontrou o espírito dos ensinamentos do Messias, que levava um cunho de liberalidade e indulgência pouco adaptável ao apego que da lei tinham os verdadeiros filhos do povo de Jeová. Da nova doutrina somente com grandes dificuldades aceitavam um ou outro preceito que não tinha harmonia com a Bíblia, encerrando-se neste que dito foi por Jesus: Eu não venho destruir a lei, senão confirmá-la. Palavras pela necessidade do momento mais certamente ditadas que pela intenção do Messias.

Assim pois, entre as populações dos pagãos, no meio das classes inferiores principalmente, a nova revelação teve grande acolhida, conquistou adeptos entusiastas e defensores valorosos que venciam todos os obstáculos para o maior conhecimento do que entre eles se chamava a boa nova.

Deste modo sem demora das classes inferiores, a palavra do Filho de Deus, morto sobre a cruz para a salvação do homem, encontrou eco abundante e decidido nas esferas mais elevadas desses povos pagãos, e seu espírito de amor, de humildade e de mansidão foi infiltrando-se no meio dessas sociedades cansadas já de sua própria corrupção, de suas discórdias permanentes, de seus egoísmos sem limites, de seus ódios implacáveis e do caos cada vez mais ameaçador e profundo para o qual se viam arrastados.

Foi então quando o espírito velho, assustado pelo avanço das novas idéias, se levantou em defesa dos interesses que representava e que, filhos da usurpação e das violências, apoiados na opressão e sustentados pela injustiça, viam-se perigar diante do avanço da onda do espírito novo, que de baixo vinha subindo e engrossando, apesar da resistência permanente que lhe opunha o próprio instinto de conservação social. Começou assim uma luta constante e sem tréguas, ainda que sem violência, contra os nazarenos. Eram alvo de burlas contínuas, não se pagavam os serviços de suas ocupações, quase sempre humildes, e negava-se lhes justiça perante as autoridades, porque todos julgavam lícito testemunhar contra eles; depois começaram a encarcerar-lhes os predicadores que nas praças e nos caminhos sempre atraíam a atenção do povo que às vezes os rodeava em grande massa, distraindo-o de suas tarefas normais, dizia-se, com doutrinas opostas à tradição e aos bons ensinamentos. Outras vezes provocavam discussões e fazia-se intervir a autoridade, que começou também a agredir alguns predicadores, por causa de desordens, dizia-se; até que finalmente acabou por produzir-se o choque entre o espírito velho e o espírito novo. Foi o choque da força com a resistência passiva. Venceu a resistência passiva; mas em verdade vos digo que a pessoa de Jesus se manteve alheia a esse sacrifício injustificado de tantas vidas, vítimas não de meus ensinamentos, senão de seu próprio fanatismo. A natural simpatia colocava-me ao lado dos fracos e dos perseguidos e era intensíssima a minha dor ao contemplar o martírio dos que morriam pelo nome de Jesus.

Não, irmãos meus, essa não é a virtude, não são esses os ensinamentos do Messias. Sede fortes na verdade, sim, e mais fortes ainda nas boas obras; preferi a morte antes, que manchar vossas consciências com más ações; porém, perder o precioso dom da vida que vos foi dada para vosso próprio progresso, somente por um capricho de palavra; é um gravíssimo erro que faz das vítimas novas vítimas no espaço, pelo reconhecimento do erro cometido.

Podeis imaginar quão triste espetáculo era para mim a prolongação, neste lado, das sangrentas cenas que enchiam de vítimas os anfiteatros. Esses pobres seres, no meio de uma permanente e dolorosa tensão de espírito, enchiam o ambiente de quadros tristíssimos, no qual não era possível a seus protetores levar-lhes um consolo e um auxílio eficaz, porquanto tomavam suas palavras por insinuações do espírito do mal, tal era o fanatismo que os dominava. Toda a idéia que se procurava levar-lhes, com o objetivo de lhes dar luz a respeito da sua situação, era rechaçada como tentação infernal.

Inútil era todo o esforço, pois somente o tempo e a alguns unicamente a volta à vida em um corpo material, conseguiu apagar por completo tão perniciosa obsessão.

Prevejo a dúvida em alguns dos que isto leiam, pois muitos crêem, em sua simplicidade, que devia necessariamente aguardar a felicidade aos que alcançam a coroa do martírio. Acreditais porventura que as leis divinas possam sofrer transgressão pela temeridade dos que, na certeza de alcançarem a felicidade eterna por meio do momentâneo sofrimento da morte material, entregam sua cabeça ao verdugo ou seu corpo ao tormento ou às feras? Acreditais acaso que a eterna justiça há de curvar-se diante da sedução dos que se dizem seus campeões pela defesa que proclamam fazer de Deus e de seu culto? — Oh! —Não! — Não confundais os atributos de Deus com as fraquezas de vosso caráter. Não pretendais levar ao Infinito o que só é filho do reduzido papel que desempenhais na limitadíssima vida terrestre.

Não, não; Deus não se curva perante nenhuma classe de lisonja, não tem parcialidade nem faz exceções. Suas leis são eternas e imutáveis, e é tal a sua estrita justiça, que cada obra, cada esforço, toda a intenção tem como conseqüência o que há de ser seu próprio prêmio ou seu próprio castigo.

Grande e meritório teria sido o sacrifício dos mártires se esse sacrifício tivesse sido previamente meditado e examinado com um objetivo benéfico, se ele tivera sido — por que não dizê-lo? — como o sacrifício de Jesus que aceitou a morte, não com a perspectiva de um bem maior para si mesmo no qual nem sequer sonhava, porém com a completa certeza e plena consciência de que unicamente nela repousava o triunfo de sua doutrina, a qual era por sua vez necessária para a salvação do homem. Eis pois, como as cousas devem ser olhadas e consideradas. Tudo há de levar sempre o propósito da verdade e do bem, jamais as intenções egoístas da própria pessoa.

Agora, em sua nova manifestação do Messias entre os homens, têm-se tornado indispensáveis e urgentes as aclarações que a respeito de seus ensinamentos, tão desfigurados e tão mal compreendidos, vem trazer aos sinceramente desejosos da verdade e aos que certamente humildes são de coração, o qual converteram no santuário da fé. A fé que de Deus vem e a fé que para Deus vai.

A fé que dos homens vem, entre os homens fica. Não é a religião que se professa a que forma o sentimento do homem, senão que o próprio adiantamento deste determina a qualidade de sua fé e a elevação de seus sentimentos. Por isso há homens bons em todas as religiões e em todas há consciências limpas e corações sinceros. Estes são os que de fato ficam consagrados como representantes dos meus ensinamentos sobre a terra, segundo o que se disse: pelo fruto conhecereis a árvore.

Todo o ser alcança da verdade o que seu próprio adiantamento comporta e sempre há ao seu alcance muitas mais verdades que as que ele pode possuir. Portanto, unicamente o criminoso desejo de predomínio brutal e egoísta tem podido sobrepor umas categorias de homens sobre as outras, impondo-lhes o que hão de crer e o que hão de executar, quando somente de Deus é o encargo de, desde toda a eternidade, conduzir por caminhos de luminosidades crescentes para a Eterna Luz, as humanidades por ele criadas e por todo o infinito espalhadas. Em seu nome, pois, é que para vós volve o Filho de Deus para dizer-vos: Elevai-vos em vossas alianças para com Jesus até Deus mesmo, pelo caminho que vos tem indicado e do qual em vossas próprias consciências guardais a bússola que diretamente vos terá de conduzir somente consultando-a. Elevai-vos, mediante a fé e o amor, acima das cousas humanas as quais deveis considerar unicamente como meios de vosso adiantamento.

