Os homens do presente, tanto
quanto os do passado, têm recusado tomar a sério certos conselhos que de vez em
quando surgem no meio ambiente, como a tentar despertá-los para as coisas
relacionadas com os verdadeiros interesses do Espírito.
Grandes homens do passado,
cujos nomes a História registra por seus feitos materiais, ficaram seriamente
perturbados ao regressarem ao mundo espiritual donde haviam provindo, devido ao
seu despreparo espiritual, ao fim da encarnação recém-vencida.
Isto sucedeu a homens que
comandaram legiões na Terra, a outros que foram verdadeiros árbitros no mundo
dos negócios, a grandes capitães da indústria, banqueiros notáveis, líderes no
comércio, potentados na política, mestres na diplomacia com acatamento geral às
suas opiniões e atitudes, conduzindo com inteligência e habilidade rara os
negócios de seus ministérios.
Estes homens, é claro,
receberam na Terra uma instrução completa em vários anos de preparo
especializado, tendo muitos deles adquirido elevado grau de cultura e
experiência que lhes granjearam justo prestígio e renome, não apenas em seus
próprios países como também no ambiente internacional. Pois bem, meus caros
irmãos; dizer que a maioria dos homens citados, apenas conseguia fazer de Deus
uma idéia vaga, imprecisa, nebulosa, não chegando a adquirir convicção a
respeito de sua existência ou não, pode parecer uma fantasia, mas não o é
realmente.
Tais homens alimentaram
apenas em sua vida terrena, a preocupação de estarem sempre bem com seus chefes
transitórios, no que se refere aos políticos e diplomatas, pouco se lhes dando
igualmente a existência do Divino Mestre Jesus, cuja doutrina apenas conheciam
através dos filtros do catolicismo ao tempo de sua meninice. Quanto aos homens
do comércio e da indústria, como os do mundo financeiro, poucos foram os que
realmente invocaram Nosso Senhor para o êxito de seus empreendimentos, e quase
nenhum deles o fez em prol de sua melhoria espiritual.
Não é, pois, de surpreender
que os Espíritos desses homens, ao chegarem de regresso aos planos de donde
haviam descido à Terra para uma nova etapa de aprimoramento espiritual, se
encontrassem completamente estagnados e às escuras, por não haverem adquirido
luz suficiente para poderem caminhar sozinhos. Muitos deles se quedaram
silenciosos, desalentados, em profunda meditação, recebendo intuições que
sempre ocorrem nesses momentos, tendo alguns lançado para consigo mesmos as
seguintes indagações:
— “Como é que eu me encontro
em tão deplorável situação, se fui na Terra um homem tão importante, acatado e
respeitado por todos os que me conheceram?! Dar-se-á, porventura, que o meu
esforço e o meu trabalho não foram suficientes para conseguir luz para o meu
Espírito? Como pode ser isto?”
Lançando tais indagações,
esses Espíritos caíam novamente em meditação e desalento, e prosseguindo nesse
estado, uma voz se fez ouvir, lançando-lhes outras indagações mais ou menos
assim:
— Tens certeza, meu irmão,
de que a tua vida terrena decorreu, em verdade, sob normas duma perfeita
correção moral, reta justiça, conferindo a cada um de quantos te serviram
aquilo a que fizeram jus? Ou será que a par de esforços nobilitantes para o teu
Espírito, atos ocorreram em certo número que só podiam denegri-lo? Podes
assegurar perante Nosso Senhor que fizeste algo para propagar, pela palavra ou
pelo exemplo, a necessidade do amor ao próximo como um de seus luminosos
ensinamentos? Ou procuraste usufruir da vida terrena todos os proventos
possíveis para o teu prazer e engrandecimento perante os homens? Continua em
tua meditação, irmão meu, que eu voltarei oportunamente para recolher tuas
respostas às indagações que aí ficam...