Jamais ensinou Jesus o desprezo pelo corpo, mas sim o desprezo pelas imposições que da natureza carnal resultam para o espírito. O corpo, meio é para a reabilitação e para o adiantamento do espírito; deve-se portanto cuidá-lo para tirar dele as maiores vantagens possíveis para a personalidade da alma, que é o essencial, o único que é realmente, pois que tudo o mais são formas passageiras, amparadas, quando de corpos vivos se trata, pela mesma função da vida, porém destinadas a desagregarem-se tão depressa esta desapareça.

Certamente foi dito: “Se o teu olho direito te escandalizar, arranca-o e atira-o para longe de ti; porque melhor te é perder um de teus membros do que todo teu corpo seja arremessado ao fogo do inferno.” “E se tua mão direita te escandaliza, corta-a e atira-a para longa de ti...”

Mas estas cousas e outras foram ditas e compreendidas como uma força de expressão, não realmente como conselho que se devia cumprir e para o qual não teria havido motivo, porquanto nem o olho, nem a mão, senão a pessoa era a culpada do fato. O modo de falar desses tempos comportava com muita naturalidade essas expressões e é grave erro o dos que põem seu pensamento na letra antes que no espírito de meus ensinamentos, apesar de que muito pobre teria sido minha predicação e meus ensinamentos se todos eles se encerrassem no que chamais Evangelhos. Não pouco do aí dito não o foi pelo Messias e muitíssimo mais por ele ensinado falta completamente em tais escritos, os quais, por outra parte, somente se referem a um curto tempo de minhas tarefas na vinha do Senhor, entretanto elas muito mais larga duração tiveram, mais larga extensão alcançaram e mais fortemente repercutiram nas longínquas povoações dos gentios.

As comunicações que se faziam então entre as povoações não eram tão escassas como supondes, mantendo-se assíduas relações de comércio e políticas entre Roma e Jerusalém. Erro há, portanto, ao supor-se que meus ensinamentos recém chegaram ao conhecimento dos romanos depois de minha morte. Entre a gente mais pobre e humilde, já alguns haviam levado a palavra do que se dizia enviado de Deus e em cujo nome prometiam aos deserdados da Terra a grandiosa herança do reino dos céus, asseguravam justiça aos oprimidos, proteção celeste às vítimas das injustiças humanas e eterno galardão de felicidade sem fim aos que sofressem perseguição pela defesa da verdade e da justiça, convertendo-se em apóstolos da boa nova.

Mas isto, muito pouca repercussão teve certamente ainda entre a gente do baixo povo romano, demasiado áspero de caráter e duro de costumes para poder formar ambiente favorável às doutrinas do amor e do perdão sem limites. Mas não obstante, entre os servos e os escravos principalmente, algum caminho fizeram já antes de minha crucificação, esses ensinamentos.

Agora, o que difícil vos será compreender é o modo desta nova vinda do Messias entre vós. Ela não é mais que o cumprimento de minha promessa que foi feita certamente aos homens, mas não nos termos, inteiramente exagerados e muito longe daquilo que aparece nos Evangelhos. Isso, muito depois escrito foi de minha morte, por um diácono dos muitos que havia já, que teve diante de si anotações truncadas e confusas das quais só ficava em substância a promessa de minha vinda no meio do esplendor e do entusiástico alvoroço do triunfo, sobre formosas nuvens de diáfanas luminosidades que limitariam para sempre o reinado das trevas, preparando seu completo desaparecimento da Terra, assim como o domínio definitivo da palavra de Deus e de sua lei no meio da humanidade terrestre, que seria chamada, por sinais evidentes dos novos tempos, a participar amplamente da vida celeste.

Mais ou menos essas tinham sido as palavras ao redor das quais, em mais de uma ocasião, haviam girado minhas dissertações, algo confusas geralmente, referentes à promessa que fizera de minha nova vinda entre os homens, a que haveria de ser em condições muito diferentes das desses momentos. Em verdade, oferecia-se-me o porvir com tal clareza diante de meus olhos que não o percebe mais claramente um espírito puro, livre no espaço, porém oferecia-se-me com o mesmo erro na apreciação do tempo (erro com relação a nossos cálculos) que é próprio dos espíritos em suas relações para com as cousas temporais. Para nós, o tempo não tem medida e só vemos a ordenada sucessão dos fatos. Tudo se vê ligado em perfeito encadeamento, porém sem idéia de tempo. Portanto, os acontecimentos futuros estavam muito próximos para minha vista. Por isso dizia freqüentemente a meus discípulos: “Em verdade, em verdade vos digo, que todas estas cousas sucederão dentro desta geração e muitos de vós as vereis”. Mas meus presságios não são tais como aparecem e se bem que minha linguagem era em extremo idealista e poética, cheia de figuras atrevidas, de comparações hiperbólicas e de brilhantes afirmações, caldeadas por um intenso entusiasmo, uma só vez saiu de meus lábios a afirmação de que eu desceria sobre uma nuvem à direita do Pai.

De mais a mais, ao que eu claramente queria referir-me é ao atual estado de cousas, em que uma brilhante nuvem de luminosas promessas no sentido de um porvir próximo, em que o triunfo do direito, o predomínio da verdade e o desaparecimento dos ódios e dos rancores sejam uma realidade preparando o domínio definitivo da lei do amor, quer dizer, de Deus sobre a terra. Os tempos atuais representam a luz, ante as trevas que então me rodeavam; a mansidão, ante as asperezas muito maiores daqueles homens; a verdade, ante o atraso, inconcebível agora, dos que me escutavam; a liberdade, frente à escravidão desses povos sob os cruéis caprichos dos que mandavam, e a igualdade, frente às irritantes injustiças com que as leis protegiam uns em prejuízo de outros.

Tempos são estes, comparados com aqueles em cujo meio então se desenvolvia o Messias, que autorizam amplamente as previsões e a indicada promessa de Jesus, a qual vem cumprindo-se desde algum tempo mediante numerosas manifestações efetuadas em algumas localidades do planeta por meios análogos ao que me serve atualmente e do qual estou plenamente satisfeito.

É tal a facilidade e a exatidão de minha manifestação por este meio, que o aproveito para declarar categoricamente que a obra intitulada Vida de Jesus, ditada por Ele mesmo à médium X é realmente obra de Jesus, exata quanto pode ser uma obra medianímica, o que quer dizer que, se bem deve padecer de algum defeito, principalmente de forma, pelo fato de ter que me servir de um cérebro alheio, é em grande parte tão exata como se diretamente eu mesmo a tivesse escrito.

O que resulta algo inexato nessa obra é o referente aos milagres que, se bem eles jamais existiram como tais, e nisto diz a verdade, a fama popular afirmava muito diferente cousa. Aconteceu realmente mais de uma vez que enfermos que tocavam minhas roupas sararam de improviso e ainda fatos mais assombrosos aconteceram também, envolvendo o Messias em uma auréola milagrosa que arrastava para ele as multidões entusiasmadas. Porém, tudo isso não foi mais que efeito da fé intensa e da confiança sem limites que a palavra de Jesus inculcava a seus ouvintes. O que o Messias possuía realmente era uma grande penetração que lhe dava a conhecer com exatidão o pensamento e sobretudo as intenções dos que o rodeavam, e possuía também algo do que designais como dupla vista. Isto, unido às aptidões adquiridas para o tratamento das enfermidades, para o que muito uso se fazia então da imposição das mãos, contribuiu para dar fundamento à ridícula e reprovável pretensão de meu discípulo João de fazer prestar ao Filho de Deus o culto que somente a Deus é devido.

Certamente, as elevadas alianças, que com a mesma personalidade de Jesus compartilhavam desde o alto com a grandiosa missão de que ele estava diretamente encarregado, chegavam às vezes a tanto brilho em suas esplendorosas manifestações, que pareciam até formar uma só cousa com a Divindade; podia, pois, quase dizer-se que era a própria mão de Deus a que por si mesma agia nesses assuntos.

Mas, como é possível renovar agora essa presença do Mestre entre os homens sem que tenha tomado um corpo mediante novo nascimento no mundo? Eis, pois, que estas cousas acontecem como foram prognosticadas que haviam de acontecer quando se disse que vossos anciões profetizariam, vossos jovens teriam sonhos e vossas filhas visões; e o que foi dito do Espírito de Verdade também com o mesmo guarda relação, porque não tem ele o significado de uma pessoa só, senão que são os espíritos do Senhor que vêm por estes meios para restabelecer a verdade; isto é, pois que o conjunto dos ensinamentos que de Deus vem por intermédio de seus mensageiros celestes na nova forma de revelação que conheceis² constitui o espírito de verdade, que tudo aclara, colocando cada cousa em seu lugar. O espírito de verdade está também no progresso de todos os conhecimentos humanos que veio colocar o homem em condições de juízo e discernimento muito superiores aos que o Messias encontrou na época de sua última encarnação sobre a terra, porquanto as revelações sempre têm lugar de acordo com o progresso do povo destinado a recebê-las.

Somente como causa de perturbação entre os homens, haveria de resultar toda a revelação prematura; porém Deus não quer senão o bem de seus filhos e em sua excelsa sabedoria dispôs que todas as cousas sejam de tal maneira que tudo chegue a seu tempo, quer dizer, no melhor tempo para o bem que dele deve resultar.

Formam portanto o espírito de verdade as vozes que do céu vos chegam, trazidas pelos mensageiros do Senhor aos homens mais adiantados destes tempos, os quais se tornam assim solidários com o mesmo espírito de verdade, formando todos um com ele.

Meu espírito, em relativa consonância com o espírito do homem que me serve de intérprete, dita o que deseja comunicar aos homens, e o outro espírito que eliminou de antemão seus próprios pensamentos, entregando-se passivamente aos meus, percebe estes como se fossem os seus próprios e os escreve. A cada momento sua consciência pretende reagir, porém, como ignora por completo o que Jesus quer escrever, apenas resultam pequenos entorpecimentos vencidos facilmente pelo perfeito acordo das duas vontades.

Irmãos meus, amigos meus, filhos meus, admiremos os desígnios da Divina Providência que permitem a vosso Messias dirigir-vos e fazer-vos chegar de tão longe a lembrança exata de épocas muito próximas para mim, porém muito remotas para vós, com o propósito generoso de iluminar-vos as vias do porvir com as claridades que resultam da perfeita associação do que antes se vos disse, do que depois se vos disse também e do que também agora se vos torna a dizer, porque a palavra de Deus é sempre acorde consigo mesma; assim, pois, a luz de hoje não substitui a de ontem, senão que a aumenta, e a luz de amanhã não substituirá a de hoje nem a de ontem, senão que a elas há de reunir-se, aumentando novamente sua luminosidade, porquanto o passado, o presente e o porvir, tudo é um nas vistas do Senhor para realizar a felicidade de seus filhos.

¹ Sem dúvida refere-se à médium pela qual transmitiu a primeira parte.
² O Mestre refere-se ao medianismo, do qual podem adquirir-se conhecimentos seguros no Livro dos Médiuns, de Allan Kardec.


CAPÍTULO XIII – 2ª Parte – Livro: Vida de Jesus ditada por Ele Mesmo. Devendo se servir somente das palavras que encontra no cérebro do médium, deve concretizar-se em suas manifestações às verdades essenciais, para não expor-se à diversidade de interpretações, quando o que ele vem trazer é a manifestação da doutrina dentro do amor, que é a síntese da obra de Deus.


Já vos disse, irmãos meus, que as palavras valem somente pelas idéias que querem significar e que Jesus unicamente dispõe das palavras guardadas no cérebro humano que se lhe empresta para instrumento¹ de sua nova manifestação entre os homens. Insisto nisto porque os homens muitas vezes de simples palavras fazem fundamento de discórdias.

O que se disse, a verdade é do que nos próprios espíritos se vê, porém resulta também lógico para o vosso entendimento, porquanto, como se há de individualizar o princípio inteligente sem algo que o individualize, separando-o dos demais?

Se esse algo o separa de tudo o que o rodeia, é porque o envolve e se o envolve é para ele como o corpo para vós. Isto também, dito está, fora de toda a religião e doutrina, porquanto a religião unicamente do Pai vem e não falha, um só sendo o rebanho e um só pastor; porém isto é quanto ao que há de observar-se e quanto ao que para o Pai é devido em acatamento e adoração.

Convém, não obstante, conhecer alguma cousa também do modo de existência dos espíritos no espaço para a mesma inteligência do que à religião se refere, evitando, porém, tudo o que como doutrina possa dividir os homens, quando a missão de Jesus, antes, agora e sempre, é reuni-los no amor, reuni-los na adoração de um só Deus e no cumprimento de suas santíssimas leis. Resulta assim, que todos haveis de ser uno com Jesus no reconhecimento de um só Deus, criador do Universo e Pai de todas as criaturas que o povoam; uno com Jesus no amor essencial e maior para Ele e uno com Jesus no amor entre todos os seres; no qual há de resumir-se o fim das cousas, porquanto a finalidade é o amor. A própria Criação outra cousa não é mais que o reflexo do infinito amor divino, isto é: a sua manifestação permanente. Os defeitos que vos parece descobrir na Natureza, defeitos são de vossa imperfeita observação; os erros que a cada passo descobris, somente o limite de vossas capacidades como tais vô-lo representa, e é a obscuridade própria de vosso atraso o que vos faz descobrir pontos obscuros na constituição do Universo, tanto moralmente como materialmente. Nada pode haver melhor que o que existe, saído das mãos de Deus; somente nas restrições, unicamente no finito, filho dos seres também finitos, é que o imperfeito existe. O desconhecimento de Deus é entre os homens chegados a certa altura, a causa principal de seu atraso, porquanto sendo Deus a primeira e a maior das verdades, somente sua negação representa fechar os olhos à luz para arrojar-se no meio das trevas.

Crede, irmãos meus, que até suicídio para a alma, se isto possível fosse, significa a descrença voluntária como sempre é. Crede, irmãos meus, porque Jesus lê nos corações como em livro aberto assim vô-lo assegura, que a descrença é sempre o resultado de um esforço do espírito para ocultar a si mesmo uma verdade que se atravessa no caminho de seus apetites e de seus caprichos. Como se bastasse não ver a luz para que ela deixasse de existir! Não vos enganeis, filhos meus queridos, porquanto nada existe fora da verdade e do bem; fora da luz são as trevas, o caos, o nada.

Abri, pois, vossos corações às doces aspirações da alma. Abri a arca santa de vossos sentimentos às ternas influências dos espíritos do bem. Abri os olhos da inteligência, para que penetrem por eles caudais de luz de verdade. Abri as molas de vossa fé, para que recebam forças da que do alto desce para os homens de boa vontade. Abri o campo nobre de vossas naturais inclinações para o progresso, para que com mão pródiga o beneficie a bondade divina. Abri de par em par as portas de vossa alma, para que cheguem até ela todos os benefícios para elas criados e que só aguardam se lhes franqueie o caminho.

Abri a Jesus, irmãos meus, abri vossos braços fraternos, para que neles se precipite, cheio todo o seu ser de nobres aspirações para vós, de grandes desejos para vós, disposto ainda a uma nova morte, se isto for necessário para vós; consagrado enfim por inteiro ao amor vosso, somente vosso amor e vossa confiança vos pede. Vinde pois, a mim, para que o Pai vos encaminhe; afastai todo o temor e desconfiança; ponde em Deus vossas aspirações e em seu enviado vossa confiança. Nada temais jamais do amor porque ele a essência é de Deus e para ele conduz; mas seja vosso amor tal como o amor há de ser, sincero e puro, sem dissimulação, sem reticências, sem cálculo, tal, enfim, como o que eu vos professo no mesmo momento em que duvidais de mim e me abandonais, porque não vos seduz a simplicidade de minhas manifestações e porque vos apraz ser, vós mesmos, o conduto obrigado da verdade, ou recebê-la entre o estrépito e o fausto das vaidades humanas, jamais dentre a humildade e o silêncio dos que se escudam detrás da solidão, para que brilhe em toda a sua pureza a palavra de quem vos fala em nome de Deus, com a mesma autoridade que dele vem, não já com as aparências de autoridade que vossas cousas têm pelo falso brilho das simulações e dos aparatosos processos de vossa literatura.A linguagem de Jesus é a linguagem da alma porque de sua alma nasce e para as vossas almas é dirigida. Elas devem portanto abrir-se ante seus ternos chamados, se é que em verdade sentem e escutam sua voz, que com tanta instância e com tanto amor vos chama para o caminho da luz e da vida.