A voz amiga emudeceu. O
Espírito em causa caía em profundo desalento, assim permanecendo durante dias e
dias, meses e anos até, ao constatar que sua última passagem pela Terra, numa
vida opulenta e bonançosa, em nada contribuíra para o seu adiantamento
espiritual.
A certo Espírito
recém-chegado da Terra, durante cuja encarnação não aprendera sequer a rezar,
porque fora jogado no trabalho em tenra idade, indagações semelhantes foram
feitas, e ele, em sua perfeita consciência do que fora, apenas conseguiu
responder mais ou menos o seguinte:
— “Não sei quem assim me
fala; mas vou responder com toda a minha alma, o que posso responder. Devo
dizer que nem uma vez procurei dirigir-me a Deus, porque não pude aprender a
chamá-lo, uma vez que iniciei minhas atividades ainda com os dentes de leite.
A Nosso Senhor Jesus Cristo
também nunca incomodei porque não me foi preciso. Se isso for uma falta, quero
ser punido porque só agora tomo conhecimento dela. A única coisa que fiz
durante os oitenta anos que vivi na Terra, foi trabalhar. Trabalhei posso dizer
sem descanso, porque, tendo criado indústrias, dei trabalho a alguns milhares
de operários, do qual outros milhares de homens e mulheres viveram e se
alimentaram, e lá continuam usufruindo o resultado de uma organização a que dia
e noite me entreguei. Devo dizer ainda que injustiças, não me acusa a
consciência de haver praticado; apenas fui sempre exigente no cumprimento dos
deveres de cada um. Fundei escolas e centros assistenciais dentro da minha
organização, só para servir e amparar meus operários e suas famílias”.
Este Espírito, um pouco
esgotado por sua narrativa, silenciou por momentos e ajuntou para finalizar:
— “Foi só o que pude fazer
na Terra. Se merecer alguma punição, que ela se cumpra, segundo a vontade de
Deus”.
Este Espírito, caros irmãos,
deu provas de ser realmente valoroso. Não tendo recebido instrução intelectual
por ter sido atirado à vida em tenra idade, soube construir uma das maiores
organizações de trabalho na Terra, proporcionando salário, educação técnica e
assistência a muitos milhares de outros Espíritos. Se não se destacou por seu
devotamento à Grande Causa de Jesus na Terra, mereceu do Divino Mestre aquele
galardão que Nosso Senhor destina aos grandes construtores da vida terrena.
Tendo empregado em sua organização milhares de famílias, aquele irmão
proporcionou-lhes meios de educarem seus filhos e parentes, resultando daí
haver atualmente numerosos engenheiros, médicos e técnicos em diversas
especializações, a serviço da organização em que seus progenitores foram
simples operários.
Este é um dos raros casos em
que o trabalho organizado em justos princípios se pode substituir à oração. O
fato de alguém proporcionar trabalho remunerado e constante, constitui para
Deus uma forma de oração.
E os outros Espíritos? —
perguntar-me-eis. Ai de mim irmãos meus; preferia não ter de responder, mas é
meu dever fazê-lo porque é essa a minha missão. Entre aqueles a quem em
princípio me referi, e que brilharam sobremodo na Terra pelos êxitos alcançados
em virtude de sua cultura, de seu talento e senso de oportunidade, alguns não
conseguiram afastar-se do local por vários anos, ao fim dos quais, de tanto
implorarem, foi-lhes concedido um novo mergulho na carne, sob promessa de algo
fazerem por sua elevação espiritual. Alguns deles encontram-se novamente aqui
cumprindo modestas mas úteis tarefas, agarrados à idéia que do Alto trouxeram,
de que só o amor constrói para a eternidade. O trabalho e a oração constituem,
em verdade, as asas que podem conduzir os Espíritos encarnados mais rapidamente
à aquisição de sua verdadeira felicidade.
Aqui se despede de vós por
hoje e vos abençoa o vosso dedicado — Irmão Tomé.
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