Levantai-vos pois, amigos meus, até às alturas do sentimento com que procuro iluminar vossos espíritos e honrai-me com vossa franqueza e confiança para que possais estabelecer estreita aliança com quem, desde séculos destinado vos foi para vosso guia e para vosso Messias.

Oxalá vos fosse dado descobrir o fulgor com que as almas vossas brilham no espaço da luz da alma quando nobres sentimentos a arrebatam! Não basta a obscuridade da matéria que a rodeia para ocultar sua radiante beleza, por mais encarcerada que ainda se encontre no mundo dos sentidos.

Escutai-me pois, uma vez mais vos suplico, escutai-me com espírito sereno e com a alma livre de prevenções! — Não blasfemeis contra Deus ao supô-lo de cumplicidade com algum espírito mistificador para induzir-vos ao erro! — Não cometais tampouco o grave desacerto de crer que os espíritos do Senhor possam enganar-vos com um nome usurpado, ainda que isto fosse com o propósito do bem! — Jamais a falsidade pode servir de pedestal para levantar sobre ela monumento de verdade e de bem!

Sede humildes de coração e abri vossos espíritos às inspirações que do alto vêm para os homens de boa vontade e de sentimentos sãos, e me reconhecereis porque eu não deixei de ser o que era e o que agora vos digo já antes também vos disse. Orai com perseverança e com fé e lede depois o que aqui está escrito em meu nome para que não vos suceda que me desprezeis, abrindo em troca as portas de vosso ser à perfídia do espírito do mal que sem descanso vos espreita. Elevai portanto vossos pensamentos ao Altíssimo, com adoração, com reconhecimento e devotamento, para receber a bênção que com toda a sua alma e em nome de Deus vos dá Jesus.


¹ Segundo uma infinidade de comunicações de além-túmulo, recebidas todas de perfeito acordo entre si, os espíritos, valendo-se do mesmo agente ou fluido que lhes dá forma no espaço (o corpo astral de São Paulo), apossam-se do cérebro do homem que lhes serve como instrumento para suas manifestações na Terra. Confundem pois seus próprios fluidos com os fluidos do intermediário, ficando assim de fato na posse do cérebro deste. O intermediário perde a vontade e a consciência enquanto dura o fenômeno, porquanto seu cérebro se converteu em laboratório da vontade e idéias do espírito, sendo o papel do cérebro humano o de dar forma material às idéias, quer dizer, de conformá-las de acordo com esse mecanismo ideo-orgânico que materializa as idéias em um conjunto de sons, capazes de serem percebidos materialmente pelo ouvido humano para impressionar outros cérebros, despertando neles idéias correspondentes que os espíritos recolhem. — Nota do Comitê argentino.

quarta-feira, 9 de julho de 2014

CAPÍTULO XII - 2ª Parte – Livro: Vida de Jesus ditada por Ele Mesmo. Constituição dos seres inteligentes da Criação e seu porvir



Como dito foi, a personalidade inteligente da Criação, dupla é em sua constituição, da alma sendo formada e de sua envoltura, de cuja reunião resulta assim o espírito. Palavra é vossa, a de astral e bem poderíeis chamar-lhe astral à envoltura da alma.

Ter-se-ia portanto a alma com seu astral formando o espírito. A alma depois, por meio do seu próprio astral, liga-se com um corpo material especialmente elaborado para ela. Assim, o trabalho da vida na matéria, ao dar forma a um organismo por meio das leis que ides estudando, põe ao serviço do espírito um instrumento material, bom para sua obra no meio da matéria mas ao qual ele mesmo deve ir aperfeiçoando, enquanto por outro lado adquire o crescimento que por lei orgânica lhe corresponde. De tal modo é o trabalho do espírito que consegue moldar o corpo sobre si mesmo, de sorte que, intimamente unidos, resultam como a mão e a luva, sendo que a luva não cresce e o corpo cresce e recebe o esforço do espírito que lhe imprime, pouco a pouco, todas as aptidões necessárias para todas as manifestações de que é capaz. Assim, portanto, o espírito (já sabeis de alma e astral formado) vê-se estreitamente relacionado com a vida dos sentidos, mediante os sentidos que lhe dá o corpo, e estes sentidos o enriquecem com impressões sempre novas que formam o cabedal para seu progresso no porvir. As particularidades, contudo, que estes fatos comportam e as leis de que dependem, não é do encargo de Jesus comunicar-vos.

Só lhe corresponde portanto a verdade dos fatos, como acaba de ser dito e em poucas palavras também repetido o que segue:

Alma:¹ princípio inteligente não individualizado, no sentido humano.
Astral:² Não existe separadamente, somente existe como envoltura da alma, a qual individualiza, no sentido humano.
Espírito:³ Personalidade inteligente da Criação, composta da alma e de seu astral.
Homem: É a união do espírito com uma envoltura material organizada, o que é o mesmo que dizer que o homem resulta da união da alma com o corpo, mediante o anel do astral.

O dito, certo é, de absoluta certeza, fora de toda a religião ou doutrina humana. Assim, portanto, como a verdade é, já antes foi revelada ao homem e o próprio Jesus fê-lo também, porém os homens eram incapazes ainda de o compreender e resultaram confusões de idéias por entenderem as cousas de modo diferente uns dos outros, até moverem-se guerras entre si, as gentes, pela fé revelada, que havia sido entretanto a mesma para todos.

Assim também se disse dos nascimentos, que muitas vezes haviam de suceder para cada espírito, até chegar a todas as cousas que o espírito possa alcançar, a cúspide do melhor, “porque, como escrito está, quando ressuscitarem dentre os mortos... são como os anjos que estão nos céus”. Mas antes, como também se escreveu, “necessário vos é nascer de novo, renascer e tornar a nascer”.

“O que é nascido da carne, é carne; e o que é nascido do espírito, é espírito”, mas “não pode entrar no reino de Deus, senão o que renascer de novo”. Não vos maravilheis portanto do que já antes vos disse: “Necessário vos é nascer outra vez”.

Mas não façais questão de palavras que transformem o fundo das cousas. Tendes assim, com as palavras escritas sobre o dito por Jesus, muitos de vós alterado aquilo que Jesus disse, tanto que até o contrário uma cousa da outra resultou. A vida é uma, costuma-se dizer, mas da vida da alma pensou-se falar, à qual servem as vidas carnais como noites da alma, porquanto as faculdades da alma todas embotadas se encontram, porque tudo percebe, não já com as suas próprias faculdades, senão por meio do corpo. Assim também, se dais à alma outro significado como alguns dão da própria manifestação da vida da matéria, isto é, das simples manifestações de matéria organizada, recordai que esse não é o significado que aqui lhe dou; e se também à palavra espírito emprestais diferente maneira de expressar, como a dos que querem ver nela somente o valor de uma força, um princípio gerador, tendo também presente que não é isso o que agora penso dizer, senão como disse; não é pois nas palavras, senão no significado que lhes dou, que se deve dar atenção. Se em outras ocasiões outro significado eu mesmo lhes dei, é no significado e não nelas mesmas no que deveis o pensamento vosso deter, porquanto eu, de vossa linguagem, só tenho o que me proporciona o cérebro humano que me serve. O pensamento, a idéia, o ensinamento, a verdade, isso sim, de Jesus é e de Deus vem.

Sabeis, pois, que a vida é da alma e as existências carnais os meios de sua realização, com a ajuda do trabalho que conduz à verdade e ao bem.

Tomais por trevas o que não é: Assim, se disse que “no princípio havia trevas e o caos”. As trevas, portanto, são a negação, o que não é; e à medida que se avança na existência, mais distantes se encontram os seres das trevas, isto é, no meio de maior luz, porém é que também muito mais sofreram, mais trabalharam, mais praticaram o bem e lições maiores também colheram de sua experiência. Fugi pois, irmãos meus, das trevas da alma, que são as únicas verdadeiras, e não olvideis que é a bondade o que maior luz dá à alma.

A criatura humana, feita, certamente como foi dito, à semelhança de Deus, o é justamente por sua essência divina, por sua alma imortal, não pela passageira e torpe forma material que somente como provação lhe é dada e como instrumento de seu adiantamento nas vias do Senhor que são as que, pela luz, para a eterna luz, conduzem os filhos de Deus por ele criados para compreendê-lo e para amá-lo, no meio da felicidade completa que haveis, com segurança, de alcançar, pondo unicamente em prática e de verdadeiro coração o que já vos disse: “Ama a Deus sobre todas as cousas e ao próximo como a ti mesmo”; mas asseguro-vos também que, quando tiverdes compreendido o sentido em toda a sua pureza, e em toda a sua grandeza essa máxima, de tal modo que ela seja essência de vossa própria essência, como Jesus sereis vós também e à altura do Filho de Deus, filhos de Deus também sereis. Isto será quando espíritos velhos já sobre a terra e todo o adiantamento nela possível, vosso for e tampouco voltareis a ela com as cadeias da carne, mas sim como espíritos livres e dominareis por cima dela, no meio do etéreo ambiente de luz e de felicidade que de muito longe a envolve.

Podeis, portanto, grandemente encurtar o caminho e o tempo para o vosso triunfo definitivo sobre a matéria, caminhando diretamente para o exato cumprimento dessa máxima que tudo encerra e que é a religião única que, trazida do céu, tenho querido e firmemente quero implantar em vossa morada, para a salvação vossa e que nela unicamente haveis de encontrar.

¹  Alma é o espírito ligado a um corpo humano.
² Astral ou corpo astral é o perispírito, dos espiritistas, segundo explica Allan Kardec nos §§ 93 a 95 do Livro dos Espíritos.

³ Espírito: — Alma livre dos liames da matéria humana.

CAPÍTULO XI – 2ª Parte - Livro: Vida de Jesus ditada por Ele Mesmo. Assim como o amor eleva o homem, o orgulho o envilece e tira-lhe o discernimento para apreciar a verdade. Com ele anda sempre unido o egoísmo, que é o mau conselheiro. — Verdadeiro significado da “Torre de Babel”.



Se é certo que toda a doutrina, todas as leis e os profetas, concretizados estão nas palavras “ama a Deus sobre todas as cousas e a teu próximo conto a ti mesmo”, não menos certo é que nada de bom poderá buscar-se que do amor não reconheça dependência. Só o mal ou o interesse hão de estar fora do amor. O mal por si só o é, mas o interesse filho é do egoísmo.

Assim também as obras que somente pelo interesse se praticam não elevam o homem e não outro galardão, mais que suas próprias conseqüências, hão de recolher, no entanto gelam a alma pelo frio do egoísmo que as inspirou.

Somente pois as obras pelo amor ditadas enaltecem a alma e dão-lhe grandeza, abrindo-lhes as portas que à perfeição conduzem, isto é, até o Pai.

A perfeição no amor, porque é infinita, somente no Pai é compreendida, não outra cousa sendo a criação mais que o reflexo de seu amor.

O amor humano cheio de erros é, pois, enquanto que deseja o bem da pessoa amada, mal entretanto lhe ocasiona muitas vezes, e é porque ainda não chegou ao justo discernimento do certo e do incerto, do bom e do mau.

Contudo, também o simples desejo sincero do bem, o movimento de afeto que espontaneamente move o homem para outro homem para servi-lo em seu interesse e sem interesse por parte de quem o pratica, já muito caminho andado significa nas vias que para o Pai, isto é, para a perfeição conduzem. E se esse sentimento ainda e do mesmo modo sentis para os que bem e para os que mal procedido hajam para convosco, então mais, muito mais avançados nessas vias vos encontrais.

Oh, irmãos meus! — Quanta luz ao espírito traz o obrar assim! Quanto o próprio engrandecimento da inteligência com isto ganha! De quanto o caminho para a perfeição assim se abrevia!

Já vos disse, amigos meus, que a nova vinda de Jesus pela razão de sua aliança com os homens cujos cérebros poderiam servir-lhe de meio e como instrumento de interpretação de suas idéias na linguagem terrestre, teria de resultar mais explícita em suas manifestações, mais clara e mais humana em sua forma, não pela mudança de Jesus, senão pela mudança dos homens mais dados agora à observação na matéria e aos trabalhos que relacionam o cérebro com o movimento da vida orgânica, que à contemplação da natureza e à elevação do espírito pelas idéias religiosas.

Ao mesmo tempo muito mais adiantamento há no presente entre vós e muitas grandes cousas encontrais em grau de conseguir. Portanto, tudo o que há de dar engrandecimento à pessoa do homem é útil, somente que nada há de separar-se da idéia de Deus se o que chamais progresso tal é realmente. A verdade à verdade conduz, o progresso a progresso maior arrasta; toda a verdade, portanto, e todo o progresso que apouquem a idéia de Deus, nem verdade nem progresso são, senão mentira e retrocesso de ouropel ataviados, como para simular as aparências do bom e do verdadeiro. Acontece também muitas vezes que a verdade mal compreendida, contra a verdade a luta é arremessada, e assim somente se compreende que muitos homens no caminho da ilustração, tenham seguido para a descrença em lugar de elevarem-se para a fé, que de Deus vem.

Igualmente o orgulho e a vaidade envolvem o espírito com as trevas da alma e o tornam incapaz do justo equilíbrio da razão e do sentimento, porquanto, se a verdade dos fatos descobrem, as harmonias de suas relações não percebem e cegos também permanecem com relação à luz de suas finalidades.

Mau companheiro o orgulho é; egoísmo em si sempre traz porque é de sua origem e ambos são pecados; um, venda para a luz do espírito e o outro, tropeços em sua marcha, cego e torpe, entravam o progresso. Aquele que verdadeiramente ama, livre se vê destas misérias.

Sede portanto humildes de coração, sede mansos e ao mesmo tempo generosos com os que mal vos querem, devolvendo sempre bem por mal.

Jamais pode o homem ser inimigo do homem, é somente o atraso o que impele um contra o outro. Se esse atraso não houvesse, conhecimento teríeis, não de palavras mas de entendimentos e de sentimento, pois que, entre quem faz o bem e quem o recebe maiores benefícios colhe o primeiro que o segundo.

Mais que virtude, pois, conveniência é fazer o bem. Praticar o bem, semear é em proveito de quem o praticou. Quem mal faz mal recebe, porque semente de má sementeira e jamais a semente do mau fruto deu o bem. 

 — Oh, irmãos meus! Quão feliz me sentiria se tão-somente compreendido me visse!... As palavras compreendeis, mas não penetra sua essência nas profundidades de vossas almas.

Vossa falta de compreensão é em grande parte devida a que julgais das cousas em relação sempre com a vida terrestre, esquecendo que nesta não há realidade senão aparências pelo que à pessoa se refere. Já vos disse que a pessoa é a alma e a alma não a vedes nem sequer no meio do que chamais vida e que morte melhor é para o espírito, pois que até sua realidade diminuída fica que até a desconhecê-la chegais e a negá-la, no entanto veste-a um corpo.

Falo-vos com toda a simplicidade própria da verdade, bem vejo porém que dispostos estais a encontrar exagero em minhas palavras e isto falta é, porquanto não pode Deus, nem em muito nem em pouco, enganar-se nem enganar-vos e de Deus a palavra é, quanto em seu nome seu filho vos traz nesta sua nova manifestação entre os homens. Crede, pois, que: A personalidade é a alma e que o corpo só à alma aparências dá, e ao que chamais forma entre a matéria, sem ser realidade absoluta, também lhe dá.

A entidade inteligente, vivendo de sua vida própria, livre do que chamais matéria, manifesta-se com uma envoltura que a circunscreve e que lhe proporciona maneira de perceber e de manifestar-se; porém, corpo não é propriamente; podeis como “corpo astral” designá-lo entretanto, chamando então espírito à alma revestida, e usar da palavra alma quando se fale do princípio inteligente, sentimental e volitivo do homem, o qual não obstante, sob forma de espírito (alma revestida) e não de alma, separa-se no ato impropriamente chamado morte por vós.

Tudo isto, para dar clareza às idéias que resultam poder abordar assim, com simplicidade, os problemas mais árduos, justamente porque as idéias tanto mais simples são quanto mais próximas da verdade estão.

Temos chegado portanto à definição das novas doutrinas, isto é, à aclaração do que foi dito, porquanto nada foi dito que certo não seja, mas nada também se disse que o “espírito de verdade” não devesse esclarecer e ampliar mais tarde, sendo que o “espírito de verdade” próprio é de cada época, como próprias são das diferentes idades do homem o que em cada uma delas produz; sem que o homem deixe de ser o que é.

O “espírito de verdade” chega assim a constituir como se fosse a personificação do que em síntese têm de verdadeiro as doutrinas; trata-se pois das próprias doutrinas depuradas, pelo progresso, de seus erros e imperfeições. Cada século portanto tem seu “espírito de verdade” superior ao do século que o precedeu, mas não diferente; como maior é de ano para ano o homem, sendo sempre o mesmo entretanto.

Na expressão “progresso” entender-se deve, pelo que à doutrina se refere, a verdade revelada segundo a elevação do homem em seu adiantamento alcançada. Refere-se propriamente às manifestações do “espírito de verdade”, que definitivamente de Deus vem por intermédio de seus Messias, apesar de ignorados muitas vezes. Assim, pois, muitas são as doutrinas verdadeiras, mas elas devem ser passadas pelo tamis do “espírito de verdade”, que em cada época, sob diversas formas, se manifesta aos homens por mandamento divino. Profetas, Messias, Anjos, Santos, quando verdadeiros são, de Deus vêm e iluminados pelo “espírito de verdade” falam. Mas a verdade, como quer que seja manifestada e por mais pura que ela seja, desfigurada resulta sempre no meio do ambiente humano, bem depressa aparecendo em todas as partes variedades e até contradições, sendo entretanto uma verdade revelada, e assim tendes e assim tereis por muito tempo ainda o que comparar se podia com a confusão de línguas na Torre de Babel: — A obra que a Humanidade há de levar avante é uma... a obra de seu progresso, isto é: a obra da Torre de Babel; mas em lugar da harmonia dos operários manifesta-se a conhecida confusão e torna-se forçoso abandonar a obra; porém Deus, obrando como tal e não como a Bíblia falsamente vos transmite, manda-lhes um Messias que os ponha em inteligência uns com os outros; a todos, com o fim de que levem a cabo sua torre, a obra do humano progresso, na verdade e no bem¹.


¹ O homem faz-se não obstante de desentendido, dando as costas ao único caminho que o Messias lhe apontou como conducente à sua salvação, quando lhe disse: Só pelo amor será salvo o homem. Afirma-se, entretanto, que os cataclismos sociais são indispensáveis para o progresso humano, quando, pelo contrário, somos nós mesmos os que temos preparado suas causas, procurando cada um de ensinar e de aproveitar-se dos demais. Grandes e pequenos, ricos e pobres, todos procedem com falsidade e cada qual, no posto em que se encontra, busca explorar aos demais em proveito próprio. Se os patrões são tiranos com os trabalhadores, estes, os que chegam a impor-se sobre seus companheiros, são piores tiranos ainda com seus iguais, que os piores patrões. Em nossas democracias muito fácil seria formar bons governos, que chegariam às mais vantajosas reformas sociais, porém o povo, longe de procurar os homens virtuosos para elegê-los, ri-se deles, apontando-os com o dedo como malucos, porque os homens virtuosos amam a justiça e não se poderia obter deles dádivas imerecidas, prebendas injustas, encobrimentos vergonhosos. As palavras verdade e justiça servem muito bem para encabeçar a revolta sanguinária, a base do ódio e vingança, cataclismos. Se atiramos uma pedra para o alto e permanecemos debaixo é fatal que ela nos parta a cabeça, e assim também são fatais os cataclismos sociais, cujas causas foram preparadas por nós mesmos. Assim também, com uma má legislação, os homens bons saberiam viver em paz e felizes, ao passo que com a mais perfeita legislação, os homens maus viverão em perpétuo motim. O que primeiro havia que reformar não são as leis, senão os homens, porém isto é precisamente o que se não quer. Contudo, o homem melhora paulatinamente e quando as hostes do mal acendem a fogueira dos ódios e das paixões sanguinárias, arrasando tudo a ferro e fogo, não faltam espíritos do bem que façam ressurgir, do meio mesmo da horrível hecatombe, os resplendores da verdade e o doce aroma da paz e do amor. — Nota do Sr. Rebaudi

terça-feira, 8 de julho de 2014

CAPÍTULO X – 2ª Parte – Livro: Vida de Jesus ditada por Ele Mesmo. A missão de Jesus e a participação dos Apóstolos.



Tem-se dito que o cumprimento das profecias só o é em aparência; pela convenção que se fez dos fatos com elas. Assim também tem-se dito que somente a credulidade em Jesus concebeu o cumprimento das profecias e o acontecido com Jesus. Mas eu digo-vos que, ainda que as profecias não tivessem existido, o humilde carpinteiro de Nazareth destinado por Deus era para a obra da redenção dos homens, para colocá-los no conhecimento do que lhes era preciso fazer para corrigir o passado de erros e de opróbrios que deixaram atrás de si, e para espalhar luz no caminho de seu porvir.

Mas eu digo-vos que as potestades do céu, obedientes aos mandatos daquele que tudo é e tudo pode, estreitas alianças de elevados seres haviam constituído em redor do Divino Mensageiro, para facilitar a grandiosa obra que se lhe encomendara e que vós ainda não compreendeis.

Mas eu digo-vos que tudo quanto há de acontecer, designado com antecipação se descobre no ambiente espiritual, podendo portanto discerni-lo todo o espírito de alguma penetração, ainda que não seja espírito do Senhor, senão espírito das trevas.

Não é portanto a profecia o que chamar se possa um milagre, o qual não existe, senão previsão do que há de acontecer, porquanto designada está já muito antes sua época para todo o acontecimento.

Em minhas visões muitas cousas chegaram certamente ao meu conhecimento que somente haviam de ter lugar no porvir. Assim também acompanhava-me especial dom para o conhecimento dos homens, o qual me serviu para a escolha de meus apóstolos, entre os quais, se certo é que um traidor houve, mais foi ele vítima de circunstâncias, que não soube vencer, que de natural disposição à falsidade e à maldade.

Assim, bem foram escolhidos os que em minha obra santa me deviam acompanhar. Eles foram propriamente os eleitos porquanto, como já vos disse, uma só família com Jesus formaram.

Naqueles dias em que completado havia o número de meus apóstolos e cheios de projetos nos encontrávamos, ao fazer eu, na noite em que chegara e no meio das expansões da conversação, um estudo ligeiro das condições particulares de cada um deles, pus o nome de Pedro a Cefas e alguém chamou-me a mim RABI, que quer dizer Mestre, e desde então as duas denominações prevaleceram. Assim, muitas vezes chamavam-me RABI, mas a Cefas depois sempre lhe chamaram Pedro.

Os habitantes de Nazareth, que, por conhecerem meus pais e meus irmãos, escarneciam de minha filiação divina, alcunhavam-me o Filho do Homem, sendo nisso acompanhados por meus próprios irmãos, que em certa ocasião chegaram até a intentar fazerem-me passar por louco com o auxílio também de minha própria mãe. Assim disse então com energia Jesus: Se certamente ninguém é tido como profeta em sua terra, tampouco faz Deus dádiva de suas graças aos que desconhecem sua luz, ainda que possam discerni-la, e que, enganando-se a si mesmos, surdos e cegos permaneceram ao lado do Messias para não ouvi-lo nem vê-lo, dando demonstração de ignorar o seu elevado ministério; mas do mesmo modo, por não ouvidos, nem vistos e ignorados portanto, lhes aconteceu de passar, quando chegou o tempo da colheita nas sementeiras do Senhor e mal ainda por muito tempo lhes haveria acontecido, se não fora pela ajuda do mesmo labrego a quem desconheceram. O afeto e a dor, nas horas derradeiras, em que de coração verdadeiramente me acompanharam em meus terríveis sofrimentos e até a sinceridade com que afinal a doutrina também foi por eles acolhida e a celeste missão reconhecida, muito remediou do isolamento moral que a princípio me fizeram sofrer os que, pela carne, de minha família eram; mas na balança da divina justiça nada passa sem o equilíbrio de seu peso no oposto prato de suas ações. Certamente na primitiva incredulidade de Maria muito havia do amor materno que queria ocultar a perigosa realidade a seus próprios olhos e desviar-me da rota em que me via colocado. Mas quando a luz, que do alto para os mortais baixa, principalmente veio iluminá-la, ela com sublime resignação aceitou tudo o que o amor de mãe lhe fazia descobrir como perigos e sofrimentos que por seu filho adorado devia passar. Desde muito antes, deixando de lado suas primitivas prevenções, confundido se havia, pelo sentimento, na própria obra do filho, participando afinal de todas as amargas vicissitudes até o desenlace, horrivelmente doloroso, da grandiosa obra da redenção humana. Por fim, de meus irmãos partiu ainda a idéia de fazerem-me passar por louco, mas não já com o propósito de escárnio, mas com o afetuoso desejo de minha salvação, e com tal objetivo desesperados esforços fizeram em meu favor, prejudicando talvez, ainda que involuntariamente, a missão de Jesus. Mas longe vou com isto aqui, entretanto é meu propósito,
ao trazer-vos minhas novas manifestações no mundo da carne, executar o propósito formado e comunicado nos primeiros escritos, propósitos, referentes à doutrina que como Novo Cristianismo alguém entre vós quis definir, embora o ensinamento seja o mesmo e mais que Cristianismo novo ou velho é a palavra do Pai.

Assim, pois, dando como conhecido de vós o que à existência de Deus e da alma se refere, cousa que onde Jesus mora são mais verdadeiras ainda que para vossos olhos a luz, passarei a ensinar-vos o que é a doutrina e o que o porvir encerra para vossas almas, quando tenham deixado, transitoriamente primeiro e definitivamente depois, a habitação terrestre, dando lugar ao dito que muitas moradas tem a casa de meu Pai, que Deus não quer a morte do pecador, senão que viva e se arrependa, porque... no fim, todos serão salvos; como também o do cego de nascimento, e o da vinda de Elias, e muitíssimas outras cousas mais, que foram ditas, porém não recordadas e outras muitas mais ainda que para trazer-vos venho.

Apesar de muito me ajudarem meus apóstolos no ensinamento e divulgação do que lhos encomendara, sua obra era deficiente porquanto, como já vos disse, longe se encontravam da elevação de alma e da inteligência precisa e mais longe ainda encontrava-se seu auditório. A vontade, porém, jamais eles a tiveram de menos, o que principalmente demonstraram ainda depois de minha morte.

Mas a obra da redenção humana a eles não foi encomendada e sim ao Messias, que à sua frente há de encontrar-se ainda durante muitos séculos. Com muitos defeitos, portanto, transmitida vos foi a palavra de Jesus. Mal compreendida, mal conservada, pois que de simples memória foi durante muito tempo e mal transmitida, somente suas cinzas até vós chegaram. Volvê-las ao que foram é agora obra essencial para vosso Messias, dando-lhes ao mesmo tempo o engrandecimento que pede a maior elevação dos homens nas vias do progresso.

Meus apóstolos, tão pobres de instrução como ricos de fé, muito fizeram certamente na sementeira que lhes encarregara em nome do Pai, mas não podiam oferecer de si o que não tinham, isto é, a sabedoria, que acrescentada à fé e aos sentimentos de amor que o Filho de Deus lhes inspirava com sua palavra e com seu exemplo, muita grandeza teriam dado à predicação das doutrinas que reveladas eram à Humanidade por sua mediação. Portanto, entre a gente simples e sem instrução somente sua palavra era escutada e pouco brilho se levantava em volta do chefe da nova missão que lhes era trazida para sua salvação e sucedia que os homens de instrução e os que escreviam, ignorantes permaneciam da nova palavra, nada ficando assim dela escrito com prejuízo do que foi dito de quem o disse, porquanto chegou tempo que fora da tradição nada ficou com a autenticidade das cousas ditas e ouvidas por de quem ditas e ouvidas foram.

Certamente o que verdade é, imperecível também é por toda a eternidade. Portanto, a verdade sempre seu caminho veio percorrendo, muito ganhando em seu progresso com a morte do Messias, como já vos disse, porquanto meus apóstolos se centuplicaram pela grandeza de sua fé e pelo grande auxílio espiritual que receberam sob a direção daquele que a eles mesmos

em vida os dirigira e do céu depois, com mais luz e maiores alianças o continuara fazendo.

quarta-feira, 2 de julho de 2014

CAPÍTULO IX – 2ª Parte – Livro: Vida de Jesus ditada por Ele Mesmo. Discípulos e Apóstolos de Jesus.



Muitos começavam a ser já os que se intitulavam discípulos do NAZARENO e depois nazarenos se chamou aos partidários de suas doutrinas. Mas diferente cousa eram os que apóstolos se chamaram mais tarde, sendo destes, como já vos disse, Cefas e Simão, os dois primeiros; Tiago e João seguiram a estes, os quais em pescar ocupavam-se também, sendo pescador com eles seu pai Zebedeu, de quem a mulher tão cheia era de dons espirituais que teve a visão clara em seu coração do que tinha vindo restabelecer o Filho de Deus sobre a Terra.

Os apóstolos, escolhidos dentre os discípulos mais dispostos a abraçar a nova causa, vinham formar ao redor de Jesus uma nova família humana em que os laços efêmeros da carne substituídos se viam pelos mais sólidos e duradouros da fé e do amor. É por isso que dito foi (na ocasião em que a mãe e irmãos de Jesus foram procurá-lo entre os que o escutavam) “que a mãe, os irmãos, a família de Jesus eram aqueles que sua palavra ouviam e seguiam”. Assim, queria dizer que as relações e os elos da fé e da verdade que de Deus vêm e do amor verdadeiro que é no Universo o mais puro, resultam muito superiores às uniões tão somente filhas da carne.

Longe vos encontrais ainda, vós mesmos, de compreender todo o alcance destas palavras; porém, deveríeis ao menos compreender que nos laços de natureza espiritual vos elevais como espíritos acima da matéria, enquanto que nos laços de outro modo materiais (quando a carne só forma a família) ficais deprimidos como espíritos que vêm constituir a família sob a influência das atrações do organismo, e sob o mesmo regime de dependências que distinguimos nos animais.

Minhas distantes viagens deram ainda maior proporção ao desprendimento da família, que o devia necessariamente sobrepujar o sentimento do amor filial e do amor fraterno.

Também era então a cidade de Tiro de muita e grande religião em seu culto e em sua filosofia, maior nomeada sendo já que Sidon nestas cousas e também em suas permutas de comércio e movimento de fabricação, que também em quantidade e diversidade se faziam para conduzir em embarcações aos mais distantes povos do outro lado do mar. Mestres não poucos eram que ensinavam doutrinas muitas vezes curiosas; outras vezes muito aproximadas do certo; mas a adoração do Pai, tal qual devia ser, ou sequer o conhecimento de um só Deus, como nas terras da Judéia persuadido era, não chegou aos meus ouvidos enquanto vivi nessas terras. De muitos deuses maior era a voz pública e com relação também a muitos deuses eram os ensinamentos dos públicos predicadores; um, entretanto, era em honrarias e louvores superior aos outros apresentado, sendo também voz geral o quanto pelo poder e dignidade mais elevada consideração lhe era devida.

Este o deus maior em toda a nação parecia ser. O nome pelo qual o hei de designar, não o encontro no cérebro humano que serve de instrumento para minha nova manifestação entre vós. Nesses tempos cada cidade tinha seus deuses, da mesma maneira seu rei muitas tinham, formando governos distintos dos que noutras cidades governavam. Mas aos deuses principais eram tributados honras e oferendas em muitos lugares ao mesmo tempo, e ao deus principal de toda a região, seu maior templo, grande em verdade e ricamente ornamentado, em Tiro levantado era, e grandes cultos, continuadas honras, sacrifícios numerosos e grandiosas festas eram-lhe consagradas. Isto também, movimento e importância acrescentava à dita cidade. Mas, como já disse, ruído e aparência era, mais que outra cousa, a religião de quase toda a gente e a filosofia baseada se via em princípios vagos, confusos e muito contraditórios de um mestre para com outro mestre. Muitos afirmavam não existir sequer a alma, outros que de animais e homens e de homens e animais, as almas tinham nascimento, segundo o merecido em cada vida vivida entre os homens.

Reuniões havia também de certos sacerdotes do Grande Templo, que designado era “O Templo”, onde doutrinas superiores ensinadas eram, segundo as vozes correntes, mas muito se guardou o ensinamento com referência aos conhecimentos profanos. Do que se dizia reservado para eles, era que havia um só Deus, porém, três entidades distintas o formavam; não pareciam três pessoas como dito foi mais tarde, e em verdade, o próprio Deus e as entidades direis vós também que pareciam melhor figuras alegóricas ou símbolos que pessoas.

Meu espírito, de antemão preparado já que missão de tanta transcendência do Pai trazia, nada a minha observação descuidava, de tudo tomando argumentos para meus ensinamentos mais tarde entre meus discípulos que muitos eram, ainda que nunca os mesmos, nessa querida cidade, de onde tão agradáveis lembranças levou. Até das púrpuras, de que tanta fabricação se fazia e tanto comércio para o outro lado do mar, tirava eu argumento, assim como de outros artigos para o luxo e vaidade destinados.

Demonstrava-lhes quão pobre cousa é o apego que por esses meios se forma com a vida terrestre, a qual nada representa para o espírito, sim somente, quanto às obras dirigidas em sentido contrário, isto é, pela humildade e pela caridade. Minhas demonstrações chegavam a ser enérgicas e ardentes quando me detinha na observação de tanta imoralidade e de tão asquerosas chagas sociais como as que ocultavam essas púrpuras, esse ouro, pedrarias e todos os reluzentes atavios, feitos para simular o brilho que jamais brotara do antro escuro das asquerosidades humanas.

Na mesma cidade de Tiro, alcunhada da religião, a vida, apesar do caráter benévolo de seus habitantes, era na sua generalidade licenciosa, se bem que Cidade Santa, como Jerusalém, na Judéia, era tida nessa nação opulenta. Havia contudo menos corrupção na gente média, e ao povo laborioso principalmente não faltava sentimento de moralidade, mas distinguiam-se principalmente pela simplicidade e afetuosidade de suas maneiras, assim como por sua hospitalidade, com o que feliz me havia sentido durante todo o tempo que durou minha estada entre eles. A atenção afetuosa com que escutavam a palavra do estrangeiro e a singela espontaneidade com que em grande número se reuniam a meu derredor, davam-me confiança para minhas manifestações.

Assim, dolorosa tornou-se depois a separação do centro de adeptos que eu tinha formado aí. Mas há de convir-se, se bem não poucos quiseram seguir a Jesus para as terras de sua origem, que não era desse povo de onde poderia tirar os trabalhadores para a grande empresa de que se encarregara o Messias, que só tinha ido para essas regiões para melhor preparar, longe dos que muito de perto o haviam conhecido, o plano que deveria depois desenvolver nas povoações da Judéia e em Jerusalém principalmente, formando ela o objetivo final e verdadeiro de meu apostolado.

Segui-me, pois, para as povoações da Judéia, deixando de lado minha peregrinação pelas terras distantes dela, que não poucas foram na realidade as povoações, grandes e pequenas, que percorri nesta minha longa peregrinação; o essencial de minha obra e suas finalidades, repito-vos, que na Judéia encontrar-se deviam, pois era a região em que principalmente honrada era a causa religiosa e seus profetas; somente que tudo havia de ser em seu tempo. Assim também em seu tempo volto agora para restabelecer as cousas tal como elas foram ditas, as ditas; negar as não ditas; explicar as mal compreendidas e recordar as esquecidas.

Como dito está, Cefas,¹ Simão,² Tiago e João primeiros foram, dentre os que minhas palavras escutaram, em receber o nome de apóstolos, passando a participar das intimidades da vida de Jesus, formando com ele uma verdadeira família. Pouco a pouco aumentando foi a família com novos apóstolos até chegar ao número de doze que eram, como sabeis, além dos referidos, Mateus, Tomé, Tadeu, Judas, Bartolomeu, Filipe, Alfeu³ e Simão de Cananéia.

Eles, mais que ninguém, de perto e continuamente ouviam minha palavra. Nunca o ensinamento se interrompia, porque todas as cousas e todos os acontecimentos do dia motivo eram de observação para que resplandecessem perante eles as verdades do Senhor.

A vida diária é grande livro para o estudo de Deus, a observação do povo, grande o é também e o exame da Natureza ainda é maior que eles. Assim, portanto, sem repouso, mas com variedade e amenidade, contínua era a instrução para meus discípulos, de maneira que breve lhes pudesse outorgar poderes para o ensinamento como recebido eu o havia do Pai.

Ide, lhes dizia, e tende primeiramente fé, oração fazei-a também antes de toda a obra e com o pensamento em Deus descerrai vossos lábios em seu nome, e sua graça convosco estará. Falai com o calor que dá a convicção e a fé e vereis repetir-se com vós outros o que em volta de mim acontece, pois vos escutarão, vos seguirão e em grande honra também vos terão. Sede, não obstante, prudentes, porque a maldade e a inveja depressa levantarão contraditores contra vós e se fará maior a inimizade dos que não andam pelo caminho do Senhor contra quem encarregado vem para encaminhar por essa senda os homens.

Assim lhes dava encargo a três juntos, e mais a miúdo a dois, para que ensinassem a nova doutrina aos que no campo ou em seus pequenos povoados moravam.

Antes da partida, recordava-lhes os pontos mais essenciais de meus ensinamentos e aconselhava-os quanto me era possível para que bem cumprissem o que encarregado lhes havia.

¹ Cefas é o apóstolo Pedro.
² André, irmão de Pedro.

³ Alfeu é Tiago, filho de Alfeu.